sábado, 12 de outubro de 2013



Crítica É o Fim (This Is The End / 2013 / EUA) dir. Seth Rogen e Evan Goldberg

por Lucas Wagner

  Povoado por atores de renome interpretando a si mesmos, a maior virtude desse primeiro trabalho como diretores de Seth Rogen e Evan Goldberg (que juntos escreveram o excelente Superbad – É Hoje, os bons Segurando as Pontas e Vizinhos Imediatos do 3ºGrau, e o fraco Besouro Verde) é justamente sua capacidade de auto-paródia, conferindo ao longa uma bem vinda irreverência com que todo o elenco, e os próprios diretores, enxergam suas imagens.

  Mas antes, a sinopse: enquanto o ator James Franco dá uma enorme festa regada à drogas, sexo e bebidas em sua nova mansão, o apocalipse tem início, destruindo e matando sem piedade a tudo e a todos, lançando o mundo num festival caótico de sangue e fogo. Nesse contexto, atores mimados e drogados tentar sobreviver à si mesmo e ao fim do mundo.

  Como estava comentando no primeiro parágrafo, É o Fim possui considerável valor como auto-paródia. Seth Rogen, por exemplo, sendo roteirista/diretor/ator do projeto, se zoa ao criar contextos onde pessoas lhe perguntam se algum dia ele vai “parar de interpretar o mesmo papel” (crítica constante ao ator), ou ao perguntar “Que diabos foi aquele Besouro Verde?!” e até mesmo ao ressaltar os peitinhos proeminentes dele mesmo. James Franco também não fica de fora nas piadas constantes sobre os rumores de sua suposta homossexualidade (a escultura de um pênis em sua casa ou a mancha de pasta dental em sua barba – bem sugestivo – são tiradas engraçadíssimas) ou Jonah Hill quando se apresenta como ator da obra-prima Moneyball, único filme “sério” seu.

  Sendo assim, o elenco é a maior força do projeto, estabelecendo excelente química entre si e se zoando constantemente. Do elenco principal, Rogen, Hill, Jay Baruchel e Craig Robinson estão muito bem, mas quem rouba a cena são Danny McBride e James Franco. O primeiro por abraçar a vilania e canalhice de si mesmo, exagerando-a aos limites, e o segundo por assumir uma energia absurda que revela muito do tanto que o próprio ator estava se divertindo no papel, fora que o bom humor consigo mesmo é mais um ponto para sua performance. A rivalidade entre esses dois personagens também é divertidíssima.

  Mas É o Fim ainda conta com diversos outros nomes famosos, se destacando aqui as participações de Michael Cera, Emma Watson e Channing Tatum. Cera sempre representa papeis em que é um nerd tímido e inocente (Juno, Scott Pilgrim, Superbad, etc) e aqui interpreta a si mesmo como totalmente o oposto: um louco insano drogado e pegador geral. Watson (linda demais, santo deus) assume a mesma postura de seu recente papel no fraco Bling Ring – Gangue de Hollywood e evita o papel de boa moça que já lhe associamos; e assim a eterna Hermione aparece gritando “Ponham a porra da bebida na porra da mochila!”, brandindo um machado enquanto diz isso. Já Tatum...bom, assistindo o filme vocês entenderão porque o destaquei.

  Mas É o Fim possui diversos defeitos que o impedem de ser tão bom como deveria. Em primeiro lugar, esses atores todos tem a mania de sempre improvisar demais em seus trabalhos juntos, e esse improviso fica sempre evidente; de vez em quando, funciona muito bem (a discussão de Franco e McBride sobre “gozar” é um momento mais hilário da obra, junto com a “visão de céu” que esta apresenta) mas muitas vezes acaba inflando a cena e lhe tirando a graça, já que passa de um ponto sóbrio para assumir uma posição de mera massagem do ego dos responsáveis. Também, o roteiro de Goldberg e Rogen peca violentamente ao dedicar tanta energia na relação de amizade entre Rogen e Baruchel, despendendo tempo demais numa amizade conturbada repleta de brigas e ciúmes que, no entanto, nunca fica nem meramente interessante.

  Além disso tudo, o segundo ato do filme é extremamente problemático por despencar o ritmo de antes e investir em momentos inverossímeis e forçados como quando todos se drogam ou todo o trabalho para conseguir pegar dois galões de água. Sorte que o longa recupera bastante sua energia no terceiro ato, mas não apaga a chatice do segundo.

  Experiência divertida na própria trama inventiva (misturar apocalipse bíblico com atores chapados), É o Fim é um longa que poderia ter sido muito melhor, é verdade, mas representa um esforço até admirável por parte de Rogen e Goldberg. No entanto, esses dois ainda não conseguiram recuperar todo o vigor que demonstraram em Superbad.

  PS: Sensacional o momento em que o trio protagonista de Superbad (Jonah Hill, Michael Cera, Christopher Mintz-Plasse) aparecem reunidos.
  

Nenhum comentário:

Postar um comentário