quinta-feira, 7 de junho de 2012



    

Resenha do CD instrumental: Moda de Rock

Por Paulo Henrique Faria

A viola caipira, como sua designação aponta é um instrumento característico do movimento sertanejo brasileiro e, como tal é usado somente em música sertaneja, certo? Bem, quem ouvir ao ótimo – e porque não dizer revolucionário - CD “Moda de Rock: Viola Extrema” da dupla Ricardo Vignini e Zé Helder vai ser obrigado a rever seus conceitos. Isso porque os violeiros paulistas gravaram verdadeiros clássicos do rock ao som do instrumento de dez cordas.
Ricardo Vignini e Zé Helder são músicos profissionais e atuam também como professores e produtores musicais. São integrantes da banda Matuto Moderno, grupo que realiza um interessante mix entre sons do sertão brasileiro e a agressividade do Rock. Esse objetivo é mantido no instrumental “Moda de Rock”.
O álbum é formado por 11 canções que marcaram décadas de 60, 70, 80 e 90, bem como os diferentes estilos existentes. As releituras vão de Beatles a Nirvana e, perpassam pelo Rock n’ Roll, Hard Rock, Rock Progressivo, Heavy Metal, Thrash Metal e Grunge.
A primeira faixa do disco é nada mais nada menos que “Kashmir” do grande Led Zeppelin. A música, que é um dos maiores hinos roqueiros de todos os tempos ficou encorpada e muito bem rearranjada por Ricardo e Zé. Os dedilhados e riffs marcantes oriundos de Jimmy Page foram respeitados, e o que se ouve é uma consistência melódica e rítmica inigualáveis.
A segunda releitura é a principal música do Metallica, “Master of Puppets”. Novamente as características fundamentais da canção foram preservadas e os arranjos não se limitam apenas aos acordes das originais. Existe ainda uma preocupação com a melodia e até os solos.
A terceira é “Norwegian Wood”, outro clássico de uma super banda, os Beatles. A característica indiana que George Harrison quis passar na original foi repetida nessa versão violeira. Logo em seguida mais um clássico do rock inglês é homenageado pela dupla paulista, pois se trata do sucesso “In The Flash” do Pink Floyd.
O metal brasileiro e as características regionais não foram deixados de lado. A quinta faixa é “Kaiowas” do grupo mineiro Sepultura. Se a original foi feita com a adição de elementos tribais, essa nova versão instrumental eleva a brasilidade ao trazer o palmeado e sapateado da dança folclórica conhecida como Catira.
Em seguida vem a bem executada balada “May This Be Love” do lendário guitarrista americano Jimi Hendrix. Na sequência dois hinos do Heavy Metal mundial. “Aces High” do Iron Maiden e “Mr. Crowley” de Ozzy Osbourne. A primeira manteve a brilhante aura do disco Powerslave de 1984, com direito a versão dos solos de Dave Murray e Adrian Smith. A segunda foi tocada em um ritmo mais cadenciado, mas sem perder o feeling destacável de Randy Rhoads.
A música de número nove do CD embarca na década de 1990 com “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana. Arrisco dizer que a versão de viola ficou mais bem tocada que a original, que não prima pela técnica - fato comum entre as bandas Grunges - diga-se de passagem. A posterior revisita outro clássico do Thrash Metal americano através de “Hangar 18” do Megadeth. Essa faixa ficou de novo muito bem tocada e as intervenções criativas e pesadas na guitarra de Dave Mustaine permaneceram. Para terminar, a última canção ficou por conta de outro ícone do Rock Progressivo, “Aqualung” do grupo inglês Jethro Tull. A música ficou empolgante na versão com duas violas.
A dupla Ricardo Vignini e Zé Helder está de parabéns por proporcionarem um álbum inovador e de muito bom gosto. Conseguiram transpor a alma roqueira de forma bem sucedida para a viola caipira. Com essa obra eles mostraram que é possível fazer boa música independente do instrumento utilizado. O Rock não se limita a violão e guitarra. Espero agora ansioso, que mais clássicos roqueiros sejam gravados futuramente pelos dois.   

Veja a dupla de violeiros tocando Master of Puppets:


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