sábado, 4 de agosto de 2012



Resenha filme "Guerreiro" (Warrior / 2011 / EUA) dir. Gavin O'Connor


  
por Lucas Wagner

 Touro Indomável, Menina de Ouro, Rocky, O Vencedor... e outros mais. É interessante que esportes de luta (seja boxe, luta livre, MMA, etc) gerem filmes tão fascinantes, que contam histórias tão profundamente humanas que nos levam a torcer por seus personagens tanto dentro quanto fora do rinque, já que nos levam a conhecê-los tão bem que passamos a fazer parte da história contada na tela. Guerreiro, filme excepcional de Gavin O’Connor, lançado diretamente nas locadoras aqui no Brasil em 2012 (o longa lançou no final de 2011 nos EUA), é mais um belo filme para entrar nessa lista. Forte, envolvente e complexo, Guerreiro ganha a admiração e a paixão de seu espectador justamente por se focar tanto em seus personagens, a ponto de que as impressionantes lutas vistas da metade para o final do longa ganhem uma força ainda maior.

  Assim como foi feito no já citado O Vencedor de David O. Russel, o belo roteiro de Gavin O’Connor, Anthony Tambakis e Cliff Dorfman, Guerreiro é, mais do que um filme de luta, um filme sobre uma família que possui uma história envolvendo lutas de MMA. Tommy (Tom Hardy) e Brandon (Joel Edgerton) são irmãos, mas que viveram uma infância trágica, já que seu pai, Paddy (Nick Nolte) era um homem alcoólatra e bruto, que vivia maltratando a mãe dos garotos e infernizando a vida destes. Quando a mãe finalmente resolveu cair fora, Tommy vai junto, vivendo assim uma adolescência sofrida ao lado da mãe, que enfrentou graves problemas de saúde até, finalmente (e principalmente pela impossibilidade de um tratamento médico, devido a questões financeiras) morrer. Já Brandon fica com o pai, mas não por amor a ele, mas para não deixar sua namorada, e futura esposa, Tess (Jennifer Morrison). Devido a contingências da vida (extremamente bem trabalhadas em nível psicológico pelo roteiro), Tommy, Brandon e Paddy se reúnem no campeonato de MMA, Sparta.

  Como já pode ficar claro, Guerreiro é um filme sobre personagens. Com um tempo folgado (140 minutos), O’Connor trabalha com calma e cuidado tanto o lado de Tommy quanto o de Brandon, sendo que, na primeira hora de filme, nós vamos acompanhando suas vidas separadas, para se encontrarem apenas depois da metade do longa. O’Connor aproveita a oportunidade para desenvolver com cuidado e carinho (porque não?) cada um dos envolvidos, e vamos conhecendo profundamente suas feridas psicológicas, seus traumas e demônios, todos, de uma forma ou de outra, ligados à figura de Paddy (e é fascinante que seus próprios demônios e traumas estejam ligados à ele mesmo). Assim, o filme ganha ainda mais dimensão no período em que acompanhamos o campeonato de MMA, já que não temos um favorito na luta, por conhecemos tão bem seus motivos e suas dores. Torcemos igualmente para ambos.

  Mas, o melhor de tudo no filme está no seu elenco principal, que está simplesmente impecável. Tom Hardy (o Bane de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge) está fantástico como Tommy, em sua melhor atuação até agora (e olha que o sujeito já demonstrou enorme talento em A Origem, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, O Espião Que Sabia Demais e até no fraco Guerra é Guerra). Interpretando o sujeito com uma intensidade assustadora, Hardy nos ajuda a compreender o complexo Tommy, que, de outra forma, seria um personagem extremamente antipático. Possuindo imenso ódio de seu pai, Tommy parece sempre desprezá-lo, gritar com ele e agredi-lo emocionalmente, querendo distância e seguir um caminho diferente na vida. Mas (e é isso que o torna tão complexo), ao mesmo tempo, Tommy segue caminhos bastante parecidos com o seu velho, só que de uma forma diferente do que este fez. Por exemplo, Tommy se torna um fuzileiro (assim como seu pai), indo lutar no Iraque. Só que lá ele agiu de maneira extremamente honrosa e humana, arriscando a vida para salvar seus colegas (seus verdadeiros irmãos, como ele diz). Também arranjou uma “família”, na pele da mulher e filho de um “irmão” seu no exército, e, diferente da maneira como seu pai agia com sua própria família, Tommy a trata com carinho e atenção extra-especial e buscando ajudá-la de todas as formas possíveis, mesmo quando não precisa tanto de ajuda e mesmo que não seja sua família (ele só cuida dele, depois que seu “irmão de armas” morreu em batalha). Parece que ele segue os caminhos do pai para concertá-los. Tendo sido criado em um ambiente envolvendo lutas de MMA (seu pai o treinava quando criança, e o treinava muito bem), Tommy volta à esse ambiente quando mais velho, assim como volta a pedir que seu pai o treine. Só que ele parece realmente detestar a luta (observem que ele sai antes da hora depois de cada luta no campeonato, como se saísse de uma cena de crime) e detestar que o pai o treine. Mas, em um nível inconsciente, é realmente possível que ele deseje estar junto do pai e poder voltar a fazer algo que faziam juntos quando criança. Assim como faz com Brandon, seu irmão (que ele também aparentemente odeia por ter ficado com o pai, enquanto ele e a mãe precisavam de ajuda), Tommy na verdade ama profundamente seu velho, e apenas ressente que estes não puderam viver uma vida de pai e filho, como deveria ter sido, e não foi por culpa do pai. Isso fica bem claro na esmagadora cena que se passa em um hotel, quando seu pai está enfrentando graves problemas, e Tommy demonstra imenso carinho por ele, o que vai contra a maneira como agia antes. E, quanto ao irmão, como não se emocionar com o final do filme, quando Tommy, depois de ter tanto brigado (física e dialogicamente) com Brandon, encontra conforto no seu ombro? Um personagem magnífico, com certeza.

  Joel Edgerton também merece grandes elogios por sua performance como Brandon, que é, a primeira vista, um professor de física passando por dificuldades financeiras com sua família. Ele se envolve em lutas de MMA para, segundo o que diz, ganhar uma renda extra (e necessária), mas não há como negar que ele ama lutar, principalmente pelo seu histórico de vida. Depois de ter perdido atenção do pai, que via apenas em Tommy a grande possibilidade de um lutador campeão, Brandon foi afastado emocionalmente do convívio com seu velho (talvez essa seja mais uma variável que tenha influenciado sua escolha de continuar com o pai depois que Tommy e a mãe foram embora), e pode ser que encontre na luta uma forma inconsciente de fazer as pazes com ele, embora diga sempre que é por dinheiro (e também é, mas não é só por isso). Assim, Edgerton cria um arco dramático complexo e tocante que faz com que torçamos profundamente por Brandon.

  E agora, quase não existem palavras para descrever a performance do veterano Nick Nolte como Paddy, o pai dos protagonistas (ele inclusive concorreu ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante esse ano). Paddy, como eu disse antes, enxerga em si mesmo seus maiores problemas. Reconhecendo que fracassou como marido e como pai, ele larga o álcool e vive uma vida solitária, voltada para a religião. Quando Tommy volta a morar perto dele, e, mais importante ainda, quando pede que ele o treine, Paddy enxerga uma forma de redenção de seu passado, de ficar próximo de seu filho. Assim, ele também busca se reaproximar de Brandon. Mas sempre recebe “porradas” (no sentido emocional) por parte dos dois, que não conseguem perdoar seus erros como pai. Nolte tem aqui uma atuação impecável que se mostra mais contida, na maior parte do tempo, apenas demonstrando maior emoção em dois momentos chave, que, não por acaso são os momentos mais emocionantes do longa. Nós conseguimos ver toda a dimensão da dor e do arrependimento de Paddy apenas através de seu olhar e de sua voz contida (e é de esmagar o coração o momento em que, sendo insultado por Tommy depois de mais uma investida emocional, Nolte dê uma engasgada forte, como se não conseguisse mais segurar o choro). Uma atuação forte e dolorida, que se torna ainda mais complexa quando vemos que Paddy não demonstra grandes expectativas quanto ao retorno de Tommy, mas apenas quando este o pede para treinar, este enxerga uma pequena janela de aproximação; ao mesmo tempo, ele é ainda mais brilhante ao, mesmo levando muita “porrada emocional” de Tommy, ele se reerga algumas vezes, mas por pouquíssimo tempo, já que parece achar merecer aquelas porradas. Mais um desempenho magnífico para um ator magnífico como Nick Nolte, sem dúvida.

  Embora os três “deuses” do filme estejam no trio de atores discutido acima, o resto do elenco não faz feio, em especial dois outros. A linda Jennifer Morrison (a Zoey do seriado How I Met Your Mother) está excelente como Tess, demonstrando com talento os dilemas que a envolvem e as emoções envolvidas no campeonato (e seu melhor momento no longa é, certamente, aquele em que pergunta, compreensivamente, se seu marido continuará a lutar, mesmo sabendo quem será seu adversário). E Frank Grillo, como o treinador de Brandon, que cria um sujeito interessante já que, mesmo interessado em luta livre, se mostra quase como um intelectual ao ter imagens de Nietzsche e outros filósofos no seu escritório, ou ainda ao ter um carinho especial por Beethoven.

  Gavin O’Connor, além dos acertos discutidos acima, se mostra um cineasta de grande competência ao usar a fotografia de Masanobu Takayanagi e a direção de arte para estabelecer a própria atmosfera psicológica dos envolvidos. Observem como aquela que envolve Tommy e Paddy está sempre escura e sombria, ao mesmo tempo que a de Brandon, mesmo levemente mais claro e “alegre”, também se revela sombria e triste (e é fascinante que, na primeira vez que vemos Brandon – no aniversário de sua filha – este esteja envolvido em um ambiente claro e colorido, para, apenas depois, vermos como esse ambiente é na verdade triste, embora mais feliz do que o de Tommy ou Paddy, devido à presença de sua família). Além disso, O’Connor se mostra competente no uso impecável da ótima trilha sonora de Mark Isham, a usando nos momentos certos, sem abusar dela para criar melodrama, mas a usando para acentuar a intensidade de certos momentos. O uso da trilha incidental também está excelente, por sinal.  O’Connor também surpreende na condução das cenas de luta, que estão intensas e extremamente violentas, deixando o espectador com uma quantidade absurda de adrenalina. Mas, mesmo nessas cenas, O’Connor mostra compreender que a força do filme está em seus personagens e assim, mesmo durante uma luta, aproveita para desenvolvê-los ainda mais.

  Emocionante e envolvente, Guerreiro é mais um filme de esporte entre 2011/2012 que surpreende (ainda contamos, nessa época, com o excepcional Moneyball – O Homem Que Mudou o Jogo e o ótimoHeleno) e, mais especificamente, mais um filme de luta que surpreende. Um dos melhores filmes de 2012 (contando que ele lançou no Brasil esse ano), com certeza.

Um comentário:

  1. Alessandro Matias, vulgo Polly Pothoka17 de setembro de 2015 às 09:15

    Filme bosta, parecia frio eterno, você é minha dor. e agora fala que ama, agora que não tem mais nada, diz que morre de amor por mim, depois de ter chorado rios e depois de tanto ter sofrido, vai chorar por mim? vai saber o que um dia eu vivi... Ops, eu tava escutando Bruno e Marrone... Sobre esse filme eu queria dizer que é tão bosta quanto a banda molejo, que é tão inútil quanto minha escola. Amo-Sou #ChegaDeRecalque #SatanásMorreu #LeiaAArpa #MorreCapeta #BeijoDeLuz

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