domingo, 16 de março de 2014


Análise:

Need For Speed – O Filme (Need For Speed / 2014 / EUA) dir. Scott Waugh

por Lucas Wagner

Depois de sua linda performance no seriado Breaking Bad, Aaron Paul ganhou o mundo e diversos projetos começaram a cair no seu colo. Infelizmente, o primeiro que ele escolheu foi nesse Need For Speed, num papel unidimensional que raramente permite que o jovem ator demonstre seu talento. Ainda não conseguindo se livrar dos trejeitos que usou para a criação do inesquecível Jesse Pinkman (como a insistência em acrescentar um “Ââh” no meio ou início de suas falas), Paul ao mesmo consegue interpretar o mecânico Tobey Marshall com energia e entrega o suficiente para deixar o personagem quase interessante, principalmente nos momentos em que sente ódio, quando o ator é hábil na demonstração da intensidade de seus sentimentos, como no tremor de seus lábios e os olhos injetados e marejados. Mas, contrariando a leve esperança que eu guardava, Paul não salva o filme do fracasso.

Baseado na série homônima de video-games, Need For Speed tem o desafio de lidar com uma matéria-prima que em nenhum momento se preocupava em criar uma história (e isso lá não importava mesmo), e aqui os roteiristas tentam criar uma trama mais ou menos elaborada, mas que no fim das contas não passa de um fiapo que tenta justificar diversas cenas de corrida. Que são, aliás, um dos poucos atrativos do filme, já que a montagem de Paul Rubell e Scott Waugh (também diretor do longa) é boa o suficiente para imprimir energia e intensidade às sequências sem, no entanto, deixar o espectador confuso. Nesse ponto, o design de som é excelente ao usar o belo ronco dos motores dos carros como uma forma de trilha sonora por si só, decisão que só é atrapalhada quando Waugh, inseguro, insiste na fraca trilha original de Nathan Furst, cuja tentativa de ressaltar o “elemento humano” da história a partir da composição de temas melosos é bastante falha. E se são divertidas, até as sequências de corrida conseguem irritar quando surgem com motivações tão nonsense que mesmo o mais disperso dos espectadores consegue comprar.

Em questão de direção, Waugh se acha legal o suficiente até mesmo para colocar o dvd de seu péssimo filme anterior (Act of Valor) como elemento do cenário. Mas se abusa da paciência do espectador em alguns momentos (como os dois terríveis usos do efeito Vertigo), o diretor ao menos acerta nas citadas corridas e nos close-ups no rosto de Aaron Paul quando este vai correr, permitindo que entremos no espaço pessoal do personagem e, também pelo talento de Paul, conseguimos vislumbrar a tensão que toma conta dele.

Mas o que realmente mais irrita em Need For Speed é o grupo de amigos da oficina de Tobey. Se conseguimos até sentir a camaradagem deles, esse acerto é jogado no lixo por todas (e eu quero realmente dizer todas) tiradas cômicas que o roteiro tenta criar em torno deles, em especial aquela simplesmente patética e vergonhosa protagonizada por Rami Malek (que parece sempre ser o bobão da história, até mesmo no lindo Short Term 12), e que envolve nudismo. Tirando isso, ao menos a linda e talentosa Imogen Poots cria sua Julia como uma figura forte e excêntrica sem ser irritante, além de estabelecer uma química relativamente eficaz com Aaron Paul, ao passo em que Michael Keaton se diverte na composição histriônica de Monarch, enquanto Dominic Cooper nem tenta deixar o vilão Dino minimamente interessante. Já a tentativa do roteiro de humanizar o personagem de Pete justamente para que o resto do filme funcione sai pela culatra pela abordagem açucarada e pueril (realmente o cara tem visões? Sério mesmo?).

Inchado para os seus 130 minutos de duração, apesar de usar bem boa parte do início para estabelecer a história, Need For Speed ao menos não é tão ruim como qualquer Velozes e Furiosos que vem lançando ultimamente. Pelo menos aqui não somos obrigados a ver tanta estupidez por minuto como lá.

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