sábado, 2 de junho de 2012



Resenha filme "Branca de Neve e o Caçador" (Snow White & The Huntsman / 2012 / EUA) dir. Rupert Sanders


Por Lucas Wagner


Em 2011, tivemos A Garota da Capa Vermelha, longa que trazia a interessante idéia de uma abordagem mais sombria da história da Chapeuzinho Vermelho. Eu sempre fico perplexo ao imaginar os rumos exemplares que esse filme poderia ter tomado, já que a história que deu origem ao longa pode trazer uma leitura fascinante envolvendo aspectos como sexualidade, perda da inocência e perda da virgindade. Porém, o que vimos foi uma verdadeira porcaria, sem qualquer ambição narrativa ,voltada para adolescentes fãs do Lixo Crepúsculo. Embora tivesse curiosidade de conferir esse Branca de Neve e o Caçador, confesso que tinha quase 100% de certeza que iria conferir algo como o filme anteriormente citado. Por isso mesmo, fico feliz de dizer que o longa me surpreendeu pelo seu tom sombrio, sua direção, sua maturidade e, principalmente, pela atuação de Charlize Theron.

Fugindo das adaptações do conto de Branca de Neve que tiraram seu tom sombrio e o rechearam de alegria e inocência infantil, Branca de Neve e o Caçador opta por uma abordagem mais tensa, forte, sempre deixando o espectador preocupado com o que vai acontecer. Observem a própria direção de arte do longa e a fotografia (do ótimo Graig Fraser) que não dão margem para qualquer felicidade no reino da rainha Ravenna (Theron). Os ambientes são sujos, escuros, semrpe opressores, e parece que sempre estamos enxergando por meio de uma névoa (algo que acontecia também nos capítulos mais sombrios da série Harry Potter).

O diretor Rupert Sanders também consegue manter esse tom sufocante durante todo o longa, e seu sucesso nessa empreitada é tamanho que, quando os protagonistas chegam em um lugar chamado Santuário (um lugar mais alegre e pacífico), nós imediantamente sentimos um alívio no peito, como se finalmente pudessemos parar de ficar preocupados, pelo menos por um momento. Sanders é também muito feliz ao dar um tom épico, de verdadeira grandeza para o longa, nos deixando cada vez mais cientes dos horrores do reinado de Ravenna, e também de como uma revolução é necessária e inevitável. Assim, é impossível não se lembrar, em diversos momentos, da já clássica trilogia O Senhor dos Anéis, já que Sanders obviamente se inspira no trabalho de Peter Jackson para compôr seus planos aéreos, travelings, e tudo o que pode para dar mais grandeza ao longa, o que se revela um acerto, já que o cineasta não copia o trabalho de Jackson, mas o utiliza como inspiração. Além disso, há um momentos que eu achei genial aqui, aonde Sanders se utiliza de uma canção melancólica, que trae os sentimentos dos personagens, ao mesmo tempo em que possui uma beleza quase que etérea.

As cenas de ação também estão espetaculares. Tensas, frenéticas, bem filmadas e muito bem montadas, essas ainda tem a vantagem de Sanders não ser um cineasta como Michael Bay (deTransformers), já que consegue filmar cenas extremamente frenéticas ao mesmo tempo que nos permite entender o que está acontecendo. Além disso, os efeitos especiais se mostram, em sua grande maioria, muito eficientes, realistas, como é o caso do espetacular trasgo que aparece na metade do filme. A trilha sonora do mestre James Newton Howard também se mostra espetacular, já que o veterano aqui cria tons sempre fortes, empolgantes, sem parecer clichê, e que reforça a grandeza almejada por Sanders.

Mas o melhor de tudo, a verdadeira rainha do filme (com o perdão do trocadilho) chama-se: Charlize Theron. Em sua segunda excelente atuação em 2012 (a primeira foi em Jovens Adultos - http://mestredeobras.blogspot.com.br/2012/05/resenha-filme-jovens-adultos-young.html?spref=fb (minha resenha) - e a terceira - assim espero - será em Prometheus), a atriz consegue criar uma Ravenna impecável, fascinante. Theron consegue conferir um tom absurdamente ameaçador à personagem, sempre nos deixando tensos quando entra em cena. Parece que não há limites para a sua maldade, já que a personagem guarda rancores, ódios, muito intensos dentro de si, e não suporta ver seus objetivos não estarem sendo cumpridos. Mas a atuação de Theron é ainda mais complexa (o que deixa a rainha ainda mais complexa também), já que a maravilhosa atriz consegue inserir sutilezas impecáveis na composição da personagem; para citar alguns exemplos: observem como, na primeira conversa sua com o espelho mágico, ela se mostra insegura, evitando olhá-lo diretamente, preferindo por ficar o chão, ao passo que, na conversa seguinte com o espelho, está confiante e, ao receber uma má notícia, mantém a compostura, embora Theron consiga deixar claro, com seu olhar, toda a onda de sentimentos que estão ocorrendo dentro dela; ou o momento em que comete seu primeiro assassinato no filme, em que a atriz confere uma intensidade aos sentimentos da rainha que não deixa dúvidas da importância daquilo para ela; ou ainda como os olhos dela se enchem de lágrimas em certos momentos, diante de certos estímulos. Uma atuação impecável (eu não me surpreenderia se ela fosse indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel) que revela um atriz no auge de sua maturidade.

Bom, vamos falar agora dos problemas, começando pelo maior deles: Kristen Stewart. Essa atriz teve um início de carreira promissor com suas ótimas atuações em filmes como O Silêncio de Melinda eQuarto do Pânico (do mestre David Fincher), mas parece ter perdido qualquer talento que possuia naSaga Crepúsculo. A garota parece não ter a menor vontade de atuar, ficando sempre com a mesmapoker face que apresentou em seus projetos mais recentes. Assim, Branca de Neve se torna uma figura unidimensional, que não consegue nem afeição, nem respeito, nem nada pelo espectador. É simplesmente impossível enxergá-la como uma verdadeira lider, com uma personalidade forte e ao mesmo tempo uma sensibilidade feminina tocante, o que é o objetivo dos roteiristas, como fica claro diversas vezes. E ainda é risível e completamente indigerível a noção de que ela seja mais bela do que Ravenna, já que, para qualquer um com uma sã consciência e sem problemas de vista, isso está anos-luz de distãncia da realidade. Na minha opnião, uma atriz que seria perfeita para interpretar Branca de Neve seria Emma Watson (a Hermione de Harry Potter) já que ela é, além de linda, uma atriz maravilhosa, com uma fibra e um talento na composição de suas personagens que deixam qualquer um de queixo caído e, se estivesse nesse filme, a sua qualidade iria crescer absurdamente. Mas, embora Watson seja minha favorita para a personagem, há uma imensidão de outras atrizes na mesma faixa de idade que dariam conta do recado perfeitamente, como Jannifer Lawrence (X-Men Primeira Classe, Inverno da Alma, Jogos Vorazes), Emma Thomas (Zumbilândia, A Mentira, Superbad), Rooney Mara (Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres), Shailene Woodley (Os Descendentes), entre várias outras.

Chris Hemsworth (o Thor) continua um ator competente mas mal aproveitado, que aqui luta para conseguir conferir tridimensionalidade a seu Caçador, mas não vai muito longe devido ao roteiro. Mas, um dos aspectos mais decepcionantes é a tentativa dos roteiristas de incluir um triângulo amoroso à láCrepúsculo (entre Branca de Neve, o Caçador e William) que soa falso e completamente mesquinho, além de não contribuir em nada para o longa. Além disso, o que que tem de especial em um cervo mágico que aparece por um momento no filme mas que tem grande importância, embora essa nunca seja explicada e nem o seja sua natureza mágica?

Contando com um grupo de atores ingleses fascinantes interpretando os anões (como Nick Frost, Ray Winstone, Bob Hoskins, Toby Jones, entre outros), Branca de Neve e o Caçador é um longa eficiente, principalmente devido à sua vilã, mas que perde muito sua força pela péssima atuação de Stewart. Mas continua um filme interessante, empolgante e inegavelmente impactante.

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