sexta-feira, 25 de maio de 2012





Resenha filme Homens de Preto 3 (MIB - Men In Black 3)

Por Lucas Wagner

Com dois personagens intrigantes, atuações sensacionais (tanto de Will Smith e Tommy Lee Jones, mas também de Vincent D’Onofrio, como o vilão), um roteiro praticamente impecável, um humor perfeito (tanto o mais "descarado" quando o mais sutil), efeitos especiais que até hoje são impressionantes, uma direção interessante, e, principalmente, uma criatividade massacrante, Homens de Preto é um filme praticamente impecável, já quase que um clássico; um filme que me surpreendia tanto quanto eu era criança (teve um período em que eu o assistia diariamente) quanto agora, e talvez mais ainda agora (hoje re-assisti o longa e confirmei que ele continua impressionante). Porém, nada disso existe em Homens de Preto 2 que, mesmo com uma boa premissa, é um filme inegavelmente desprezível, absurdamente ridículo. Quase que carnavalesco, o humor do segundo filme é patético, o desenvolvimento da história, absurdo, o roteiro, um lixo, até mesmo os efeitos especiais são uma droga. Praticamente nada salva aquela procaria.

O que nos trás a esse Homens de Preto 3. Se comparado primeiro, esse é uma pequena partícula de fezes flutuando no espaço. Mas quando o comparamos ao segundo, esse é um filme inegavelmente competente. O que sobra? Uma obra regular, com um roteiro regular (de Etan Cohen), que se salva por algumas brincadeiras com a noção de viagens no tempo, com as diferenças entre passado/futuro, e trás uma tocante revelação que dá frescor ao longa. Mas, esse também é um filme que comete pecados horríveis contra o primeiro, como explicarei mais adiante.

Primeiramente, MIB 3 não trás praticamente nada de novo ao conceito de viagem no tempo. Muito do que agente vê aqui nos já vimos na trilogia De Volta Para o Futuro de Robert Zemeckis. Mas também vemos algumas coisas interessantes, como a maneira com que J (Will Smith) viaja no tempo, sendo que isso produz a cena mais genial do filme, quando ele está "caindo" (ele viaja "caindo") e passa pelo momento histórico em que corretores da Bolsa de NY estão cometendo suicídio depois do "Crack" da Bolsa de 29. Ainda é interessante o modo como um personagem se aproveita das vantagens do variabilidade do tempo em uma luta. 

Mas o mais bacana é como o design de produção Bo Welch e o "criador" dos monstros Rick Baker aproveitam para tecer comparações interessantíssimas entre os anos 60 e a atualidade. Observem como o "quartel general" dos homens de preto varia da brancura moderna e imparcial na atualidade, para tons coloridos, "quentes", e até mesmo psicodélicos do quartel nos anos 60; ou ainda como Welch foi inspirado ao mostrar a diferença entre, por exemplo, o neurolizador (o aparelho que apaga a memória) atual (simples e prático) para o de antigamente, que varia de uma desconfortável versão que possui até mesmo um fio até uma versão enorme e pouco prática (e desnescessária quando pensamos em termos de roteiro). Já Rick Baker aproveita aqui para criar alienígenas nos anos 60 se usando de estereótipos dessa década, produzindo criaturas com apelo psicodélico, cores vibrantes e tudo o que tem direito.

O roteiro também aproveita para fazer essas comparações na trama, como na ótima idéia de não descartar as dificuldades que um negro (Smith no caso) enfrentaria em 1969. Com seu terno caríssimo, estilo de sabichão, e com um carrão, J é prontamente abordado por policiais, desconfiados desse conforto todo para um negro, o que gera uma das cenas mais engraçadas do filme. Pena que o roteiro descarte essa brincadeira de cunho politicamente incorreto ao longo do filme.

Aliás, o humor do filme é particularmente vacilante. É claro há momentos muito engraçados, mas esse comete (mesmo que timidamente, ainda bem) o erro mais comum de continuações, que arruinou Se Beber Não Case 2 e contribuiu para o desastre de Homens de Preto 2: a repetição de situações. Aqui, vemos muitas piadas que são claramente cópias descaradas de cenas icônicas do primeiro filme, o que não é nada engraçado. Mas esse erro é bem mais contido aqui do que no segundo filme, o que é uma benção.

De tudo o que há nessa continuação, o que mais me imprecionou, que me empolgou, foi o personagem de Griffin (interpretado por Michael Stuhlbarg, da obra-prima Um Homem Sério, dos Irmãos Coen). Personagem estranho até mesmo para essa série, Griffin é uma figura fantástica, com a habilidade de prever as possíveis realidades alternativas que o presente entrega, o que gera cenas impecáveis, tanto as mais engraçadas (como a primeira vez em que ele aparece), como as mais tocantes e aquelas mais inventivas (como a genial sequência final). Suas habilidades são até que muito bem aproveitadas pelo roteiro, já que são sempre bastante divertidas e criativas. Além disso, embora alegre, Griffin possui um lado (mostrado com sutileza pela ótima performance de Stuhlbarg) mais trágico, de não gostar muito de sua condição, de considerá-la difícil, mas da qual tira inegável beleza, o que o torna mais tridimensional.

Aproveito aqui para discutir um pouco os outros personagens e seus intérpretes. Will Smith é um ator que eu admiro demais (suas performances no primeiro Homens de Preto, Eu Sou a Lenda, À Procura da Felicidade, etc, são brilhantes) mas que aqui não demonstra muito talento. Sim, sua química com Jones continua impecável (discutirei mais sobre isso daqui a pouco), mas ele não possui (culpa do roteiro) nada para fazer de J um sujeito mais tridimensional. Quando enxerga uma possibilidade, Smith a agarra, como no belíssimo momento da revelação. Mas no todo, nada demais.

Tommy Lee Jones continua interpretando K com a mesma habilidade de sempre. Dessa vez, o sujeito demonstra até mesmo ser mais trágico, com um possível início de depressão que o torna mais interessante. Agora, o talentosíssimo Josh Brolin (de Onde os Fracos Não Tem Vez, W., O Gângster, Milk, etc) consegue compôr uma versão genial do K mais jovem. Brolin é muito eficiente ao incorporar os maneirismos, as minúcias da composição de Jones no seu papel, ao mesmo tempo que possui uma originalidade interessante ao mostrar um K que, mesmo rígido como o de Jones, é mais alegre e divertido.

Agora, o que uma rainha como Emma Thompson está fazendo aqui? Seu papel (como a versão mais velha da Agente O) não oferece simplesmente desafio algum para uma atriz da porte dela, que não pode fazer nada além de dizer suas falas. Ainda vale comentar a participação especial e engraçadíssima do ótimo comediante Andy Warhol (um dos policiais de Superbad - É Hoje!). Mas é inegável que o vilão desse terceiro capítulo é simplesmente decepcionante. Quando me lembro do Edgar, interpretado com imenso talento por Vincent D’Onofrio no primeiro filme, me lembro de um personagem que era ao mesmo tempo ameaçador e hilário (o modo que ele andava é simplesmente inesquecível). Mas esse aqui só não é pior do que o do segundo filme. Sem graça, sem exibir verdaeira ameaça, e sem nem mesmo um visual interessante, esse Boris é um dos aspectos mais fracos do filme.

Eu gostei muito do modo como o roteiro, Smith e Jones exploraram a relação dos agentes nesse capítulo. Eles parecem quase namorados, tendo passado muito tempo juntos, anos e anos de parceria, a ponto de conhecerem minúcias do comportamento um do outro que é perfeitamente natural para uma dupla assim. Esse relacionamento dos dois é, com certeza, um dos pontos mais fortes desse novo filme, já que nos leva a observá-los com mais afeto, e entendermos as reações emocionais de J diante dos acontecimentos vistos aqui.

Aqui eu tenho que falar do ponto que funciona quase que uma pedra, ou mehor, um piano que caí em cima do filme. Pode conter certos spoilers, então aviso previamente para esperar para assistir o filme e depois ler essa parte. Pule três parágrafos (incluindo esse) e continue................. No primeiro filme, K (Jones) era um personagem tocante e complexo que, cansado de ter dedicado tantos anos a um serviço estressante como o que tem (e que conseguiu quase que por acidente), só pensa em voltar para a mulher que ama, que foi obrigado a deixar para entrar na vida de um homem de preto. O espectador conseguiu, naquele filme, uma compreensão profunda da personalidade de K, do porque dele ser tão rabugento às vezes. Tava perfeito, mas o Cohen (o roteirista do terceiro) fuça aonde não devia. Aqui, vemos um J que aparentemente não entende a "rabugisse" de seu parceiro (ele entende sim, pelo o que vimos no primeiro), que pergunta várias vezes porque ele é assim (!!!). É óbvio que K está mais deprimido aqui do que antes, mas ainda assim, seu comportamento não foge muito do que já era no primeiro (e é ridículo J julgar o modo "violento" com que ele trata um alien, sendo que no primeiro ele tratava até pior). Essas indagações que levam á cagada master do filme.

Desconsiderando completamente o conhecimento que já tínhamos de K, o filme ignora a existência da amada dele e o modo como ele entrou para os homens de preto, e o coloca como um homem deprimido e rabugento por algum outro motivo, que NUNCA É REVELADO (!!!). Nós nunca chegamos a saber o que aconteceu no dia 16 de julho de 1969 que o levou a ser como ele é hoje (se levarmos em conta o primeiro filme, nós sabemos, mas o terceiro ignora esses acontecimentos e supôe novas variáveis que nunca são reveladas). Nós ficamos tipo: e aí, o que aconteceu? E não conseguimos resposta alguma! Sério, uma burrada mortal essa que quase afunda o filme, e só não o afunda pelo o que falarei no parágrafo seguinte.

A revelação (quem tiver lendo isso já viu o filme não é? Senão, PARE AGORA!!!!!) de que K cuidou de J na infância é absolutamente tocante e nos leva a um sentimento de afeto enorme pelos personagens e pela sua parceria. É um momento lindo que leva ao ápice o desenvolvimento desses personagens. Porém, tenho que dizer, esse acontecimento é rodeado de furos catastróficos, como por exemplo, como o carro em que J criança estava simplesmente brota do nada no deserto? E quem estava dirigindo o carro? E a mãe dele? Como K tomou conta dele se ele supostamente tem uma mãe? E o roteiro desenvolve porcamente a relação de K e do pai de J. Eles se conheceram a nem mesmo uma hora e já são tão amigos? Que bobagem! Pensando bem, apesar de tocante e de ser uma boa sacada (sim, continuo acreditando nisso), esse final é muito falso e furado.

Bom, agora quem não viu o filme pode continuar lendo. Barry Sonnenfeld tem uma direção muito irregular, muitas vezes exagerando na dose. As cenas de ação, por exemplo, são, na maioria das vezes, muito sem graça, o que é decepcionante se lembrarmos das impecáveis cenas de ação do primeiro filme, que tem o mesmo diretor desse. E é patético ver como ele simplesmente repete (e de uma maneira grotescamente imbecil) o modo como J chama a atenção do vilão no final no filme original. E será que Sonnenfeld não percebe como é estúpido e sem graça o seu movimento de câmera (exageradíssimo por sinal) de aproximá-la rapidamente dos personagens vinda de uma grande distância, que ele repete ao extremo ao longo do filme (em uma mesma sequência ele a usa duas vezes, quase que seguidas)?  Além disso, os efeitos especias desse filme traem uma profunda artificialidade, algo que não acontecia no original de 1997 (re-assistindo esse filme hoje percebi como ainda fico chocado com a qualidade desses).

Homens de Preto 3 é um bom pedido de desculpas devido ao lixo do Homens de Preto 2, mas é um filme apenas regular, muito furado, e que, quando mais se pensa sobre, menos bom ele parece.

OBS: É informação inútil, mas ainda assim é interessante ver Tommy Lee Jones e Josh Brolin interpretando o mesmo personagem depois de terem atuado juntos (mas não contracenando) no inesquecível Onde os Fracos Não Tem Vez, dos Irmãos Coen

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