segunda-feira, 30 de dezembro de 2013


Análise:

O Verão de Minha Vida (The Way, Way Back / 2013 / EUA) dir. Nat Faxon e Jim Rash

por Lucas Wagner

O tipo de filme que esse O Verão da Minha Vida é já está se tornando extremamente aborrecido. O garoto solitário com poucas habilidades sociais e uma família problemática, mas que acaba chamando a atenção de uma garota linda e alternativa, e ainda faz um amigo extrovertido que assume como propósito uma mudança na vida do rapaz. E, sim, ele vai mudar. Ao som de muita música pop melancólica, é claro. Essa é a irritante fórmula de um chamado filme indie. Alguns, mesmo usando essa fórmula, se tornam longas maravilhosos, vide o lindo As Vantagens de Ser Invisível. O Verão da Minha Vida está anos-luz atrás desse seu “primo”, mas não representa um exemplar ruim do gênero. Pelo contrário, apesar da tonelada absurda de clichês, é uma obra doce e divertida, que funciona em seus termos.

Não me dando ao trabalho de escrever uma sinopse do filme (qualquer um que viu um longa que segue a fórmula que descrevi acima será capaz de prever todos os passos da narrativa), o roteiro de Nat Faxon e Jim Rash (ambos vencedores do Oscar de melhor roteiro adaptado ano passado pelo belo Os Descendentes) foca sua atenção em Duncan (Liam James) em suas andanças em uma cidade praiana durante o verão. Introspectivo, o rapaz de 14 anos tem dicção pausada e anda sempre curvado (excelentes detalhes da atuação de James), e evita todos contatos possíveis, só não se isolando mais para não desagradar a mãe. Se sentindo obviamente desconfortável consigo mesmo, o garoto não parece perceber nem mesmo o interesse que a bela vizinha demonstra por ele, e, sempre que obrigado à conversar, busca esmiuçar os mínimos detalhes para não correr riscos de falta de compreensão por parte de seu interlocutor, para assim não ser mais ridículo (sem sucesso, obviamente). A partir disso, sua relação com o extrovertido Owen (Sam Rockwell) serve como estopim para que possa desenvolver algum potencial social que sua baixa auto-estima mascarava.

Apesar de ser um estudo de personagem relativamente eficaz, o roteiro de Faxon e Rash acaba caindo no erro de alguns diálogos expositivos que, consequentemente, diminuem sua força e a dos personagens, ao mesmo tempo em que, aqui e ali, apostam em metáforas um tanto juvenis, como quando Owen diz para Duncan, se referindo à jogabilidade de Pacman: “não siga padrões, crie seus próprios caminhos”. Pior ainda é que os roteiristas insistam em tornar como núcleo do problema de Duncan sua relação com o padrasto Trent (Steve Carrell), algo que acaba reduzindo significantemente a construção do personagem, simplificando-o, apesar da primeira e poderosa cena que abre o longa (e filmada com perfeição por Faxon e Rash, que também são diretores aqui). É um acerto, no entanto, que a batida narração em off, tão constante em filmes indie, aqui seja evitada.

Apesar de seus tropeços, o longa ganha força toda vez que Steve Carrell ou Sam Rockwell entram em cena. Carrell volta a fazer um personagem dramático e sem qualquer pretensão cômica com um talento invejável, criando em Trent uma figura tridimensional que, no seu desespero em fazer “a família funcionar” (algo mascarado por uma falsa expressão de confiança, num detalhe de gênio de Carrell) demonstra uma insegurança tocante em si mesmo, e foca em Duncan, seu problemático enteado, uma atenção em fazê-lo melhorar que chega até mesmo a ser opressiva. É uma pena que o roteiro tenha insistido tanto em fazer dele um antagonista, dificultando assim o esforço de Carrell.

Já Rockwell, ator sempre genial, trabalha Owen como uma figura excêntrica e divertidíssima, garantindo um frescor novo e nova força à obra sempre que surge em cena. Folgadão e sempre despreocupado, Owen leva a vida com uma leveza invejável, não dando a mínima para padrões e regras e buscando se divertir o máximo possível, algo que é consequência de um relacionamento problemático com seu próprio pai (revelado em um diálogo pavorosamente expositivo), o que torna sua relação com Duncan mais compreensível. Apesar de sua extroversão, Owen sabe quando passa dos limites, e é comovente vê-lo tentando compensar alguns de seus erros.


Forçando a barra com o argumento de que o verdadeiro problema de Duncan está em sua fixação (nunca visível) em seguir regras e padrões, O Verão de Minha Vida ao menos consegue, tropeçando muito no caminho, servir de experiência doce o suficiente para que torçamos por seu protagonista, sendo uma obra gostosa de assistir, e servindo como um passatempo agradável.

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