quinta-feira, 31 de maio de 2012

Resenha de CD: Mundo Cao


Por Paulo Henrique Faria


Lançado em 2011, o álbum de estreia - e homônimo - do trio paulistano Mundo Cao, mostra uma nova tendência de bandas. Assim como os conterrâneos do Cavalo Vapor, os caras fazem Hard Rock com letras em português. A formação é composta pelo baixista Zeca Salgueiro, o guitarrista Fabio Gadel, que também se revezam nos vocais, e o renomado baterista Ivan Busic, do Dr. Sin. Nas músicas é possível detectar as fortes influências do rock pesado das décadas de 70 e 80.
O CD começa com a rápida e energética “Vampiros Existem”, que mostra logo de cara a proposta da banda que é fazer um Hard Rock vigoroso e ao mesmo tempo moderno.
A segunda música intitulada “Força-motor” é uma canção mais cadenciada e com solos destacáveis do guitarrista Fabio Gadel. Na sequência temos a forte “Surtado” que merece destaque pelo peso empregado e ótimos solos – porém curtos – de Gadel.
A faixa número quatro é a “Maloqueiro sem futuro” que começa com uma mistura entre versos de rap e melodia de rock. A música tem como ponto alto o refrão, que é do tipo que impregna na cabeça de tão bom. A letra merece aplausos, pois faz uma explícita crítica a forma como os mendigos e miseráveis são tratados pela polícia nas ruas.
A música seguinte é “Computadores pros Pobres” que novamente traz uma ferrenha crítica social. A parte lírica dessa vez contesta a forma como a inclusão virtual acontece, que tem o objetivo real de ser comercial. Essa é uma das músicas mais pesadas do Mundo Cao e por isso abarca mais para o lado do Heavy Metal. Possui um excelente conjunto de solos e riffs de Fabio Gadel. Nas baquetas Ivan Busic não deixa por menos e “enfia a mão” na batera.
A sexta música é “Satanás quer Turistas” que não deixa o peso diminuir e agrega elementos rápidos do Hard Core e Punk Rock ao Hard Rock do grupo. A posterior é a curtíssima “Insônia”, que deixa claro ainda mais a veia Heavy Metal tradicional do trio. Ótima combinação do baixo de Zeca Salgueiro e a guitarra de Fabio Gadel. O ponto negativo é que a canção tem menos de dois minutos e certamente deixa o ouvinte com o famoso “gostinho de quero mais”.
As duas próximas músicas são “O Amor é Mentira” e “Bug do Milênio” e retorna à proposta Hard Rocker inicial. As letras são contundentes; a primeira fala de traição e falta de amor entre as pessoas. A segunda aborda o sufoco que as pessoas são expostas com as atribuições corriqueiras do dia-a-dia.
Para fechar com chave de ouro a banda executa “Mundo Cão”, que é sem dúvida a melhor das dez faixas do disco. A letra é destacável por criticar a sociedade atual, sobretudo a nossa própria brasileira. Onde a criminalidade é cada vez maior e a corrupção banal. A música carrega um peso e tanto, pois faz uma mistura muito interessante entre Hard Rock e Heavy Metal. Riffs fortes, baixo sincronizado e uma bateria com muita pegada e pedal duplo de Ivan Busic. Sua duração é bem coerente, pois chega aos quatro minutos e cinco segundos.
Os caras estão de parabéns, pois mostram que é possível sim, tocar Hard Rock e Heavy Metal na nossa amada língua. Letras contestadoras, peso e criatividade musical e um belo dueto dos vocalistas Fabio Gadel e Zeca Salgueiro. A ressalva fica por conta das durações das músicas, porque 90% delas não passam dos três minutos. Acredito que música curta assim é mais uma proposta para bandas punks. Apesar da brevidade, o CD é muito bom, empolgante e mostra que o rock brasileiro ainda sobrevive.

Veja abaixo o clipe da música "Maloqueiro sem futuro":


quarta-feira, 30 de maio de 2012


Resenha filme "Flores do Oriente" (Jin líng shí san chai/2011/China) dir. Zhang Yimou


Por Lucas Wagner


Não tenho dúvidas de que a guerra seja uma das coisas mais horríveis, imbecis, grotescas e desumanas criadas pelo animal ser humano. Um dos exemplos históricos que deixam isso claro pode ser o da invasão do exército japonês na capital chinesa da época, Nanquim, em 1937. O exército japonês criou um verdadeiro show de horrores na capital, com direito à crueldade absurda e o estupro seguido de provável morte de várias mulheres. Tal tema é a base para esse novo filme do cineasta chinês Zhang Yimou, que cria aqui um filme bonito e feio ao mesmo tempo, que, se apresenta um número considerável de falhas, é no todo um filme bastante competente.

Flores do Oriente possui, em primeiro lugar, uma direção interessante de Yimou que, acompanhado da maravilhosa direção de fotografia Zhao Xiaoding, consegue um feito interessante: cria planos e cenas de inegável beleza estética, ao mesmo tempo em que não deixa de lado toda a sujeira, a crueza, a violência da situação que acompanhamos. Yimou filma aqui cenas que contém uma beleza sufocante, como o momento que envolve uma bala atravessando uma vidraça colorida, ou ainda através do contraste entre o frio sombrio da Igreja (onde se passa maior parte do longa) com o brilho do sol que muitas vezes invade-a pela vidrassa. Ainda vale comentar o impecável uso que o diretor faz da câmera lenta.

Mas isso não valeria de nada se o diretor enxergasse apenas beleza em um lugar aonde praticamente não existe beleza. E aqui é um ponto em que o filme foi muito criticado e de uma maneira que eu não concordo. Não acho que Yimou, como argumentam vários críticos, deixa de lado a desgraça que está acontecendo para filmar apenas planos bonitos. Pelo contrário. Tanto pelo nível altíssimo de violência que o longa possui, quanto pela movimentação tremida da câmera na mão (conferindo maior realismo), e ainda pela (na maioria das vezes) falta de cores sufocante, Flores do Oriente parece não enxergar beleza no contexto e (mais importante ainda) consegue transmitir para o espectador a dor que envolve aqueles personagens. Na minha opnião, as incursões estilísticas de Yimou não prejudicam o longa de modo algum. É claro, eu preferi o trabalho que Spielberg fez em uma de suas maiores obras-primas, o maravilhoso O Resgate do Soldado Ryan, aonde o cineasta abriu mão do estilo e levou o espectador para uma viagem torturante e perturbadora na alma da guerra. Mas, se é para falar mal de Yimou, então também deveria-se falar mal da direção de Terrence Malick no seu impecável Além da Linha Vermelha, que, assim como qualquer filme de Malick, consegue tirar beleza dos pequenos detalhes do ambiente, mas que também choca ao mostrar de perto a brutalidade desumana da guerra. Não que os dois filmes devam ser comparados (eu acho a obra de Malick muito superior), mas ainda assim não consegui enxergar e nem sentir problema algum nesse aspecto da diração de Yimou.

Sem sombra de dúvida, o aspecto que mais enriquece o filme é a maravilhosa atuação de Christian Bale, ator que já possui uma lista gigante de atuações irrepreensíveis. Bale interpreta John Miller, um sujeito que, nas mãos de um ator incompetente, se tornaria provavelmente um grande clichê. Mas Bale impede isso, representando com maestria absurda o arco dramático do personagem, de como ele vai se transfomando de um sujeito egoísta e imbecil, em um indivíduo altruísta e profundamente humanista. O ator se apóia em pequenos detalhes para mostrar essa transição, como quando o vemos, imensamente feliz, fazendo pão para as garotinhas do convento. Miller vai se tornando um sujeito cada vez mais complexo e Bale deixa claro todo o impacto que uma determinada situação tem nele, e que vai guiar o seu comportamento durante o resto do filme. Além disso, o modo como o ator usa sua voz para transmitir toda a dimensão e complexidade de seus sentimentos no terceiro ato do longa, deixa claro que estamos observando um astro no auge da competência. É uma pena, no entanto, que o roteiro passe um pouco a perna no personagem ao incluir uma revelação no final do filme que busca explicar sua transformação, seu comportamento, o que simplifica-o demais tirando muito de sua complexidade.

A atriz (lindíssima, por sinal) Ni Ni também consegue um desempenho espetacular como a prostituta Mo. Sua personagem vai também se tornando mais complexa ao longo da projeção, ao mesmo tempo que vai ganhando de forma sutil o nosso respeito e admiração. E, ao contrário do que acontecia com o protagonista, as revelações sobre seu passado apenas contribuem para torná-la mais tridimensional ainda. E Ni Ni confere peso e elegância à personagem de maneira impecável, em uma perfomance profundamente tocante. 

Um ponto que eu achei que poderia ter sido melhor trabalhado no longa é a visão acerca dos japoneses. É óbvio que os seus atos são completamente repreensíveis (e eu não duvido que eles tenham agido como animais esfomeados como o filme demonstra), mas o roteiro poderia ter trabalhado melhor para torná-los mais humanos, assim como Spielberg fez com maestria em O Resgate do Soldade Ryan, aonde mostrou que os alemães não eram monstros sanguinários como os norte-americanos muitas vezes os observavam. O longa aqui discutido busca consertar um pouco desse erro através do personagem do coronel japonês Hasegawa, uma figura tridimensional e completamente respeitável. Por um momento, realmente a introdução desse personagem consegue consertar o erro, mas o roteiro sabota essa situação mais para a frente (e é importante ressaltar que Atsuro Watabe, o ator que interpreta Hasegawa, é tão competente que segura a postura e a complexiade desse personagem mesmo quando o roteiro tropeça).

Ainda como ponto negativo, devo repreender o uso horrível da narração em off de uma personagem do filme. Completamente desnecessária, esse recurso é aqui usado como uma forma descarada de muleta narrativa para explicar certas situações de uma maneira mais fácil para os roteiristas (como fica claro no final do filme, quando esta narração entra para explicar toda a história de vida de um personagem ao qual já vínhamos acompanhando desde o início do filme!). Além disso, as prostitutas vistas aqui são, na maior parte do tempo, personagens antipáticas e insuportáveis que, na maior parte do tempo, servem apenas para atrapalhar e encher o saco, além de serem, na sua maioria, completamente estúpidas (como duas delas que se empenham em uma missão obviamente suicida por motivos totalmente idiotas). Para completar, o modo como o filme acaba é extremamente insatisfatório, já que Yimou se acovarda para mostrar uma situação de extrema importância, preferindo por uma conclusão fraca e brusca.

Com uma trilha sonora belíssima e excelente cenas de ação (contendo todo o horror que seria de se esperar de um filme como esse), Flores do Oriente é um filme muitas vezes falho, como foi discutido acima, mas que ainda assim deve ser conferido por sua parcela inegável de acertos que tornam os 146 minutos de duração bem aproveitáveis, principalmente pelo nível enorme de afeto que os personagens de Christian Bale e Ni Ni criam no espectador.


sábado, 26 de maio de 2012



Resenha filme Jovens Adultos (Young Adult)

Por Lucas Wagner

A adolescência é um período de valor praticamente inigualável na vida de uma pessoa, já que é nessa etapa que formamos muito da identidade que nos acompanhará para sempre. É muito importante já que é quando nós mais podemos sonhar com um futuro desconhecido, mas repleto de promessas. Basicamente sempre, a maioria dessas promessas, desses sonhos não são cumpridos, sendo relegados ao esquecimento ou se tornam fantasmas de uma vida que não existe, por um motivo ou outro. Na maioria das vezes, as possibilidades que pareciam existir quando éramos jovens servem como uma espécie de espelho irônico para quem nós nos tornamos, parecendo jogar na nossa cara tudo o que poderíamos ser mas que não somos. Ou pode ser pior ainda: pode nos mostrar que nossa percepção era errada, e que nós fomos extremamente infelizes nas escolhas que fizemos em nossa vida. Jovens Adultos, nova parceria do cineasta Jason Reitman e da roteirista Diablo Cody, que trabalharam juntos em Juno, é uma dramédia que serve como estudo de uma personagem em extrema crise de identidade, que busca conciliar o seu passado com o seu presente.

ghostwriter Mavis Gary (Charlize Theron) tem 37 anos mas parece viver como uma adolescente. Recém-divorciada, a mulher mora sozinha, com um cachorro (ou cadela, não sei), e em um momento, quando procrastina enquanto deveria estar escrevendo um novo livro, a mulher encontra nos seus e-mails, um convite para uma espécie de festa para escolher o nome de uma bebezinha recém-nascida do seu ex-namorado de Ensino Médio, Buddy (Patrick Wilson). Tal e-mail era obviamente padronizado para ser mandado para várias pessoas, mas ela se convence de que ele o mandou para ela porque ele ainda "nutre sentimentos românticos" por ela. Mavis então parte para a cidade pequena aonde cresceu para "recuperar" o seu amor.

Vamos explorar um pouco a vida de Mavis: podemos observar que, obviamente, ela não está muito satisfeita com sua vida, basta olharmos para a sua cara (sempre com resquícios sujos de maquiagem), suas roupas (claramente adolescentes) e para o ambiente da sua casa. Nesse ponto, os diretores de arte Michael Ahern e Kelly Hemenway acertam ao criar um ambiente que obviamente parece a casa de um adulto, mas que tem um pouco (talvez um pouco mais do que um "pouco") de "quarto de adolescente". Com suas coisas jogadas, restos de comida, papéis espalhados, louça suja, podemos perceber que Mavis não enfrenta muito bem essa entrada para a meia-idade que está vivendo. Isso fica ainda mais claro ao observarmos o seu péssimo hábito de tomar Coca-Cola logo de manhã.

Ao ver o e-mail de Buddy, é como se uma espécie de psicose rompesse na personagem. Ela se convence de que Buddy está super infeliz, tendo que tomar conta de uma filha, e de ter se casado, e acha que está mesmo fazendo um papel de 'heroína" ao correr atrás dele. Como uma pessoa que está de fato sofrendo mentalmente, ela não consegue enxergar fatos que contradizem o que ela acredita, o que fica muito claro na cena em que Buddy diz, brincando, que "se sente como um zumbi", por não ter mais tempo de dormir por conta da filha; Mavis usa essa frase, posteriormente, como argumento que prova suas hipóteses. É realmente constrangedor vê-la jogando-se nos braços dele enquanto ele obviamente não quer nada.

O que Mavis busca, acima de tudo, é uma reestruturação completa de sua vida, e, quando isso acontece, muitas pessoas acreditam que uma "viagem ao passado" (metafórica, como é o caso aqui, ou real, como poderia ser o caso em um quadro de esquizofrenia) lhes dão uma chance de re-modelar toda uma experiência infeliz de vida. É o que acontece com o personagem de Kevin Spacey na já clássico Beleza Americana de Sam Mendes, e o que acontece com Mavis. Seu comportamento adolescente, sua maneira de conversar com pessoas de seu passado, revelam uma completa negação de uma vida que não deu certo, e uma busca de voltar ao passado, para salvar o seu futuro.

Essa personagem consegue ficar ainda mais complexa quando observamos que ela é adolescente só na aparência mesmo, já que o completo niilismo que ela traí em sua voz revela que essa pessoa não é jovem de modo algum, apenas uma forma patológica de enxergar a vida.

O roteiro de Diablo Cody explora a personagem de forma sutil mas complexa, sendo capaz de até arriscar um tom mais irônico de vez em quando. Cody tem habilidade suficiente para isso. E tem habilidade para conseguir fazer com que Jovens Adultos seja mais do que um estudo de personagem ao arriscar-se a entrar em um estudo mais profundo da natureza humana, de como nós somos constantemente insatisfeitos com os rumos que nossa vida toma. Algumas pessoas desenvolvem sintomas mais preocupantes diante dessa realidade (como Mavis), mas a maioria simplesmente aprende que isso é um fato da vida. Mas, no final, o que fica mesmo é a lição de que temos de parar de pensar tanto no que "não foi", no conforto que pode ser nos aconchegarmos nesse "não foi" como uma espécie de vítimas do destino, enquanto na verdade nós podemos assumir as rédeas de nossa vida, como tanto insiste Sartre, assumir o controle das variáveis, e olhar para frente, para o que ainda "não é", e fazermos algo de útil para deixarmos de ser "toda a merda ambulante que vaga pelo mundo" como diz Tyler Durden, personagem do filme e do livro Clube da Luta.

Conseguindo ser linda mesmo quando tenta ser feia, Charlize Theron mostra mais uma vez que é uma atriz de fibra suficiente para encarnar uma personagem difícil como Mavis, demonstrando com imenso talento junção de dura maturidade com inaceitável infantilidade em uma mesma pessoa. O talentoso Patrick Wilson (de Watchmen, Pecados Íntimos e Menina Má.com) interpreta com habilidade o cansado, mas feliz Buddy. Já Patton Oswalt transfoma seu Freehauf em um indivíduo tridimensional e trágico, que parece ao mesmo tempo estar buscando acreditar que superou o passado, enquanto na verdade apenas se nega a encarar o futuro. É interessante que, em uma cena, Mavis e Freehauf tirem sarro de um sujeito que, mesmo passando por tantas dificuldades, conseguiu se tornar realizado e otimista, em um dos momentos mais irônicos do roteiro de Cody.

Jason Reitman (do já citado Juno, mas que dirigiu também Amor sem Escalas Obrigado Por Fumar) consegue resistir a tentação de se mostrar demais em uma produção aonde o verdadeiro foco é o roteiro e seus atores. Assim, Reitman é competente em explorar com realismo as situações vistas no filme, incluindo aqui e ali algum toque mais "seu" como cineasta, como na brilhante rima visual que cria no início e no fim do filme, quando Mavis acorda ao lado de um homem, mostrando a conclusão de seu arco dramático. Mas, Reitman conseguiu ser ainda mais brilhante ao mostrar Mavis deixando a cidade com a mesma roupa com que chegou, tornando-a, em uma análise bem aprofundada, mais complexa ainda. Ainda é inegável a inteligência de Reitman ao adiar os créditos iniciais do longa para mais tarde do que o normal, para quando Mavis inicia sua viagem, demonstrando que é ali, na sua busca de reconciliar passado e futuro, e não antes, que sua vida ganha uma espécie de "novo começo".

Ainda vale comentar a excelente fotografia de Eric Steelberg que contribui bastante para o desenvolvimento do filme. Observem como há sempre a mesma paleta de cores frias, escuras, e particularmente o triste azul que parece constante no filme. É interessante que esse azul sombrio esteja tanto presente na casa de Mavis em Minneapolis, quando aonde "deveria haver a felicidade", ou seja, na cidadezinha aonde ela foi criada. Steelberg foi brilhante pois, ao manter essa mesma estratégia de cores, ele consegue mostrar que a vida na cidadezinha, a adolescência de Mavis, não guarda as respostas para seus dilemas, e também como os personagens de lá parecem ver suas próprias vidas com um senso de desespero e tristeza, muitas vezes contidos.

Mas Jovens Adultos não é impecável. Para ser sincero, muitas vezes esse parece arrastado, o que pode ter sido proposital por parte de Reitman, mas não agrada, sinceramente. Além disso, o clímax contém diálogos que muitas vezes soam expositivos demais, o que não seria de se esperar de Cody. E, embora o filme consiga manter um humor sutil que funciona muito bem (principalmente na primeira metade de projeção), é inegável que este caia de qualidade, se tornando muito bobinho em diversos momentos.

No fim, na verdade, Jovens Adultos consegue ser bem o que pretende, analisando com sabedoria sua protagonista ao mesmo tempo que propôe reflexões que, se propostas sem a habilidade aqui demonstrada, poderiam soar clichês e enfadonhas. Mas, mesmo que não alcance a genialidade de seu similar Beleza Americana, Jovens Adultos é o meu filme favorito escrito por Cody até agora (acho Junoum bom filme, e odeio Garota Infernal).

SOJA (Soldier of Jah Army)


Aê galera tudo bom?

Hoje vou falar do grupo SOJA (Soldier of jah army).
É uma banda americana de Reggae que iniciou por volta de 1997 e está ativa até hoje...
Apesar de ser uma banda relativamente nova, eles mantêm a originalidade do velho reggae jamaicano da década de 70, mais conhecido como Roots Reggae (Reggae Raiz).


 O álbum “Peace in time of war”.

O SOJA nos impressiona logo de início com uma sua música “Revolution Cry”. Onde a letra nos traz uma crítica contra a sociedade relatando sobre o sofrimento que passamos por estarmos sempre em guerra, querendo uma liberdade forçada.

“Freedom isn't freedom if you force it”

Restando apenas acreditar em Jah, porque ele é o único que não nos abandonará...
Está aí uma dica para poder baixar um cd de roots reggae de qualidade. As musicas são clássicas, trazendo todos os tipos de percussão e as famosas marcações de contra tempo do teclado e da guitarra!!!

As músicas que marcam esse álbum são: “Revolution Cry”, “Non-Partial, Non-Political”, “Rasta Courage”, “True Love”, “Peace in time of war”e  “Brothers and Sisters”.

 “Revolution Cry”

“True Love”
 “Rasta Courage”

Tab da musica "True Love": http://tabs.ultimate-guitar.com/s/soja/true_love_ver2_guitar_pro.htm

sexta-feira, 25 de maio de 2012





Resenha filme Homens de Preto 3 (MIB - Men In Black 3)

Por Lucas Wagner

Com dois personagens intrigantes, atuações sensacionais (tanto de Will Smith e Tommy Lee Jones, mas também de Vincent D’Onofrio, como o vilão), um roteiro praticamente impecável, um humor perfeito (tanto o mais "descarado" quando o mais sutil), efeitos especiais que até hoje são impressionantes, uma direção interessante, e, principalmente, uma criatividade massacrante, Homens de Preto é um filme praticamente impecável, já quase que um clássico; um filme que me surpreendia tanto quanto eu era criança (teve um período em que eu o assistia diariamente) quanto agora, e talvez mais ainda agora (hoje re-assisti o longa e confirmei que ele continua impressionante). Porém, nada disso existe em Homens de Preto 2 que, mesmo com uma boa premissa, é um filme inegavelmente desprezível, absurdamente ridículo. Quase que carnavalesco, o humor do segundo filme é patético, o desenvolvimento da história, absurdo, o roteiro, um lixo, até mesmo os efeitos especiais são uma droga. Praticamente nada salva aquela procaria.

O que nos trás a esse Homens de Preto 3. Se comparado primeiro, esse é uma pequena partícula de fezes flutuando no espaço. Mas quando o comparamos ao segundo, esse é um filme inegavelmente competente. O que sobra? Uma obra regular, com um roteiro regular (de Etan Cohen), que se salva por algumas brincadeiras com a noção de viagens no tempo, com as diferenças entre passado/futuro, e trás uma tocante revelação que dá frescor ao longa. Mas, esse também é um filme que comete pecados horríveis contra o primeiro, como explicarei mais adiante.

Primeiramente, MIB 3 não trás praticamente nada de novo ao conceito de viagem no tempo. Muito do que agente vê aqui nos já vimos na trilogia De Volta Para o Futuro de Robert Zemeckis. Mas também vemos algumas coisas interessantes, como a maneira com que J (Will Smith) viaja no tempo, sendo que isso produz a cena mais genial do filme, quando ele está "caindo" (ele viaja "caindo") e passa pelo momento histórico em que corretores da Bolsa de NY estão cometendo suicídio depois do "Crack" da Bolsa de 29. Ainda é interessante o modo como um personagem se aproveita das vantagens do variabilidade do tempo em uma luta. 

Mas o mais bacana é como o design de produção Bo Welch e o "criador" dos monstros Rick Baker aproveitam para tecer comparações interessantíssimas entre os anos 60 e a atualidade. Observem como o "quartel general" dos homens de preto varia da brancura moderna e imparcial na atualidade, para tons coloridos, "quentes", e até mesmo psicodélicos do quartel nos anos 60; ou ainda como Welch foi inspirado ao mostrar a diferença entre, por exemplo, o neurolizador (o aparelho que apaga a memória) atual (simples e prático) para o de antigamente, que varia de uma desconfortável versão que possui até mesmo um fio até uma versão enorme e pouco prática (e desnescessária quando pensamos em termos de roteiro). Já Rick Baker aproveita aqui para criar alienígenas nos anos 60 se usando de estereótipos dessa década, produzindo criaturas com apelo psicodélico, cores vibrantes e tudo o que tem direito.

O roteiro também aproveita para fazer essas comparações na trama, como na ótima idéia de não descartar as dificuldades que um negro (Smith no caso) enfrentaria em 1969. Com seu terno caríssimo, estilo de sabichão, e com um carrão, J é prontamente abordado por policiais, desconfiados desse conforto todo para um negro, o que gera uma das cenas mais engraçadas do filme. Pena que o roteiro descarte essa brincadeira de cunho politicamente incorreto ao longo do filme.

Aliás, o humor do filme é particularmente vacilante. É claro há momentos muito engraçados, mas esse comete (mesmo que timidamente, ainda bem) o erro mais comum de continuações, que arruinou Se Beber Não Case 2 e contribuiu para o desastre de Homens de Preto 2: a repetição de situações. Aqui, vemos muitas piadas que são claramente cópias descaradas de cenas icônicas do primeiro filme, o que não é nada engraçado. Mas esse erro é bem mais contido aqui do que no segundo filme, o que é uma benção.

De tudo o que há nessa continuação, o que mais me imprecionou, que me empolgou, foi o personagem de Griffin (interpretado por Michael Stuhlbarg, da obra-prima Um Homem Sério, dos Irmãos Coen). Personagem estranho até mesmo para essa série, Griffin é uma figura fantástica, com a habilidade de prever as possíveis realidades alternativas que o presente entrega, o que gera cenas impecáveis, tanto as mais engraçadas (como a primeira vez em que ele aparece), como as mais tocantes e aquelas mais inventivas (como a genial sequência final). Suas habilidades são até que muito bem aproveitadas pelo roteiro, já que são sempre bastante divertidas e criativas. Além disso, embora alegre, Griffin possui um lado (mostrado com sutileza pela ótima performance de Stuhlbarg) mais trágico, de não gostar muito de sua condição, de considerá-la difícil, mas da qual tira inegável beleza, o que o torna mais tridimensional.

Aproveito aqui para discutir um pouco os outros personagens e seus intérpretes. Will Smith é um ator que eu admiro demais (suas performances no primeiro Homens de Preto, Eu Sou a Lenda, À Procura da Felicidade, etc, são brilhantes) mas que aqui não demonstra muito talento. Sim, sua química com Jones continua impecável (discutirei mais sobre isso daqui a pouco), mas ele não possui (culpa do roteiro) nada para fazer de J um sujeito mais tridimensional. Quando enxerga uma possibilidade, Smith a agarra, como no belíssimo momento da revelação. Mas no todo, nada demais.

Tommy Lee Jones continua interpretando K com a mesma habilidade de sempre. Dessa vez, o sujeito demonstra até mesmo ser mais trágico, com um possível início de depressão que o torna mais interessante. Agora, o talentosíssimo Josh Brolin (de Onde os Fracos Não Tem Vez, W., O Gângster, Milk, etc) consegue compôr uma versão genial do K mais jovem. Brolin é muito eficiente ao incorporar os maneirismos, as minúcias da composição de Jones no seu papel, ao mesmo tempo que possui uma originalidade interessante ao mostrar um K que, mesmo rígido como o de Jones, é mais alegre e divertido.

Agora, o que uma rainha como Emma Thompson está fazendo aqui? Seu papel (como a versão mais velha da Agente O) não oferece simplesmente desafio algum para uma atriz da porte dela, que não pode fazer nada além de dizer suas falas. Ainda vale comentar a participação especial e engraçadíssima do ótimo comediante Andy Warhol (um dos policiais de Superbad - É Hoje!). Mas é inegável que o vilão desse terceiro capítulo é simplesmente decepcionante. Quando me lembro do Edgar, interpretado com imenso talento por Vincent D’Onofrio no primeiro filme, me lembro de um personagem que era ao mesmo tempo ameaçador e hilário (o modo que ele andava é simplesmente inesquecível). Mas esse aqui só não é pior do que o do segundo filme. Sem graça, sem exibir verdaeira ameaça, e sem nem mesmo um visual interessante, esse Boris é um dos aspectos mais fracos do filme.

Eu gostei muito do modo como o roteiro, Smith e Jones exploraram a relação dos agentes nesse capítulo. Eles parecem quase namorados, tendo passado muito tempo juntos, anos e anos de parceria, a ponto de conhecerem minúcias do comportamento um do outro que é perfeitamente natural para uma dupla assim. Esse relacionamento dos dois é, com certeza, um dos pontos mais fortes desse novo filme, já que nos leva a observá-los com mais afeto, e entendermos as reações emocionais de J diante dos acontecimentos vistos aqui.

Aqui eu tenho que falar do ponto que funciona quase que uma pedra, ou mehor, um piano que caí em cima do filme. Pode conter certos spoilers, então aviso previamente para esperar para assistir o filme e depois ler essa parte. Pule três parágrafos (incluindo esse) e continue................. No primeiro filme, K (Jones) era um personagem tocante e complexo que, cansado de ter dedicado tantos anos a um serviço estressante como o que tem (e que conseguiu quase que por acidente), só pensa em voltar para a mulher que ama, que foi obrigado a deixar para entrar na vida de um homem de preto. O espectador conseguiu, naquele filme, uma compreensão profunda da personalidade de K, do porque dele ser tão rabugento às vezes. Tava perfeito, mas o Cohen (o roteirista do terceiro) fuça aonde não devia. Aqui, vemos um J que aparentemente não entende a "rabugisse" de seu parceiro (ele entende sim, pelo o que vimos no primeiro), que pergunta várias vezes porque ele é assim (!!!). É óbvio que K está mais deprimido aqui do que antes, mas ainda assim, seu comportamento não foge muito do que já era no primeiro (e é ridículo J julgar o modo "violento" com que ele trata um alien, sendo que no primeiro ele tratava até pior). Essas indagações que levam á cagada master do filme.

Desconsiderando completamente o conhecimento que já tínhamos de K, o filme ignora a existência da amada dele e o modo como ele entrou para os homens de preto, e o coloca como um homem deprimido e rabugento por algum outro motivo, que NUNCA É REVELADO (!!!). Nós nunca chegamos a saber o que aconteceu no dia 16 de julho de 1969 que o levou a ser como ele é hoje (se levarmos em conta o primeiro filme, nós sabemos, mas o terceiro ignora esses acontecimentos e supôe novas variáveis que nunca são reveladas). Nós ficamos tipo: e aí, o que aconteceu? E não conseguimos resposta alguma! Sério, uma burrada mortal essa que quase afunda o filme, e só não o afunda pelo o que falarei no parágrafo seguinte.

A revelação (quem tiver lendo isso já viu o filme não é? Senão, PARE AGORA!!!!!) de que K cuidou de J na infância é absolutamente tocante e nos leva a um sentimento de afeto enorme pelos personagens e pela sua parceria. É um momento lindo que leva ao ápice o desenvolvimento desses personagens. Porém, tenho que dizer, esse acontecimento é rodeado de furos catastróficos, como por exemplo, como o carro em que J criança estava simplesmente brota do nada no deserto? E quem estava dirigindo o carro? E a mãe dele? Como K tomou conta dele se ele supostamente tem uma mãe? E o roteiro desenvolve porcamente a relação de K e do pai de J. Eles se conheceram a nem mesmo uma hora e já são tão amigos? Que bobagem! Pensando bem, apesar de tocante e de ser uma boa sacada (sim, continuo acreditando nisso), esse final é muito falso e furado.

Bom, agora quem não viu o filme pode continuar lendo. Barry Sonnenfeld tem uma direção muito irregular, muitas vezes exagerando na dose. As cenas de ação, por exemplo, são, na maioria das vezes, muito sem graça, o que é decepcionante se lembrarmos das impecáveis cenas de ação do primeiro filme, que tem o mesmo diretor desse. E é patético ver como ele simplesmente repete (e de uma maneira grotescamente imbecil) o modo como J chama a atenção do vilão no final no filme original. E será que Sonnenfeld não percebe como é estúpido e sem graça o seu movimento de câmera (exageradíssimo por sinal) de aproximá-la rapidamente dos personagens vinda de uma grande distância, que ele repete ao extremo ao longo do filme (em uma mesma sequência ele a usa duas vezes, quase que seguidas)?  Além disso, os efeitos especias desse filme traem uma profunda artificialidade, algo que não acontecia no original de 1997 (re-assistindo esse filme hoje percebi como ainda fico chocado com a qualidade desses).

Homens de Preto 3 é um bom pedido de desculpas devido ao lixo do Homens de Preto 2, mas é um filme apenas regular, muito furado, e que, quando mais se pensa sobre, menos bom ele parece.

OBS: É informação inútil, mas ainda assim é interessante ver Tommy Lee Jones e Josh Brolin interpretando o mesmo personagem depois de terem atuado juntos (mas não contracenando) no inesquecível Onde os Fracos Não Tem Vez, dos Irmãos Coen

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Rodrigo y Gabriela


Aê galera tudo bom?


Hoje vou falar de Rodrigo y Gabriela!!!
O duo é uma mistura de flamenco com pegada de rock.
Rodrigo faz os solos, enquanto Gabriela impressionam todos utilizando as técnicas de leque com percussão.

 


Álbum "11:11"

É um cd muito bom de ouvir com um ritmo bem latino mesmo.
Para aqueles que gostam de flamenco, irão gostar das músicas apesar de serem muitos influenciados por rock!
O cd é uma biblioteca de percussão com as musicas bem dinâmicas. Possui temas muito bonitos!!!
As musicas que marcam são: “Hanuman”, “Santo Domingo”, “Hora Zero”, “Triveni” e “Buster Voodoo”

Agora em minha opinião ouvir o cd inteiro é meio cansativo.
A virtuosidade do Rodrigo, as vezes fica cansativa... Um exemplo é no final da musica "Buster Voodo".
Ele faz uma brincadeira em cima da música Voodo Child de Jimi Hendrix, e acaba exagerando das técnicas...


  “Hanuman”

"Buster Voodoo"
 "Santo Domingo"

Tab da musica "Hanuman": http://tabs.ultimate-guitar.com/r/rodrigo_y_gabriela/hanuman_guitar_pro.htm

terça-feira, 22 de maio de 2012






Resenha filme Plano de Fuga (Get the Gringo)

Por Lucas Wagner

Quando bem feitos, gosto desses filmes de ação badass, com personagens completamente violentos, com um senso de moralidade duvidável, além de apresentar uma eficiência gritante quando diz respeito a fazer o que deve (ou o que quer), sem se preocupar se vai ferir alguém no processo (quem ficar no caminho que se cuide!). Além disso, quando isso vem acompanhado de humor negro, fica ainda melhor. Plano de Fuga é um filme assim. E é ainda bacana por trazer um Mel Gibson de antigamente, ou seja, um puta astro de ação com um talento e carisma perfeitos.

Escrito pelo próprio Mel Gibson, ao lado de Adrian Grunberg (que é também o diretor do longa) e Stacy Perskie, o filme trata de um criminoso (Gibson) que vai para uma prisão em uma cidade do México. Essa prisão funciona quase que uma máfia, à qual o protagonista busca tirar vantagem, ao mesmo tempo em que busca uma maneira de recuperar os 2 milhões de dólares que roubou, e que lhe foram tirados pelos policiais que o prenderam.

É extremamente raro encontrar algum personagem com qualquer aspecto moral que conquiste o espectador. Todos (todos!) são sujos, violentos, traisoeiros, corruptos, além de falar palavrão como se estivessem em um filme de Martin Scorsese. Como um policial comenta com seu colega: "Eu sou corrupto. Você é corrupto. O bacana é que somos honestos sobre isso". Os roteiristas usam dessa situação para extrair não apenas um senso de perigo e impresivibilidade, mas também um bem-vindo humor negro, tirando comédia de situações violentíssimas de uma maneira quase que tarantiniana. 

A fotografia de Benoît Debie é eficiente ao evocar o desconforto e a sujeira da prisão, ao mesmo tempo que a direção de arte cumpre muito bem a tarefa de transformar a prisão (El Pueblito, é o nome) em um ambiente similar à uma favela, ao mesmo tempo que claustrofóbico.

Mas a atuação de Gibson e seu personagem intrigante é provavelmente o ponto mais alto do longa. Contando com a mesma habilidade para cenas de ação física como antigamente, o ator ainda é extremamente carismático e se mostra tranquilo e divertido na sua composição do personagem. O protagonista é um sujeito sarcástico, imoral, que não se importa de passar por cima de outras pessoas para conseguir o que quer, possuindo um senso de humor quase que doentio. É praticamente um anti-social. Isso fica muito claro em cenas como aquela em que ele tranquilamente toca fogo em um barracão, sem se preocupar se vai ferir alguém, mas apenas prestando atenção em distrair outras pessoas para conseguir roubar uma boa quantidade de dinheiro.

Embora isso já fosse suficiente para transformá-lo em uma figura interessante, os roteiristas vão além e conseguem desenvolver esse personagem, tornando-o mais tridimensional do que geralmente se esperaria. Vamos conhecendo mais sobre ele, principalmente na sua interação com o garotinho (que não me lembro o nome), sendo que o roteiro sugere (de maneira adequadamente sutil) algumas das causas para o seu comportamento doentio. Além disso, Gibson merece aplausos por conseguir conferir uma ambiguidade moral ao seu personagem, no modo como ele age com o garoto, na importância que esse vai ganhando para ele, e assim, juntamente com as nossas inferências sobre sua própria história de vida (o filme oferece base suficiente para essas inferências), ele vai ganhando mais complexidade ao longo do longa. Nada mal para um filme que não prometia mais do que pura diversão.

Aqui vale comentar o excelente uso do roteiro do recurso da narração em off do protagonista. Se este é um recurso geralmente usado por gente preguiçosa para "facilitar" a narrativa do filme, aqui ele é muito bem utilizado. As falas, as reflexões do personagem não são apenas bem escritas, são sarcásticas e engraçadas, além de seus comentários revelarem sempre um pouco mais da personalidade doentia do protagonista ("Um palhaço vomitando sangue já é uma bosta, mas um palhaço vomitando sangue em cima do dinheiro que eu acabei de roubar é pior ainda!" diz ele em certo momentos, ou ainda o momento em que comenta sarcasticamente a quantidade enorme de músicas ruins tocadas na prisão ao dizer "Cerca de 5 mil músicas depois", ou algo assim).

Além da atuação de Gibson, outro que se destaca é o garotinho (eu não consigo encontrar o nome dele, e nem do ator que o interpreta!!!), um personagem doce e tridimensional, que ganha mais complexidade quanto mais o conhecemos, e quanto mais sua interação com o personagem de Gibson. De resto, não há nenhum outro personagem realmente interessante ou minimamente marcante, embora todas as atuações estejam boas. A culpa ai é do roteiro. Nem Peter Stormare consegue transformar seu personagem em alguém mais interessante, e olha que o cara tem talento de sobra para isso.

Juntamente com a atuação de Gibson, o ponto mais alto do longa é sem dúvida sua trilha sonora. Criada pelo brasileiro Antonio Pinto (que compôs trilhas de filmes como Cidade de Deus, Central do Brasil, O Senhor das Armas, À Deriva, etc), a trilha contém tons belíssimos, acompanhadas de acordes hipnotizantes de violão, além de um excelente uso de batidas mais fortes, e um uso maravilhoso de guitarra, particularmente em uma determinada cena de ação, quando o que ouvimos da trilha é praticamente um solo de guitarra impecável. Além de bela, a trilha é sempre muito bem utilizada pelo diretor, mantendo um ritmo fascinante durante o filme, o que o torna ainda mais envolvente.

Outro ponto altíssimo do longa é a sua cena final, quando descobrimos a verdadeira intenção do protagonista ao usar um determinado nome ao longo do filme (nós nunca realmente sabemos seu verdadeiro nome). Com uma sutileza fascinante, os roteiristas fecham o filme de maneira genial, reforçando o que já sabíamos sobre o protagonista, tornando-o, em retrospectiva, um sujeito ainda mais interessante.

Contando com ótimas cenas de ação, o filme ainda tem uma direção eficiente de Adrian Grunberg (que foi assistente de direção de Mel Gibson quando esse dirigiu o seu ótimo Apocalypto), embora este demonstre uma certa inexperiência em certos momentos, o que é normal para um estreante. Mas ele consegue manter o filme sempre em movimento, sabendo diminuir o ritmo um pouco para desenvolver a relação do protagonista e do garoto. Além disso, o cineasta faz um excelente uso de câmera lenta. Mas é fato que o roteiro não dá muitas oportunidades para Grunberg explorar seu talento. Ele faz bem na medida do que pode fazer.

O filme, no entanto, não é perfeito, e isso se dá principalmente por sua trama. Apesar do interessante e bem utilizado conceito da máfia dentro da prisão, o filme entra em vias completamente imbecis (como toda a história envolvendo o problema de fígado do vilão), além de tornar-se até mesmo confuso em certos momentos. E esse não é uma confusão que esconde alguma genialidade. Continua vazio ao lembrarmos de certos eventos do filme.

Mesmo com seus erros, Plano de Fuga é um ótimo filme de ação, envolvente, divertido e com um protagonista interessante. Vale a pena assistir. Alguns não gostarão, principalmente quem é mais sensível. Eu gostei, disso eu sei.

domingo, 20 de maio de 2012





Resenha filme O Corvo (The Raven)

por Lucas Wagner

Esse ano li um romance interessante chamado Dossiê Drácula, de James Reese. O romance pecava em alguns aspectos (como em seu final completamente anti-climático), mas é absurdamente eficiente ao misturar personagens reais, como o escritor Bram Stocker, ou ainda Oscar Wilde, Jack, O Estripador, etc, em uma trama completamente macabra, indo no profundo do ocultismo em diversos momentos. Além disso, Reese aproveitou bem a oportunidade de utilizar Bram Stocker e dissecar sua personalide, desenvolvendo-o como uma figura extremamente complexa e trágica, e isso fazia o livro crescer enormemente em qualidade. 

Aqui, no filme O Corvo, vemos algo parecido: acompanhamos o escritor de renome Edgar Allan Poe (interpretado por John Cusack) em uma trama de suspense, onde um assassino usa crimes presentes nos contos do autor como inspiração para seus próprios assassinatos. Uma trama interessantíssima, mas muito, muito mal aproveitada, diferente do que aconteceu no livro Dossiê Drácula.

O maior problema é inegavelmente seu roteiro, porcamente escrito por Ben Livingston e Hannah Shakespeare (que ironia!!!). É impossível não ficar impressionado com a falta de talento desses dois para escrever, já que o que vemos parece ser uma versão de rascunho de um roteiro, e não uma versão final pronta para ser filmada. Como não perceber a quantidade enorme de cratéras de lógica (furos de lógica é pouco demais)? Para citar alguns exemplos é só observar: o detetive (interpretado por Luke Evans) diz, ao estar na cena do primeiro assassinato do vilão, que já era familiar com esse assassino. Bom, isso é meio impossível, já que esse é o primeiro assassinato que ele comete. Ainda, como a polícia pode descartar com tanta facilidade a possibilidade de Edgar A. Poe ser o criminoso, sendo que isso seria até justificável, pelo o que o filme demonstra? 

Além disso, não me lembro de ter visto, em muito tempo, uma polícia tão preguiçosa na busca da resolução de um crime, além de estúpida. Ou ainda, é até triste perceber que os roteiristas se "acham" inteligentes, acreditando estar colocando discussões "fascinantes" repletas de "palavras difíceis" no filme, enquanto isso é uma mentira deslavada (qualquer um percebe isso ao ver o filme). 

Mas o pior de tudo é inegavelmente o seu vilão. Sem correr o risco de revelar algum "segredo", devo dizer que ele é muito, mas muito estúpido mesmo, além de sem graça, nada ameaçador (bom, pelos crimes que ele comete ele parece ameaçador, mas não quando o vemos em pessoa) e ultra mal desenvolvido. É quase hilário os "motivos" que ele dá para matar, sendo que esses são imbecis até mesmo para alguém que é supostamente doente mental.

Também é triste ver que os episódios de Lost e a obra-prima V de Vingança foram felizes acidentes para o cineasta James McTeigue que, desde que dirigiu os exemplos citados, comandou o horrívelNinja Assassino e agora esse O Corvo. O cineasta não consegue empolgar em momento algum, nem em perseguições, nem nas cenas de suspense, nem consegue o nível de intimidade em certas conversas entre os personagens que seria adequado (e necessário). Ele se escora no mais senso comum na arte de direção de um filme, o que já fica claro no modo como começa a filmagem de um baile, ou seja, da exata maneira como qualquer outro cineasta que já filmou um baile em um filme começa a cena (esse ano mesmo vimos isso no ruim Sherlock Holmes: Jogo das Sombras).

Quanto ao elenco, tenho que fugir um pouco da linha aqui para falar sobre John Cusack. Cusack, assim como Nicolas Cage, é um ator que, no início de sua carreira, parecia apenas um poço de sucessos e talento inesgotável, escolhendo basicamente projetos corajosos e até perigosos para um ator iniciante. Só que agora (igual a Cage) o ator raramente aparece em um filme e mostra toda a qualidade que tinha antes, quando interpretou personagens como o titereito no ótimo Quero Ser John Malkovich, o jovem adulto em crise de identidade no inesquecível Alta Fidelidade, o dramaturgo psicótico na excelente comédia de Woody Allen Tiros da Broadway (vale citar também seu perfeito desempenho como o poeta apaixonado por uma suposta prostituta em Neblinas e Sombras, um dos filmes mais fracos de Allen). Agora, O Contrato, 2012, A Ressaca, O Corvoetc, não são filmes digno do Cusack de antigamente.

Dito isso, tenho que dizer que, embora tenha certos acertos em sua performance nesse longa comentado aqui, ele peca basicamente o tempo todo. O maior problema (assim como ocorre tanto com Nicolas Cage) chama-se over-reactiing, ou seja, o exagero. Os maneirismo, tiques e a voz insuportavelmente alta que usa para compôr seu Edgar A. Poe são ridículos, e acabam transformando o grande escritor em uma perfeita (e arrogante) caricatura, sem aproveitar a possibilidade de transformá-lo em uma figura complexa. Mas, mesmo assim, é inegável que Cusack foi um mestre aqui ao conseguir demonstrar com perfeição os sentimentos ambíguos do personagem ao descobrir que seus contos estão servindo de inspiração para um assassino.

Quanto ao resto do elenco: Luke Evans é um ator com enorme potencial, mas que, assim como aconteceu em Imortais, continua sendo mal aproveitado. O veterano Brendan Gleeson consegue fazer um milagre com seu personagem, conseguindo desenvolvê-lo a ponto de conseguir criar um pequeno arco dramático para ele. Agora, de resto, tá tudo horrível, principalmente o vilão, cujo ator (que não posso dizer o nome) revela-se um verdadeiro lixo, e sua face "ameaçadora" é quase risível.

Possuindo apenas uma cena realmente marcante em todo o filme (um determinado assassinato, que vocês com certeza vão reconhecer ao ver o longa), O Corvo é um filme que eu achei tremendamente decepcionante, que busca beber na fonte dos novos Sherlock Holmes, de Guy Ritchie. Bom... bebendo dessa fonte, só podia dar errado mesmo. Mas Sherlock Holmes é levemente suportável, já que conta com o grandioso Robert Downey Jr. Aqui, nem isso temos como suporte.