Resenha filme "Rock of Ages" (Rock of Ages / 2012 / EUA) dir. Adam Shankman
por Lucas Wagner
Não sou tão fã de musicais. Sinceramente, não vejo muita graça em pessoas levantando e começando a cantar do nada, enquanto todo mundo na cena se junta de maneira inexplicável e começa a cantar também. Porém, existem musicais dos quais gosto e aprecio bastante o seu valor como Cinema, tais como Moulin Rouge , Todos Dizem Eu Te Amo e Grease. Dito isso, o fato de eu destruir esse medíocre Rock of Ages aqui, não vem de não ser muito fã de musicais, mas sim dos defeitos desse que é um dos filmes mais estúpidos, infames e, consequentemente, hilários do ano (e não nas cenas em que ele se propõe a ser “hilário”).
Vamos começar pela imbecilidade dos roteiristas ao ambientar o filme em 1987. Em primeiro lugar, para um longa que se propõe a ser uma “homenagem” aos “anos do Rock N’ Roll”, essa não é uma época em nada apropriada, já que, nesse período, já não vemos o Rock puro, o Rock de verdade, mas um Rock mais decadente que está dando lugar a gêneros musicais menos louváveis. Se é para fazer uma homenagem, que se ambientasse nas décadas de 60/70 então, que daria muito mais certo e faria muito mais sentido (não estou dizendo que não tinha bandas boas na década de 80, mas que essa não era uma década nem metade Rock N’ Roll como as de 60/70). Mas se ambientar em 87 até faria sentido, já que o filme acha que está fazendo um protesto de que o “rock não morreu” diante dos outros gêneros musicais que estavam surgindo, mas ele mesmo apunha-la o Rock bem no seu coração, como discutirei mais tarde (no penúltimo parágrafo).
Ainda sobre o período em que o longa se passa, temos mais uma prova da triste falta de neurônios dos roteiristas quando vemos um grande números de conservadores e religiosos fazendo protestos enormes contra o Rock, o que não faz o menor sentido numa época em que Pink Floyd, The Doors, Rolling Stones, The Beatles, etc, já tinham deixado multidões loucas, e feito a cabeça da população. Assim, provavelmente ainda existiriam protestos, só que só por parte daqueles muito conservadores e religiosos, e não de uma parcela tão considerável da população que se atreveria a fazer protestos na frente de uma boate, como vemos aqui. Porém, se o longa se focasse nessa subtrama (e ele se esquece o tempo inteiro de que ela existe, apenas para lembrar-se bem depois, numa completa falta de estruturação de roteiro) ele ainda se sairia bem melhor do que o que realmente acontece, mas os roteiristas acham de verdade (o que me leva a considerar que eles realmente tenham algum tipo de problema psicológico) que qualquer um dos espectadores se importa o mínimo com o RIDÍCULOromance de Drew (Diego Boneta) e Sherrie (Julianne Hough).
Depois de se conhecerem e passarem um tempinho juntos, se apaixonam loucamente e não conseguem se desgrudar. Por favor, seu roteiristas imbecis, um amor de verdade leva tempo para se mostrar, e, começando a se “amar” dentro de algumas horas, sem nem tendo conversado direito e conhecido aquela pessoa, suas ideias e personalidade (como Antes do Amanhecer de Richard Linklater, fez tão bem), você não sente amor. Drew e Sherrie, o que vocês sentem um pelo outro não é amor: chama-se tesão (e o fato de Sherrie se apaixonar por Drew me leva a pensar na possibilidade de que a personagem seja lésbica, já que há tempos não via um personagem tão acidentalmente afeminado quanto esse). Usando-se de todo e qualquer clichê ao qual possam se agarrar, os roteiristas vão desenvolvendo porcamente esse romance que já começou mal, levando a diversas briguinhas e desentendimentos por parte do casal, que entendem uma situação de maneira distorcida, brigam, ficam deprimidos e depois descobrem que estavam errados um sobre o outro e voltam, vivendo felizes para sempre. Isso já seria absurdamente ridículo, mas os roteiristas pioram ainda mais a situação ao colocar um tempo de, no máximo, três dias para que seu “dramático” rompimento por falta de entendimento ocorra. Meu Deus, com três dias VOCÊ NEM CONHECE A PESSOA!!! E se não forem só três dias, os roteiristas ainda erram por não deixar que o espectador perceba a dimensão do tempo em que ocorre o filme, que parece acontecer em uma semana, mas aparentemente dura meses (isso se eu considerar que o roteiro possui alguma lógica real).
O romance ainda piora quando vemos o nível de seus atorzinhos. Se Julianne Hough é linda de se olhar (e como é), ela é um lixo como atriz, interpretando a já batida garotinha inocente em busca de um sonho e que encontra o amor. Pff. E agora, esse Diego Boneta... hahahahahahahahaahahahah. MEU DEUS, QUE MERDA DE ATUAÇÃO FOI ESSA?! Desculpem eu falar assim, mas não tem jeito melhor de se expressar. Fazendo cara de babaca, imbecil e imaturo de coraçãozinho partido o filme inteiro, o ator acha mesmo que dá alguma dimensão à esse “personagem”, enquanto apenas dá uma de Justin Bieber o tempo inteiro. E o personagem é porcamente escrito, para variar, sendo que ele é um sujeito que tem a mesma compreensão sobre relacionamentos que um garotinho de 11 anos teria, ou até menos. E como assim ele diz que “tem medo de palco” mas não hesita nem um pouco na hora de cantar? Aliás, o momento em que ele diz que tem “medo de palco” é hilário (acidentalmente), já que já o vimos cantando e dançando numa loja e (o que é ainda mais medíocre) ele, logo antes de dizer isso, estava cantando uma canção. Já o resto do elenco, o que vemos é um completo desperdício de talento, já que temos grandes nomes aqui. Catherine Zeta-Jones está desprezível como Patrícia Whitmore, baseando sua performance num festival de exageros. Paul Giamatti... que porra que ele tá fazendo aqui? O cara de Sideways e Anti-Herói Americano, o que que possivelmente atraiu sua atenção no personagem do agente Paul Gill?! Alec Baldwin se diverte, mas não é o bastante para tornar seu personagem menos estúpido (e a sua relação com o personagem de Russell Brand – outro que está horrível e exagerado – pode ser inesperada, mas não faz sentido e soa apenas como tentativa de se fazer humor, falhando, obviamente). E, meu Deus do céu, Bryan Cranston? Por tudo que seja mais sagrado ou profano em todo o Universo, em qualquer religião, POR QUE ELE FAZ ISSO CONSIGO MESMO????!!!!!! Ele é um gênio da atuação, e provou isso interpretando de maneira impecável e detalhista o protagonista do seriado Breaking Bad, Walter White. Ele deveria só ter personagem bom, mas ele parece se menosprezar completamente, aceitando apenas papéis médios ou medíocres no Cinema, e não há como não perceber isso ao observar seus papéis em John Carter, O Vingador do Futuro, Larry Crowne, ou esse Rock of Ages. O único filme em que ele está bem é o beloDrive , e ainda assim não é lá um grande papel. Ele é Walter the fucking White, um dos personagens mais complexos e fascinantes que já vi, e se rebaixa a papéis como esse, do escroto e dispensável Mike Whitman (e a imagem congelada em que aparece nos créditos finais seria motivos para sérios problemas caso o Sr. White tivesse visto o que fizeram com seu corpo).
Para não dizerem que reclamo o tempo inteiro, a atuação de Tom Cruise está realmente digna de nota. Construindo com cuidado o seu Stacee Jaxx, Cruise acerta numa composição depressiva, trágica mas forte e imponente, que transforma Jaxx em uma figura misteriosa e complexa, que sempre nos deixa atiçados para conhecê-lo um pouco mais. Mas o roteiro não poderia deixar algo tão bom em um filme tão medíocre, e assim, através de falas estúpidas e clichês de uma jornalista, como “você é um homen solitário” ou “você usa isso como uma máscara”, tenta simplificar o personagem, tirando assim a complexidade que Cruise tinha conseguido até então. Porém, mostrando-se um astro inteligente, Cruise vira a mesa e entrega um monólogo fascinante e intenso, que, aí sim, deixa o personagem mais trágico e fascinante (“eu sou um escravo do Rock”). O roteiro, ainda assim, quebra as pernas de Cruise e, novamente, simplificam o personagem ao entregar-lhe um arco dramático patético e clichê, que confirmam as simplificações feitas pela jornalista. Uma pena...
Ainda como musical em si, Rock of Ages se mostra novamente imbecil, investindo em uma quantidade absurda de números musicais que, muitas vezes, não tem nem um minuto de distância temporal um do outro. E o medíocre cineasta Adam Shakman (do também horrível Hairspray) demonstra completa falta de talento na condução dos números musicais, que surgem chatos e burocráticos (por mais que ele tente evitar isso através de cortes rápidos). E Shankman também não demonstra nenhum talento nas cenas mais “intimistas” (ou que acham que são intimistas), se mostrando um lixo no desenvolvimento de seus personagens. Além disso, eu não preciso ser um dançarino nem especialista nisso para dizer que as coreografias do filme são deprimentes e nada empolgantes, não apresentando nenhum momento mais inspirado ou criativo que seja. E Shankman mais uma vez se mostra um completo panaca ao filmar cenas musicais focadas em determinados personagens apenas para desviar a atenção destes e focar em outros personagens que não tem nada haver com a situação, que surgem cantando e dançando, mesmo não tendo nada haver com o contexto, e nem mesmo estando perto daqueles nos quais o número musical é focado. É hilário o número de vezes em que isso acontece, já que são vários os momentos em que Drew e Sherrie começam a cantar “a distância” e logo vemos Jaxx cantando junto em sua mansão, e, puta que pariu, uma dona de uma boate, sem qualquer importância, aparecendo cantando junto!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Meu Deus, que tipo de cineasta pode fazer algo tão... estúpido?! ELA NÃO TEM IMPORTÃNCIA NO FILME, ENTÃO POR QUE APARECE CANTANDO JUNTO COM OS PROTAGONISTAS, SENDO QUE NÃO TEM NEM UM ARCO DRAMÁTICO PRÓPRIO JUSTIFICADO PELA LETRA DA CANÇÃO???!!!! Uma personagem completamente desnecessária, como 95% dos personagens deste “filme”.
Mas, acima de todos os horrores oferecidos pelo longa, o pior dele é achar que é Rock n’ Roll. Ele pode ter algumas canções Rock n’ Roll, mas esse longuinha aqui é pop. É pop descaradamente. As canções, em sua grande maioria, suas melodias, letras, são pop. Não há nem discussão. Não tem NADA que as caracterize como Rock. Não há como entender o por que dos personagens celebrarem que o Rock não morreu, sendo que o que eles fazem e cantam aqui não tem nada de Rock. Tem haver com o que há de mais emo em qualquer canção pop da atualidade, isso sim. E o filme ainda tenta fazer uma crítica bem vinda ao Rap, mas falhando nisso também para variar, já que o Rap cantado aqui não distancia muito das supostas canções “Rock” que os personagens tanto adoram cantar (de fato, se não fosse pelo contexto e visual da cena, não seria capaz de diferenciar os tipos de música).
Assim como Chernobyl (
http://mestredeobras.blogspot.com.br/2012/07/resenha-filme-chernobyl-chernobyl.html ), Rock of Ages é tão medíocre que chega a ser engraçado (se você estiver disposto a rir bem alto da desgraça de ter gastado dinheiro com isso). Se se focasse no personagem de Tom Cruise, e contasse com um cineasta e roteiristas melhores, e que também entendessem de Rock n’ Roll, o longa teria futuro. Mas não é assim, e é um dos piores filmes do ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário