sexta-feira, 31 de agosto de 2012


Resenha filme "Procura-se Um Amigo Para o Fim Do Mundo" (Seeking a Friend for the End of the World/2012/EUA) dir.Lorene Scafaria

por Lucas Wagner


O que é tão interessante em filmes sobre o apocalipse (tirando aqueles que acham que explodir tudo é suficientemente bom para ser classificado como Cinema, como por exemplo, Armaggedon, 2012, O Dia Depois de Amanhã, Impacto Profundo, etc) é que esses longas têm diante de si uma enorme oportunidade de estudar seus personagens no mais profundo de sua humanidade (característica também presente em muitos filmes de guerra), quando esses não têm mais nada, nem uma perspectiva, a não ser aproveitar a companhia de outro ser humano. Existem filmes que aproveitaram essa oportunidade de maneira incrível, como Melancolia, Extermínio, A Estrada, Eu Sou a Lenda, e, por mais que alguns achem que é brincadeira, Zumbilândia. Procura-se Um Amigo Para o Fim Do Mundo tem ambições enormes nesse sentido também, já que seus personagens são figuras essencialmente solitárias que, diante do fim do mundo, encontram conforto na companhia um do outro, mas que no final das contas, infelizmente, se revela uma experiência insatisfatória, já que seus protagonistas não são nem de longe figuras interessantes e, muito menos, a roteirista/diretora Lorene Scafaria consegue lidar bem com as ambições de seu próprio projeto, e acaba tropeçando feio.

  Logo no início do filme descobrimos que, dentro de três semanas, um asteroide enorme vai atingir o Planeta, destruindo a tudo e a todos, e não há nada mais o que fazer. A partir disso, passamos a acompanhar a vida de Dodge (Steve Carrell), cuja esposa, ao descobrir sobre a iminência do fim, larga o marido no ato. Vivendo em depressão e claramente à deriva, Dodge encontra Penny (Keira Knightley), com quem inicia uma amizade enquanto o primeiro busca reencontrar sua namorada de Ensino Médio (que lhe enviou uma carta três meses antes que, por determinados problemas, ele não recebeu na hora certa) e a segunda busca passar seus últimos dias com sua família.

  O roteiro de Scafaria lida com toda a situação do apocalipse de maneira irregular. Se no início essa acerta bastante, da metade para o final tudo parece ficar em suspensão. Quando recebe a notícia sobre as três últimas semanas, a sociedade parece entrar em um estado de melancolia, ficando sem saber exatamente o que fazer. Muitos cometem suicídio, outros param de trabalhar e tentar curtir seus últimos dias, e outros ficam sem saber o que fazer, seguindo com suas rotinas, seus empregos, como se nada tivesse acontecido (só que agora eles ficam com cara de estúpidos sem saber o que fazer). Mais interessante ainda, é que, para a maioria das pessoas, a notícia do apocalipse não gerou exatamente rancor, tristeza ou ódio, mas parece ter sido mais como um passe livre para que esses indivíduos se libertassem de suas rotinas massacrantes e pudessem “soltar a franga”, mesmo que busquem manter ainda uma máscara de civilidade. Isso fica bem claro na cena da festa, no início do filme, em que encontramos várias famílias respeitadas de classe média alta usando heroína, traindo seus (suas) parceiros (as), dando álcool para crianças apenas por diversão, etc. O filme parece bem promissor nesse momento, já que parece prometer um estudo de uma sociedade decadente que enxerga na morte, no fim, mais uma possibilidade de salvação, de aproveitar pelo menos um pouco da vida antes que essa acabe, do que exatamente algo a se enxergar com tristeza. Ainda, é interessante a ideia da diretora/roteirista de filmar um muro com vários folhetos com propagandas/anúncios como “Quer suicidar? Nós fazemos o serviço para você!”, “Faça sexo com uma virgem!”, ou ainda, “Procura-se um amigo para o fim do mundo”.

  É uma pena, portanto, que Scafaria abandone essas intrigantes ideias a partir do momento em que seus protagonistas partem em sua viagem, já que, desse momento para frente, ela não dedica mais praticamente nem um segundo de projeção para trabalhar o apocalipse e a percepção dos humanos quanto a isso, sendo que a maioria não parece estar tão intensamente preocupada quanto ao fim e, quando isso acontece, é de forma desinteressante, como em relação ao policial que não consegue deixar de trabalhar e procura “afundar as mágoas no cumprimento da lei”. Aliás, os personagens que os protagonistas encontram no seu caminho (tirando aqueles do bar em que todos adoram fazer orgia e usar drogas) são essencialmente desinteressantes e sem qualquer sentido narrativo, a não ser dizer algumas palavras de “pseudo sabedoria” para os protagonistas.

  A partir do momentos em que Dodge e Penny iniciam sua “jornada”, o filme se torna extremamente aborrecido, já que esses personagens não são nem interessantes e nem bem desenvolvidos o suficiente para segurar o longa. Dodge é um sujeito extremamente chato, com depressão ou não. Tá bom que, diante da perspectiva do apocalipse, reencontrar o “amor de sua vida” pode parecer uma boa, mas aqui soa falso e mais uma vez comprova a falta de rumo do roteiro. Aliás, toda essa situação da “namoradinha de colégio” é trabalhada de maneira apressada demais para que ganhe alguma dimensão emocional. Ele é um personagem seco, desinteressante e unidimensional, o que também impede que o geralmente competente Steve Carrell consiga desenvolver seu papel, ou mesmo dar alguma personalidade a esse, que parece vagar pelo filme como um fantasma. Vejam bem, um personagem com depressão pode ser interessante ou não dependendo do modo como é escrito (emMelancolia, Lars Von Trier descreveu de forma complexa e talentosa a depressão da protagonista), mas aqui falta qualquer estofo psicológico pelo roteiro, o que torna momentos potencialmente emocionantes em situações completamente vazias, como fica bem claro no encontro de Dodge com seu pai. Nunca havia nem sido mencionado os seus problemas com o pai, então como, possivelmente, poderíamos ficar tocados pela reconciliação que ocorre? E Keira Knightley mais uma vez esse ano é prejudicada pelo roteiro (a outra foi em Um Método Perigoso -  http://mestredeobras.blogspot.com.br/2012/05/resenha-filme-um-metodo-perigoso.html ) e, por mais que sue para transformar Penny em alguém trágica mas otimista, transformar seus problemas em algo real, palpável, ela falha, já que Penny é, essencialmente, vazia e sem graça, ainda mais porque Scafaria fica martelando o tempo inteiro a ideia de que seus dilemas vem de ter perdido tempo demais namorando homens que não prestam e não prestando atenção à sua família. Sem contar que até mesmo o cachorrinho que os acompanha é tremendamente sem graça, ficando anos-luz atrás daqueles cheios de personalidades como Sam de Eu Sou a Lenda, Marley de Marley & Eu e Milu de As Aventuras de Tintim.

  Como diretora, Scafaria não sai tão mal. Se quase não há nada interessante demais para manter o filme de pé, e ela peque ao investir numa estrutura falha e cansativa e em um humor que nunca funciona, já que surge sempre forçado demais, Scafaria, a partir de certo momento, demonstra uma sensibilidade inteligente que guia o final do segundo e o terceiro ato do longa (parem de ler quem não viu o filme até que vejam esse símbolo: (-----)) quando começam a surgir sentimentos românticos entre Dodge e Penny. Nesses momentos (acompanhados pela excelente seleção musical de Scafaria), a diretora investe, muitas vezes, em planos mais fechados que mostram Dodge ou Penny olhando de maneira sonhadora para o outro, enquanto esse simplesmente fala, e podemos “sentir” o sentimento crescendo, o sentimento de que essa pessoa é mais importante para ele do que ele poderia imaginar e que, só de estar ali com ela, já vale a pena. Além disso, a cena final é realmente intensa e tocante (ignorando o absurdo da volta de Penny), já que Scafaria vai fechando cada vez mais os planos, até o rosto de cada de Dodge ou Penny preencher completamente a tela, enquanto começam as explosões e estrondos do apocalipse; e Scafaria mais uma vez acerta ao encerrar o filme num primeiro plano de Penny, vista a partir da perspectiva de Dodge, enquanto ela é coberta de um branco “celeste” nos seus últimos momentos de vida, demonstrando a relevância dela para ele, e que, morrer ali, do lado dela, é mais do que ele poderia pedir durante toda a vida.

  (-----) Mas mesmo esses acertos não salvam o longa do fracasso, se mostrando completamente pretensioso em suas visões e “filosofias”, não conseguindo transmitir a mensagem que desejam e nem nos tornando próximos daqueles personagens como acreditam que nos tornam, por mais que aquelas pessoas mais sensíveis possam acabar chorando no final. O mais engraçado é que filmes de comédia (sim, esse aqui acredita que é engraçado) com teor apocalíptico, como Zumbilândia Todo Mundo Quase Morto, mesmo tendo uma trama recheada de zumbis, é mais humano e emocionante que esseProcura-se Um Amigo Para o Fim Do Mundo que é, à primeira vista, mais ambicioso e “sério”Uma pena...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012



Resenha filme "Rock of Ages" (Rock of Ages / 2012 / EUA) dir. Adam Shankman

por Lucas Wagner


Não sou tão fã de musicais. Sinceramente, não vejo muita graça em pessoas levantando e começando a cantar do nada, enquanto todo mundo na cena se junta de maneira inexplicável e começa a cantar também. Porém, existem musicais dos quais gosto e aprecio bastante o seu valor como Cinema, tais como Moulin Rouge Todos Dizem Eu Te Amo Grease. Dito isso, o fato de eu destruir esse medíocre Rock of Ages aqui, não vem de não ser muito fã de musicais, mas sim dos defeitos desse que é um dos filmes mais estúpidos, infames e, consequentemente, hilários do ano (e não nas cenas em que ele se propõe a ser “hilário”).

  Vamos começar pela imbecilidade dos roteiristas ao ambientar o filme em 1987. Em primeiro lugar, para um longa que se propõe a ser uma “homenagem” aos “anos do Rock N’ Roll”, essa não é uma época em nada apropriada, já que, nesse período, já não vemos o Rock puro, o Rock de verdade, mas um Rock mais decadente que está dando lugar a gêneros musicais menos louváveis. Se é para fazer uma homenagem, que se ambientasse nas décadas de 60/70 então, que daria muito mais certo e faria muito mais sentido (não estou dizendo que não tinha bandas boas na década de 80, mas que essa não era uma década nem metade Rock N’ Roll como as de 60/70). Mas se ambientar em 87 até faria sentido, já que o filme acha que está fazendo um protesto de que o “rock não morreu” diante dos outros gêneros musicais que estavam surgindo, mas ele mesmo apunha-la o Rock bem no seu coração, como discutirei mais tarde (no penúltimo parágrafo).

  Ainda sobre o período em que o longa se passa, temos mais uma prova da triste falta de neurônios dos roteiristas quando vemos um grande números de conservadores e religiosos fazendo protestos enormes contra o Rock, o que não faz o menor sentido numa época em que Pink Floyd, The Doors, Rolling Stones, The Beatles, etc, já tinham deixado multidões loucas, e feito a cabeça da população. Assim, provavelmente ainda existiriam protestos, só que só por parte daqueles muito conservadores e religiosos, e não de uma parcela tão considerável da população que se atreveria a fazer protestos na frente de uma boate, como vemos aqui. Porém, se o longa se focasse nessa subtrama (e ele se esquece o tempo inteiro de que ela existe, apenas para lembrar-se bem depois, numa completa falta de estruturação de roteiro) ele ainda se sairia bem melhor do que o que realmente acontece, mas os roteiristas acham de verdade (o que me leva a considerar que eles realmente tenham algum tipo de problema psicológico) que qualquer um dos espectadores se importa o mínimo com o RIDÍCULOromance de Drew (Diego Boneta) e Sherrie (Julianne Hough).

  Depois de se conhecerem e passarem um tempinho juntos, se apaixonam loucamente e não conseguem se desgrudar. Por favor, seu roteiristas imbecis, um amor de verdade leva tempo para se mostrar, e, começando a se “amar” dentro de algumas horas, sem nem tendo conversado direito e conhecido aquela pessoa, suas ideias e personalidade (como Antes do Amanhecer de Richard Linklater, fez tão bem), você não sente amor. Drew e Sherrie, o que vocês sentem um pelo outro não é amor: chama-se tesão (e o fato de Sherrie se apaixonar por Drew me leva a pensar na possibilidade de que a personagem seja lésbica, já que há tempos não via um personagem tão acidentalmente afeminado quanto esse). Usando-se de todo e qualquer clichê ao qual possam se agarrar, os roteiristas vão desenvolvendo porcamente esse romance que já começou mal, levando a diversas briguinhas e desentendimentos por parte do casal, que entendem uma situação de maneira distorcida, brigam, ficam deprimidos e depois descobrem que estavam errados um sobre o outro e voltam, vivendo felizes para sempre. Isso já seria absurdamente ridículo, mas os roteiristas pioram ainda mais a situação ao colocar um tempo de, no máximo, três dias para que seu “dramático” rompimento por falta de entendimento ocorra. Meu Deus, com três dias VOCÊ NEM CONHECE A PESSOA!!! E se não forem só três dias, os roteiristas ainda erram por não deixar que o espectador perceba a dimensão do tempo em que ocorre o filme, que parece acontecer em uma semana, mas aparentemente dura meses (isso se eu considerar que o roteiro possui alguma lógica real).

  O romance ainda piora quando vemos o nível de seus atorzinhos. Se Julianne Hough é linda de se olhar (e como é), ela é um lixo como atriz, interpretando a já batida garotinha inocente em busca de um sonho e que encontra o amor. Pff. E agora, esse Diego Boneta... hahahahahahahahaahahahah. MEU DEUS, QUE MERDA DE ATUAÇÃO FOI ESSA?! Desculpem eu falar assim, mas não tem jeito melhor de se expressar. Fazendo cara de babaca, imbecil e imaturo de coraçãozinho partido o filme inteiro, o ator acha mesmo que dá alguma dimensão à esse “personagem”, enquanto apenas dá uma de Justin Bieber o tempo inteiro. E o personagem é porcamente escrito, para variar, sendo que ele é um sujeito que tem a mesma compreensão sobre relacionamentos que um garotinho de 11 anos teria, ou até menos. E como assim ele diz que “tem medo de palco” mas não hesita nem um pouco na hora de cantar? Aliás, o momento em que ele diz que tem “medo de palco” é hilário (acidentalmente), já que já o vimos cantando e dançando numa loja e (o que é ainda mais medíocre) ele, logo antes de dizer isso, estava cantando uma canção. Já o resto do elenco, o que vemos é um completo desperdício de talento, já que temos grandes nomes aqui. Catherine Zeta-Jones está desprezível como Patrícia Whitmore, baseando sua performance num festival de exageros. Paul Giamatti... que porra que ele tá fazendo aqui? O cara de Sideways Anti-Herói Americano, o que que possivelmente atraiu sua atenção no personagem do agente Paul Gill?! Alec Baldwin se diverte, mas não é o bastante para tornar seu personagem menos estúpido (e a sua relação com o personagem de Russell Brand – outro que está horrível e exagerado – pode ser inesperada, mas não faz sentido e soa apenas como tentativa de se fazer humor, falhando, obviamente). E, meu Deus do céu, Bryan Cranston? Por tudo que seja mais sagrado ou profano em todo o Universo, em qualquer religião, POR QUE ELE FAZ ISSO CONSIGO MESMO????!!!!!! Ele é um gênio da atuação, e provou isso interpretando de maneira impecável e detalhista o protagonista do seriado Breaking Bad, Walter White. Ele deveria só ter personagem bom, mas ele parece se menosprezar completamente, aceitando apenas papéis médios ou medíocres no Cinema, e não há como não perceber isso ao observar seus papéis em John Carter, O Vingador do Futuro, Larry Crowne, ou esse Rock of Ages. O único filme em que ele está bem é o beloDrive , e ainda assim não é lá um grande papel. Ele é Walter the fucking White, um dos personagens mais complexos e fascinantes que já vi, e se rebaixa a papéis como esse, do escroto e dispensável Mike Whitman (e a imagem congelada em que aparece nos créditos finais seria motivos para sérios problemas caso o Sr. White tivesse visto o que fizeram com seu corpo).

  Para não dizerem que reclamo o tempo inteiro, a atuação de Tom Cruise está realmente digna de nota. Construindo com cuidado o seu Stacee Jaxx, Cruise acerta numa composição depressiva, trágica mas forte e imponente, que transforma Jaxx em uma figura misteriosa e complexa, que sempre nos deixa atiçados para conhecê-lo um pouco mais. Mas o roteiro não poderia deixar algo tão bom em um filme tão medíocre, e assim, através de falas estúpidas e clichês de uma jornalista, como “você é um homen solitário” ou “você usa isso como uma máscara”, tenta simplificar o personagem, tirando assim a complexidade que Cruise tinha conseguido até então. Porém, mostrando-se um astro inteligente, Cruise vira a mesa e entrega um monólogo fascinante e intenso, que, aí sim, deixa o personagem mais trágico e fascinante (“eu sou um escravo do Rock”). O roteiro, ainda assim, quebra as pernas de Cruise e, novamente, simplificam o personagem ao entregar-lhe um arco dramático patético e clichê, que confirmam as simplificações feitas pela jornalista. Uma pena...

  Ainda como musical em si, Rock of Ages se mostra novamente imbecil, investindo em uma quantidade absurda de números musicais que, muitas vezes, não tem nem um minuto de distância temporal um do outro. E o medíocre cineasta Adam Shakman (do também horrível Hairspray) demonstra completa falta de talento na condução dos números musicais, que surgem chatos e burocráticos (por mais que ele tente evitar isso através de cortes rápidos). E Shankman também não demonstra nenhum talento nas cenas mais “intimistas” (ou que acham que são intimistas), se mostrando um lixo no desenvolvimento de seus personagens. Além disso, eu não preciso ser um dançarino nem especialista nisso para dizer que as coreografias do filme são deprimentes e nada empolgantes, não apresentando nenhum momento mais inspirado ou criativo que seja. E Shankman mais uma vez se mostra um completo panaca ao filmar cenas musicais focadas em determinados personagens apenas para desviar a atenção destes e focar em outros personagens que não tem nada haver com a situação, que surgem cantando e dançando, mesmo não tendo nada haver com o contexto, e nem mesmo estando perto daqueles nos quais o número musical é focado. É hilário o número de vezes em que isso acontece, já que são vários os momentos em que Drew e Sherrie começam a cantar “a distância” e logo vemos Jaxx cantando junto em sua mansão, e, puta que pariu, uma dona de uma boate, sem qualquer importância, aparecendo cantando junto!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Meu Deus, que tipo de cineasta pode fazer algo tão... estúpido?! ELA NÃO TEM IMPORTÃNCIA NO FILME, ENTÃO POR QUE APARECE CANTANDO JUNTO COM OS PROTAGONISTAS, SENDO QUE NÃO TEM NEM UM ARCO DRAMÁTICO PRÓPRIO JUSTIFICADO PELA LETRA DA CANÇÃO???!!!! Uma personagem completamente desnecessária, como 95% dos personagens deste “filme”.

  Mas, acima de todos os horrores oferecidos pelo longa, o pior dele é achar que é Rock n’ Roll. Ele pode ter algumas canções Rock n’ Roll, mas esse longuinha aqui é pop. É pop descaradamente. As canções, em sua grande maioria, suas melodias, letras, são pop. Não há nem discussão. Não tem NADA que as caracterize como Rock. Não há como entender o por que dos personagens celebrarem que o Rock não morreu, sendo que o que eles fazem e cantam aqui não tem nada de Rock. Tem haver com o que há de mais emo em qualquer canção pop da atualidade, isso sim. E o filme ainda tenta fazer uma crítica bem vinda ao Rap, mas falhando nisso também para variar,  já que o Rap cantado aqui não distancia muito das supostas canções “Rock” que os personagens tanto adoram cantar (de fato, se não fosse pelo contexto e visual da cena, não seria capaz de diferenciar os tipos de música).

  Assim como Chernobyl ( http://mestredeobras.blogspot.com.br/2012/07/resenha-filme-chernobyl-chernobyl.html ), Rock of Ages é tão medíocre que chega a ser engraçado (se você estiver disposto a rir bem alto da desgraça de ter gastado dinheiro com isso). Se se focasse no personagem de Tom Cruise, e contasse com um cineasta e roteiristas melhores, e que também entendessem de Rock n’ Roll, o longa teria futuro. Mas não é assim, e é um dos piores filmes do ano.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

RESENHA DE CD: THE POWER OF ROCK – VOLUME 2



Por Paulo Henrique Faria


A resenha dessa vez é sobre um ótimo copilado de bandas de metal mundo a fora. Trata-se do especial “The Power Of Rock – Volume 2”, álbum montado por produtores metaleiros da Alemanha. A ideia principal é pegar grupos de extrema qualidade que não estão no mainstream internacional.
As primeiras cinco músicas logo de cara já ganham destaque no CD. A primeira é “No Holy Man” do Eden’s Curse, banda multinacional, que conta com músicos britânicos e americanos. O som dos caras mistura muito bem o vigor do Power Metal com arranjos complexos do Progressive Metal e com direito a participação de James LaBrie, vocalista do Dream Theater. A segunda é a banda sueca Coldspell, que participa com sua energética “Run For Your Life”. A proposta dos caras é bem semelhante ao dos conterrâneos Europe, que é de fazer um Hard Rock forte e carregado de teclados. A terceira é mais uma da Suécia, surge então o Enbound com a poderosa “Combined The Souls”, o quarteto faz um Power Metal violento e moderno, com pedal duplo rápido e melodias marcantes.
E o domínio sueco não para de crescer, pois a quinta faixa é “The Sound Of A Heartbreak” do grande Last Autumn’s Dream, banda que tive o prazer de resenhar dias atrás. Os caras a exemplo do Coldspell, fazem um Hard Rock muito bem feito. Na sequência vem o Distorted Wonderland, tocando “Raised On Rock And Roll” e, pode parecer brincadeira, pois os caras também são da Suécia. A verdade é que lá existe muitas bandas boas, além das clássicas Malmsteen, Europe, Hammerfall ou mais recentes Evergrey e Arch Enemy. O Distorted segue mais para um som Hard n’ Heavy, com vocal rasgado e cheio de agudos. Saindo um pouco da terra dos vikings, a número oito “Dreamless” também merece destaque. Primeiro pelo fato da banda ser da sofrida Bósnia e ter como vocalista uma bela mulher. Estou falando do promissor grupo Heaven Rain, que faz um ótimo metal melódico com nuances em Prog. A voz de Miona Graorac é muito afinada e melódica, sem contar os arranjos de teclado que são muito presentes. Arriscam aliás até um ótimo solo deste instrumento no meio da canção.
A número 12 do álbum é “Disappear In You” da banda americana Clandestine, que tem uma constituição sonora parecida com a do Heaven Rain, aliás. Eles também puxam para o Metal Progressivo e têm uma Frontwoman. A diferença é que tanto o vocal quanto o instrumental são mais agressivos. A vocalista é a bela June Park, que possui descendência asiática, manda vários agudos e arrisca até um gutural no início. Logo em seguida temos a pancada “Coastal Battery” da banda belga Fireforce. O som dos caras é muito nervoso, repleto de cavalgadas dignas dos mais tradicionais do Heavy Metal e ainda, com fortes flertes na velocidade e técnica do Power Metal. O som dos caras tem um “Q” de Iced Earth. E para fechar, a número 16 e última canção é “Wake Up Call” de mais uma banda sueca, o Hardcore Circus, que faz uma espécie de mix de Metalcore e Hard Rock. Som moderno e pesado.
O álbum “The Power Of Rock” é repleto de músicas de qualidade, não só as nove que citei. Mostra-nos que o “Lado B” do Hard/Metal mundial é excelente e, cheia de grupos muito bons que não têm o reconhecimento que deveriam. Vale muito a pena ouvir!

Veja o clipe de uma das bandas do álbum:


sexta-feira, 24 de agosto de 2012


Resenha filme "O Ditador" (The Dictator / 2012 / EUA) dir. Larry Charles

por Lucas Wagner


  Em 2006, o excelente comediante Sacha Baron Cohen iniciou uma parceria extremamente promissora com o cineasta Larry Charles, criando o fantástico longa Borat, um filme que, através da inocência cativante de seu protagonista (interpretado por Baron Cohen), e auxiliado por uma estrutura de “pseudo-documentário”, colocava diversos norte-americanos (que não sabiam que estavam sendo filmados para um filme) contra a parede, fazendo-os revelar suas piores facetas, repleta de um falso moralismo nojento, preconceito absurdo e um inflado e sanguinário patriotismo pós 11/09. Além disso,Borat funciona também como uma comédia excepcional, com cenas inesquecivelmente hilárias que, muitas vezes, vinham repletas de um senso crítico fascinante. Em 2009, Baron Cohen e Charles repetem a parceria, só que dessa vez, de uma maneira falha e reprovável, em Brüno, um filme repugnante que busca repetir a fórmula de Borat, mas dessa vez falhando já que o personagem principal (mais uma vez Baron Cohen) era um sujeito desprezível, mais desprezível do que as pessoas que ele busca criticar, e por isso mesmo fica difícil você sentir “ódio” pelos “norte americanos hipócritas e preconceituosos”, já que qualquer um sentiria desprezo e repugnância por Brüno. Agora, em 2012, ator e cineasta repetem a parceria e, se por um lado conseguiram fazer um longa um pouco melhor do que Brüno, O Ditador se revela é um longa fraquinho e inocente (não no sentido em que o personagem Borat o é, mas no sentido de um filme com ideias mais “juvenis”), que, infelizmente, mostra que a união Baron Cohen e Charles não passou de uma promessa.

  O roteiro de Sacha Baron Cohen, Alec Berg, David Mandel, Jeff Schaffer já começa com o pé esquerdo na própria premissa, que novamente se baseia na história de um estrangeiro com comportamentos mal vistos pela sociedade norte americana, e, por contingências da vida, vai para os EUA, lá perdendo o que quer que seja que o mantinha econômica e socialmente, e sendo obrigado a se passar por um cidadão comum (juntamente com um parceiro idiota), enfrentando preconceitos de diversos tipos pelos cidadãos “americanos”. Talvez percebendo essa falta de originalidade, o roteiro descarta a estrutura de pseudo-documentário dos dois filmes anteriores, optando assim por um roteiro com uma estrutura “normal”, que, de modo algum, consegue mascarar a falta de originalidade (fail). Isso já impediu que o filme conseguisse o que Borat triunfou e o que Brüno tentou (e falhou, na maior parte do tempo), que era conseguir registrar na íntegra as reações, os preconceitos dos norte-americanos por um cidadão estrangeiro com costumes diferentes. Mas isso não seria problema caso O Ditador possuísse de fato uma boa estrutura, com diálogos ácidos e críticas inteligentes, algo que ele não tem. Se é “interessante” o momento em que o personagem de John C. Reilly diz que “Qualquer um que não seja americano, é árabe”, ou ainda por mais que seja bacana o momento em que Aladeen (Sacha Baron Cohen), ao citar os “benefícios” de uma ditadura, vai citando (sem perceber) características que cabem perfeitamente no estilo de vida dos EUA, essas críticas surgem muito inocentes e forçadas (além de completamente artificiais), não nos levando a encarar uma realidade infeliz com um tremendo tapa na cara, como em Borat. Na verdade, a impressão que fica é que essas críticas não surgiram de uma vontade e objetivos reais dos realizadores de criticar, mas mais como se, já que fizeram isso em Borat Brüno, e deu certo (tem muito crítico que acha que o segundo foi eficaz no que se propôs), por que não fazer em O Ditador?

  O objetivo do longa é, de verdade, apenas fazer rir. Nada mais, nada menos. E nesse aspecto o filme alcança um nível relativamente satisfatório (não tanto quanto os realizadores acham que conseguiram). Como um enorme fã do humor retardado e sem sentido (sou 9gagger de coração, e completamente apaixonado por Monty Python), é impossível que eu não desse enormes gargalhadas em diversas cenas, tamanho o nível do absurdo e do exagero vistos, como a cena hilária em que Aladeen se masturba, ou, quando entra em um bar de “difamadores seus”, vai se lembrando do que fez com cada um deles, e o mais hilário é, nessa cena, sua lembrança da vaca (sem mais comentários, vocês perceberão se virem o filme). Mas, infelizmente, o trailer do longa falha ao entregar muitas cenas que seriam muito mais engraçadas caso as víssemos pela primeira vez durante o filme. E ainda, muitos momentos surgem forçados demais para serem genuinamente engraçados (como qualquer cena com  o sósia do ditador, ou aquelas envolvendo o empresário chinês tarado). No entanto, para quem gosta de um bom humor nonsense, como eu, terá sua pequena parcela de diversão.

  O personagem Aladeen também não é lá grande coisa. Enquanto o que nos fazia perdoar os enormes preconceitos de Borat era sua absoluta inocência, o mesmo não se pode dizer de Aladeen ou de Brüno, já que são personagens conscientes de seus “defeitos de caráter”. Assim, desde o início fica difícil simpatizar com o protagonista, que surge rindo ao falar sobre paz, direitos civis, etc, enquanto se dedica completamente a construir bombas nucleares. Cada dificuldade, preconceito que enfrenta, ganha a mesma repercussão de quando isso acontecia em Brüno: nós ficamos do lado de quem critica, enquanto não deveria ser assim. E ainda, a própria trajetória de Aladeen é extremamente sem graça, sendo seu relacionamento com Zoey (Anna Faris) uma situação completamente maçante e artificial, que não é bem desenvolvida e surge apenas como propulsor para as “mudanças” do protagonista. Como ator, Baron Cohen continua excepcional, se sentido confortável e divertido no papel, o que não é suficiente para que salve o filme. O resto do elenco não tem nenhum ponto positivo, que ainda conta com um Ben Kingsley desconfortável e no piloto automático e uma Anna Faris que faz de tudo para tentar transmitir força à sua idealista personagem, mas falha principalmente pelo roteiro, que cria para ela um “arco dramático” imbecil e completamente sem sentido.

  Sendo levemente suportável devido a algumas piadas, O Ditador tenta esconder com uma máscara de “engajamento político” que, na verdade, é apenas um filme de comédia comum e falho. Não é inteligente e ácido como Borat, mas também não é tão moralmente desprezível como Brüno. Mas também não é bom.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012


Resenha filme "Um Divã Para Dois" (Hope Springs / 2012 / EUA) dir. David Frankel

por Lucas Wagner


Um Divã Para Dois não é bem uma comédia romântica no sentido comum a que se dá a esse gênero hoje em dia. Enquanto a maioria dos filmes que cabem nesse gênero se afundam em clichês patéticos e possuem um roteiro mal trabalhado (alguns exemplos recentes são Sexo Sem Compromisso, Noite de Ano Novo, Guerra é Guerra - http://www.facebook.com/notes/lucas-wagner/resenha-filme-guerra-%C3%A9-guerra-this-means-war/274779219266853 - , etc), jogando fora a oportunidade de trabalhar bem algo tão fascinante quanto os relacionamentos, algumas comédias românticas podem ser classificadas como “adultas”, já que, ao invés de focar em clichês ou no humor fácil, preferem guiar o espectador através do conhecimento de seus personagens, seus conflitos e no romance que vai crescendo entre eles, e ainda não fogem de trabalhar temas ainda mais complexos, desafiando o espectador que vai ao cinema esperando apenas relaxar. Alguns exemplos recentes são Meia Noite em Paris, (500) Dias Com Ela, Solteiros Com Filhos (http://mestredeobras.blogspot.com.br/2012/06/resenha-filme-solteiros-com-filhos.html, minha resenha)e agora esse Um Divã Para Dois pode entrar no clube, mesmo que seja inferior a esses citados, já que, merece grandes créditos por tratar de um tema como o casamento de uma forma complexa e mais “difícil”, ao invés de sempre buscar o humor fácil, como muitos filmes fariam hoje em dia. E se o filme merece esses elogios, não é tanto pelo roteiro de Vanessa Taylor ou pela direção de David Frankel (do mediano O Diabo Veste Prada e do ótimo Marley & Eu), mas pelas performances impecáveis e dignas de vários prêmios de Maryl Streep e Tommy Lee Jones.

  Acompanhamos a história do casal Kay (Maryl Streep) e Arnold (Tommy Lee Jones), que estão casados há 31 anos e já nem dormem mais nos mesmos quartos, possuindo uma relação fria e distante baseada numa rotina entediante. Triste com essa queda no seu casamento, Kay convence (duramente) Arnold e fazer uma terapia de casal com o famoso Dr. Feld (Steve Carrel).

  Como eu disse, falar de Um Divã Para Dois é falar sobre os dois protagonistas e seus atores. Tommy Lee Jones não entregava uma atuação tão boa assim desde 2006/2007 quando fez No Vale das Sombras e o inesquecível Onde Os Fracos Não Têm Vez. Compondo Arnold com uma perfeita mistura de humor carrancudo (nós rimos de seu mau humor assim como ríamos do mau humor de K, em Homens de Preto) e drama, Lee Jones é sensacional ao apresentá-lo primeiramente como um indivíduo chato e babaca, apenas para nos fazer compreendê-lo cada vez mais como alguém complexo e que não queria agir com a esposa como age, já que no fundo, ainda a ama profundamente, algo que fica bem claro naquela que é uma das cenas mais tocantes do filme, quando ele conta como a conheceu, e Jones transmite emoções profundas através das maravilhosas linhas de expressão de seu rosto (que rivalizam com aquelas de Clint Eastwood ou Bryan Cranston). O arco dramático vivido por ele só é eficaz graças à atuação de Jones, já que nas mãos de qualquer outro ator poderia ser extremamente caótico, já que o próprio roteiro não parece ter escrito-o muito bem, mas Jones dá um rumo impecável a Arnold e transforma o caótico em complexo, expressando sentimentos verdadeiros e complicados, envolvendo o espectador em seu drama de uma forma extremamente eficaz, que é vital para que o filme funcione. É um personagem extremamente multifacetado que é fascinante conhecer, por causa de Jones. E também não poderia deixar de comentar o fantástico momento em que, pronto para receber um boquete, Jones dá um sorrizinho maroto de adolescente feliz que me fez rir mais do que qualquer outra cena do filme.

  Maryl Streep prova mais uma vez porque é recordista de indicações ao Oscar em mais um desempenho espetacular como Kay, uma mulher que, como fica claro em outra das melhores cenas do filme, quer encontrar uma razão para viver, uma esperança, uma expectativa, já que a própria vida gira em torno de expectativas, e sem essas, seria completamente sem graça. Com os filhos crescidos e donos de si, ela vive sozinha com o marido, com quem o casamento foi esfriando e estagnou, sendo que ele nem olha mais para ela como mulher, e nem a toca. Ela passa a questionar o por quê do seu casamento ter se tornado assim e busca ressucitá-lo através da terapia. Só que ela é mais complexa do que parece, já que grandes problemas do casamento são produto de seus próprios problemas de si mesma como mulher. Streep é genial ao tratar a personagem com cuidado e respeito, mostrando emoções profundas através de pequenas nuances, como o sorrizinho que dá quando Arnold decide ir à terapia com ela, ou nos momentos mais fortes, como quando se magoa com o marido ou fica encantada com determinadas surpresas. Cada emoção, cada sentimento de Kay ganha uma dimensão extra nas mãos de Streep, que nos faz querer ultrapassar a barreira entre realidade e ficção apenas para poder abraçá-la e dar algum conforto diante do que está acontecendo com a personagem. E, assim como acontece com Arnold, nós apenas somos capazes de olhar para Kay como uma figura complexa e tridimensional devido à sua interprete já que o roteiro (que discutirei daqui a pouco), parece encontrar alguns problemas na construção da personagem.

  Juntos, Tommy Lee Jones e Maryl Streep fazem o filme, mostrando e nos guiando através do casamento de Arnold e Kay não de forma superficial e fácil, mas na forma como um casamento real e longo geralmente funciona: repleto de feridas, mas que possui alguma luz dentro de si que precisa do casal, juntos, para encontrá-la e desenterrá-la, trazendo à tona aquilo que fez com que o casal decidisse fazer votos de construiu uma vida juntos. Isso é o que há de melhor no filme, já que nada (ou quase nada) parece gratuito, mas cada palavra, cada gesto, cada olhar dos personagens principais ganha um peso, uma dimensão emocional maior e complicada, envolvida nos anos e na vida que construíram juntos, no sentimento de solidão que parece se encontrar na rotina maçante que toma conta de tantos casais, e em descobertas sexuais intrigantes que abrem toda uma nova perspectiva para o casal (não que o sexo seja tudo, algo que o filme busca deixar bem claro). Assim, devido à esses dois fenomenais atores, acompanhamos sua trajetória como se fosse nossa própria.

  Já o roteiro de Vanessa Taylor acaba caindo na armadilha da própria complexidade. Se ela merece aplausos por buscar tratar do casamento dos dois de uma forma mais complexa e madura, falta maturidade e experiência à própria roteirista, já que ela se confunde em vários momentos e acaba nos confundindo também, no próprio desenvolvimento dos personagens (que, como eu disse, se salvam pelos atores principais). Assim, por exemplo, parece meio sem lógica que Arnold se mostre tão constrangido sexualmente para depois revelar desejos e fantasias mais profundos de maneira mais fácil do que o esperado. Se, pela atuação de Jones, somos capazes de olhar para isso como algo natural vindo do sujeito, cria, ainda assim, um buraco no filme, já que foi uma transição completamente mal preparada pelo roteiro. Além disso, se por um lado, aprecio que Taylor tenha optado por não explicar o comportamento dos personagens, por outro lado acho que ela poderia ter explicado um pouco, já que, em alguns momentos, eles deixam a complexidade e se tornam mais imcompreensíveis. Existem ainda vários outros exemplos, que se transformam numa massa cinzenta que nos irrita ao longo do filme, por mais que estejamos gostando. Além disso, Taylor peca quando tateia por um humor mais fácil que acaba sendo mal resolvido, como é o treinamento de Kay para praticar sexo oral. Mas, até que o roteiro de Taylor é feliz ao balancear a comédia e o drama de forma eficaz.

  O diretor David Frankel é feliz ao não tentar “deixar sua marca” optando, assim como em Marley & Eu, por deixar que os atores principais construam o filme, enquanto ele “apenas” registra suas atuações. Mas ele merece mais créditos por mostrar com habilidade a rotina entediante do casal, ao mesmo tempo em que inicia o filme com uma sequência triste que já estabelece com habilidade as bases da trama e de como essa se desenrolará. Além disso, o cineasta é sensível o suficiente para acompanhar a complexa trajetória do casal, o que é o mais necessário para o cargo de diretor desse filme.

  Não chegando a tratar do casamento de uma forma tão extremamente complexa como o inesquecívelCenas de um Casamento de Ingmar Bergman trata (bitch, please, isso seria impossível), e também não sendo tão bom quanto outra comédia romântica desse ano, o já citado Solteiros com FilhosUm Divã Para Dois é um longa bonito e eficaz que cumpre a maior parte de suas ambições, mas que seria uma verdadeira obra-prima caso contasse com um roteiro melhor, que fizesse jus às atuações de Maryl Streep e Tommy Lee Jones.

OBS: Steve Carrel é um ator que eu adoro, mas não comentei sobre ele aqui já que ele não tem muita oportunidade de atuar de verdade, já que o filme é 100% focado no casal protagonista. Mas a atuação dele é eficiente, dentro do que se propõe.

domingo, 19 de agosto de 2012

Resenha de CD: Matrex - I'll Always Remember


 Por Paulo Henrique Faria  


E mais uma boa banda de Hard Rock/Aor do Canadá ganha destaque, dessa vez é o Matrex, grupo composto por Tony Dominelli (vocais), Geraldo Dominelli (guitarra) Paul Minshall (teclados) Rob Begg e Jim Buckshon (no baixo) e Lee Hantelman (bateria). Os caras gravaram o disco “I’ll Always Remeber” originalmente no ano de 1985 e, 20 anos depois remasterizaram e lançaram a obra em CD.
Das dez músicas no registro, as que merecem maior atenção são sem dúvida seis canções. A primeira da lista é “I Don’t Want Anybody”, que mostra logo de cara a proposta dos canadenses, que é o de fazer um Hard bem oitentista, cheio de riffs fortes e arranjos de teclado. A número quatro do álbum e segundo destaque é a animada “Long Distance Kiss”, que possui nítidas influências do Journey, pela semelhança sonora. Solo cheio de feeling do guitarrista Geraldo Dominelli e um vocal vibrante de seu irmão Tony Dominelli.
Logo em seguida na quinta faixa temos “Move Too Fast”, um exemplo clássico de Hard Rock bem feito. Refrão memorável, guitarra pesada e o tecladista Paul Minshal além de mandar bem nos arranjos ainda arrisca um pequeno solo no meio. Logo na sequência, a sexta é a bela balada “I’ll Always Remember”, música com o mesmo nome do disco. O solo de guitarra de Geraldo mais uma vez merece aplausos.
A número oito está em busca do primeiro lugar, isso porque o título é “looking For No. 1”. Aqui temos mais um exemplo de Hard Rock/Aor dos anos 80. Novamente Geraldo Dominelli fica em voga com o instrumento de seis cordas. A nona e penúltima canção é a ótima “Love Me Through The Nigth”, que além de ser a mais pesada é também a melhor de todo o CD. Geraldo, como não poderia ser diferente dá show na guitarra, com um solo matador e riffs muito consistentes. Tudo isso é ainda muito bem acompanhado pelo restante dos integrantes.
As outras quatro canções preteridas não são ruins, aliás, pelo contrário são boas, mas sem dúvidas destoam destas outras seis mencionadas e detalhadas. Elas são inferiores porque não passam emoção e tampouco arranjos mais sofisticados como as demais. Mesmo com tudo isso, “I’ll Always Remeber” é um álbum que deixa nostalgia nos roqueiros tradicionais, isso porque mostra o quanto bandas como o Matrex tinham o espaço que infelizmente não o têm mais hoje. Bons tempos aqueles... 

Ouça o som dos caras aqui:                 


sábado, 18 de agosto de 2012



Resenha filme "O Vingador do Futuro" (Total Recall / 2012 / EUA) dir. Len Wiseman

por Lucas Wagner



 Eu gostei desse novo O Vingador do Futuro, e acho que isso aconteceu muito porque eu não tinha basicamente nenhuma esperança de que esse fosse um bom filme. Para ser sincero, o que me dirigiu ao cinema mesmo foi o fato de eu amar a literatura de Phillip K. Dick (que escreveu o conto We Can Remenber It For You Wholesale que deu origem ao longa) e poder ver Bryan Cranston atuando (esse é o Walter White, protagonista do genial seriado Breaking Bad). Mas só. Imaginava que iria passar muita raiva com o filme, mas acabou que eu me diverti mais do que imaginava. Eu acho O Vingador do Futuro, de Paul Verhoeven de 1990 um ótimo filme, principalmente por sua psicodelia herdada do conto de K. Dick, mas ainda assim apreciei esse remake por motivos que deixarei claro abaixo.

  Como eu disse, eu acho o longa de 1990 divertido e intrigante, mas não o acho uma obra-prima como a maioria das pessoas. Como conhecedor da literatura de Phillip K. Dick, posso dizer que o longa original tinha, na verdade, muito pouco do autor. O que esse tem de seu autor é mais a maravilhosa criatividade que encanta qualquer cinéfilo ou fã de psicodelia. Mas, o longa de Verhoeven, ao optar por uma abordagem leve e divertida, foge do que seria mais dickeano nele: a melancolia que cerca a obra do escritor, sempre carregada de ideias de um futuro sombrio e opressor, onde seus personagens (sempre indivíduos trágicos e em crise de identidade) parecem encontrar conforto apenas na ilusão de uma vida melhor (podendo ser até por meio de drogas). Além disso, o longa não possui as profundas reflexões sobre realidade/ilusão, vida/morte, divino/profano, vida após a morte, etc, que eram tão caras ao escritor. Dos vários longas baseados em obras de K. Dick, os únicos que conseguiram, de verdade, trazer o que o autor tinha de mais característico, o que tornava suas obras tão fascinantes, foram mesmo Blade Runner, Minority Report O Homem Duplo. Mas O Vingador do Futuro de Verhoeven não era, de modo algum, um longa ruim por causa disso (afinal, Os Agentes do Destino é outro filme baseado em obra de Dick que eu adoro, e ainda assim não possui as características que discuti); um filme baseado em uma obra literária não deve ser igual, ou mesmo muito parecido com a obra original para ser bom. Deve ser bom ao seu próprio modo, e isso eu aprecio no longa de 1990. Mas eu trouxe essa discussão mais por ela ser necessária á análise desse remake.

  Esse O Vingador do Futuro de Len Wiseman é, na verdade, muito mais dickeano do que o filme original. Embora tenha descartado boa parte da psicodelia que tanto marcou o original, esse envereda por caminhos e discussões muito mais presentes nas obras do escritor. Optando por um universo mais “realista” e sombrio, esse novo longa se ambienta num planeta Terra destruído por uma guerra química que dividiu o mundo em duas nações: United Federation of Britain (UFB), governada pelo cruel “ditador” Cohaagen (Bryan Cranston), no melhor estilo do Grande Irmão da obra-prima de George Orwell, 1984; e a outra parte é a Colônia (ex-Austrália). Para evitar entrar em contato com as áreas contaminadas pela guerra, os cidadãos viajam para uma e outra Nação através do elevador “Queda”, que faz uma viagem atravessando o interior da Terra (algo inventivo e que poderia ter, facilmente, saído de um livro de Dick). A UFB é obviamente a “burguesia”, com suas ruas e ambientes imaculadamente limpos, enquanto a Colônia seria dos “proletários”, chovendo constantemente, tremendamente poluída e superpopulosa (aspectos da degradação do planeta Terra que também estão presentes nas obras do escritor, como no seu inesquecível romance Os Três Estigmas de Palmer Eldritch – só que aqui o maior problema era o aquecimento global –,e no livro e filme de Blade Runner eMinority Report). Os colonos devem fazer a viagem através da “Queda” para chegar à UFB, para trabalharem em empregos horríveis que pagam mal, ainda por cima. Nesse contexto, a ideia de Recall (“criar memórias” mais empolgantes através de um procedimento que induzem ilusões no paciente) ganha ainda mais contexto do que no filme de 1990, já que, assim funciona como uma fuga de uma realidade cruel e repugnante, assim como em tantas outras obras de Dick (e me vêm à memória imediatamente as drogas revolucionárias que os colonos de planetas distantes usavam em Os Três Estigmas de Palmer Eldritch).

  Também interessante é que os roteiristas Kurt Wimmer e Mark Bomback inseriram no contexto ainda os revolucionários da Colônia que lutam por mais igualdade e integridade, mas que são oprimidos pela ditadura de Cohaagen, que ainda (e isso é muito interessante no roteiro), se utiliza da mídia como forma de difamar os revolucionários. Cohaagen ainda comete (indiretamente, obviamente) vários atos terroristas, e distribui na mídia como se fosse culpa dos revolucionários. Além de enriquecer o enredo do filme, lhe dando maior estofo, e de se aproximar ainda mais das ideias de Phillip K. Dick, essa questão é interessante por ser uma visão de como as grandes nações podem, no futuro, controlarem ainda mais seus cidadãos através da mídia, algo que acontece muito até mesmo hoje em dia.

  Ainda, como espetáculo visual, esse remake é simplesmente impecável. Apresentando efeitos especiais fascinantes, e uma fotografia sombria de Paul Cameron que cabe perfeitamente no universo do longa, o design de produção se revela como provavelmente o melhor que vi esse ano até agora, e é certamente digno de vários prêmios, já que consegue criar com uma perfeição absoluta tanto a UFB e a Colônia, criando a primeira como um ambiente obviamente “bom”, rico da sociedade, enquanto o segundo (o mais interessante) funciona como um mix de várias culturas, remetendo diretamente aBlade Runner ao ser sujo, podre e funcionar quase como uma periferia; e ainda é fascinante que tenham dado mais atenção à cultura oriental nesse ambiente, que reflete até mesmo o enorme interesse que Dick nutria por essa cultura (muito presente em seus romances O Homem do Castelo AltoUbik, por exemplo). O fato de o ambiente onde se realiza os Recalls ser quase que um templo budista é simplesmente genial, já que Dick nutria grande respeito pela filosofia budista como forma de transcender-se e encontrar uma nova realidade, que é justamente o que se pretende ao fazer Recall. Ainda, o longa possui uma grande quantidade de invenções criativas de tecnologias futuristas, como o celular na mão, o já citado e fascinante “Queda”, e várias outras invenções.

  Mas, embora tudo parecia maravilhoso falando assim (e é realmente admirável), esse novo O Vingador do Futuro está longe de ser um grande filme, principalmente porque Len Wiseman, obviamente, está anos-luz de ser o diretor ideal para comandar um projeto como esse, embora não faça extremamente feio aqui. Recém saído da ruim série de filmes Anjos da Noite, Wiseman começa o filme muito bem (surpreendentemente bem), desenvolvendo as situações e os personagens com calma e paciência, mas, a partir do momento em que Quaid (Colin Farrell) descobre uma certa verdade sobre si, o longa se torna quase que um caça níqueis, com uma cena de ação após a outra, sem dar nem tempo direito para o espectador respirar. Ora, não estou dizendo que um filme de ação deva ter longas pausas entre uma cena de ação e outra, afinal, existem longas de ação impecáveis que também possuem um ritmo desenfreado, tais como A Origem ou X-Men Primeira Classe; no entanto, o diretor que se propor a fazer um filme assim deve ter uma mão extremamente firme para impedir que o longa esqueça-se de seus personagens ou de sua história. Mas Wiseman não é nenhum Christopher Nolan ou Matthew Vaughn, e, do momento em que começa a ação propriamente dita, o cineasta perde o rumo e o filme se torna uma cena de ação após a outra, sem desenvolver mais seus personagens ou seu universo. Além disso, em vários momentos, Wiseman peque por pesar demais a mão em questão de estilo, em vários momentos, investindo em closes fechados e mal feitos que quebram o ritmo, ou ainda em um plano sequência patético e exagerado na primeira cena de ação e em algumas outras. Felizmente, porém, Wiseman consegue, juntamente com seu montador, Christian Wagner, criar uma série de cenas de ação fantásticas e empolgantes, além de intensas, principalmente naquela do clímax (e que tremendo clímax) ou em uma que se passa em vários elevadores. E é divertido que Wiseman, já tendo feito uma homenagem (um pouco indireta) à Blade Runner a partir do visual da Colônia, ainda homenageie outra excelente adaptação de uma obra de Dick, Minority Report, de Steven Spielberg, no modo como os carros funcionam e na cena de ação que acontece no meio da rua. E Harry Gregson-Williams, um compositor que eu geralmente não gosto, faz um puta trabalho aqui, sempre mantendo o ritmo do filme com uma trilha tensa e carregada de tons eletrônicos.

  Agora sobre o elenco, na verdade, a maioria se mostra dessinteressante. Jessica Biel e Kate Beckinsale são atrizes que possuem uma beleza e sensualidade quase sobrenaturais, mas não possuem muito talento como atrizes mesmo (e a performance de Beckinsale se torna quase risível se comparada à de Sharon Stone no original). John Cho ao menos está divertido no filme. O veterano Bill Nighy está completamente perdido aqui, sem poder fazer nada como líder da resistência. O fascinante Bryan Cranston, embora claramente esteja se divertindo como o vilão Cohaagen, não tem a possibilidade de mostrar todo o seu talento (algo que os fãs de Breaking Bad conhecem muito bem). Mas, quanto a Colin Farrell, eu devo confessar (e estou preparado para ser crucificado) que gostei bem mais de sua atuação do que da de Arnold Schwarzenegger. Eu acho Schwarzenegger um ator carismático e divertido, mas que falha na hora de desenvolver seus personagens (sendo que seu personagem mais humano é um robô, no inesquecível O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final), e assim, talvez o que mais me incomodava no longa de 1990, seja justamente a unidimensionalidade do protagonista. Farrell, por outro lado, é um ator mais esforçado e que aqui, consegue tornar Quaid uma figura mais complexa e interessante. Cansado e entediado com os rumos que sua vida tomou, Quaid aqui é um personagem muito mais dickeano, já que sonha com uma vida mais empolgante e grandiosa, fugindo de sua miséria, e vê o Recall como uma possibilidade para isso. E, quando descobre a revelação sobre si, Farrell se mostra incrivelmente competente ao mostrar a confusão de identidade do personagem que se segue (e é interessante que, quando ainda não sabe a gravidade do que está acontecendo consigo, Farrell dê um sorrizinho de alegria, ao perceber que sua vida está ficando mais empolgante), sendo capaz até de negá-la antes de abraçá-la como uma forma de vida muito mais interessante e importante.

  Muitas pessoas vão reclamar do fato do filme não se passar em Marte, como o original. De início, eu também achei horrível essa situação, mas, pensando bem, eu acho que foi até interessante essa ideia, já que dá mais personalidade à essa refilmagem, e não tenta apenas repetir o original; além disso, seguindo as propostas temáticas dessa nova versão, esse viagem a Marte por parte do protagonista seria apenas para agradar os fãs do original, e não como fruto de uma vontade de fazer um filme novo e seguir os temas aqui propostos. Além disso, muitos também reclamarão da falta dos mutantes e seres estranhos vistos no original, mas como disse mais acima, esse tenta ser mais “realista” (até onde isso é possível) e esses seres não caberiam aqui (embora o remake tenha a famosa “mulher de três seios” do original, o que certamente me agrada como fã, mas não encontra lugar nessa nova versão, já que os mutantes não existem aqui).

  Divertido, criativo e empolgante, esse O Vingador do Futuro não supera o original, já que a versão de 1990 poderia ser menos ambiciosa tematicamente do que essa, mas também cometia bem menos erros. Mas me agradou que essa versão seja diferente da original, e mais dickeana, o que me agrada muito como fã do escritor.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012



Resenha filme "360" (360 / 2012 / Reino Unido, Brasil, França, Áustria, Alemanha) dir. Fernando Meirelles

por Lucas Wagner


  Nós constantemente estamos olhando apenas para nós mesmos. No dia-a-dia, nós somos o centro de nosso mundo, parece que apenas nós existimos. Mas, o que muitas vezes deixamos de prestar atenção, e que sempre me fascina quando o faço, é parar para observar e refletir que cada pessoa que cruza nosso caminho a cada dia, desde aquelas que mais chamam atenção até aquelas que passam mais despercebidas, tem uma história própria, uma vida, um mundo de fatos e sentimentos que ninguém mais tem acesso a não ser ela mesma. Isso é fascinante. Muitas vezes, olho para um (a) estranho (a) e tento imaginar os dilemas, os conflitos, as alegrias, os sentimentos que esse (a) estranho (a) está vivendo. Cada pessoa é, de uma forma ou de outra, um Universo em si mesma, cheia de histórias interessantes, e que passam batido para terceiros.

  Esse 360, novo filme do brilhante cineasta brasileiro Fernando Meirelles (dos inesquecíveis Cidade de Deus O Jardineiro Fiel), acredita fazer uma reflexão de como cadeias de contingências criadas a partir de determinados comportamentos de determinados indivíduos em uma parte do mundo podem influenciar comportamentos de pessoas em lugares muito distantes (tal como o cineasta Alejandro Gonzáles Iñarrito fez muito bem em Babel). Mas, na verdade, 360 falha feio nesse sentido, mas acaba funcionando com perfeição a partir da reflexão que fiz no parágrafo acima, já que, ao longo dos 110 minutos de projeção, acompanhamos uma série de personagens interessantes e únicos que cruzam caminhos com pessoas completamente desconhecidas, mas que são também figuras interessantes e únicas.

  Escrito pelo regular Peter Morgan (que escreveu filmes admiráveis como Frost/Nixon, mas também é responsável por obras fracas como Além da Vida), nós acompanhamos uma série de histórias de diversos personagens, de várias nacionalidades (ingleses, russos, norte-americanos, brasileiros, etc) e diferentes países. Essas histórias possuem uma leve ligação uma com a outra, e muitas vezes possuem personagens em comum, que criam uma rede em que diversas pessoas se encontram de maneira mais direta ou indireta.

  Meirelles continua se mostrando um diretor excepcional. Buscando sempre o realismo ao manter a câmera sempre na mão, o diretor ainda mostra seu habitual talento ao “captar” os sentimentos envolvidos nas interações dos personagens através da fotografia, ao, muitas vezes, “embaçar” a tela, como se fosse difícil para os personagens enxergarem o que está na sua frente (como na cena maravilhosa de O Jardineiro Fiel em que Justin relembra, com dor, quando fez sexo pela primeira vez com Tessa, ou quando, em Cidade de Deus, Zé Pequeno está pronto para assassinar um garotinho que chora desesperadamente). Aqui, vemos isso, por exemplo, na cena em que Tyler (Ben Foster) está parado na porta da personagem de Laura (Maria Flor), que o convida a entrar: aqui vemos Laura, objeto de repulsa e desejo para Tyler, completamente fora de foco. Em vários outros momentos Meirelles demonstra novamente essa bem vinda sensibilidade como cineasta. Ainda, o diretor acerta ao, juntamente com o excepcional montador Daniel Rezende, dar mais fluidez à narrativa através de planos divididos e transições de cenas interessantes. Além disso, há um momento em particular que me chamou bastante atenção: depois de terem sido infiéis, os personagens de Michael (Jude Law) e Rose (Rachel Weisz) são visto com suas imagens duplicadas por espelhos, como se mostrasse a faceta oculta que escondem de seu cônjuge.

  Mas o que mais encanta no longa é a qualidade absurda do elenco, dirigido com maestria por Meirelles. Em um filme como esse, seria até de se esperar que falhasse com o desenvolvimento de seus personagens, já que possui uma quantidade absurda desses; aliás, o longa foi criticado nesse aspecto, mas eu discordo totalmente, já que cada componente no elenco, não importa quanto tempo de tela que tenha, dá um verdadeiro show de interpretação. Todos estão impecáveis, mas como são muitos, vou discutir apenas alguns dos que mais gostei. Jude Law entrega uma performance realmente fantástica que já devia há muito tempo, criando Michael como uma figura ambígua e complexa que se vê diante de um dilema moral e, mais importante, emocional, que se mostra tocante e genuíno devido á sua atuação. Rachel Weisz (cuja melhor atuação na carreira foi justamente em outro filme de Meirelles, O Jardineiro Fiel) também, mesmo com  pouco tempo em tela, dá grande dimensão à sua Rose, que é corroída pela culpa e por desejo. A brasileira Maria Flor (já vista em algumas novelas, embora isso dificilmente conte como atuação) surpreende ao transformar Laura em uma moça trágica que busca alguma espécie de conforto, encontrando algum na figura de outra pessoa que sofre bastante (mais do que ela), que é o senhor interpretado por Anthony Hopkins (mais sobre ele depois). Ben Foster acerta completamente em sua performance como o ex-estuprador Tyler, num trabalho intenso e perturbador. O russo Vladimir Vdovichenko tem provavelmente o arco dramático mais interessante do longa, começando como um sujeito detestável mas que se revela uma figura tridimensional e sensível, que apenas busca um pouco de paz. Mas, o melhor de todos é, sem a menos sombra de dúvida: Anthony Hopkins. O veterano ator entrega aqui um trabalho genial, repleto de minúcias presentes em pequenos gestos e na entonação de voz que tornam sua performance genial. Observem sua dicção pausada e dolorida quando conversa pela primeira vez sobre sua filha, apenas como exemplo, e encham os olhos de lágrimas com aquele que é o melhor momento do longa, quando ele possui um monólogo sincero e tocante, que é capaz de deixar até os mais fortes com os olhos cheios de lágrimas.

  Apesar desses inquestionáveis acertos, o roteiro de Morgan força demais a barra nas coincidências vistas aqui, que muitas vezes não convencem. Além disso, Morgan erra ao introduzir mais e mais personagens no filme sem preparação adequada. Para completar, muitas das histórias não possuem uma resolução adequada (principalmente a de Michael), parecendo incompletas. Mas o pior é que muitas dessas histórias acabam, talvez até sem querer, adquirindo um tom moralista demais, e não tem algo que me irrita mais do que moralismo exagerado.

  Sendo um filme ótimo, mas menor na filmografia de Fernando Meirelles, 360 merece ser visto, já que, embora muitos críticos discordem, é um longa envolvente e tocante que nos faz sair da sala da sessão com a impressão de que conhecemos várias pessoas interessantes e que poderemos até sentir falta delas. E, mais importante, que existem milhões de pessoas fascinantes com que cruzamos todos os dias, mas que não são nada mais nada menos que uma parte da paisagem do nosso dia-a-dia. A não ser que possamos conhecê-las de fato, e ainda assim faltaria muito para conhecê-las por completo.



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

RESENHA DE CD



Por Paulo Henrique Faria

O que será que as pessoas diriam se ouvissem falar de uma banda de Heavy Metal com nuances em Thrash, que possui letras em português e atende pelo nome de Carro Bomba? Na certa, boa parte iria torcer o nariz e afirmar que metal em português não dá certo e, que provavelmente seria apenas mais um grupo com vocal gutural muito barulhento e pouco técnico. Quem ouvir o segundo CD intitulado “Carcaça”, dessa excelente banda paulistana, vai se enganar pelo preconceito e será obrigado a dar o braço a torcer. Com a seguinte formação: Rogério Fernandes nos vocais, Marcello Schevano guitarra, Fabrizio Micheloni no baixo e Heitor Shewchenko na bateria, os caras lançaram em 2011 um disco que promete marcar o cenário metálico nacional.
A primeira faixa, “Bala perdida” é um verdadeiro petardo sonoro. Os riffs da guitarra e a linha de baixo são muito fortes, a bateria bem ritmada e o vocal bem rasgado e cheio de “drives”. A letra fala da banalização que a violência urbana se tornou, com munições de armas de fogo que ceifam vidas inocentes e, mostra um grande começo do registro. A segunda música “Queimando a largada” mantém o nível de qualidade sonora e lírica. Os caras continuam com a proposta de guitarras pesadas e marcantes do Heavy tradicional, com toques de peso e velocidade do Thrash Metal. Dessa vez a temática fala da irresponsabilidade que muitos motoristas praticam em insistir em dirigir embriagados. Comparam a ação com uma corrida mal sucedida.
A faixa número três é a homônima “Carcaça”, que começa com riffs muito criativos de Marcello Schevano, que pouco depois executa um ótimo solo no instrumento de seis cordas. Uma bateria nervosa com pedais duplos repicados de Heitor Shewchenko, um baixo bem “swingado” de Fabrizio Micheloni e um vocal alucinante de Rogério Fernandes, que é irmão do grande Nando Fernandes, ex-Hangar e ex-Cavalo Vapor. Aliás, o timbre de ambos são muito semelhantes e escancaram a influência do mestre Ronnie James Dio. A quarta é chamada “Combustível” fala de conflitos existenciais que as pessoas têm. A parte sonora é simplesmente impecável, ao escutá-la é impossível não remeter às músicas do álbum “The Devil You Know” do Heaven & Hell. Schevano bebe e muito da fonte de Tony Iommi nesta e o vocal de Rogério é Dio puro. Esses elementos dão o status de melhor música do registro até então.
Na quinta música, “O medo cala a cidade” a energia sonora e a levada vibrante continuam. A parte instrumental é muito destacável mais uma vez. O guitarrista Marcello Schevano faz seu melhor trabalho até o momento, com arranjos criativos, solos mais longos e carregados de feeling. A bateria de Shewchenko faz um grande papel também, com viradas convenientes e pedal duplo bem presente. A canção de número seis é “Mondo Plástico” e aborda a futilidade com que as mulheres convivem, a superficialidade e a falta de identidade da população. O som lembra demais os escutados em “Dehumanizer” do Black Sabbath, com toques de Slayer (pelo lado Thrasher). De novo possui ótimos solos de guitarra e passagens que dão vontade de fazer chifrinhos com as mãos e bater cabeça sem parar. Ótima música!
A sétima é “Blueshit” que faz uma crítica ferrenha à maneira como a cidade de São Paulo encara os problemas de enchentes e inundação de suas ruas. Os governantes, pouco fazem para melhorar esse problema e ainda usam o carnaval para mascararem suas incompetências, fato que infelizmente é engolido pela maior parte do povo. O “shit” faz alusão à bosta que literalmente bóia nas vias em tempo chuvoso e também, pela situação que a incidência é encarada. Já o “Blues” é pela levada rítmica, que se mistura com o peso do metal. A oitava é “Corpo Fechado” que mais uma vez aglutina muito bem o Heavy Metal tradicional com Thrash Metal. Essa é certamente uma das mais pesadas de todo o CD.
A nona é chamada “Foda-se III” e faz por merecer o título, pois o quarteto fala das impossibilidades criadas pelos chamados “caga-regras” da sociedade. A parte instrumental manda muito bem de novo e a linha de vocal de Rogério Fernandes é espetacular! Mestre Dio com certeza sentiria orgulho se estivesse vivo para ouvir tal ligação. A número dez e última canção do disco é a frenética “Tortura”, que possui uma pegada cheia de Thrash Metal, com pedal duplo rápido, riffs e linha de baixo palhetados. No vocal além de Rogério, ouve-se a interessante participação de Vitor Rodrigues, ex-vocalista do Torture Squad. O cara mostra a que veio e manda ver nos guturais e “screamings”. A parte lírica aborda a ideia de um mundo que deixa cada vez mais alienadas as pessoas. Um lugar onde quem contesta tudo isso, acaba sendo duramente repreendido.
As dez faixas de “Carcaça” dos metaleiros paulistanos mostram um importante exemplo de como se fazer metal na nossa própria língua. Foram muito felizes nas combinações métricas e melódicas. Letras que abordam problemas sociais e particulares. Parte instrumental rica e muito original, com icônicas influências do Heavy Metal, como Black Sabbath e até Slayer. A linha de vocal de Rogério Fernandes é excelente e mostra que a exemplo de seu irmão, nasceu para cantar. A parte gráfica também merece destaque, com fotos temáticas do grupo e ilustrações específicas para cada uma das obras. As únicas ressalvas são com relação a algumas composições que ficaram com letra e tempo reduzido. Acredito que deveriam ter explorado um pouco mais a criatividade. Senti falta também de uma balada, que mostrasse um vocal mais limpo e porque não agudo de Rogério. No mais, o Carro Bomba está de parabéns e mostra que faz jus ao seu nome, afinal suas músicas são verdadeiramente explosivas e incisivas, o que contrasta com boa parte das bandas no mainstream atualmente. Super banda brazuca na área, recomendo demais!

Ouça a música do grupo aqui

sábado, 4 de agosto de 2012



Resenha filme "Guerreiro" (Warrior / 2011 / EUA) dir. Gavin O'Connor


  
por Lucas Wagner

 Touro Indomável, Menina de Ouro, Rocky, O Vencedor... e outros mais. É interessante que esportes de luta (seja boxe, luta livre, MMA, etc) gerem filmes tão fascinantes, que contam histórias tão profundamente humanas que nos levam a torcer por seus personagens tanto dentro quanto fora do rinque, já que nos levam a conhecê-los tão bem que passamos a fazer parte da história contada na tela. Guerreiro, filme excepcional de Gavin O’Connor, lançado diretamente nas locadoras aqui no Brasil em 2012 (o longa lançou no final de 2011 nos EUA), é mais um belo filme para entrar nessa lista. Forte, envolvente e complexo, Guerreiro ganha a admiração e a paixão de seu espectador justamente por se focar tanto em seus personagens, a ponto de que as impressionantes lutas vistas da metade para o final do longa ganhem uma força ainda maior.

  Assim como foi feito no já citado O Vencedor de David O. Russel, o belo roteiro de Gavin O’Connor, Anthony Tambakis e Cliff Dorfman, Guerreiro é, mais do que um filme de luta, um filme sobre uma família que possui uma história envolvendo lutas de MMA. Tommy (Tom Hardy) e Brandon (Joel Edgerton) são irmãos, mas que viveram uma infância trágica, já que seu pai, Paddy (Nick Nolte) era um homem alcoólatra e bruto, que vivia maltratando a mãe dos garotos e infernizando a vida destes. Quando a mãe finalmente resolveu cair fora, Tommy vai junto, vivendo assim uma adolescência sofrida ao lado da mãe, que enfrentou graves problemas de saúde até, finalmente (e principalmente pela impossibilidade de um tratamento médico, devido a questões financeiras) morrer. Já Brandon fica com o pai, mas não por amor a ele, mas para não deixar sua namorada, e futura esposa, Tess (Jennifer Morrison). Devido a contingências da vida (extremamente bem trabalhadas em nível psicológico pelo roteiro), Tommy, Brandon e Paddy se reúnem no campeonato de MMA, Sparta.

  Como já pode ficar claro, Guerreiro é um filme sobre personagens. Com um tempo folgado (140 minutos), O’Connor trabalha com calma e cuidado tanto o lado de Tommy quanto o de Brandon, sendo que, na primeira hora de filme, nós vamos acompanhando suas vidas separadas, para se encontrarem apenas depois da metade do longa. O’Connor aproveita a oportunidade para desenvolver com cuidado e carinho (porque não?) cada um dos envolvidos, e vamos conhecendo profundamente suas feridas psicológicas, seus traumas e demônios, todos, de uma forma ou de outra, ligados à figura de Paddy (e é fascinante que seus próprios demônios e traumas estejam ligados à ele mesmo). Assim, o filme ganha ainda mais dimensão no período em que acompanhamos o campeonato de MMA, já que não temos um favorito na luta, por conhecemos tão bem seus motivos e suas dores. Torcemos igualmente para ambos.

  Mas, o melhor de tudo no filme está no seu elenco principal, que está simplesmente impecável. Tom Hardy (o Bane de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge) está fantástico como Tommy, em sua melhor atuação até agora (e olha que o sujeito já demonstrou enorme talento em A Origem, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, O Espião Que Sabia Demais e até no fraco Guerra é Guerra). Interpretando o sujeito com uma intensidade assustadora, Hardy nos ajuda a compreender o complexo Tommy, que, de outra forma, seria um personagem extremamente antipático. Possuindo imenso ódio de seu pai, Tommy parece sempre desprezá-lo, gritar com ele e agredi-lo emocionalmente, querendo distância e seguir um caminho diferente na vida. Mas (e é isso que o torna tão complexo), ao mesmo tempo, Tommy segue caminhos bastante parecidos com o seu velho, só que de uma forma diferente do que este fez. Por exemplo, Tommy se torna um fuzileiro (assim como seu pai), indo lutar no Iraque. Só que lá ele agiu de maneira extremamente honrosa e humana, arriscando a vida para salvar seus colegas (seus verdadeiros irmãos, como ele diz). Também arranjou uma “família”, na pele da mulher e filho de um “irmão” seu no exército, e, diferente da maneira como seu pai agia com sua própria família, Tommy a trata com carinho e atenção extra-especial e buscando ajudá-la de todas as formas possíveis, mesmo quando não precisa tanto de ajuda e mesmo que não seja sua família (ele só cuida dele, depois que seu “irmão de armas” morreu em batalha). Parece que ele segue os caminhos do pai para concertá-los. Tendo sido criado em um ambiente envolvendo lutas de MMA (seu pai o treinava quando criança, e o treinava muito bem), Tommy volta à esse ambiente quando mais velho, assim como volta a pedir que seu pai o treine. Só que ele parece realmente detestar a luta (observem que ele sai antes da hora depois de cada luta no campeonato, como se saísse de uma cena de crime) e detestar que o pai o treine. Mas, em um nível inconsciente, é realmente possível que ele deseje estar junto do pai e poder voltar a fazer algo que faziam juntos quando criança. Assim como faz com Brandon, seu irmão (que ele também aparentemente odeia por ter ficado com o pai, enquanto ele e a mãe precisavam de ajuda), Tommy na verdade ama profundamente seu velho, e apenas ressente que estes não puderam viver uma vida de pai e filho, como deveria ter sido, e não foi por culpa do pai. Isso fica bem claro na esmagadora cena que se passa em um hotel, quando seu pai está enfrentando graves problemas, e Tommy demonstra imenso carinho por ele, o que vai contra a maneira como agia antes. E, quanto ao irmão, como não se emocionar com o final do filme, quando Tommy, depois de ter tanto brigado (física e dialogicamente) com Brandon, encontra conforto no seu ombro? Um personagem magnífico, com certeza.

  Joel Edgerton também merece grandes elogios por sua performance como Brandon, que é, a primeira vista, um professor de física passando por dificuldades financeiras com sua família. Ele se envolve em lutas de MMA para, segundo o que diz, ganhar uma renda extra (e necessária), mas não há como negar que ele ama lutar, principalmente pelo seu histórico de vida. Depois de ter perdido atenção do pai, que via apenas em Tommy a grande possibilidade de um lutador campeão, Brandon foi afastado emocionalmente do convívio com seu velho (talvez essa seja mais uma variável que tenha influenciado sua escolha de continuar com o pai depois que Tommy e a mãe foram embora), e pode ser que encontre na luta uma forma inconsciente de fazer as pazes com ele, embora diga sempre que é por dinheiro (e também é, mas não é só por isso). Assim, Edgerton cria um arco dramático complexo e tocante que faz com que torçamos profundamente por Brandon.

  E agora, quase não existem palavras para descrever a performance do veterano Nick Nolte como Paddy, o pai dos protagonistas (ele inclusive concorreu ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante esse ano). Paddy, como eu disse antes, enxerga em si mesmo seus maiores problemas. Reconhecendo que fracassou como marido e como pai, ele larga o álcool e vive uma vida solitária, voltada para a religião. Quando Tommy volta a morar perto dele, e, mais importante ainda, quando pede que ele o treine, Paddy enxerga uma forma de redenção de seu passado, de ficar próximo de seu filho. Assim, ele também busca se reaproximar de Brandon. Mas sempre recebe “porradas” (no sentido emocional) por parte dos dois, que não conseguem perdoar seus erros como pai. Nolte tem aqui uma atuação impecável que se mostra mais contida, na maior parte do tempo, apenas demonstrando maior emoção em dois momentos chave, que, não por acaso são os momentos mais emocionantes do longa. Nós conseguimos ver toda a dimensão da dor e do arrependimento de Paddy apenas através de seu olhar e de sua voz contida (e é de esmagar o coração o momento em que, sendo insultado por Tommy depois de mais uma investida emocional, Nolte dê uma engasgada forte, como se não conseguisse mais segurar o choro). Uma atuação forte e dolorida, que se torna ainda mais complexa quando vemos que Paddy não demonstra grandes expectativas quanto ao retorno de Tommy, mas apenas quando este o pede para treinar, este enxerga uma pequena janela de aproximação; ao mesmo tempo, ele é ainda mais brilhante ao, mesmo levando muita “porrada emocional” de Tommy, ele se reerga algumas vezes, mas por pouquíssimo tempo, já que parece achar merecer aquelas porradas. Mais um desempenho magnífico para um ator magnífico como Nick Nolte, sem dúvida.

  Embora os três “deuses” do filme estejam no trio de atores discutido acima, o resto do elenco não faz feio, em especial dois outros. A linda Jennifer Morrison (a Zoey do seriado How I Met Your Mother) está excelente como Tess, demonstrando com talento os dilemas que a envolvem e as emoções envolvidas no campeonato (e seu melhor momento no longa é, certamente, aquele em que pergunta, compreensivamente, se seu marido continuará a lutar, mesmo sabendo quem será seu adversário). E Frank Grillo, como o treinador de Brandon, que cria um sujeito interessante já que, mesmo interessado em luta livre, se mostra quase como um intelectual ao ter imagens de Nietzsche e outros filósofos no seu escritório, ou ainda ao ter um carinho especial por Beethoven.

  Gavin O’Connor, além dos acertos discutidos acima, se mostra um cineasta de grande competência ao usar a fotografia de Masanobu Takayanagi e a direção de arte para estabelecer a própria atmosfera psicológica dos envolvidos. Observem como aquela que envolve Tommy e Paddy está sempre escura e sombria, ao mesmo tempo que a de Brandon, mesmo levemente mais claro e “alegre”, também se revela sombria e triste (e é fascinante que, na primeira vez que vemos Brandon – no aniversário de sua filha – este esteja envolvido em um ambiente claro e colorido, para, apenas depois, vermos como esse ambiente é na verdade triste, embora mais feliz do que o de Tommy ou Paddy, devido à presença de sua família). Além disso, O’Connor se mostra competente no uso impecável da ótima trilha sonora de Mark Isham, a usando nos momentos certos, sem abusar dela para criar melodrama, mas a usando para acentuar a intensidade de certos momentos. O uso da trilha incidental também está excelente, por sinal.  O’Connor também surpreende na condução das cenas de luta, que estão intensas e extremamente violentas, deixando o espectador com uma quantidade absurda de adrenalina. Mas, mesmo nessas cenas, O’Connor mostra compreender que a força do filme está em seus personagens e assim, mesmo durante uma luta, aproveita para desenvolvê-los ainda mais.

  Emocionante e envolvente, Guerreiro é mais um filme de esporte entre 2011/2012 que surpreende (ainda contamos, nessa época, com o excepcional Moneyball – O Homem Que Mudou o Jogo e o ótimoHeleno) e, mais especificamente, mais um filme de luta que surpreende. Um dos melhores filmes de 2012 (contando que ele lançou no Brasil esse ano), com certeza.