terça-feira, 30 de dezembro de 2014

MELHORES FILMES DE 2014
(SEM ORDEM DE PREFERÊNCIA)
por Lucas Wagner

Acaba o ano e chega aquela época em que os ditos cinéfilos adoram compilar suas listas de “melhores do ano”. Vai ter gente que gosta mais de lista do que cinéfilos... e não escapo à regra. Tanto é que estou aqui fazendo.

Mas sem muita regra, ok? Alguns filmes que assisti e escrevi sobre em 2014 mas que na verdade são de outros anos não figuram aqui simplesmente porque na minha cidade eles chegaram com mais de 365 dias de atraso. Dito isso, resisto à tentação de colocar meus queridos A Grande Beleza e O Sonho de Wadja. Mas fora isso, aqui aparecerão filmes que passaram em seus países de origem em 2013 mas que chegaram por aqui (Brasil) em 2014, e outros que aparecerão aqui apenas em 2015 mas que eu já vi e já escrevi sobre. Como eu disse: sem regras chatas.

Como qualquer lista, essa é inerentemente injusta, e na seleção deixei filmes que adorei, como O Expresso do Amanhã, Vidas ao Vento, No Limite do Amanhã, Nebraska, Predestination, entre outros. Uma pena.

MAS (!) o mais importante é o seguinte: NÃO HÁ ORDEM DE PREFERÊNCIA NESSA LISTA! Por quê? O chato de fazer uma lista dessas é a tal da hierarquia. Decidi deixá-la de lado, e principalmente porque a hierarquia é demasiadamente fútil e injusta. Por diversos motivos. O que faz de, digamos, O Passado melhor do que The Babadook? Qual o critério de comparação? Ora, são dois filmes geniais em seus próprios termos, no que se propõem e no que ousam frente aos outros filmes. Sendo assim, acredito que a preferência viria muito mais pelo lado pessoal, este que é tão mutável. Quando estou apaixonado, Her mexe muito mais comigo do que O Lobo Atrás da Porta, assim como o contrário pode ser verdadeiro quando estou mais “excitado” com um tipo de história sombria e misteriosa.

Uma última coisa que deve ser comentada: os filmes aqui selecionados o foram por diversos critérios, sendo um deles o pessoal. Levo em conta fatores técnicos, além daqueles narrativos que enriquecem uma história, mas também como o filme me balançou foi um critério de inclusão. Minha preferência entre filmes que considero excelentes varia com insuspeita constância.

Aproveito e escrevo um micro texto sobre cada um dos filmes. Para quem quer informações mais detalhadas sobre minha opnião, deixo o link para minha crítica, caso tenha escrito.
Vamos à lista:

(LEMBRANDO: SEM ORDEM DE PREFERÊNCIA)



- Ela (Her) dir. Spike Jonze

O que define a realidade ou validade de um sentimento? A covardia da questão é patente. Independente do objeto de amor, a troca de experiências, de carinho, de afeto, de compreensão é uma das peças essenciais na constante construção de nós mesmos. Her compreende isso, se tornando uma linda poesia ao esmiuçar reflexões tão singulares sobre a natureza dos sentimentos, seu caráter cíclico e de eterna reconstrução.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/02/analise-ela-her-2013-eua-dir.html



- Boyhood – Da Infância à Juventude (Boyhood) dir. Richard Linklater

A ousadia de Richard Linklater ao pelo menos ter a ideia de um filme como esse é digna de aplausos. Quem dirá de evidentemente concretizá-la. Mais do que um filme sobre crescimento, Boyhood se torna um tratado de imenso valor sobre as marcas do Tempo e das construções interpessoais na jornada de cada um.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/11/analise-boyhood-da-infancia-ajuventude.html



- X-Men – Dias de Um Futuro Esquecido (X-Men Days of Future Past) dir. Bryan Singer

X-Men sempre foi uma das mais maduras séries de super-heróis, e esse Dias de um Futuro Esquecido é um exemplo perfeito de como fazer um filme de ação narrativa e visualmente complexo de forma intensa, com personagens singulares e, cada um deles, fascinante, além de propor uma reflexão que ainda tem a audácia de galgar degraus diante dos já excelentes diálogos reflexivos dos filmes anteriores, transformando a construção filosófica dessa série em um prazer constante.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/05/analise-x-men-dias-de-umfuturo.html



- O Passado (Le Passé) dir. Asghar Farhadi

Mais uma vez o cineasta Asghar Farhadi demonstra um profundo conhecimento humano, e cria um filme denso, triste, repleto de personagens tentando buscar sentido onde na verdade não existe nenhum. Personagens contraditórios, complexos, trágicos, ambíguos como o inesquecível plano final dessa obra-prima. Em suma: humanos.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/03/analise-o-passado-le-passe-2013-franca.html



- O Homem Duplicado (Enemy) dir. Denis Villeneuve

Um passeio na construção de novas realidades através de duas contraditórias? Um flerte entre o Cosmos e o Caos? A jornada psicosexual de um homem confuso e solitário? Ou a expressão de medos intensos em um debate consigo mesmo? São várias as interpretações possíveis, e os motivos para assistir esse sublime filme.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/05/analise-o-homem-duplicado-enemy-2014.html


- Temporário 12 (Short Term 12) dir. Destin Daniel Cretton

Este pouco conhecido drama independente trás a prova de que Brie Larson é uma atriz mais fascinante do que geralmente mostra. Mais importante, é uma obra delicada que usa diversos meios, inclusive visuais, para nos colocar ao lado de seus frágeis, porém resilientes, personagens. Inesquecível.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/02/analise-shortterm-12-short-term-12-2013.html



- A Imagem Que Falta (L’Image Manquante) dir. Rithy Panh

Este documentário se transforma em um sincero, e emocionado, relato de um sobrevivente aos anos em que o Camboja foi governado pelo Khmer Vermelho. Um discurso doído, triste, que reconhece a Arte como uma forma de elaboração da dor. Forma insatisfatória, mas ainda assim, perfeitamente válida.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/03/analise-imagem-que-falta-limage.html



- The Babadook (The Babadook) dir. Jennifer Kent

Aterrorizante a ponto de provocar lágrimas, The Babadook mistura clássicos com idiossincrasias, além de um competentíssimo uso de vários recursos cinematográficos e um background literalmente lovecraftiano para contar uma história de horror que te desafia a manter os olhos abertos, ao mesmo tempo em que compele a investigar os meandros mais profundos que sua narrativa oferece.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/11/analise-babadook-babadook-2014.html



- O Abutre (Nightcrawler) dir. Dan Gilroy

O horror constante diante da revelação da verdadeira faceta do personagem interpretado com brilhantismo por Jake Gyllenhaal é um reflexo de um universo aversivo e magnético que este filme de Dan Gilroy lança seu olhar crítico

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/12/analise-o-abutre-nightcrawler-2014-eua.html



-Praia do Futuro (Praia do Futuro) dir. Karim Ainouz

Um filme que reconhece que sentimentos muitas vezes não são traduzidos satisfatoriamente em palavras, e assim aposta na cuidadosa construção de símbolos e quadros estratégicos para ilustrar interações humanas por demais ambivalentes, assim como a complexidade dos sentimentos por trás delas.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/05/analise-praia-do-futuro-praia-do-futuro_17.html



- Inside Llwelyn Davis – Balada de um Homem Comum (Inside Llwelyn Davis) dir. Joel & Ethan Coen

Existências à deriva com uma paixão agridoce por farewells caracteriza os personagens desse lindo filme dos Irmãos Coen, numa narrativa dolorosamente triste e bela, pois há uma poesia quase misógina na imagem do artista que passa fome mas não desiste de sua Arte. Um filme melancólico, mas uma melancolia bonita, poética, ao mesmo tempo em que há espaço suficiente para o inusitado humor dos Irmãos.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/02/analise-inside-llewyn-davis-balada-de.html



- O Lobo de Wall Street (The Wolf Of Wall Street) dir. Martin Scorsese

Qualudes, cocaína, orgias, engravatados se comportando como adolescentes estúpidos, um monte em forma de glúteos, e rios, mares de dinheiro... aos 73 anos Martin Scorsese criou o que é um dos seus mais ousados e surtados filmes, uma comédia de humor negro que se utiliza do seu gênero narrativo para adotar uma visão crítica que deposita no espectador a responsabilidade de ser maduro o suficiente para enxergá-la. Um ato de segurança que talvez só um cineasta do calibre de Scorsese poderia ter.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/01/analise-o-lobo-de-wall-street-wolf-of.html



- Interestelar (Interstellar) dir. Christopher Nolan

Muitos discordarão de mim aqui. Tudo bem. Mas realmente enxergo que Nolan foi bem sucedido na Odisséia na qual se empreitou, usando um louvável embasamento científico e uma maturidade intelectual para discorrer sobre o papel do Homem no Cosmos.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/11/analise-interestelar-interstellar-2014.html



- 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave) dir. Steve McQueen

O cineasta Steve McQueen prima ao construir narrativas intensas, onde o ambiente exterior dos personagens emula sua agonia interna. Mais do que construir discursos pomposos e provocar lágrimas no espectador, McQueen cria imagens cruas e cruéis, que chocam, angustiam, e verdadeiramente nos fazem refletir sobre a escravidão, além de ousar assumir uma postura crítica mais complexa e cínica do que o habitual nesse tipo de filme para investigar a constituição desse horror.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/02/analise-12-anos-de-escravidao-12-years.html



 - Ida (Ida) dir. Pawel Pawlikowski

A capacidade do cineasta Pawel Pawlikowski de construir quadros cuidadosos em sua composição, de usar a iluminação e a própria razão de aspecto da imagem para construir sua narrativa, destacam Ida como um filme corajoso, capaz de dizer muito sobre seus personagens através das imagens que os ilustram, e não das falas que dizem. Um esforço sinceramente cinematográfico.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/12/analise-ida-ida-2014-polonia-dinamarca.html



- Até o Fim (All is Lost) dir. J.C Chandor

Até o Fim usa a nossa ignorância sobre seu protagonista e a cuidadosa observação de seus comportamentos cotidianos para construir uma história de sobrevivência que, na aparente simplicidade, alcança âmbitos profundos na “alma” daquele sujeito que tanto desconhecemos, se tornando uma narrativa de luta do Homem versus Natureza que não deixa a desejar nem frente à Hemingway. Mais uma prova da força do minimalismo na arte de contar histórias.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/04/analise-ate-o-fim-all-is-lost-2013-eua.html



- O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel) dir. Wes Anderson

Com O Grande Hotel Budapeste, Wes Anderson pôde se entregar ao mais profundo nonsense, usando e abusando de seus estilismos visuais, mas sem se esquecer da melancolia habitual de seus projetos, e acaba criando uma obra sinceramente doce, nostálgica e hilária, divertida ao mesmo tempo em que permite que o cineasta explore suas habituais preocupações temáticas.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/07/analise-o-grande-hotelbudapeste-grand.html



- O Lobo Atrás da Porta (O Lobo Atrás da Porta) dir. Fernando Coimbra

Fernando Coimbra construiu um suspense de intensidade ímpar, brincando com as expectativas do espectador ao ponto de dar diversas voltas no parafuso, indo a âmbitos que, com o domínio que alcança em sua direção, sabe muito bem que surpreenderá/chocará o espectador, que se torna sua marionete nessa fascinante hora e meia em que estamos sob seu domínio.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/12/analise-o-lobo-atras-da-porta-o-lobo.html



- Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive) dir. Jim Jarmush

O cultuado Jarmush se arrasta noite adentro, uma noite que diz mais sobre o silêncio da Humanidade, o silêncio de sua genialidade, de seus grandes feitos, em prol do barulho ensurdecedor dos impulsos primários, relegando aos imortais vampiros o papel de quintessência do pó.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/08/analise-amantes-eternos-only-lovers.html



- Oslo – 31 de Agosto (Oslo, 31, August) dir. Joachim Trier

O sol nasce no horizonte, mas a ele a depressão dá as costas, voltando à segurança angustiante do encarceramento entorpecido, onde se esconde uma insuspeita desesperança.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/07/analise-oslo-31-de-agosto-oslo-31.html



- Instinto Materno (Pozitia Copilului) dir. Calin Peter Netzer

Um suspense angustiante que provoca o espectador nos vestígios deixados pelas entrelinhas dos embates emocionais entre seus personagens, denotando relações perversas e complexas, mas acima de tudo, destruidoras.

Crítica completa: http://mestredeobras.blogspot.com.br/2014/03/analise-instinto-materno-pozitia.html



Sob a Pele (Under The Skin)

Tenho uma queda vertiginosa por histórias contadas mais visual do que verbalmente, e se a seleção de filmes como Praia do Futuro, Ida e Até o Fim já evidenciam isso, Sob a Pele não poderia deixar de marcar presença, já que aposta 100% na criação de imagens evocativas que buscam emular sentimentos no espectador, que a partir daí, construirá suas próprias interpretações. E ainda hoje sou assombrado pela imagem daquela criatura sombria e triste queimando em meio à neve...



- Locke (Locke) dir. Steven Knight

Há algo demasiado inspirador nessa narrativa visualmente simples sobre um homem que decide, de uma vez por todas, atar as pontas de sua vida, assumindo responsabilidades e conseqüências. O desempenho de Tom Hardy na criação desse personagem é, sem a menos sombra de dúvida, uma das maiores forças deste ano.



- Blue Ruin (Blue Ruin) dir. Jeremy Saulnier

Um filme de vingança que busca se concentrar mais nas rachaduras psicológicas de seus personagens do que na violência de suas ações, e em como o egoísmo da vingança pode atingir não apenas seus alvos, mas retroagir naqueles que amamos.



- Frozen – Uma Aventura Congelante (Frozen) dir. Chris Buck e Jennifer Michelle Lee

Frozen é um filme essencial na gradual desconstrução na visão da Mulher enquanto sexo frágil, além de ser uma animação com personagens inesquecíveis, adoráveis e tridimensionais, e mesmo suas canções são criativas. A desconstrução dos clichês dos contos de fada também me encantam. “O conheci essa noite! O amo e vamos nos casar!”, “Você o conheceu essa noite e já vai se casar? Você é louca?”. Genial.

Um comentário:

  1. Oi, Lucas! Gostei muito da sua lista, poucos não vi e acrescentaria mais alguns, mas não tenho certeza se são de 2014, eu os assisti em 2014. Tô chatada não andar falando com você, sempre que algo que gosto queria comentar com você. Então assuma seu lugar de patrimônio goiano do cinema mundial e contribua com meu intelecto cinematográfico! :) Desculpa a brincadeira e bom ano, excelentes filmes.

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