Análise:
Need For Speed – O
Filme
(Need For Speed / 2014 / EUA) dir.
Scott Waugh
por
Lucas Wagner
Depois de sua linda
performance no seriado Breaking Bad,
Aaron Paul ganhou o mundo e diversos projetos começaram a cair no seu colo.
Infelizmente, o primeiro que ele escolheu foi nesse Need For Speed, num papel unidimensional que raramente permite que
o jovem ator demonstre seu talento. Ainda não conseguindo se livrar dos trejeitos
que usou para a criação do inesquecível Jesse Pinkman (como a insistência em
acrescentar um “Ââh” no meio ou início de suas falas), Paul ao mesmo consegue
interpretar o mecânico Tobey Marshall com energia e entrega o suficiente para
deixar o personagem quase
interessante, principalmente nos momentos em que sente ódio, quando o ator é
hábil na demonstração da intensidade de seus sentimentos, como no tremor de
seus lábios e os olhos injetados e marejados. Mas, contrariando a leve
esperança que eu guardava, Paul não salva o filme do fracasso.
Baseado na série
homônima de video-games, Need For Speed tem o desafio de lidar
com uma matéria-prima que em nenhum momento se preocupava em criar uma história
(e isso lá não importava mesmo), e aqui os roteiristas tentam criar uma trama
mais ou menos elaborada, mas que no fim das contas não passa de um fiapo que
tenta justificar diversas cenas de corrida. Que são, aliás, um dos poucos
atrativos do filme, já que a montagem de Paul Rubell e Scott Waugh (também
diretor do longa) é boa o suficiente para imprimir energia e intensidade às
sequências sem, no entanto, deixar o espectador confuso. Nesse ponto, o design de som é excelente ao usar o belo
ronco dos motores dos carros como uma forma de trilha sonora por si só, decisão
que só é atrapalhada quando Waugh, inseguro, insiste na fraca trilha original
de Nathan Furst, cuja tentativa de ressaltar o “elemento humano” da história a
partir da composição de temas melosos é bastante falha. E se são divertidas,
até as sequências de corrida conseguem irritar quando surgem com motivações tão
nonsense que mesmo o mais disperso
dos espectadores consegue comprar.
Em questão de direção,
Waugh se acha legal o suficiente até mesmo para colocar o dvd de seu péssimo
filme anterior (Act of Valor) como
elemento do cenário. Mas se abusa da paciência do espectador em alguns momentos
(como os dois terríveis usos do efeito Vertigo),
o diretor ao menos acerta nas citadas corridas e nos close-ups no rosto de Aaron Paul quando este vai correr, permitindo
que entremos no espaço pessoal do personagem e, também pelo talento de Paul,
conseguimos vislumbrar a tensão que toma conta dele.
Mas o que realmente
mais irrita em Need For Speed é o
grupo de amigos da oficina de Tobey. Se conseguimos até sentir a camaradagem
deles, esse acerto é jogado no lixo por todas (e eu quero realmente dizer todas) tiradas cômicas que o roteiro
tenta criar em torno deles, em especial aquela simplesmente patética e
vergonhosa protagonizada por Rami Malek (que parece sempre ser o bobão da
história, até mesmo no lindo Short Term 12), e que envolve nudismo. Tirando isso, ao menos a linda e talentosa Imogen
Poots cria sua Julia como uma figura forte e excêntrica sem ser irritante, além
de estabelecer uma química relativamente eficaz com Aaron Paul, ao passo em que
Michael Keaton se diverte na composição histriônica de Monarch, enquanto
Dominic Cooper nem tenta deixar o vilão Dino minimamente interessante. Já a
tentativa do roteiro de humanizar o personagem de Pete justamente para que o
resto do filme funcione sai pela culatra pela abordagem açucarada e pueril
(realmente o cara tem visões? Sério mesmo?).
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