sexta-feira, 20 de julho de 2012



Resenha filme "Chernobyl" (Chernobyl Diaries / 2012 / EUA) dir. Bradley Parker



por Lucas Wagner

  Odeio aqueles filhos da puta que soltam gargalhadas enquanto assistem filmes de terror. Na maioria das vezes, esse tipo de gente parece estar, com essas risadas, tentando "aparecer", se exibir para o resto da platéia. Quando são homens, geralmente riem para se estabelecerem como espécies de "machos alfas", demonstrando não temer nada do que passa na tela, apenas achar engraçado, já que "possuem colhões", e são "superiores a qualquer perigo apresentado no filme". Quando se trata de mulheres, elas geralmente se assustam (com as coisas mais imbecis possíveis) e depois soltam risadinhas débeis mentais, achando engraçado o simples fato de terem se assustando. Mas eu odeio ainda mais quando eu sou um desses filhos da puta que riem durante um filme de terror. E, quando sou, não é exatamente por que quero mas porque (sigam a lógica do meu raciocínio): eu gastei um bom dinheiro (cinema é caro demais!) para estar naquela sala e não quero sair puto, sabendo que gastei dinheiro atoa. Eu quero sentir algo, ora! Então... eu rio! O que que eu posso fazer? E não é uma risada falsa, mas completamente sincera, porque, quando isso acontece, eu estou achando hilário o fato de ainda existirem pessoas retardadas o suficiente para fazer um filme de terror tão incompetente, com personagens tão imbecis, assim como seu diretor. E é exatamente isso o que senti vendo esse "tenebroso" Chernobyl, certamente um dos filmes mais hilários do ano.

  O filme, escrito por Oren Peli (que dirigiu, escreveu e editou o ótimo Atividade Paranormal), Shane e Carey Van Dyke conta a história de seis pessoas que estão viajando pela Europa e resolvem "sair da rotina", aceitando fazer um programa com um guia turístico russo (extremamente estereotipado, com direito a grandes músculos e um sotaque irritante, apresentando um inglês que entra em meus ouvidos como espadas)  que os levará a uma cidade próxima a Chernobyl, que teve de ser evacuada às pressas quando soaram os alarmes do desastre nuclear.  Animados, os personagens vão e encontram algo tenebroso lá, quando ficam perdidos e indefesos.

  Ok. Embora não seja muito original, e siga os artifícios clássicos de um filme de terror (pessoas jovens querendo diversão vão a um lugar isolado e perigoso; um indivíduo do grupo sabe mais sobre o local do que os outros – no caso, o guia russo – e esconde um segredo perverso, mas que não conta para ninguém porque não acha que enfrentarão um perigo verdadeiro; eles se divertem e, na hora de ir embora, um problema acontece e eles todos ficam presos no ambiente hostil, sendo mortos um a um) o cineasta Bradley Parker e os roteiristas poderiam ter feito algo interessante. Observem, por exemplo, o excepcional Abismo do Medo de Neil Marshall: um filme que segue os mesmos artifícios, possui quase que a mesma estrutura, e ainda é aterrorizante e envolvente, devido às atuações e a impecável direção de Marshall. Porém, em Chernobyl, a impressão que temos é que Parker realmente nada sabe sobre ser cineasta, e assim lança mão de diversos artifícios para assustar (nunca arrepiar, o que é mais importante e mais difícil) seus espectadores, parecendo realmente achar que está fazendo um excelente trabalho, enquanto na verdade apenas nos faz rir.

  Assim, o que vemos aqui é um filme terrivelmente mal construído e inexperiente. Parker o tempo inteiro parece tentar nos assustar, com o irritante “TUM!” dos filmes de terror, e sem preparação alguma, apenas jogando elementos cegamente na câmera. Ainda, o cineasta não parece conhecer nada além de clichês para usar na direção, o que fica bem claro na cena em que se passa no rio nos arredores de Chernobyl: o guia diz que vai mostrar algo aos outros personagens e finge ser mordido (ou pego, agarrado), por algo na beira do rio enquanto na verdade revela que estava apenas brincando (“ai ai senhor Parker, o senhor quase me pegou nessa!”, parece ser o que o diretor quer ouvir); logo depois eles encontram algo assustador na beira do rio, que parece estar morto, mas que obviamente, ainda possui um restinho de vida para assustar o imbecil personagem que tenta encostar nele. Nessa mesma cena podemos perceber outra falha óbvia de Parker no que se refere à construção do longa: nesse momento, o cineasta parece querer nos preparar para algo horrível que reside no rio e que se revelará mais adiante para agente; porém, em nenhum momento futuro do longa isso acontece, e a impressão que fica é que Parker não sabia MESMO como dirigir o filme, já que nos prepara para uma situação que não virá (mesmo que um personagem chegue a cair naquele rio, mais para frente no filme!). Para piorar, ainda somos obrigados a testemunhar a completa imbecilidade do diretor ao nem mesmo saber situar o filme geograficamente no espaço, fazendo os personagens chegar a um acampamento em um ponto do filme, sem ter que atravessar o rio para isso, e, quando têm que voltar correndo, eles atravessam o tal rio, o que nos faz pensar: “uai! Mas eles não passaram por aí na hora de ir, porque estão passando agora? Eles não estão indo para o lugar errado?”. O cineasta faz os espectadores menos preparados achar que são burros, enquanto não somos nós os idiotas (If you know what I mean...).

  Como cereja do bolo, é inegável pensar como Parker é tonto quando desperdiça momentos potencialmente assustadores para o longa, como é a cena em que os personagens são atacados pela primeira vez, dentro do carro, de noite (única cena assustadora do longa, e isso se dá não por competência de seus realizadores, mas pela própria natureza macabra do momento): enquanto poderia ter quase nos sufocado de tanto medo, ao investir o filme inteiro nessa estratégia (pouca luz – a não ser de uma lanterna – e os monstros escondidos na escuridão da noite, com os personagens confusos e com medo, sem conhecer seu inimigo, e completamente isolados e expostos), Parker prefere cortar logo para o amanhecer para continuar sua história, o que, além de um tremendo desperdício de oportunidade criativa, ainda se revela um erro,  já que não faz nenhum sentido que os monstros não destruam o carro e acabem com suas vítimas naquele mesmo momento. E ainda devo comentar do terrível uso da trilha sonora por parte de Parker, que não demonstra reconhecer o valor que tem o silêncio na construção no terror, optando assim por utilizar-se de um contínuo som “ameaçador” mas que tira a verossimilhança da situação.

  Os personagens do filme também são patetas unidimensionais, sendo apenas clichês esperando para morrer, e que, quando o fazem, não despertam sentimento algum nos espectadores (afinal, porque deveríamos sofrer por pessoas com quem não possuímos nenhuma afeição?). Temos aqui duas gostosas sem cérebro; o guia estereotipado; o casal inocente e feliz, mas burros; a loira que nada faz além de gritar e chorar; o jovem inocente e medroso, mas “puro”; o protagonista musculoso e idiota cujos “dilemas emocionais” são tão falsos e clichês como de uma novela da Globo. E também, nenhum dos atores possui o mínimo de talento para tornar seus personagens mais interessantes, e só conseguem fazer o básico mesmo: gritar e brigar. Além disso, como eu disse, todos eles são completos retardados mentais, a começar pela imbecil ideia de visitar um lugar repleto de radiação. Eles parecem nunca ter visto um filme de terror e assim caem nas armadilhas mais óbvias do mundo, enquanto tomam decisões burras que não poderiam levá-los a algum outro final que não fosse a morte (e por incrível que pareça um deles chega a tentar encostar em uma menina branquela, paralisada e virada de costas: nunca viram filmes de terror mesmo!!!). Isso nos afasta completamente do que vemos ali, já que eles são nada desenvolvidos ou inteligentes (sem nem um pingo de inteligência, para ser mais exato), o que tira o componente emocional que nos permita temer pelo o que venha a acontecer com eles. Para completar, é facílimo adivinhar a ordem em que morrerão.

  Pelo menos sendo capaz de esconder o visual dos monstros, como ensinou Spielberg no clássico terror Tubarão (e ainda assim, quando percebemos a verdadeira natureza e visual das criaturas, a única coisa que podemos fazer é rir da falta de imaginação dos realizadores), Chernobyl é uma porcaria clichê e patética. Com certeza um dos piores filmes de 2012.

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