sexta-feira, 29 de junho de 2012




Resenha filme "Para Roma, Com Amor" (To Rome With Love / 2012 / EUA, Itália, Espanha) dir. Woody Allen



por Lucas Wagner

 Woody Allen é um diretor e um roteirista fascinante. Com um humor refinadíssimo, repleto de referências intelectuais e culturais, o cineasta ainda confere uma atmosfera artística incrível para seus projetos, em que sempre acompanhamos personagens cultos que tem sempre coisas interessantes a discutir, com um linguajar genial, mesmo nas coisas mais banais. E não é só: Allen na maioria das vezes cria personagens complexos e interessantes, cujos dilemas parecem reais, e ainda por cima, na maioria das vezes, promove importantes e profundas reflexões sobre diversos aspectos da vida, como religião, morte, felicidade, moralidade, etc, mas principalmente sobre relacionamentos. Assim o diretor construiu uma carreira com uma quantidade enorme de filmes fascinantes, maravilhosos e lindíssimos como Noivo Neurótico Noiva Nervosa, Hannah e Suas Irmãs, Crimes e Pecados, Rosa Púrpura do Cairo, Era do Rádio, Setembro, Poderosa Afrodite, Melinda e Melinda, Zelig, Poucas e Boas, Vicky Cristina Barcelona, Match Point, Tudo Pode Dar Certo, Meia Noite em Paris, e muitos outros. Mas não é sempre que um grande cineasta realiza um grande filme, e é esse o caso de Allen comPara Roma, Com Amor, um filme inegavelmente divertido e engraçado, mas que não consegue passar disso.

  O filme, escrito por Allen, como sempre, conta várias histórias sem ligação passadas em Roma. Tais histórias possuem grande comicidade e sempre se relacionam a questões como relacionamento e fama. 

  Como fez em grande parte da década passada, Allen continua em seu "tour" pela Europa, produzindo filmes passados em diferentes países europeus idolatrados pelo cineasta, que antes focava sua atenção cinematográfica quase que esclusivamente em Nova York. Porém, aqui já encontramos um dos aspectos onde o cineasta já erra em seu filme: como o título deixa bem claro, o longa devia funcionar, pelo menos em parte, como uma homenagem, uma "carta de amor" à Roma, mas o cineasta em praticamente momento algum explora isso. As situações vividas pelos personagens poderiam se passar em qualquer outro lugar, e mesmo que Allen busque explorar a beleza de ruínas e das paisagens da cidade, em momento algum ele se dedica mesmo a essa questão, não conseguindo captar o romantismo, a classe, a beleza clássica e gloriosa de Roma, e quando tenta mesmo fazer isso, o máximo que consegue é colocar seus personagens para dizer como a cidade é maravilhosa, o que soa falso já que, mesmo que qualquer pessoa em sã consciência aprecie a cidade, não conseguimos sentir a glória desta, algo que o cineasta fez com perfeição invejável ano passado no maravilhoso Meia Noite em Paris, filme que me deixa com uma vontade louca de pegar um avião e apreciar a beleza de Paris, e se possível poder passear pela cidade com uma bela mulher ao meu lado. Em Para Roma, Com Amor, assim como em, por exemplo, Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (passado em Londres), Allen tem a cidade simplesmente como pano de fundo para contar suas histórias, o que não aconteceu com seu Match Point (passado em Londres), Vicky Cristina Barcelona (passado em Barcelona) e o já citado Meia Noite em Paris, que tinham a própria cidade como algo fundamental à narrativa e que eram hamenageadas belamente.

  Também não encontramos aqui discussões realmente importantes ou interessantes, ou no mínimo originais dentro da filmografia do cineasta. Allen procura promover reflexões acerca da futilidade da fama nos dias de hoje, que parece ser dada a uma pessoa simplesmente pelo fato desta falar de banalidades de sua vida pessoal para a mídia; dentro desse mesmo tema, o diretor ainda busca discorrer sobre o vício destrutivo que a fama confere à uma pessoa. Só que essa discussão, mesmo válida, é feita de maneira muito óbvia e inocente pelo diretor (embora muito divertida), que ainda busca deixar ainda mais clara suas idéias apartir de um monólogo que surge falso e previsível. Ainda, vemos aqui, mesmo que de maneira um pouco mais sutil, uma discussão que permeia toda a obra de Allen, discorrendo sobre a morte, o medo e a constante inquietude que o ser humano sente frente à morte. Mas, se essa discussão foi feita de forma complexa e inteligente em Meia Noite em Paris, por exemplo, aqui ela é massantemente óbvia e muito fraquinha, que se encontra basicamente no personagem de Jerry (Woody Allen), que diz que "aposentadoria é morte", querendo dizer que a falta de um objetivo diário, como o trabalho, para preencher sua existência e desviar a atenção da morte. Mas o filme não vai além nessa questão. E ainda podemos encontrar aqui a temática clássica do autor, envolvendo a dicotomia fragilidade/força do Amor, mas que também é trabalhada de forma superficial e tola, embora sempre divertida.

  O filme também não conta com nenhum personagem e nenhuma atuação realmente fascinante (embora todas estjam eficientes). Allen interpreta Jerry com seu habitual e impecável timing cômico, criando uma figura (como sempre) adoravelmente neurótica; e mesmo que seu personagem seja tridimensional, não vemos uma grande preocupação de Allen em transformá-lo em uma figura realmente complexa. Roberto Benigni consegue ser carismático como o perdido Leopoldo, mas não pode fazer muito. Penélope Cruz consegue exalar um estrondoso poder sexual, envolvido em um charme erótico fascinante, que se contrapôe com a personagem de Alessandra Mastronardi, que está envolvida em uma áurea de pureza e inocência (o contraponto entre as duas, que fazem parte da mesma história, é muito interessante, se pensar bem). Jesse Eisenberg é carismático e confere a inocência necessária ao seu personagem, John, mas não vai mais longe, assim como Ellen Page, que tranforma sua Mônica em uma pessoa enigmática e interessante, mas que no fundo não deixa de ser um pouco clichê. A melhor atuação do filme, no entanto, fica mesmo por conta de Alec Baldwin (que trabalho uma vez com o diretor há 22 anos, no regular Simplesmente Alice), que confere uma nostalgia e tristeza tocantes a Jack, que enxerga John (Eisenberg), sua versão mais jovem, ao mesmo tempo com trizteza, por observá-lo cometendo os mesmos erros que um dia cometeu, mais também com coçura contagiantes. O personagem mais bem trabalhado, com certeza. Não consigo pensar em nenhum outro ator ou atriz que mereça ser citado aqui, ou qualquer outro personagem minimamente interessante, o que realmente atrapalha o filme (como é a chatice do personagem de Michelangelo, que é chato apenas por ser mal trabalhado).

  A direção de Allen também não se mostra isenta de defeitos, principalmente no que se refere à edição. O diretor não tem uma ordem bem estabelicida de como contar sua história, e nem de como navegar entre as diversas narrativas do filme, constantemente deixando alguma de lado para se lembrar dela apenas muito tempo depois. Assim, vemos um filme sem estrutura, que falha inclusive ao estabelecer a cronologia exata do que estamos vendo, já que em algumas histórias parece que se passam dias, ao passo que em outras temos a impressão de não se passaram mais do que algumas horas entre os acontecimentos que presenciamos. E ainda, por que Allen inicia o filme com um narração em off para simplesmente largá-la ainda no início? E como aquele sujeito do trânsito no início supostamente enxerga "tudo" que acontece com os personagens? E por que Allen simplesmente se esquece dele durante enorme parte do filme, se lembrando apenas bem no fim? Ainda é inegável a falha do cineasta ao não estabelecer corretamente a naturaza do personagem de Jack (Baldwin), algo que fica bem às escuras aqui.

  No entanto, o filme ainda funciona, meio que quebradiço, devido ao seu humor. Allen continua com grande talento para produzir situações engraçadas, embora não esteja tão brilhante como normalmente é na criação dos diálogos, possuindo somente um realmente interessante, quando Jerry (Allen) está quase tendo um ataque de pânico dentro de um avião que entra em turbulência, e sua mulher tenta acalmá-lo, recebendo como resposta genial: "Como eu posso me acalmar?! Eu sou ateu!". Mas as situações vistas aqui são realmente inusitadas e muitas vezes hilárias, como a cena que se passa em um quarto de hotel, envolvendo um assalto, ou na maneira brilhante como Jerry resolve uma situação envolvendo o medo de um personagem de cantar em público (a piada mais genial do filme). Aliás, Allen se mostra muito mais canastrão aqui neste longa do que geralmente é, produzindo momentos de humor completamente nonsense, o que é interessante. O bom humor e a belíssima e completamente elegante trilha sonora (como é de praxe em um filme de Woody Allen) dão um bom balanceamento ao longa, o que o torna divertido e aproveitável, apesar dos seus muitos defeitos.

  Bom, obviamente está anos luz de ser um dos melhores filmes do diretor, mas também não é um dos piores (comoEscorpião de Jade). É levemente legalzinho, e só. Mas ano que vem teremos mais um filme do cineasta, e eu posso aumentar minhas esperanças novamente.

quarta-feira, 27 de junho de 2012


  



Resenha filme "Sombras da Noite" (Dark Shadows / 2012 / EUA) dir. Tim Burton


por Lucas Wagner

  Na filmografia de Tim Burton podemos ver claramente a inflûencia gótico-expressionista que domina seus trabalhos, seja nos mais leves ou nos mais pesados. Em toda sua obra há uma atmosfera fantástica, mágica, que se assemelha a um conto de fadas (até mesmo em Ed Wood, seu melhor e mais realista filme), algo que fica ainda mais visível pelo modo como o cineasta filma, sempre com movimentos de câmera pomposos que ressaltam o sobrenatural do que vemos, o fantasmagórico, o fantástico. Sombras da Noite, esse seu mais novo longa, funciona como um filme que brinca chocando um mundo sobrenatural (tão comum nos filmes de Burton), com o "real" e louco mundo dos anos 70, funcionando assim como um bacana exercício de estilo de seu diretor, mas que possui inegáveis problemas relacionados ao seu FRACO roteiro, escrito por Seth Graham-Smith (que escreveu o bacana romance Orgulho e Preconceito e Zumbis).

  Para quem não sabe, Sombras da Noite conta a história de Barnabas Collins (Johnny Depp), que foi amaldiçoado por uma bruxa (Eva Green), se tornando um vampiro e ficando preso dentro de um caixão por 196 anos. Quando é retirado de seu caixão em 1972, passamos a acompanhá-lo nas suas tentativas de se adaptar aos anos 70, ao mesmo tempo em que ele busca reerguer o império de sua família, Collins, que está sendo massacrado por uma empresa comandada por Angie, que é a bruxa que o amaldiçoou.

  Burton claramente se divertiu demais dirigindo esse longa. Podemos notar os seus típicos movimentos de câmera exagerados em várias cenas, ao mesmo tempo em que choca a antiguidade com a "atualidade", produzindo momentos impagáveis e hilários como na sequência em que Barnabas "acorda" na década de 70, e acompanhamos seus sustos diante do que vê (a brincadeira feita com o símbolo do McDonalds é genial). Mas Burton ainda brinca com a psicodelia dos anos 70, como na engraçadíssima conversa entre Barnabas e um grupo hiippie, ou através da fotografia de Bruno Deslbonnel (o mesmo diretor de fotografia de O Fabuloso Destino de Amelie Poulain Harry Potter e o Enigma do Príncipe), que é brilhante ao variar tons sombrios que ressaltam a sobrenaturalidade de diversos momentos, e também brinca com cores mais claras e fortes, flertando com o psicodélico. Além disso, Burton foi excelente no manejo de sua trilha sonora: seu compositor habitual, Danny Elfman, cria uma trilha que joga com o fantástico e o fantasmagórico (sem deixar de lado tons mais "anos 70"), e o cineasta ainda busca uma trilha incidental que vai contra a trilha de Elfman, com músicas e bandas da época, que cria momentos sensacionais embalados por sons de T-Rex, Carpenters, Black Sabbath, Alice Cooper (que tem uma participação especial aqui, por sinal), entre outros.

  Mas são nas minúcias do trabalho de Burton que o filme ganha seus toques mais genias, e é onde o cineasta se mostra mais inspirado e divertido. Alguns exemplos: o momento em que Angie (Green) está em uma reunião de negócios e faz um discurso andando pela sala, e através do movimento de câmera de Burton, vemos, atrás da personagem, pinturas que retratam sua pessoa, com diferentes estilos de cabelo e figurino, tudo remetendo a cada época diferente que ela viveu (ela é imortal), o que fica mais genial ao observarmos que o estilo de pintura de cada quadro também remete a cada estilo de cada época representada neles. Observem também a rima visual feita por Burton com a boca de Barnabas: quando esse promove uma verdadeira carnificina quando é "encontrado", vemos sua boca cheia de sangue; quando este beija Angie (que está usando um forte baton vermelho) sua boca fica muito vermelha; e ainda tem o momento em que Angie tira sua calcinha vermelha e a coloca cobrindo a boca dele, e quando esta é retirada de seu rosto, ainda continua ali um fio vermelho da calcinha; vendo no contexto do filme, Barnabas odeia e reprime o fato de ter que sugar sangue para sobreviver, algo que se relaciona diretamente com Angie, que o transformou em vampiro, e também vemos o fato de que a cor vermelha geralmente significa algo ruim, como violência. Assim, foi genial esse jogo que ele fez com o vermelho e a boca do personagem, sempre ligando o triste fato de ele ser vampiro, com a personagem de Angie, deixando claro a violência e desespero envolvidos na sua situação (observem ainda o fato de os dois transarem sobre um quadro que mostra uma gota de sangue). E ainda tem mais: a brincadeira que Burton faz em certo momento, quando mostra Barnabas dormindo em diferentes e inusitados lugares não surge de forma gratuita, mas como uma maneira do cineasta mostrar o personagem tentando se adaptar àquele mundo estranho a ele. E como não ficar de olhos arregalados, queixo caído e rindo muito com a brincadeira repleta de humor negro do diretor quando uma personagem vai praticar sexo oral em outro, e no momento em que ela se abaixa, Burton corta para uma praia revelando furiosas ondas batendo contra rochas liberando grandes camadas de espuma branca (brincadeira também feita pelo extraordinário seriado Breaking Bad, quando uma prostituta termina de "satisfazer oralmente" um cliente, e corta para uma cena em que ela abre uma lata de Coca-Cola quente, o que libera espuma em sua face). Também há o instante em que Angie lança um feitiço para causar um incêndio, e esse incêndio não começa do nada, como seria de se esperar, mas acompanhamos uma série de movimentos mecânicos que, causados pelo feitço de Angie, causam um incêncio, o que ressalta o fato de o filme estar se passando em um mundo "real". Mas, por mais que a direção de Burton seja MUITO bacana, a rima visual que tenta fazer no clímax é óbvia e tola, sendo que parece que ele acha que está fechando "com perfeição" o arco dramático de Barnabas, mas não está.

  Agora, em relação aos personagens: Sombras da Noite possui um elenco admirável, maravilhoso, mas possui personagens muito mal escritos e, mesmo que grande parte dos atores busquem lhes dar maior tridimensionalidade, falham porque o roteiro não lhes dá oportunidades. Mas há excessões, que ficam por conta de Johnny Depp e Eva Green. Depp está inspiradíssimo como Barnabas, além de mostrar como é um ator maduro. Seria fácil para ele interpretar Barnabas apenas como uma figura excêntrica e cômica, mas Depp vai além, criando um personagem mais profundo e complexo do que seria de se esperar. Mesmo que mantenha alguns movimentos e gestos a lá Jack Sparrow (como quando encosta em um garfo que pensa ser de prata), Depp cria em Barnabas uma figura mais sóbria e trágica, que carrega o peso de seu passado e de sua condição com muita tristeza, que o leva a sempre manter uma postura de autoridade (para manter a honra de sua família), mesmo que isso signifique cometer atos "malígnos" (como quando mata uma determinada personagem). Barnabas sofre bastante por ser um vampiro, e reprova o fato de ter que sugar sangue para sobreviver; ele se vê como um monstro, um demônio, uma criatura horrível e irremediável, completamente deformada, que só encontra conforto nos braços de sua amada. E Depp foi excepcional ao interpretá-lo com força total e revelar minúcias em seus comportamentos que revelam seus sentimentos. Quanto a Eva Green: ela, como sempre, esta estonteantemente linda, e interpreta a vilã Angie com força e imponência, mas que se derrete de amores por Barnabas, por mais que insista em lhe fazer mal. E se não fosse pela força de sua atuação, seu último momento em cena não teria a força e doçura almejados.

  Infelizmente, como já foi dito, o resto do elenco nada pode fazer. A talentosíssima Chloë Grace Moretz (que interpretou a inesquecível Hit Girl em Kick Ass - Quebrando Tudo, a doce e trágica vampira no remake Deixe Ela Entrar, e a apaixonada por literatura em A Invenção de Hugo Cabret) não consegue transformar sua personagem em uma figura mais complexa, ficando presa a uma figura mal construída e mal escrita que a castra de qualquer talento. Helena Boham Carter consegue soltar-se um pouco do roteiro e transformar sua Dra. Hoffman em uma figura trágica e complexa, além de desesperada. Michelle Pfeiffer tenta mas não consegue desenvolver mais sua personagem, ao passo que Johnnie Lee Miller e Jackie Earle Haley (de Ilha do Medo, Watchmen Pecados Íntimos) possuem personagens ridículos e sem sentido que não deveriam estar no filme, e muito menos ter atores tão bons os interpretando. Bella Heathcote só é bela (e como é), mas não passa de um rosto bonito. Christopher Lee, em menos de um minuto de cena, pelo menos consegue deixar seu personagem mais interessante que a maioria dos vistos aqui...

  E quanto ao roteiro, basicamente nada salva. Além de construir porcamente a maioria dos personagens (algo surpreendente se notarmos a bela e divertida construção dos personagens no romance Orgulho e Preconceito e Zumbis), Graham-Smith desenvolve pessimamente aquele que deveria ser o centro do filme: o amor entre Barnabas e Josette/Victory. Eu até entendo a história de amor eterno e blábláblá, mas simplesmente o roteiro parece esquecer-se dos dois durante boa parte do tempo, apenas dedicando-se esporadicamente a eles, e ainda assim, esses momentos apenas possuem dedicatórias melosas de amor que NÃO contribuem para esse romance parecer real o suficiente para nos importarmos com ele. E o que dizer da risível/ridícula/imbecil/deprimente/tosca/sem vergonha maneira como Graham-Smith tenta criar uma briguinha entre os dois no final do filme? Tosco demais! E além disso, o garotinho David demonstra alguns dos maiores problemas do filme, já que, no início, este parece ter muita importância, para depois ser simplesmente esquecido pelo roteiro, para apenas no final desempenhar alguma função importante novamente. Babaquice. E ainda, o que dizer da cena final do longa, que sugere uma possível sequência com uma vilã que certamente NÃO daria certo, já que sem dúvida seria algo incrivelmente forçado?! Existem muitos outros erros, mas esses, principalmente a falta do desenvolvimento dos personagens secundários, castram o filme do envolvimento emocional necessário para tirá-lo do status de divertido para tranformá-lo em algo mais relevante e envolvente.

  Mas, graças a ótima seleção da trilha incidental, das atuações de Depp e Green, e da direção empolgada e inspirada de Burton (junto com suas brincadeira visuais excelentes), além de extraordinárias e hilárias piadas, Sombras da Noite é uma experiência muito bacana. Poderia ser melhor? Nossa... demais! Poderia ser um dos melhores filmes de Burton. Só precisaria de um roteiro melhor escrito.

sexta-feira, 22 de junho de 2012


  


Resenha filme "God Bless America" (God Bless America / 2012 / EUA) dir. Bobcat Goldthwait



por Lucas Wagner

  Um professor que me deu aula de sociologia disse certa vez que "o mundo vai acabar, mas vai acabar é pela cultura". Cada dia que passa essas palavras parecem mais verdadeiras. Vivemos em uma época podre, governada por comportamentos deploráveis e clara distorção da razão, em que o que parece mais importar é ganhar dinheiro e se alimentar da inteligência de seres humanos através de músicas medíocres, programas de Tv nojentos, preconceito e um claro mal entendendimento do que venha a ser "liberdade de expressão". Assim, esse pouco conhecido God Bless America, do diretor Bobcat Goldthwait, funciona quase do modo como o inesquecível Clube da Luta de David Fincher funcionou em 1999, ou seja, como um espelho de uma sociedade, de uma geração deprimente, ridícula, que busca se justificar de formas tenebrosas enquanto apenas confirma sua inegável estúpidez.

  O longa, também escrito por Goldthwait, conta a história de Frank (Joel Murray), um sujeito cansado da própria vida, divorciado, com um emprego que detesta, uma filhinha que tem tudo para se tornar uma imensa vadia, etc. Ele observa com tristeza e desgosto as desgraças da sociedade norte-americana, até que um dia descobre ter um tumor terminal no cérebro. Tendo primeiramente pensamentos suicidas, ele os descarta e se junta à uma garota de 16 anos, Roxy (Tara Lynne Barr), em uma cruzada sangrenta buscando "limpar" pelo menos um pouco da "América".

  God Bless America já merece respeito por ter uma trama como essa. Correndo os mesmos riscos que obras como Laranja Mecânica, Assassinos Por Natureza, ou o já citado Clube da Luta correram por tratar de temas pesados envolvidos em uma trama que poderia facilmente ser considerada moralmente repugnante, God Bless America encara sem reservas e sem medo algum a desgraça que é a cultura norte-americana atual, que domina o mundo com seu lixo (sim, apesar de gostar de muitos filmes e cineastas norte-americanos, acho que muito do vem de lá seja porcaria) e envolve os seus cidadãos em uma espécie de sonambolismo intelectual que os deixa cegos diante de suas próprias atitudes. Essa coragem do longa fica clara em diversos momentos, como ao criticar abertamente os preconceitos, atribuindo-os muito a conservadores reliogiosos, ou ao criticar o nojento seriado Glee abertamente ("Vc está aprendendo a atirar rápido hein" "Eu tenho um bom professor. Além de que eu imagino estar atirando no elenco de Glee"), ou ainda destruir o imbecil programa American Idols através de um outro (fictício) cujo nome não esconde seus objetivos: American Superstarz.

  O filme não critica sem fundamento essas questões, mas sempre busca embasar seus argumentos, como quando Roxy revela sua vontade de atirar no elenco de Glee e Frank pergunta qual é o problema do seriado, recebendo como resposta que este "estereotipa homossexuais". Então, vemos que Goldthwait não está atirando no escuro aqui, como muitas pessoas fazem em seu cotidiano, criticando situações e pessoas sem qualquer argumento. Ele não simplesmente espalha seu ódio contra a modernidade como um louco. Aliás, as discussões que vemos aqui contidas nos diálogos dos personagens são os pontos mais altos do longa. Como por exemplo, temos aquela que é minha cena favorita, em que um colega de trabalho de Frank o indaga porque não gosta de American Superstarz,o que gera uma discussão que, ao mesmo tempo em que contém argumentos impecáveis e valiosos por Frank, serve como espelho da ignorância e estupidez da sociedade atual na pele do colega dele, que se restringe a rir e dizer que o programa é "divertido" (argumento de imbecil, como quem defendeTransformers como sendo um filme para "desligar a cabeça) ao invés de realmente pensar no que consome. Ele até mesmo chega a dizer que Frank é contra a liberdade de expressão, recebendo deste como resposta: "eu defenderia a liberdade de expressão se eu achasse que ela está ameaçada; eu defenderia a liberdade de expressar e querer mostrar piadas racistas e de estupros, de mau gosto, sob o pretexto de ser ´ousado´, mas isso não é ser ousado, é apenas o que vende. Eles não poderiam abusar mais da baixaria comercial, porque essa é a geração do ´não, você não pode dizer isso´, onde um cometário tem mais peso do que a verdade. Ninguém mais tem vergonha, e nós deveríamos celebrar isso?!". Fascinante...fascinante mesmo.

  É impossível não encarar dolorosas verdades e não sentir vergonha do mundo em que vivemos assistindo esse filme. É tudo tão podre, as pessoas são tão cegas que parece até mesmo comédia, como ao notarmos que os argumentos mais niilistas e pessimistas acerca das pessoas são geralmente os corretos. A mídia não possui qualquer regulamento, não possui pudor, e assim vemos na televisão banalidades que chegam ao extremo do mau gosto, como quando vi esses dias um programa que elegia as dez mulheres com melhores peitos e bundas na Tv, num canal aberto (!!!!), ou quando ouvimos tele jornais sensasionalistas em que mediocridades que se dizem jornalistas alegam "como o mundo está ruim" pela falta de Deus, ou ainda pelos falsos discursos anti-homofobia que essas desgraças de novelas da Globo tentam transmitir enquanto na verdade apenas vendem uma imagem estereotipada e tosca dos homossexuais. E o que dizer dessas músicas escrotas que, por incrível que pareça, pessoas escutam, como essa desgraça chamada funk ou sertanejo, em músicas que possuem letras como "Ai se eu te pego", ou ainda "Eu quero tchu, eu quero tcha, eu quero tchu tcha..."; e quando as pessoas são criticadas por ouvir essas músicas, dão o mesmo argumento que o homem do filme que gosta de American Superstarz: é divertido. Ou seja, foda-se se na verdade a sociedade está apenas destruindo sua capacidade de pensar, te transformando em um vegetal inútil. O filme, mesmo dentro de sua lógica e universo, obriga o espectador a pensar na sua própria realidade, e a sentir nojo dela.

  Goldthwait estuda essa sociedade através do humor, do humor negro para ser mais preciso. É inegável que um espectador inteligente vai rir das mortes de medíocridades vistas aqui, sentindo até mesmo um prazer mórbido ao observá-las, como quando Frank explode a cabeça de um patricinha mimada que dizia "odiar os pais", porque esses deram a ela o carro errado de aniversário, ou ainda quando os protagonistas atiram loucamente de dentro de um carro em um grupo de religiosos conservadores anti-semitas e homofóbicos, chegando no ápice quando esses atropelam cruelmente o pastor que comandava o grupo, momento em que o espectador abre um inegável e sincero sorriso. Goldthwait ainda critica a forma como a mídia parece pouco se interessar pela onda de assassinatos cometidos pelos protagonistas, sempre achando "soluções fáceis" para essas situações, como ao dizer que os religiosos conservadores filhos da puta discutidos um pouco mais acima, foram mortos por ateus. A falta de interesse da mídia se dá principalmente em relação a falta de material de vídeo dos assassinatos pois, como diz Frank, você não presta atenção em nada que não esteja gravado. No entanto, o cineasta ainda se entrega ao humor negro de formas menos críticas, mas não menos eficientes, como no momentos em que Frank persegue desajeitadamente uma vítima sua, enquanto essa grita estericamente, ou ainda quando este prepara erroneamente um carro para a explosão e sai, como em um filme de ação, sem perceber que não tinha feito o serviço direito. Confesso, no entanto, que achei o bebê explodindo ofensivo, e olha que eu geralmente aprecio o humor negro sem reservas.

  Goldthwait, além do roteiro quase impecável, tem uma excelente direção, conseguindo manejar como um mestre as discussões críticas do longa, ao mesmo tempo que mantém o bom humor na maior parte do tempo. Além disso, o cineasta acerta ao incluir referências a outros longas de maneira orgânica, como quando reverencia Bonnie e Clyde (uma referência óbvia para um filme como esse, obviedade esta contornada belamente pelo diretor ao ter um personagem reconhecendo a inevitabilidade da comparação), Lolita (mesmo que o longa critique Nabokov em certo momento), Taxi-Driver, etc. Outra coisa ainda, Goldthwait é extremamente feliz na escolha da trilha incidental que guia o filme que, além de canções belíssimas, se inserem adequadamente na narrativa, contribuindo para que o cineasta conte sua história. A trilha aliás, tanto a original quanto a incidental, são compostas de músicas mais calmas, por vezes clássicas e muitas vezes transcedentais, ressaltando a maneira singular como Frank e Roxy se destacam do mundo em que vivem. A relação dos dois, aliás, é muito bem desenvolvida por Goldthwait, que os leva a uma relação de paternalidade e amizade, sempre contendo um senso de liberdade e alegria, coloridos por uma leve tensão sexual. No entanto, não gostei que o cineasta tenha incluído determinada briga dos dois no terceiro ato, que soa falsa e clichê, aderindo a um objetivo infame de tentar comover mais o espectador.

  Joel Murray e Tara Lynne Barr estão simplesmente perfeitos em seus papéis. Murray confere tridimensionalidade a Frank, tranformando-o em quase um zumbi ambulante, cansado de sua ridícula vida e so seu ridículo mundo, que encontra libertação e prazer quase martírico nos seus atos criminosos. Já Tara Lynne Barr se revela um tremendo espetáculo: linda, a garota possui um carisma grandioso e transforma Roxy em uma personagem complexa e interessante que possui grande inteligência e opniões fortes, mas se mostra como uma mini-psicopata em seu ódio a sociedade e suas falsidades ("Devíamos matar todos aqueles que usam camisas com o símbolo do anarquismo" diz ela em certo momento). Aliás, é fascinante que ela, mesmo toda revolucionária, ainda às vezes se comporte como uma típica adolescente, como pela dimensão do sofrimento que acarreta ao pensar que Frank a chama de feia. Lynne Barr ainda acerta ao basear sua interpretação naquela de Sue Lyon em Lolita de Stanley Kubrick.  Murray e Lynne Barr possuem ainda uma química impecável que é vital ao filme.

  God Bless America, mesmo com alguns defeitos, é um longa extraordinário e ousado, um dos melhores do ano, que deveria ser mais conhecido. Ele nem previsão de estréia tem aqui no Brasil, e teve péssima bilheteria nos EUA (o que parece ser revelador, não?). Mas eu indico, ou melhor, insisto que assistam o filme, já que não se arrependerão e ainda ficaram completamente empolgados para discutir o mundo atual. Eu só queria que Frank e Roxy viessem aqui no Brasil e desse jeito no funk e no sertanejo...

 Mas, enquanto isso não acontece, gostaria de dizer a Goldthwait: "you, sir, made my day".

quarta-feira, 20 de junho de 2012




Resenha filme "Deus da Carnificina" (Carnage / 2011 / França, Alemanha, Polônia, Espanha) dir. Roman Polanski



Por Lucas Wagner

  Em 1962, o cineasta Luis Buñuel realizou uma de suas maiores obras-primas, O Anjo Exterminador.Nesse filme, acompanhamos uma reunião de pessoas da alta sociedade em um elegante jantar, mas que, ao fim da reunião, não conseguem, sem qualquer explicação, deixar a casa de seus anfitriões. No desenrolar da história, as polidas e educadas máscaras sociais que os personagens usam vão lentamente caindo, revelando animais nada elegantes, pessoas realmente horrendas e que apresentam comportamentos deploráveis. A base desse novo filme do veterano cineasta Roman Polanski, Deus da Carnificina, é extremamente parecida, e em boa parte do tempo mantém um bom índice de qualidade mas, diferente do que aconteceu no filme de Buñuel, aqui o projeto cai de qualidade a partir de certo ponto devido ao regular roteiro.

  Escrito por Yasmina Reza (que escreveu a peça Le Dieu du Carnage, que deu origem ao longa) e pelo próprio Polanski, o filme começa a partir de uma briga entre dois pré-adolescente que resulta em dois dentes quebrados e um nervo exposto para um deles. Os casais pais desses garotos, Penelope (Jodie Foster) e Michael (John C. Reilly), e Nancy (Kate Winslet) e Alan (Christoph Waltz), então se reunem para conseguir, de maneira civilizada (à primeira vista, pelo menos), resolver essa situação. A coisa sai do controle e se transforma em uma verdadeira "carnificina verbal".

  Polanski, como um diretor inteligente que é, não busca "invencionismos visuais" em sua obra, que se passa toda na casa de um dos casais. Assim como fez em seu inesquecível Busca Frenética (que é, junto com Chinatown, meu filme favorito do diretor, mas que foi muito injustamente criticado) e no ótimo Escritor Fantasma, Polanski tem uma direção que se adequa ao projeto (algo que ele mesmo parece não ter compreendido em seu deplorável O Último Portal) e assim busca contribuir a partir de pequenos elementos, como o latido de um cão (algo que contribui para aumentar a tensão) ou ainda o lento passar do dia até o anoitecer, detalhe que torna o filme mais realista e que só é observado através de janelas de vidro do apartamento. Ainda, Polanski, que mantém sua câmera mais estática no início do longa, vai gradualmente movimentando-a mais quanto mais a situação vai ficando tensa. Esse "crescente de tensão" ainda é beneficiado pela excelente trilha do sempre competente Alexandre Desplat (que compôs trilhas como a de A Árvore da Vida, Harry Potter 7.1 7.2, etc), que abre e conclui o longa: esta começa com tons delicados, quase infantis, mas que vão gradualmente se tornando mais intensos e ameaçadores, com direito até mesmo a tambores, representando o próprio percurso que o filme seguirá.

  Mas Polanski compreende que este é um filme de atores e que o palco é deles, contratando assim atores de altíssimo nível para estrelar seu trabalho. Kate Winslet (uma das minhas atrizes favoritas por sinal), consegue representar com o talento habitual a gradual "perda de charme" e de paciência de Nancy, que parece sempre a ponto de explodir (desde o início do longa), mas que evita isso até um ponto em que não dá mais. Ainda assim, mesmo que supostamente possa ser devido à proposta do longa, Winslet se entrega sem reservas a um overeacting, a um exagero tão extremo que a transforma em uma caricatura (como dói falar isso dela!). Já Jodie Foster (outra das minhas atrizes favoritas) interpreta de maneira quase impecável Penelope, uma mulher que se diz autruísta e bem intencionada, mas que esconde um nojento materialismo e uma enorme insegurança nas suas atitudes que a tornam mais complexa. Observem como Foster foi inteligente ao mostrar com sutiliza a expressão de surpresa e quase que de medo ao notar o caos que desencadeou. Diferente de Winslet, Foster não transforma sua personagem em uma caricatura, mas por pouco, já que o roteiro oferece armadilhas suficiente para isso.

  O sempre carismático John C. Reilly interpreta Micheal como um homem que parece sempre tentar agradar, muitas vezes não convencendo em seus esforços, que são óbvios demais. Notem como Reilly adota uma voz sempre alta, quase irritante, mas que demonstra sua tentativa de permanecer cordial. Esse pseudo-cordialismo esconde comportamentos, desejos e sentimentos bem mais sombrios, que vão sendo revelados por Reilly de maneira gradual. Notem até mesmo a expressão de Reilly na primeira vez que briga com um personagem do filme, como fica claro que ele está tentando a todo custo manter a calma, mas está quase explodindo. É interessante ainda a dinâmica que este estabelece com sua mulher, uma dinâmica que no início do filme tem uma aparência, mas quanto mais as máscaras vão caindo, mais esta se revela diferente. A relação de "dominância" muda de dominador.

  Mas a melhor atuação fica por conta mesmo de Christoph Waltz, como Alan. Este é um sujeito materialista, aparentemente sem sentimentos, enganador, irônico e manipulador (é hilário um momento em que Alan, de propósito, "confunde" o nome de Michael com Stephen, apenas para demonstrar o desprezo que sente por aquele homem) . Waltz é genial ao mostrar que Alan está claramente se divertindo enquanto o circo pega fogo ao seu redor, observando aquelas "criaturas" brigarem sempre com um sorriso, e sempre colocando "lenha na fogueira". Mas Waltz foi impecável mesmo ao mostrar que Alan é um sujeito mais humano, embora completamente niilista. Observem como ele chama seu próprio filho de maníaco, mas que parece um verdadeiro monstro ao defendê-lo (mesmo que re-afirme que ele seja um maníaco!), ou ainda quando, mesmo depois de defender um remédio claramente defeituoso que defende como advogado, este diz para uma senhora (mãe de Michael) não o usá-lo temporariamente, ao mesmo tempo em que ri dela por chamá-lo de doutor. É uma atuação nível Oscar aqui. Eu me surpreendi pelo fato de que, dentre todos no elenco, Waltz é o que eu menos era fã (principalmente se comparado a Foster e a Winslet), mas que se revelou como o grande intérprete do longa.

  Mas agora vamos ao roteiro. Este começa de forma quase impecável, construindo com calma a interação entre os personagens e desenvolvendo sua tese de maneira perfeita. O roteiro explora com prazer a falsa cordialidade entre os personagens e vai desenvolvendo o processo de desintegração da ordem apartir de tiradas estilosas, em que os casais alfinatam uns aos outros, de uma maneira que, de início, essas alfinetadas são facilmente perdoadas, mas que aos poucos vão se tornando mais severas. O roteiro ainda se diverte produzindo momentos claramente cômicos em seu absurdo sutil, como na cena em que, depois de uma puta discussão entre os casais (a primeira realmente "quente"), eles se sentam para tomar café e tentam fingir que nada aconteceu.

  Mas o filme quase afunda por completo quando deveria realmente empolgar, ou seja, quando "o circo pega fogo", e assim o longa, que estava excelente, cai para bom. Isso ocorre porque as discussões que guiam os casais se tornam falsas e cheias de falas expositivas demais, mesmo para alguém bêbado (embora eu admita que gostei do momento em que Winslet diz: "Eu limpo o cú com os Direitos Humanos!"). Não que as discussões que surjam não sejam interessantes. Pelo contrário. Vemos aqui discussões sobre relacionamentos, niilismo, materialismo (essa sendo a discussão mais imprecionante e bem construída, além de cínica, do roteiro), visão de vida, etc, que são valiosas, mas que simplesmente foram jogadas aqui sem adequado desenvolvimento (tirando a do materialismo)! Reza e Polanski ficaram ambiciosos demais nesse momento e faz com que o filme entre em áreas que não possui estrutura para entrar. Ainda, a idéia dos roteiristas de incluir, em toda a bagunça, discussões acerca do relacionamento íntimo de cada um dos casais, em que esses "lavam a roupa suja", é imprestável, e leva o longa a momentos que poderiam gerar bons frutos, mas que são muito mal trabalhados. 

  Mas o pior de tudo é algo que não aconteceu de modo algum em O Anjo Exterminador: exagero. As situações se tornam exageradas demais! Embora eu compreenda isso dentro da proposta do roteiro de mostrar aqueles adultos se comportando de forma absurda, chega um ponto em que tudo deixa de ser verossímel e o filme perde completamente seu rumo, principalmente no clímax, se transformando em um festival de babaquices e putaria desenfreada que não chega a lugar algum, que não possui nem mesmo um sentido! É claro, a falta de sentido aqui faz sentido dentro do que se propôe o roteiro, mas ainda assim percebe-se que este foi mal construído para se chegar a este ponto, mesmo que no início tenha mostrado tão belo desenvolvimento, desenvolvimento este que se perdeu quando os casais começaram a discutir (ainda sóbrios!) questões íntimas sobre seus relacionamentos na frente de estranhos! O longa atinge tal grau de artificialidade que mesmo a construção da tensão de Polanski vai por água abaixo.

  Agora, os planos com que Polanski inicia e termina seu filme me dão vontade de até assistí-lo novamente. Depois de mostrar a briga entre os garotos, Polanski os filma em reconciliação pacífica e carinhosa, mostrando-os como seres humanos sábios em sua inocência que, mesmo diante da adversidade, não perderam a sua humanidade, enquanto seus pais então em uma luta sanguinária e sem sentido. É o mesmo que o seriado South Park mostra com tanta perfeição: as crianças são o futuro, e a geração de adultos mergulha em uma onda de estupidez e ignorância, caracterizada por uma inegável cegueira social. E isso eleva novamente a qualidade de Deus da Carnificina.

terça-feira, 19 de junho de 2012

TV UFG homenageia a sétima arte nacional com o Dia do Cinema Brasileiro


Por Paulo Henrique Faria

A TV UFG exibe nesta terça-feira, 19 de junho, a partir das 19h, sua programação especial em comemoração ao Dia do Cinema Brasileiro. Confira abaixo as sinopses, fichas técnicas e horários dos filmes apresentados. As obras foram reunidas por meio de Chamada Pública e selecionadas por uma comissão julgadora formada pela Gerência e por Coordenações da TV UFG. 

19h Rock em Goiânia é notícia?

Esse documentário é de minha autoria e o fiz justamente para busca debater a visibilidade do cenário musical do rock goianiense nos meios de comunicação. A obra reúne a opinião de pessoas que realizam coberturas relacionadas ao rock, tanto amadores quanto profissionais, com especialistas e com as bandas que representam o estilo em Goiânia, além do público presente no maior festival de rock alternativo da cidade, o Goiânia Noise. 

Veja a chamada da TV:  

sexta-feira, 8 de junho de 2012



Resenha filme "Prometheus" (Prometheus / 2012 / EUA) dir. Ridley Scott


Por Lucas Wagner

  Prometheus certamente criou uma comoção enorme tanto para cinéfilos, quanto para aqueles interessados em indagar sobre os segredos do Universo. E principalmente criou uma comoção enorme para aqueles que são as duas coisas que falei... como eu. Isso aconteceu primeiramente porque o filme representa a volta, depois de cerca de 30 anos, do cineasta Ridley Scott ao gênero de ficção científica, ao qual contribuiu com duas obras-primas inesquecíveis: Alien - O 8º Passageiro Blade Runner. Além disso, Prometheus nasceu de um projeto que seria um prelúdio de Alien - O 8º Passageiro, e, como discutiam empolgados os realizadores, foram sendo desevolvidas idéias tão novas que os levaram a criar um novo filme. Ainda, o longa teve uma campanha de marketing fabulosa, com trailers e pôsters de tirar o fôlego. Mas Prometheus empolgou tanto também pelos discursos orgulhosos de Ridley Scott ao discutir questões altamente filosóficas que estariam no filme e por se propor a analisar as extremamente intrigantes idéias de Erich von Däniken em seu livro Eram os Deuses Astronautas. Meu Deus, Scott chegou a comparar o filme a 2001 - Uma Odisséia no Espaço!

  Mas... e aí? Prometheus cumprius? Em grande parte, fico feliz de dizer que sim... cumpriu. O filme consegue levar o espectador a reflexões profundas acerca do Homem, do nosso papel no Universo, se existe Deus, quem nos criou... na verdade, o longa lembra mais Blade Runner do que Alien, levando-se em conta as suas reflexões. Ainda, o filme conta com personagens intrigantes vindos de um elenco extraordinário, e consegue ser tenso, bastante tenso (mas não tão tenso quanto Alien).

  Primeiro, os personagens. O filme conta com um elenco absolutamente invejável composto por gente como Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, entre vários outros. Diferente do que geralmente acontece em uma obra grande como essa, aqui os roteiristas demonstram verdadeiro interesse em desenvolvê-los, o que só é ajudado pelas excelentes atuações. Alguns dos mais interessantes personagens eu comentarei um pouco.

  Charlize Theron confere uma dureza imprecionante à sua Meredith Vickers, embora esta não observe essa dureza de caráter como algo 100% bom, mas a ressente, o que fica claro em sua reação ao ser comparada com um robô. E Theron mais uma vez confere essa complexidade com sutileza adequada. Logan Marshall-Green interpreta o Dr. Charles Holloway de uma maneira interessante, conferindo genuíno interesse ao cientista na sua busca por respostas, ao mesmo tempo que estabelece todo o seu amor e carinho por Elizabeth Shaw (Rapace) através de gestos simples e sinceros, como ao arrumar o cabelo da amada depois que esta retira seu capacete, o que apenas o torna mais tridimensional.

  Noomi Rapace é uma atriz que ganha cada vez mais meu respeito. Depois de ter tido uma atuação inesquecível na fraca versão sueca de Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres, e de ter sido desperdiçada no também ruim Sherlock Holmes - O Jogo das Sombras, a atriz sueca (dona de uma beleza simples, mas apaixonante) consegue transformar a protagonista Elizabeth em uma figura complexa e interessante. A moça tem uma crença firme na existência de Deus (simbolizado pelo enorme crucifíxio que usa), mas ao mesmo tempo procura conhecer os segredos do Universo através dos olhos da Ciência. O próprio fato de estar procurando os verdadeiros criadores da raça humana já poderia destruir sua religiosidade, mas as suas descobertas apenas a tornam mais firme em suas crenças, como se apenas aumentassem seu apetite pelo mistério da existência. E todo o processo pelo qual passa no decorrer do filme apenas a torna mais interessante, já que ela passa a questionar de maneira mais brutal e desesperada pelo sentido da vida. Ela quer acreditar que a vida tem um sentido e que não é apenas caos, por mais que tudo mostre o contrário. Isso a torna cada vez mais impressionante, e Rapace consegue demonstrar isso tudo com firmeza e doçura fabulosos.

  Mas o melhor e mais complexo personagem fica mesmo por conta do grande Michael Fassbender. Ele interpreta o andróide David, e cria nele uma figura extremamente intrigante, que de uma forma ou de outra, acaba lembrando o inesquecível HAL 9000 de 2001 - Uma Odisséia no Espaço. Completamente interessado nas características da humanidade, David demonstra ao mesmo tempo se ver como uma figura superior, como se uma espécie evoluída, mas que possui "sentimentos" claramente conflituosos que o levam a agir, muitas vezes, de maneira não racional, o que o torna mais complexo. Vejam como ele olha os outros componentes da expedição sempre com interesse, mas com o interesse com que um humano enxerga  o comportamento de um chimpanzé; e nesse seu interesse, David muitas vezes diz coisas que podem machucar seus interlocutores. David se torna um personagem ainda mais fascinante quando observamos que ele também busca respostas para perguntas profundas, e enxerga o conhecimento como um grande aliado seu (como nas suas indagações sobre a morte). Ainda, o personagem se insere em uma relação dialética com todo o contexto: os "Engenheiros" (quem ver o filme entenderá) criaram os humanos, e os humanos criaram os andróides (quem eles - os humanos - enxergam como "empregados"), mas, se os seres humanos estão em busca do conhecimento de sua origem para, de uma forma ou de outra, encontrar sua importância no Universo, como eles podem enxergar os robôs como uma raça sem importância se eles (os humanos) são como se fossem os robôs para os "Engenheiros", ou seja, sua criação? Essa reflexão fica bem clara em um diálogo marcante entre Holloway e David, no qual o primeiro indaga o por quê os "Engenheiros" os criaram e David pergunta "por quê vocês me criaram?", e Holloway responde: "porque podemos", recebendo como resposta o olhar e sorriso divertidos de David.

  Aqui podemos entrar nas discussões filosóficas do filme e peço liçensa a vocês, leitores, para viajar. Quem somos nós? De onde viemos? Temos alguma espécie de importância no Universo, ou somos meros comglomerados de substâncias químicas flutuando no espaço? Prometheus deixa bem claro sua opnião sobre a origem do Homem na maravilhosa cena inicial na qual um alienígena, ao estilo de Jesus Cristo, comete um sacrifício em prol da vida, da origem da vida na Terra. Seguindo as teorias de Erich von Däniken e as teorias da "semente" (que diz que fomos criados por alienígenas), na trama do longa descobrimos que fomos de fato genéticamente desenhados por seres alienígenas superiores. Então... é isso? Não passamos do produto de uma outra raça? E quem criou essa raça? Deus? Quem é Deus... o que é Deus?

  Enquanto estamos englobados em nossa existência, em nossas emoções, memórias, parece sinceramente haver um propósito para estarmos aqui. A razão humana (ou a falta de razão) parece não conseguir digerir a idéia de um Universo avesso a nós, em que nós na verdade não temos importância, mas somos apenas um minúsculo verme brincando nessa existência. Mas parece que, cada vez mais, vemos como somos insignificantes diante de tudo que esse Universo representa. A busca de Elizabeth aqui se assemelha a busca interna de cada um de nós. De fato, cada um dos personagens (os mais importantes, quero dizer) possui em si uma sede de desvendar esses mistérios da existência, que é o que os guia na sua missão no planeta desconhecido, mesmo aqueles ateus, como acontece com Holloway (observe sua descepção diante da impossibilidade de estabelecer uma determinada "conversa" no longa). Nós, como seres humanos, queremos respostas, mas essas respostas são de extrema complexidade e podem até mesmo não existir. Por quê afinal deve haver uma resposta? Simplesmente pelo fato de que a simples idéia niilista da falta de propósito na existência como espécie confere imensa falta de credibilidade a nossa própria existência. Para que existismos, se não somos especiais? Se não existe vida após a morte? Se não existe Deus... se só existe Caos...

  Ao apresentar questões de complexidade tão imensas quanto essas, Prometheus poderia facilmente cair na armadilha de respondê-las, já que alguma resposta poderia facilmente ser tratada como infantil. O longa as propôe, mas evita respondê-las, preferindo mandar o espectador para fora do cinema com pensamentos profundos, sabendo apenas que os segredos são tantos e que talvez nunca encontremos respostas, mas que vale pensar sobre elas. Os caminhos que a trama segue, aliás, são fascinantes justamente por ir nos colocando mais e mais contra a parede nessas indagações, nos fazendo perceber como somos estúpidos em nossos delírios de grandeza, ao mesmo tempo que não fecha a porta para a pergunta: existe algo a mais na existência, ou somos apenas isso, esse conglomerado de substâncias químicas? Aliás, uma das coisas mais fascinantes do filme é que ele evita responder até mesmo muitas questões simples sobre os alienígenas que vemos, ou sobre as contingências que os personagens vivem, assim como em Alien - O 8º Passageiro,Cloverfield eTriângulo do Medo, etc, já que seria "sorte" demais de, no meio da confusão criada aqui, eles simplesmente conseguissem descobrir, por acidente, muitas informações importantes.

  Ridley Scott parece mais interessado em nos fazer pensar nessas questões do que no suspense em si, e é por isso que Prometheus se parece mais com seu Blade Runner (um filme extremamente filosófico) do que com Alien - O 8º Passageiro (um filme mais voltado para o terror). Mas não que o longa não seja eficiente no quesito terror. Pelo contrário; Scott consegue um ótimo clima de tensão que deixa o espectador inquieto, não temendo usar bastante a violência gráfica para causar choque. Mas Prometheus é uma criança nesse ramo se comparado a Alien - O 8º Passageiro. Ainda assim, o longa chega ao ápice do terror naquela que talvez seja a sua melhor cena, quando acompanhamos um determinado "parto". Nesse momento, Scott mistura uma quantidade enorme de gore, com direito a muita escatologia exacerbada, ao mesmo tempo que cria uma cena angustiante que, se analisada mais a fundo, entra em perfeita consonância com as questões discutidas no filme, podendo levar a reflexões estranhas mas atraentes acerca de questões como por exemplo, da gestação de uma vida. E o fato de esse "parto" ocorrer com uma determinada personagem (não posso revelar, pois seriaspoiler) torna toda a situação ainda mais intrigante.

  Infelizmente, porém, Prometheus não é perfeito, e isso acontece principalmente pelo visual de suas criaturas. Uma das coisas mais fascinantes de Alien - O 8º Passageiro diz respeito justamente ao físico, ao visual do alienígena do filme. Criado pelo artista surrealista H.R Giger, o Alien é uma criatura completamente grotesca, satânica, além de complexa em toda a sua estrutura. Em Prometheus não vemos nada parecido, mesmo sendo o mesmo H.R Giger o seu criador. Os alienígenas aqui variam entre o "sem graça" e o "comum". Se a criatura vista no final é bacana, é inegável também a falta de imaginação do seu artista ao produzi-la. Mas o pior de tudo é o visual dos "Engenheiros", já que parecem mais sem graça que os humanos. Isso pode parecer pequeno, mas foi um tapa na minha cara, já que eu esperava algo grandioso como o Alien. Me decepcionei. Além disso, é ridícula a saída encontrada pelo roteiro para a resolução da ameaça á Terra no final do longa. Ridícula e completamente clichê. E o que dizer do modo completamente imbecil como descobrimos a verdadeira natureza e função das criaturas na "pirâmide"? Parece que foi simplesmente jogada lá porque os roteiristas não encontraram modo melhor de inserir a razão na trama. Uma pena. E o que dizer do completo desperdício de um atores competentes como Guy Pearce e Idris Elba em papéis que não oferecem desafio algum? Aliás, tirando os personagens que eu comentei, de fato a grande maioria se mostra tristemente unidimensional e (como dói escrever isso) artificiais, sendo que vemos um imbecil BRINCANDO com uma serpente alienígena, naquele que é o pior momento do filme.

  Então é isso. Prometheus vai se tornar um clássico no futuro? Sinceramente não sei. O filme é excelente na minha opnião, mas apenas o tempo pode revelar se esse será um clássico ou não. É melhor que Alien - O 8º Passageiro ou Blade Runner? De jeito nenhum. É um "2001 com esteróides"como afirmou Scott? Também não. Talvez não devêssemos analisar Prometheus sobre a ótica desses outros filmes, mesmo porque esses mesmos filmes não foram considerados clássicos da noite para o dia. Blade Runner mesmo foi massacrado pela crítica e ai está em listas e mais listas de melhores filmes já feitos. Prometheus vai ser assim? Não sei. Só sei que apreciei o filme.

quinta-feira, 7 de junho de 2012



    

Resenha do CD instrumental: Moda de Rock

Por Paulo Henrique Faria

A viola caipira, como sua designação aponta é um instrumento característico do movimento sertanejo brasileiro e, como tal é usado somente em música sertaneja, certo? Bem, quem ouvir ao ótimo – e porque não dizer revolucionário - CD “Moda de Rock: Viola Extrema” da dupla Ricardo Vignini e Zé Helder vai ser obrigado a rever seus conceitos. Isso porque os violeiros paulistas gravaram verdadeiros clássicos do rock ao som do instrumento de dez cordas.
Ricardo Vignini e Zé Helder são músicos profissionais e atuam também como professores e produtores musicais. São integrantes da banda Matuto Moderno, grupo que realiza um interessante mix entre sons do sertão brasileiro e a agressividade do Rock. Esse objetivo é mantido no instrumental “Moda de Rock”.
O álbum é formado por 11 canções que marcaram décadas de 60, 70, 80 e 90, bem como os diferentes estilos existentes. As releituras vão de Beatles a Nirvana e, perpassam pelo Rock n’ Roll, Hard Rock, Rock Progressivo, Heavy Metal, Thrash Metal e Grunge.
A primeira faixa do disco é nada mais nada menos que “Kashmir” do grande Led Zeppelin. A música, que é um dos maiores hinos roqueiros de todos os tempos ficou encorpada e muito bem rearranjada por Ricardo e Zé. Os dedilhados e riffs marcantes oriundos de Jimmy Page foram respeitados, e o que se ouve é uma consistência melódica e rítmica inigualáveis.
A segunda releitura é a principal música do Metallica, “Master of Puppets”. Novamente as características fundamentais da canção foram preservadas e os arranjos não se limitam apenas aos acordes das originais. Existe ainda uma preocupação com a melodia e até os solos.
A terceira é “Norwegian Wood”, outro clássico de uma super banda, os Beatles. A característica indiana que George Harrison quis passar na original foi repetida nessa versão violeira. Logo em seguida mais um clássico do rock inglês é homenageado pela dupla paulista, pois se trata do sucesso “In The Flash” do Pink Floyd.
O metal brasileiro e as características regionais não foram deixados de lado. A quinta faixa é “Kaiowas” do grupo mineiro Sepultura. Se a original foi feita com a adição de elementos tribais, essa nova versão instrumental eleva a brasilidade ao trazer o palmeado e sapateado da dança folclórica conhecida como Catira.
Em seguida vem a bem executada balada “May This Be Love” do lendário guitarrista americano Jimi Hendrix. Na sequência dois hinos do Heavy Metal mundial. “Aces High” do Iron Maiden e “Mr. Crowley” de Ozzy Osbourne. A primeira manteve a brilhante aura do disco Powerslave de 1984, com direito a versão dos solos de Dave Murray e Adrian Smith. A segunda foi tocada em um ritmo mais cadenciado, mas sem perder o feeling destacável de Randy Rhoads.
A música de número nove do CD embarca na década de 1990 com “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana. Arrisco dizer que a versão de viola ficou mais bem tocada que a original, que não prima pela técnica - fato comum entre as bandas Grunges - diga-se de passagem. A posterior revisita outro clássico do Thrash Metal americano através de “Hangar 18” do Megadeth. Essa faixa ficou de novo muito bem tocada e as intervenções criativas e pesadas na guitarra de Dave Mustaine permaneceram. Para terminar, a última canção ficou por conta de outro ícone do Rock Progressivo, “Aqualung” do grupo inglês Jethro Tull. A música ficou empolgante na versão com duas violas.
A dupla Ricardo Vignini e Zé Helder está de parabéns por proporcionarem um álbum inovador e de muito bom gosto. Conseguiram transpor a alma roqueira de forma bem sucedida para a viola caipira. Com essa obra eles mostraram que é possível fazer boa música independente do instrumento utilizado. O Rock não se limita a violão e guitarra. Espero agora ansioso, que mais clássicos roqueiros sejam gravados futuramente pelos dois.   

Veja a dupla de violeiros tocando Master of Puppets:


quarta-feira, 6 de junho de 2012


Resenha filme "Solteiros com Filhos" (Friends with Kids / 2012 / EUA) dir. Jennifer Westfeldt


Por Lucas Wagner

 Solteiros com Filhos é uma "dramédia" romântica que busca, a primeira vista, fazer uma discussão acerca das consequências na vida de um casal quando chegam os primeiros filhos, mas que, aos poucos, vai se revelando um filme que possui características auto-biográficas de sua diretora/roteirista/atriz Jennifer Westfeldt, construindo um romance interessante que vai nos conquistando pela doçura de seus protagonistas.

  Dentro de um grupo de amigos formados por seis pessoas, os únicos que não formam um casal são Jason (Adam Scott) e Julie (Jennifer Westfeldt) e, como logo descobrem, são os únicos que não estão prestes a se tornar pais. Se sentindo excluídos, e até mesmo atrasados em relação a seus amigos, Jason e Julie decidem ter um filho juntos, não como um casal, mas como amigos, pensando que essa falta de envolvimento romântico impediria as brigas, discussões que eles buscam evitar.

  O ponto mais alto do longa é como esse vai trabalhando a relação entre Jason e Julie. Os dois são amigos a cerca de 20 anos, e possuem uma intimidade absurda. Eles possuem uma imensa liberdade para conversar um com o outro da maneira como bem entenderem, sobre qualquer tipo de assunto. E é muito doce ver os dois juntos, o que não seria possível caso Scott e Westfeldt não tivessem uma química tão maravilhosa. Vendo-os juntos é doce, é bonito, e você sente que, não importa o que aconteça, eles estarão ao lado do outro. Isso é extremamente necessário, já que, quando eles começam com a idéia de ter um filho (mesmo que a discussão que os leve a essa idéia seja ridícula e represente um dos aspectos mais fracos do longa), essa possibilidade não surge como algo impossível, mas como uma idéia interessante, já que sabemos como eles têm intimidade suficiente para isso.

  Aí chegam as melhores cenas do longa. Quando tem o seu filho (Joe) passamos a acompanhar a rotina desse "casal", e somos completamente conquistados pela maneira como eles são sinceros um com o outro (como quando Julie pergunta para Jason se ela já está novamente bonita quando pelada), com suas brincadeiras, com o modo dinâmico como cuidam de Joe. E (como não é surpresa para ninguém, é só ver o trailer e ter visto alguma comédia romântica na vida), os dois iniciam um relacionamento (ou melhor: conflito) amoroso que conduz o filme. Mas, assim como no livro e no filmeUm Dia, esse relacionamento surge de forma ainda mais natural pelo fato de os dois já serem tão amigos que é como se eles se conhecessem tanto que ficar com outra pessoa poderia parecer errado.

  O relacionamento de Jason e Julie ganham contornos ainda mais interessantes pela tridimensionalidade dos dois personagens. Se de início os dois não parecem mais do que clichês que já conhecemos tão bem, é um fato que, no decorrer do longa, os dois vão sendo tão bem desevolvidos, seus sentimentos tão bem trabalhados, que é como se fôssemos íntimos deles. E mais uma vez a atuação dos dois intérpretes se mostra fundamental. Observem como Adam Scott pega um arco dramático (que se assemelha com o típico arco vivido de forma tão brilhante por Neil Patrick Harris - o Barney Stinson - no seriado How I Met Your Mother, ou por Charlie Sheen quando Two And a Half Man era uma boa série) comum mas vai desenvolvendo-o tão bem, com tantas sutilezas, que o seu processo de amadurecimentovem se de forma natural. E quanto a Jennifer Westfeldt, notem como ela consegue fazer os sentimentos, as confusões emocionais de Julie não parecerem apenas "problemas de mulher", mas parecerem algo real.

  O resto do elenco faz um bom trabalho (tirando Megan Fox, que é sensacionalmente/absurdamente/inesquecivelmente/maravilhosamente/blablablamente linda, mas que falha como atriz), principalmente no que diz respeito ao casal interpretado por Maya Rudolf e Chris O'Dowd que conseguem demonstrar o cansaço de suas vidas de casado ao mesmo tempo que demonstram bonita intimidade através de sutilezas como no momento em que se encontram casualmente de mãos dadas durante um jantar, mesmo depois de tantos anos de casados. Kristen Wiig consegue se afastar completamente da figura grotescamente cômica que criou em Missão Madrinha de Casamento e no programa Saturday Night Live, criando aqui uma personagem trágica, ao passo que Joe Hamm (ex-namorado da diretora, sendo que foi no relacionamento de mais de 15 anos dos dois que o filme foi inspirado) demonstra com habilidade o doloroso processo de desencantamento de sua vida amorosa. Mas ninguém recebe muitas oportunidades de desenvolver melhor seus personagens.

  Jennifer Westfeldt consegue um desempenho eficaz na direção, construindo uma narrativa que alterna de maneira espetacular entre o drama e a comédia, ao passo que, quando quer fazer algo considerado mais "criativo" o faz de maneira sutil, como ao mostrar uma discussão entre os personagens de Leslie (Rudolf) e Alex (O'Dowd) focando nos movimentos mecânicos de arrumação do apartamento que fazem enquanto discutem. Ainda, Westfeldt acerta ao demonstrar contrastes interessantes na narrativa, como a diferença dos apartamentos de diferentes casais (de Jason/Julie e Alex/Leslie) quando tem seu primeiro filho, ou ainda na linda rima visual que cria em restaurantes chiquês no início e no fim do filme, que mostram com perfeição o amadurecimento de Jason.

  Divertido e comovente, Solteiros com Filhos é um ótimo exemplo de comédia romântica em tempos que não estamos vendo algo realmente bom do gênero (a melhor comédia romântica que me lembro antes desse foi 500 Dias com Ela de 2009), mas não é de jeito nenhum uma obra-prima e nem um filme excelente. Embora eu não tenha apontado muitos defeitos acima, é inegável que não vemos aqui personagens realmente complexos psicologicamente falando. Eles (os protagonistas, para ser mais seleto) são bastante tridimensionais, principalmente devido às atuações, o que já nos leva a nos importar bastante com eles, mas acho que o longa se beneficiaria se esses fossem mais complexos.

  Mas, no fim, acabamos mesmo nos sentindo bem satisfeitos pela experiência doce e engraçada que vivemos nos 107 minutos de filme. E a cena final deixa ainda mais clara os objetivos pessoais da diretora, que parece permitir a si mesma, como pessoa, o benefício da possibilidade de um destino amoroso que possam conter maiores surpresas e revelações, preferindo concluir de uma maneira brusca, mas que se revela eficaz já que nos leva a pensar não no que virá para aqueles personagens, mas no momento, apenas no momento em que eles estão vivendo. Solteiros com Filhos é, assim, uma forma de terapia para sua diretora, o que é fascinante.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Erik Mongrain

Aê galera tudo bom?


Hoje vou falar de Erik Mongrain.
Esse violonista canadense mostra ousadia no seu cd “Fates”.



Ele impressiona nossos ouvidos com temas muitos depressivos e místicos. Suas composições é um famoso mistério, porque além de terem afinações totalmente diferentes não conseguimos imaginar como será o desenvolvimento da sua música. Nesse cd deixa bem claro que trata de um fingerstyle que possuem muitas influências de Don Ross e Michael Hedges em seus harmônicos e abuso de algumas musicas nas percussões.

A música “Air Tap” popularizou o Erik Mongrain no youtube. Porém, não gostei nenhum um pouco desse abuso de técnicas. Ele possui composições muito mais marcantes nesse cd como: “Confusion”, “Fates”, “Fusions”,” Geometrie d une erreur”,”Mais Quand?” “Interprétations” e “I am not”.  Falei quase o cd dele inteiro... Rsss

"Mais Quand?"
 
” Geometrie d une erreur”
"Fusions"
 
"Interprétations"
 "Air Tap"