domingo, 12 de outubro de 2014


Análise:

Trash – A Esperança Vem do Lixo (Trash / 2014 / Brasil) dir. Stephen Daldry

por Lucas Wagner

Construindo sua carreira a partir de adaptações literárias, Stephen Daldry consegue ser aquele tipo de cineasta versátil a ponto de nunca apresentar uma constância temática ou mesmo visual, o que revela uma habilidade rara, adequando-se mais ao que propõe o romance do que a uma assinatura própria. Raro também é como o diretor ainda não realizou um filme necessariamente ruim, embora só tenha alcançado a excelência duas vezes, com As Horas e Billy Elliot. Esse seu novo trabalho, Trash – A Esperança Vem do Lixo, também não chega a ser um de seus melhores, mas ainda assim possui virtudes que o destacam, ainda mais no momento em que vive o Brasil.

Roteirizado por Richard Curtis a partir do romance de Andy Mulligan, o longa conta a história de três garotos que moram numa favela no Rio de Janeiro e se veem em uma situação perigosa, perseguidos por uma polícia corrupta, quando encontram uma carteira com dinheiro e uma estranha chave, pertencentes ao misterioso José Ângelo (Wagner Moura).

É interessante como Trash nunca se pareça um filme feito por gringos que não sabem nada sobre o país onde ambientam seu longa, mas que na verdade pareça muito mais um trabalho brasileiro do que estrangeiro. Daldry apresenta severa dedicação a isso, dado que se mudou para o Rio de Janeiro antes das filmagens para poder se habituar melhor. Ainda, a estética empregada por ele e pelo diretor de fotografia Adriano Goldman situam eficazmente o longa no ambiente das favelas através da imagem granulada, sem deixar de explorar a beleza natural de alguns ambientes, como a praia, o que tem um valor narrativo a mais. O bom uso de músicas funk carioca e a característica trilha sonora original de Antônio Pinto reforçam ainda mais a atmosfera buscada para o projeto. Ainda, os realizadores não se entregam à mesquinharia habitual de fazer com que os personagens dialoguem em inglês, mesmo estando em um país que não fala a língua, um elemento de preocupação que se torna ainda mais evidente pelo fato da equipe ter contratado, em sua maioria, um elenco brasileiro, fugindo a essa regra apenas quando se trata de personagens estrangeiros.

E já que citei o elenco, é necessário destacar o ótimo desempenho em geral, tirando o fato da talentosa Rooney Mara se ver presa à uma personagem opaca e desnecessária. Mas Martin Sheen consegue criar no padre Julliard um sujeito bondoso e genuinamente preocupado com o bem-estar da comunidade onde trabalha, sendo o seu óbvio alcoolismo uma fuga melancólica de suas próprias limitações. Wagner Moura, mesmo com pouco tempo em tela, evidencia toda a desolação que assola José Ângelo, dando gravidade à sua causa e valor ao seus parcos sorrisos. Selton Mello brilha com a frieza do vilão Frederico, um sujeito tão corrupto, tão mal, que se torna quase cômico em suas tentativas fracassadas de adotar um tom de voz com alguma emoção, já que isso parece algo alienígena ao sujeito, que carrega apenas calculismo, tédio e gelo nas suas precisas falas.

Mas é no elenco infantil, formado de crianças vindas de diferentes comunidades cariocas, que o filme é ainda mais feliz. Gabriel Weinstein faz de Rato uma figura divertida mas ao mesmo tempo genuinamente dedicada. Eduardo Luis dá um show como Guardo, criando o personagem mais complexo do filme, um garotinho que sente o peso das circunstâncias, expressa medo e coragem em iguais medidas, além de um estilo de malandro que encanta. Características essas que, infelizmente, não se vêem no unidimensional protagonista, Rafael, cujas motivações se reduzem ao “fazer o certo”; apesar disso, Rickson Teves tem um bom desempenho como o guri, fazendo de suas determinações sentimentos palpáveis.

O que mais diferencia Trash, no entanto, se refere à própria natureza de sua trama, ou mesmo de seu universo. A história de Rafael, Guardo e Rato é uma de aventuras, quase de fábula, com caça ao tesouro, parceria, situações demasiado perigosas para crianças e muita perseguição. Mas ao mesmo tempo que tem esse apelo à um gênero específico, o filme (e imagino que o livro também) consegue ambientar a aventura à cruel realidade onde vivem seus personagens, e logo vemos que por trás da caça ao tesouro estilo “Indiana Jones urbano há um subtexto maligno envolvendo violência policial, abuso de autoridade, subornos, prisões lotadas e em condições inumanas, favelas sujas e crianças vivendo no lixo, além de descarada corrupção política.

Trash, então, usa a aventura infanto-juvenil, a ficção, para falar da realidade, para promover discussões, e despertar mais apelos críticos através de uma catarse do que consegue a galerinha pseudo-intelectual que ama masturbar suas próprias laringes com discursos de “voto consciente”. Bem que o psicanalista Jaques Lacan falava que “a fala porta gozo”, mas o que algumas pessoas na internet promovem é um bacanal dionisíaco. Por mais que seja necessário falar sobre a política, sobre pensamento crítico na hora de votar, ou tomar qualquer medida que vise a melhoria do país, é preciso tomar cuidado para que a fala não fique presa a si mesma. E é justamente isso o que está acontecendo com a irritante explosão de pseudo-sociólogos nas redes sociais...

Mas estou divagando. Ainda assim, talvez seja justamente por isso que é tão revigorante ver, mesmo que na ficção, as crianças sendo o instrumento de mudança social que podem ser, fazendo o que a enorme maioria dos adultos não fazem: agir. E não é preciso uma caça ao tesouro para fazer isso. O que Trash mostra, apesar de possuir inegáveis defeitos enquanto filme (que não valem tanto os comentários), através do lúdico, é que há muito o que ser feito para mudar uma realidade cruel além de ficar se coçando e reclamando no Facebook, Twitter ou outra coisa do tipo.  

domingo, 5 de outubro de 2014


Análise:

Magia ao Luar (Magic in the Moonlight / 2014 / EUA) dir. Woody Allen

por Lucas Wagner

Woody Allen apresenta preocupações filosóficas recorrentes em sua obra, quase sempre envolvendo ateísmo, racionalismo, paixões absurdas, sentido da vida, entre outros temas. Chegando quase sempre a conclusões semelhantes em todos seus trabalhos, não foram poucas as vezes em que o fomento da genialidade de alguns de seus melhores filmes estão justamente em como o diretor maneja essas preocupações, como em Crimes e Pecados, Tudo Pode Dar Certo ou, de um modo mais irreverente, A Última Noite de Boris Grushenko. Esse seu Magia ao Luar tem muitas dessas mesmas reflexões, e grande parte de sua força está em suas conclusões, mas ainda assim é uma obra que peca em uma visão demasiado parcial. Ou ao menos é o que aparenta.

A trama gira em torno do momento em que Stanley (Colin Firth), um ilusionista racionalista que se diverte desmascarando charlatões, recebe a oportunidade de desmascarar a bela norte-americana Sophie (Emma Stone – adorável como sempre), suposta vidente que vem encantando muita gente. Acaba por encantar, inclusive, Stanley.

Interpretado por Colin Firth com um carisma essencial para que possamos nos divertir com o sujeito, Stanley apresenta o que chama de grande “fé na Ciência” (nem vou discutir o quão o termo “fé” está mal colocado) e usa um racionalismo exacerbado em absolutamente todos os aspectos de sua vida, se tornando um indivíduo insuportável para os demais, já que acredita haver uma ligação inerente entre ser lógico/racional com ter certeza de que não existe qualquer sentido na vida e que a existência é apenas um gelado espaço entre dois vazios. Não demora muito para que desconfiemos que esse modo de enxergar o mundo não é outro senão um que constantemente impede Stanley de viver.

Duas possibilidades se desdobram ao estudar esse personagem: uma em que o problema não esteja necessariamente em se ter uma visão racional, mas sim no modo como Stanley a usa; a outra possibilidade reside na própria visão. Apesar de, por conhecer bem o trabalho de Allen, crer que a primeira visão seja mais provável de bater com a do cineasta, Magia ao Luar parece sofrer de uma parcialidade relativamente rara na obra do diretor, já que aqui os problemas parecem mais advindos a começar pela confiança excessiva na Ciência.

Em primeiro lugar, Allen demonstra não saber nem do que está falando, já que afirma ser a Psicanálise uma forma de Ciência (risos incontroláveis). Em segundo lugar, percebe-se que as pessoas felizes em Magia ao Luar sempre são indivíduos que aceitam a ignorância científica e a crença no metafísico como fórmulas para a felicidade. Nesse sentido, Stanley é uma visão estereotipada de ateu que, pessoalmente, muito me irritou, em especial quando o personagem se percebe finalmente feliz ao aceitar algumas crenças no sobrenatural. Ser ateu, ou mesmo ter grande confiança na Ciência, não significa necessariamente ser infeliz, e não é todo ateu que enxerga com tristeza o fato de não existir vida após a morte. E digo isso não só em meu nome, mas no de diversos outros ateus que conheço, para quem as belezas inerentes da vida real compensam a descrença numa fantasia. E creio que Woody Allen (um ateu), pelo que já mostrou em outros filmes, também pensa assim, mas ao não colocar qualquer contraponto ao racionalismo pessimista de Stanley, o diretor tende a apresentar essa visão parcial, em especial quando o único outro “cientista” do filme (o – risos histéricos infinitos - psicanalista) se rende a crendices e à oração.

Aparentemente o diretor percebe seus tropeços e a partir de certo ponto tenta corrigi-los ao alegar que a “injeção de vida” que Stanley recebe se refere não tanto às crenças que desenvolveu ao lado de Sophie, mas sim por uma paixão que não tinha conseguido identificar. Sinceramente, isso não colou, em primeiro lugar pelo notável desespero do diretor em evidenciar isso com diálogos expositivos que só não irritam mais do que aqueles em que insistem em martelar os defeitos de Stanley. Mas também porque não convence que o protagonista tenha se apaixonado sem perceber, e a alegação de que não tinha qualquer olhar sexual pela moça é sincera demais para que a tomemos como simples incompreensão do sujeito sobre seus reais sentimentos.

Apesar de esquemático ao limite e excessivamente parcial em sua visão, além de problemático no que tange a resolver sua parcialidade, Magia ao Luar chega a conclusões comuns na obra do diretor, e novamente podemos perceber a doçura de uma visão em que, mesmo em uma existência que carece de sentido, em um mundo cruel e frio, podemos encontrar magia em excesso. Há coisa mais mágica do que se apaixonar? Do que sentir uma genuína euforia pela existência de outra pessoa? E saber que essa outra pessoa se sente do mesmo modo? Assim, Allen mais uma vez encontra conforto numa visão humanista que valoriza os sentimentos, a força de gestos que, aparentemente pequenos, são capazes de dar um pouco de sentido à vida. Como a tia Vanessa diz no filme: o mundo pode ou não ter um propósito, mas há magia na vida.

Ainda, o longa nunca é enfadonho, e apresenta particular beleza estética nos quadros que tanto aproveitam as maravilhosas e inexprimivelmente românticas maravilhas do sul da França. Além disso, o elenco igualmente eficaz serve bem como veículo das excelentes falas de Allen, além de o longa arrancar gargalhadas e sorrisos de alegria no lindo diálogo onde tia Vanessa induz Stanley a uma auto-análise sem que este perceba.

Enfim, mais importante do que isso, Magia ao Luar proporcionou a mim e às duas amigas que me acompanharam ao cinema uma frutífera discussão envolvendo diversos aspectos dentro e fora da obra. Então, mesmo pecando e demonstrando alguma imaturidade, Woody Allen continua fazendo Cinema que ultrapassa o entretenimento por entretenimento.

Outros textos meus de filme de Woody Allen:
















quinta-feira, 2 de outubro de 2014


Análise:

Garota Exemplar (Gone Girl / 2014 / EUA) dir. David Fincher

por Lucas Wagner

O best-seller de Gillian Flynn, Garota Exemplar, não é daqueles exemplos de histórias cuja reviravolta serve apenas para o choque gratuito. Pelo contrário: as muitas reviravoltas do romance vão modelando o que a princípio se parecia um batido suspense em uma obra arrepiante até a espinha, construindo e reconstruindo personagens cujas destorcidas naturezas são fascinantes de um modo que beira a misoginia. E, enquanto lia o livro, constantemente me pegava saboreando a ideia de que David Fincher iria dirigir a adaptação cinematográfica, cortando o imprestável e construindo mais uma obra-prima fria, calculista e extremamente complexa. E se o filme não chega a ser uma obra-prima, ainda assim prima pelos outros adjetivos.

Roteirizado de modo fiel pela própria autora do livro, Garota Exemplar tem suas bases em uma trama demasiado simples: Amy Dunne (Rosamund Pike) desaparece na manhã do seu aniversário de casamento, deixando seu marido, Nick Dunne (Ben Afleck) à mercê de uma mídia assassina que ao menor deslize seu insiste em apontá-lo como possível assassino da esposa. Não que isso não possa ser verdade...

Como dito, Flynn se mantém excessivamente fiel à sua obra literária, e assim repete a estrutura inicial do romance, o que a princípio pode preocupar pelas dúvidas geradas quanto à eficácia de tal recurso em uma Arte diferente da Literatura. Deixe-me esclarecer: de início acompanhamos duas linhas narrativas paralelas, uma envolvendo Nick e a investigação, e outra a narração de Amy em seu diário. No entanto, o recurso acaba se revelando eficaz na tela grande pelo fato de Fincher e seu montador Kirk Baxter saberem utilizá-lo de modo acertadamente discrepante, já que a linha envolvendo Nick é contada de modo pausado e objetivo, frio até, enquanto aquela em que conhecemos a trajetória do casal contada por Amy se revela quase lírica em sua composição, desde a narração fantasmagórica da personagem, até cenas poéticas como a da nuvem de açúcar. Mas se essa primeira parte da narrativa não perde seu caráter excessivamente lento que tanto incomodava no romance, ainda assim é um prazer notar como diretor e montador conseguem aos poucos criar tensão a partir não apenas dos dados revelados em cada narrativa, mas também de uma montagem progressivamente mais intensa e com maior números de cortes.

Nesse contexto, diga-se de passagem, Baxter revela-se um gênio quase ao ponto do que fez no seu trabalho anterior com Fincher, em Millenium – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, principalmente quando passa a primeira grande reviravolta e o montador pode brincar com possibilidades ainda mais complexas. David Fincher ainda repete outras parcerias que continuam valiosas, e assim Jeff Cronenweth mais uma vez cria uma atmosfera pesada em sua fotografia, com sombras bem utilizadas que mantém personagens constantemente misteriosos, além de saber alternar iluminações mais quentes ou frias dependendo do ponto temporal da história ou dos espaços físicos (como a diferença da casa de Margo e de Nick). Já os compositores Trent Reznor e Atticus Ross confirmam-se como as pessoas ideais para criar músicas nos filmes de Fincher, e aqui novamente acertam em cheio em uma trilha assombrosa, alternando estrategicamente temas mais melódicos com outros com uma pesada distorção, inclusive demonstrando brilhantismo ao, em certo momento do terceiro ato, tocarem um tema romântico melódico com um incômodo e ameaçador zumbido ao fundo.

Fincher ainda é extremamente feliz com a escolha do elenco, e é impossível não admirar a inteligência do cineasta ao escalar Ben Afleck como Nick Dunne, já que o diretor consegue compreender até mesmo como os limites do ator serviriam ao papel. E digo isso pois a inexpressividade habitual do ator é vital para que o personagem funcione, já que é por trás de uma expressão de constante apatia que Nick revela-se essencialmente um sujeito inseguro, imaturo e que não raro adota posturas infantis e pouco assertivas para se adequar a situações estressantes, algo que fica bem claro em seu comportamento quanto ao desaparecimento de Amy, já que a ambivalência de emoções não é nunca nem disfarçada pelo sujeito. Mas não só pela inexpressividade que Afleck acerta em sua composição, já que ao deixar evidente como o personagem vai se tornando mais ativo com o decorrer da projeção, o ator faz algo vital para que o final do filme funcione tão bem.

Completando o elenco, Fincher escolhe o intérprete ideal para cada personagem: Neil Patrick Harris comove com o desespero mal disfarçado e quase juvenil de Desi Collings; Kim Dickens cria uma detetive Ronda tão fascinante quanto no livro; Dave Clennon consegue o calor humano ideal ao pai de Amy; Carrie Coon faz de Margot a criatura repleta do mesmo “rough love” que a definia no livro; e Scott McNeary, em uma única cena, evidencia os danos psicológicos de uma pessoa vítima da cólera feminina que o atingiu. E falando nisso, Rosamund Pike é uma escolha ainda mais genial do diretor do que de qualquer outro colega do elenco, e isso não por causa de seu atributos como atriz, mas sim por sua postura de loura fria e fatal capaz de tornar um mero olhar em algo mais perigoso do que uma espada afiada.

E nos dois próximos parágrafos comentarei aspectos da obra que quem não viu o filme ou leu o livro pode preferir deixar para ler depois. Então, quem se enquadra nesses grupos, por favor pulem para o último parágrafo.

Agora aqui só temos gente que sabe sobre a profundidade da sociopatia de Amy Dunne e como isso é um dos principais fatores que fazem de Garota Exemplar um livro tão estimulante. Pois Amy Dunne é uma figura extremamente complexa, cujas atitudes calculadas não vem de uma simples necessidade de causar dor ou mesmo como vingança por ter sido ferida, mas sim de uma profunda necessidade de controle, de se sentir no poder, de saber que pode acabar com toda a vida de uma pessoa se assim desejar, desprezando sua própria se isso for necessário. Porém, até por dificuldades naturais da natureza da Arte cinematográfica, Flynn teve problemas em desenvolver a personagem, recorrendo a recursos preguiçosos como a narração em off para expressar suas motivações. Estas que, ainda assim, se revelam menos complexas do que aquelas vistas no livro, o que, no entanto, não impede que Amy continue magnética e aterrorizante. Aliás, a dinâmica que cria com Nick no final da história continua sendo, como no livro, o ponto mais alto de toda a trama, apesar de aqui depender de uma diálogo deveras expositivo.

E com todas essas reviravoltas, como Garota Exemplar se insere na obra completa de David Fincher? Lembrando que todos os seus filmes, por mais que trouxessem personagem muito racionais, trabalhavam indivíduos que no fundo tinham uma carência de contato humano. Aliás, a importância das relações interpessoais sempre foi tema na obra de Fincher, até mesmo em Clube da Luta, onde o diretor alterou o final do livro para um em que Tyler encontrava redenção nos braços de Marla. Nesse seu novo filme a questão fica ainda mais complexa, já que se trata de uma relação doentia entre Nick e Amy, mas que funciona perfeitamente em seus termos, e cada um se completa com seu modo distorcido de ser. Além disso, Amy é uma figura feminina forte e independente que entra para um quadro de personagens desse tipo na filmografia do diretor, como Lisbeth Salander, Ellen Ripley, Meg Altman, etc.

Enfim, Garota Exemplar é mais um filme de altíssima qualidade de um dos cineastas mais brilhantes da atualidade, que a cada novo projeto consegue explorar temas recorrentes à sua filmografia ao mesmo tempo em que desenvolve tramas complexas e intrigantes, capazes de estimular até ao mais passivo dos espectadores.