segunda-feira, 13 de agosto de 2012

RESENHA DE CD



Por Paulo Henrique Faria

O que será que as pessoas diriam se ouvissem falar de uma banda de Heavy Metal com nuances em Thrash, que possui letras em português e atende pelo nome de Carro Bomba? Na certa, boa parte iria torcer o nariz e afirmar que metal em português não dá certo e, que provavelmente seria apenas mais um grupo com vocal gutural muito barulhento e pouco técnico. Quem ouvir o segundo CD intitulado “Carcaça”, dessa excelente banda paulistana, vai se enganar pelo preconceito e será obrigado a dar o braço a torcer. Com a seguinte formação: Rogério Fernandes nos vocais, Marcello Schevano guitarra, Fabrizio Micheloni no baixo e Heitor Shewchenko na bateria, os caras lançaram em 2011 um disco que promete marcar o cenário metálico nacional.
A primeira faixa, “Bala perdida” é um verdadeiro petardo sonoro. Os riffs da guitarra e a linha de baixo são muito fortes, a bateria bem ritmada e o vocal bem rasgado e cheio de “drives”. A letra fala da banalização que a violência urbana se tornou, com munições de armas de fogo que ceifam vidas inocentes e, mostra um grande começo do registro. A segunda música “Queimando a largada” mantém o nível de qualidade sonora e lírica. Os caras continuam com a proposta de guitarras pesadas e marcantes do Heavy tradicional, com toques de peso e velocidade do Thrash Metal. Dessa vez a temática fala da irresponsabilidade que muitos motoristas praticam em insistir em dirigir embriagados. Comparam a ação com uma corrida mal sucedida.
A faixa número três é a homônima “Carcaça”, que começa com riffs muito criativos de Marcello Schevano, que pouco depois executa um ótimo solo no instrumento de seis cordas. Uma bateria nervosa com pedais duplos repicados de Heitor Shewchenko, um baixo bem “swingado” de Fabrizio Micheloni e um vocal alucinante de Rogério Fernandes, que é irmão do grande Nando Fernandes, ex-Hangar e ex-Cavalo Vapor. Aliás, o timbre de ambos são muito semelhantes e escancaram a influência do mestre Ronnie James Dio. A quarta é chamada “Combustível” fala de conflitos existenciais que as pessoas têm. A parte sonora é simplesmente impecável, ao escutá-la é impossível não remeter às músicas do álbum “The Devil You Know” do Heaven & Hell. Schevano bebe e muito da fonte de Tony Iommi nesta e o vocal de Rogério é Dio puro. Esses elementos dão o status de melhor música do registro até então.
Na quinta música, “O medo cala a cidade” a energia sonora e a levada vibrante continuam. A parte instrumental é muito destacável mais uma vez. O guitarrista Marcello Schevano faz seu melhor trabalho até o momento, com arranjos criativos, solos mais longos e carregados de feeling. A bateria de Shewchenko faz um grande papel também, com viradas convenientes e pedal duplo bem presente. A canção de número seis é “Mondo Plástico” e aborda a futilidade com que as mulheres convivem, a superficialidade e a falta de identidade da população. O som lembra demais os escutados em “Dehumanizer” do Black Sabbath, com toques de Slayer (pelo lado Thrasher). De novo possui ótimos solos de guitarra e passagens que dão vontade de fazer chifrinhos com as mãos e bater cabeça sem parar. Ótima música!
A sétima é “Blueshit” que faz uma crítica ferrenha à maneira como a cidade de São Paulo encara os problemas de enchentes e inundação de suas ruas. Os governantes, pouco fazem para melhorar esse problema e ainda usam o carnaval para mascararem suas incompetências, fato que infelizmente é engolido pela maior parte do povo. O “shit” faz alusão à bosta que literalmente bóia nas vias em tempo chuvoso e também, pela situação que a incidência é encarada. Já o “Blues” é pela levada rítmica, que se mistura com o peso do metal. A oitava é “Corpo Fechado” que mais uma vez aglutina muito bem o Heavy Metal tradicional com Thrash Metal. Essa é certamente uma das mais pesadas de todo o CD.
A nona é chamada “Foda-se III” e faz por merecer o título, pois o quarteto fala das impossibilidades criadas pelos chamados “caga-regras” da sociedade. A parte instrumental manda muito bem de novo e a linha de vocal de Rogério Fernandes é espetacular! Mestre Dio com certeza sentiria orgulho se estivesse vivo para ouvir tal ligação. A número dez e última canção do disco é a frenética “Tortura”, que possui uma pegada cheia de Thrash Metal, com pedal duplo rápido, riffs e linha de baixo palhetados. No vocal além de Rogério, ouve-se a interessante participação de Vitor Rodrigues, ex-vocalista do Torture Squad. O cara mostra a que veio e manda ver nos guturais e “screamings”. A parte lírica aborda a ideia de um mundo que deixa cada vez mais alienadas as pessoas. Um lugar onde quem contesta tudo isso, acaba sendo duramente repreendido.
As dez faixas de “Carcaça” dos metaleiros paulistanos mostram um importante exemplo de como se fazer metal na nossa própria língua. Foram muito felizes nas combinações métricas e melódicas. Letras que abordam problemas sociais e particulares. Parte instrumental rica e muito original, com icônicas influências do Heavy Metal, como Black Sabbath e até Slayer. A linha de vocal de Rogério Fernandes é excelente e mostra que a exemplo de seu irmão, nasceu para cantar. A parte gráfica também merece destaque, com fotos temáticas do grupo e ilustrações específicas para cada uma das obras. As únicas ressalvas são com relação a algumas composições que ficaram com letra e tempo reduzido. Acredito que deveriam ter explorado um pouco mais a criatividade. Senti falta também de uma balada, que mostrasse um vocal mais limpo e porque não agudo de Rogério. No mais, o Carro Bomba está de parabéns e mostra que faz jus ao seu nome, afinal suas músicas são verdadeiramente explosivas e incisivas, o que contrasta com boa parte das bandas no mainstream atualmente. Super banda brazuca na área, recomendo demais!

Ouça a música do grupo aqui

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