MELHORES FILMES DE 2014
(SEM ORDEM DE PREFERÊNCIA)
por Lucas Wagner
Acaba o ano e chega
aquela época em que os ditos cinéfilos adoram compilar suas listas de “melhores
do ano”. Vai ter gente que gosta mais de lista do que cinéfilos... e não escapo
à regra. Tanto é que estou aqui fazendo.
Mas sem muita regra,
ok? Alguns filmes que assisti e escrevi sobre em 2014 mas que na verdade são de
outros anos não figuram aqui simplesmente porque na minha cidade eles chegaram
com mais de 365 dias de atraso. Dito isso, resisto à tentação de colocar meus
queridos A Grande Beleza e O Sonho de Wadja. Mas fora isso, aqui
aparecerão filmes que passaram em seus países de origem em 2013 mas que
chegaram por aqui (Brasil) em 2014, e outros que aparecerão aqui apenas em 2015
mas que eu já vi e já escrevi sobre. Como eu disse: sem regras chatas.
Como qualquer lista,
essa é inerentemente injusta, e na seleção deixei filmes que adorei, como O Expresso do Amanhã, Vidas ao Vento, No Limite do Amanhã, Nebraska,
Predestination, entre outros. Uma
pena.
MAS (!) o mais
importante é o seguinte: NÃO HÁ ORDEM DE PREFERÊNCIA NESSA LISTA! Por quê? O
chato de fazer uma lista dessas é a tal da hierarquia. Decidi deixá-la de lado,
e principalmente porque a hierarquia é demasiadamente fútil e injusta. Por
diversos motivos. O que faz de, digamos, O
Passado melhor do que The Babadook?
Qual o critério de comparação? Ora, são dois filmes geniais em seus próprios
termos, no que se propõem e no que ousam frente aos outros filmes. Sendo assim,
acredito que a preferência viria muito mais pelo lado pessoal, este que é tão
mutável. Quando estou apaixonado, Her mexe
muito mais comigo do que O Lobo Atrás da
Porta, assim como o contrário pode ser verdadeiro quando estou mais
“excitado” com um tipo de história sombria e misteriosa.
Uma última coisa que
deve ser comentada: os filmes aqui selecionados o foram por diversos critérios,
sendo um deles o pessoal. Levo em conta fatores técnicos, além daqueles
narrativos que enriquecem uma história, mas também como o filme me balançou foi
um critério de inclusão. Minha preferência entre filmes que considero
excelentes varia com insuspeita constância.
Aproveito e escrevo um
micro texto sobre cada um dos filmes. Para quem quer informações mais
detalhadas sobre minha opnião, deixo o link para minha crítica, caso tenha
escrito.
Vamos à lista:
(LEMBRANDO: SEM
ORDEM DE PREFERÊNCIA)
-
Ela (Her) dir. Spike Jonze
O que define a
realidade ou validade de um sentimento? A covardia da questão é patente.
Independente do objeto de amor, a troca de experiências, de carinho, de afeto,
de compreensão é uma das peças essenciais na constante construção de nós
mesmos. Her compreende isso, se
tornando uma linda poesia ao esmiuçar reflexões tão singulares sobre a natureza
dos sentimentos, seu caráter cíclico e de eterna reconstrução.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/02/analise-ela-her-2013-eua-dir.html
- Boyhood – Da Infância à Juventude
(Boyhood) dir. Richard Linklater
A ousadia de Richard
Linklater ao pelo menos ter a ideia de um filme como esse é digna de aplausos.
Quem dirá de evidentemente concretizá-la. Mais do que um filme sobre
crescimento, Boyhood se torna um
tratado de imenso valor sobre as marcas do Tempo e das construções interpessoais
na jornada de cada um.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/11/analise-boyhood-da-infancia-ajuventude.html
- X-Men – Dias de Um Futuro Esquecido (X-Men Days of Future Past) dir. Bryan
Singer
X-Men
sempre
foi uma das mais maduras séries de super-heróis, e esse Dias de um Futuro Esquecido é um exemplo perfeito de como fazer um
filme de ação narrativa e visualmente complexo de forma intensa, com
personagens singulares e, cada um deles, fascinante, além de propor uma
reflexão que ainda tem a audácia de galgar degraus diante dos já excelentes
diálogos reflexivos dos filmes anteriores, transformando a construção filosófica
dessa série em um prazer constante.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/05/analise-x-men-dias-de-umfuturo.html
- O Passado (Le Passé) dir. Asghar Farhadi
Mais uma vez o cineasta
Asghar Farhadi demonstra um profundo conhecimento humano, e cria um filme
denso, triste, repleto de personagens tentando buscar sentido onde na verdade
não existe nenhum. Personagens contraditórios, complexos, trágicos, ambíguos
como o inesquecível plano final dessa obra-prima. Em suma: humanos.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/03/analise-o-passado-le-passe-2013-franca.html
- O Homem Duplicado (Enemy) dir. Denis Villeneuve
Um passeio na
construção de novas realidades através de duas contraditórias? Um flerte entre
o Cosmos e o Caos? A jornada psicosexual de um homem confuso e solitário? Ou a expressão
de medos intensos em um debate consigo mesmo? São várias as interpretações
possíveis, e os motivos para assistir esse sublime filme.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/05/analise-o-homem-duplicado-enemy-2014.html
-
Temporário 12 (Short Term 12) dir. Destin Daniel
Cretton
Este pouco conhecido
drama independente trás a prova de que Brie Larson é uma atriz mais fascinante
do que geralmente mostra. Mais importante, é uma obra delicada que usa diversos
meios, inclusive visuais, para nos colocar ao lado de seus frágeis, porém
resilientes, personagens. Inesquecível.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/02/analise-shortterm-12-short-term-12-2013.html
-
A Imagem Que Falta (L’Image Manquante) dir. Rithy Panh
Este documentário se
transforma em um sincero, e emocionado, relato de um sobrevivente aos anos em
que o Camboja foi governado pelo Khmer Vermelho. Um discurso doído, triste, que
reconhece a Arte como uma forma de elaboração da dor. Forma insatisfatória, mas
ainda assim, perfeitamente válida.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/03/analise-imagem-que-falta-limage.html
-
The Babadook (The Babadook) dir. Jennifer Kent
Aterrorizante a ponto
de provocar lágrimas, The Babadook
mistura clássicos com idiossincrasias, além de um competentíssimo uso de vários
recursos cinematográficos e um background
literalmente lovecraftiano para
contar uma história de horror que te desafia a manter os olhos abertos, ao
mesmo tempo em que compele a investigar os meandros mais profundos que sua
narrativa oferece.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/11/analise-babadook-babadook-2014.html
-
O Abutre (Nightcrawler) dir. Dan Gilroy
O horror constante
diante da revelação da verdadeira faceta do personagem interpretado com
brilhantismo por Jake Gyllenhaal é um reflexo de um universo aversivo e
magnético que este filme de Dan Gilroy lança seu olhar crítico
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/12/analise-o-abutre-nightcrawler-2014-eua.html
-Praia do Futuro (Praia do Futuro) dir. Karim Ainouz
Um filme que reconhece
que sentimentos muitas vezes não são traduzidos satisfatoriamente em palavras,
e assim aposta na cuidadosa construção de símbolos e quadros estratégicos para
ilustrar interações humanas por demais ambivalentes, assim como a complexidade
dos sentimentos por trás delas.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/05/analise-praia-do-futuro-praia-do-futuro_17.html
-
Inside Llwelyn Davis – Balada de um
Homem Comum (Inside Llwelyn Davis)
dir. Joel & Ethan Coen
Existências à deriva
com uma paixão agridoce por farewells caracteriza
os personagens desse lindo filme dos Irmãos Coen, numa narrativa dolorosamente
triste e bela, pois há uma poesia quase misógina na imagem do artista que passa
fome mas não desiste de sua Arte. Um filme melancólico, mas uma melancolia
bonita, poética, ao mesmo tempo em que há espaço suficiente para o inusitado
humor dos Irmãos.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/02/analise-inside-llewyn-davis-balada-de.html
-
O Lobo de Wall Street (The Wolf Of Wall Street) dir. Martin
Scorsese
Qualudes, cocaína,
orgias, engravatados se comportando como adolescentes estúpidos, um monte em
forma de glúteos, e rios, mares de dinheiro... aos 73 anos Martin Scorsese
criou o que é um dos seus mais ousados e surtados filmes, uma comédia de humor
negro que se utiliza do seu gênero narrativo para adotar uma visão crítica que
deposita no espectador a responsabilidade de ser maduro o suficiente para
enxergá-la. Um ato de segurança que talvez só um cineasta do calibre de Scorsese
poderia ter.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/01/analise-o-lobo-de-wall-street-wolf-of.html
- Interestelar (Interstellar) dir. Christopher Nolan
Muitos discordarão de
mim aqui. Tudo bem. Mas realmente enxergo que Nolan foi bem sucedido na
Odisséia na qual se empreitou, usando um louvável embasamento científico e uma
maturidade intelectual para discorrer sobre o papel do Homem no Cosmos.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/11/analise-interestelar-interstellar-2014.html
- 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave) dir. Steve McQueen
O cineasta Steve McQueen
prima ao construir narrativas intensas, onde o ambiente exterior dos
personagens emula sua agonia interna. Mais do que construir discursos pomposos
e provocar lágrimas no espectador, McQueen cria imagens cruas e cruéis, que
chocam, angustiam, e verdadeiramente nos fazem refletir sobre a escravidão,
além de ousar assumir uma postura crítica mais complexa e cínica do que o
habitual nesse tipo de filme para investigar a constituição desse horror.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/02/analise-12-anos-de-escravidao-12-years.html
- Ida (Ida) dir. Pawel Pawlikowski
A capacidade do
cineasta Pawel Pawlikowski de construir quadros cuidadosos em sua composição,
de usar a iluminação e a própria razão de aspecto da imagem para construir sua
narrativa, destacam Ida como um filme
corajoso, capaz de dizer muito sobre seus personagens através das imagens que os
ilustram, e não das falas que dizem. Um esforço sinceramente cinematográfico.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/12/analise-ida-ida-2014-polonia-dinamarca.html
-
Até o Fim (All is Lost) dir. J.C Chandor
Até
o Fim usa a nossa ignorância sobre seu protagonista e a
cuidadosa observação de seus comportamentos cotidianos para construir uma
história de sobrevivência que, na aparente simplicidade, alcança âmbitos
profundos na “alma” daquele sujeito que tanto desconhecemos, se tornando uma
narrativa de luta do Homem versus Natureza que não deixa a desejar nem frente à
Hemingway. Mais uma prova da força do minimalismo na arte de contar histórias.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/04/analise-ate-o-fim-all-is-lost-2013-eua.html
- O Grande Hotel Budapeste
(The Grand Budapest Hotel) dir. Wes
Anderson
Com O Grande Hotel Budapeste, Wes Anderson
pôde se entregar ao mais profundo nonsense,
usando e abusando de seus estilismos visuais, mas sem se esquecer da melancolia
habitual de seus projetos, e acaba criando uma obra sinceramente doce,
nostálgica e hilária, divertida ao mesmo tempo em que permite que o cineasta
explore suas habituais preocupações temáticas.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/07/analise-o-grande-hotelbudapeste-grand.html
- O Lobo Atrás da Porta
(O Lobo Atrás da Porta) dir. Fernando
Coimbra
Fernando Coimbra
construiu um suspense de intensidade ímpar, brincando com as expectativas do
espectador ao ponto de dar diversas voltas no parafuso, indo a âmbitos que, com
o domínio que alcança em sua direção, sabe muito bem que surpreenderá/chocará o
espectador, que se torna sua marionete nessa fascinante hora e meia em que
estamos sob seu domínio.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/12/analise-o-lobo-atras-da-porta-o-lobo.html
- Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive) dir. Jim Jarmush
O cultuado Jarmush se
arrasta noite adentro, uma noite que diz mais sobre o silêncio da Humanidade, o
silêncio de sua genialidade, de seus grandes feitos, em prol do barulho
ensurdecedor dos impulsos primários, relegando aos imortais vampiros o papel de
quintessência do pó.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/08/analise-amantes-eternos-only-lovers.html
- Oslo – 31 de Agosto (Oslo, 31, August) dir. Joachim Trier
O sol nasce no
horizonte, mas a ele a depressão dá as costas, voltando à segurança angustiante
do encarceramento entorpecido, onde se esconde uma insuspeita desesperança.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/07/analise-oslo-31-de-agosto-oslo-31.html
- Instinto Materno (Pozitia Copilului) dir. Calin Peter
Netzer
Um suspense angustiante
que provoca o espectador nos vestígios deixados pelas entrelinhas dos
embates emocionais entre seus personagens, denotando relações perversas e
complexas, mas acima de tudo, destruidoras.
Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/03/analise-instinto-materno-pozitia.html
- Sob a Pele (Under The Skin)
Tenho uma queda vertiginosa por histórias contadas mais visual do que verbalmente, e se a seleção de filmes como Praia do Futuro, Ida e Até o Fim já evidenciam isso, Sob a Pele não poderia deixar de marcar presença, já que aposta 100% na criação de imagens evocativas que buscam emular sentimentos no espectador, que a partir daí, construirá suas próprias interpretações. E ainda hoje sou assombrado pela imagem daquela criatura sombria e triste queimando em meio à neve...
- Locke (Locke) dir. Steven Knight
Há algo demasiado
inspirador nessa narrativa visualmente simples sobre um homem que decide, de
uma vez por todas, atar as pontas de sua vida, assumindo responsabilidades e
conseqüências. O desempenho de Tom Hardy na criação desse personagem é, sem a
menos sombra de dúvida, uma das maiores forças deste ano.
- Blue Ruin (Blue Ruin) dir. Jeremy Saulnier
Um filme de vingança
que busca se concentrar mais nas rachaduras psicológicas de seus personagens do
que na violência de suas ações, e em como o egoísmo da vingança pode atingir não
apenas seus alvos, mas retroagir naqueles que amamos.
- Frozen – Uma Aventura
Congelante (Frozen) dir.
Chris Buck e Jennifer Michelle Lee
Frozen
é
um filme essencial na gradual desconstrução na visão da Mulher enquanto sexo
frágil, além de ser uma animação com personagens inesquecíveis, adoráveis e
tridimensionais, e mesmo suas canções são criativas. A desconstrução dos
clichês dos contos de fada também me encantam. “O conheci essa noite! O amo e
vamos nos casar!”, “Você o conheceu essa noite e já vai se casar? Você é
louca?”. Genial.
Oi, Lucas! Gostei muito da sua lista, poucos não vi e acrescentaria mais alguns, mas não tenho certeza se são de 2014, eu os assisti em 2014. Tô chatada não andar falando com você, sempre que algo que gosto queria comentar com você. Então assuma seu lugar de patrimônio goiano do cinema mundial e contribua com meu intelecto cinematográfico! :) Desculpa a brincadeira e bom ano, excelentes filmes.
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