Breaking Bad, série completa, SPOILERS!
por
Lucas Wagner
Quem me conhece sabe da
minha paixão pelo seriado Breaking Bad,
tanta paixão que eu dedicava tempo até para comentar um pouquinho sobre cada
episódio. Com o fim da série, decidi escrever um texto mais completo, que
acabou grande demais, mas que dividi em tópicos analíticos que estruturam
melhor o texto além de tentar tornar a leitura menos maçante. Para quem se
interessar, ai está:
HEISENBERG
Ao crescermos e nos tornarmos adultos é
inevitável alguma decepção, alguma sensação de perda, de que talvez esperássemos
mais do que do que os rumos que nossa existência tomou. A vida em família,
calma e pacata, apreciando as pequenas coisas do cotidiano, tem suas vantagens,
mas há uma força maior no ser humano que o impulsiona a almejar mais de sua
vida. Essa força pode adquirir proporções monstruosas e consumir tudo, já que,
há tanto represada, agora se vê livre e solta para jogar sua fúria sobre todos
aqueles que antes à prensavam.
O que quero dizer é que todo mundo tem um
pouco de Heisenberg dentro de si, embora nem todos cheguemos a ponto de
liberá-lo com tanta fúria e vontade como fez Walter White. E talvez seja esse o
maior dos inúmeros motivos de Breaking
Bad ter sido um dos seriados mais fascinantes e aclamados de todos os
tempos. Mas vamos com calma. Nesse texto quero dissecar um pouco do meu amor
apaixonado pelo seriado.
Endividado até o pescoço, com uma filha por
chegar e um filho com problemas físicos, Walter White já teria com o que
iniciar uma depressão. Junte à isso o fato de ser um excepcional químico que
tem que se contentar com um trabalho como professor de ensino médio e como
caixa de um lava-jato, além da vergonha de ver antigos colaboradores fazendo
tanto sucesso com uma empresa que já foi parte sua, e ainda acrescente um
orgulho ferido. Agora, só para completar, esse homem pacato e decepcionado
consigo mesmo descobre ter câncer de pulmão, sendo que nunca nem mesmo pôs um
cigarro na boca. E tem-se o composto orgânico que é White.
O seu câncer, no entanto, serviu como um
impulso para o professor colocar sua vida em perspectiva e soltar um pouco da
raiva que tinha dentro de si. Assim, é com alegria que vemos seu sorriso
eufórico quando manda seu chefe do lava-jato “se fuder” ou danifica o carro de
um babaca engravatado arrogante. Mas ele vai morrer, e sua família precisa de
dinheiro. Ele coloca seu conhecimento de química para produzir metanfetamina,
pura e impecável, ao lado de seu antigo aluno, e agora traficante, Jesse
Pinkman (Aaron Paul). O perigo e a proximidade da morte que Walter enfrenta lhe
excita e assusta, e até sua vida sexual melhora. Ele pode sentir o sangue
fluindo de novo, algo que não acontecia à muito tempo.
Walter cria o codinome Heisenberg (físico
importante da História) para fazer seus negócios sujos. Mas a euforia e eletricidade
dessa nova vida o suga completamente. Aos poucos, vamos presenciando uma
dolorosa metamorfose do bom homem de família, trabalhador e gente boa, num
psicopata frio e sedento por poder. Walter vira Heisenberg. E para isso, é
fascinante como os realizadores vão trabalhando as contradições inerentes desse
personagem. Seria absurdo que de uma hora para outra ele se tornasse um vilão
todo poderoso. Assim, a série vai desenvolvendo sua relação com Jesse de forma
brilhante, com esse servindo como uma ponte para a completa vida de crimes de
White. Para que ele pudesse abraçar totalmente as trevas.
Explico: White é um homem de família, e a ama
demais. Para que Heisenberg tomasse conta, ele precisaria estabelecer um
vínculo, à principio, familiar com aquele novo universo, assim justificando sua passagem. E Jesse
acaba se tornando esse vínculo, como um filho simbólico, algo que a série
demonstra com absoluta maestria em momentos sublimes, como na 2ª temporada,
quando faz uma rima visual com Jesse e Holly (a filhinha de Walt), quando o
primeiro, depois de usar heroína, é instruído a deitar de lado para o caso de
vomitar, e uma cena antes tinham instruído Walt a colocar a menina do mesmo
modo no berço; ainda há o momento, na 4ª temporada, em que Walt Jr colocar o
pai para dormir, e este, logo antes de adormecer, confunde o filho com Jesse. É
icônico ainda que, no fim da 3ª temporada, Walt mate um homem sem nem piscar
com o pretexto de proteger Jesse, enquanto na primeira temporada tinha demorado
três episódios para matar Krazy 8.
Assim, outro simbolismo maravilhoso surgiu
naquele que é, para mim, o melhor episódio da série, “Fly”, da 3ª temporada.
Dirigido por Rian Johnson (responsável por filmes excelentes como Looper e Na Ponta de um Crime), o episódio parava o desenrolar da trama para
trabalhar diversos simbolismos, embora um fosse mais importante: o da mosca que
Walt tenta tão desesperadamente matar. A mosca lembra a metamorfose vivida por
Jeff Goldblum no filme A Mosca, de David
Cronenberg, que por sua vez lembra o conto “A Metamorfose”, de Kafka. Se isso
já é interessante, mais fascinante ainda é observar que tal simbolismo é
construído para mostrar Walter colocando sua “cabeça para fora da água”,
pedindo socorro pelo Heisenberg que o consome. Vemos o químico afundando em si
mesmo, gritando por ajuda por não conseguir evitar o que virá, a tempestade que
a todos destruirá.
A 4ª temporada trás duas situações
importantíssimas para o afloramento total de Heisenberg: a proximidade da morte
promovida pela figura do vilão Gus Fring e por Skyler estar tentando reatar a
relação familiar com Walt. Com a possibilidade de morrer e também de ter que
voltar à vida pacata da qual conseguiu escapar um pouco, Walter se retrai e
começa a dar total brecha pra Heisenberg (que tinha ficado levemente retraído depois
da separação de Skyler, no 3º ano). Afastando Skyler violentamente (“EU SOU O
PERIGO!”, ele diz para ela), Walt vira 100% Heisenberg quando mata Gus,
soltando uma de suas mais importantes falas até então: “Eu venci”. Ele não quis
dizer que salvou a família e à si mesmo, mas que jogou um jogo macabro e saiu
vitorioso. O professor de química humilhado, derrotado à tanto tempo, saiu vencedor e abraçaria essa vitória com toda a fúria existente. E assim, a primeira metade da 5ª temporada deixa Heisenberg solto, e
vemos toda a dimensão de sua maldade e poder através do simples prazer que ele
sente ao ouvir seu nome (“Say my name!”), até que ele vai, mais ou menos,
percebendo os danos dessa sua personalidade, que o tornou um homem temido, mas
também solitário. E na segunda metade da 5ª temporada, Walter tenta reconstruir
sua vida longe de Heisenberg, mas a metamorfose que sofreu foi profunda demais
para isso, e o personagem ainda evidencia diversos traços de comportamento que denunciam
a sobrevivência de seu alter ego. Ele chega mesmo a “evocar” Heisenberg em
momentos que precisa controlar e manipular, apelando para isso mesmo em relação
ao seu cunhado Hank, que agora descobriu seu segredo.
E assim chegamos à perfeição desse fechamento
da série. Tal como o Ozymandias do poema que dá nome ao anti-penúltimo episódio
do seriado, Walt é uma espécie de imperador que foi arruinado, e tudo,
absolutamente tudo que tinha construído, foi jogado por água abaixo. Como esse
lendário homem se comporta nesse ambiente? De forma extremamente complexa, com
certeza, onde os roteiristas demonstraram absurda compreensão do personagem que
criaram, e lhe deram um fechamento impecável. Walter reconhece o câncer que
Heisenberg foi em sua vida. Destruiu sua família, matou gente que amava, lhe
transformou em um fugitivo. Mas Walt foi capaz de se compreender ainda mais:
ele sabe que gostou da jornada que teve como Heisenberg, sabe que ela lhe fez
bem, e sabe que, muito provavelmente, a faria de novo. Isso fica evidente
quando Skyler diz “Por favor, não quero ouvir de novo a história de que você
fez tudo isso por nós”, e ele responde: “Não. Fiz por mim. E eu gostei. Eu
estava vivo”, depois de o vermos tantas vezes afirmar falsamente (embora ela acreditasse na veracidade da fala) que tudo o que fez, fez pela família. É essa melancolia profunda que ele atinge na sua autoanálise que
é tão linda.
Essa melancolia, aliás, se reflete na construção
desse belo último episódio da série. Ao invés de investir num capítulo explosivo
e furioso, o diretor Vince Gilligan (criador do seriado) tira a trilha sonora
original e só permite sons diegéticos (origem no ambiente), e investe numa
montagem calma e pausada, que reflete não só a melancolia, mas a resignação de
Walter ao realizar seus últimos atos. Ele sabe que é um suicídio, mas ainda
assim demonstra inteligência e controle de si mesmo ao, por exemplo, não explodir
com Elliot e Gretchen, mas fazer o que era necessário (lhes entregar o
dinheiro) para só depois degustar um pouco de uma tortura psicológica
angustiante contra os dois. Aliás, a performance de Bryan Cranston nesse último
episódio foi sublime e impecável, pelo ator trabalhar até mesmo em um tom de
voz que traduz cansaço e, mais importante ainda, calma. Walter não está com
raiva. Está plenamente consciente de seus atos e de aquele é o fim.
E aqui
é que está o elemento mais importante: ele olha para toda sua vida com certa
tristeza, mas também com orgulho do que viveu. Pode ter sido uma vida
transtornada, mas ele experimentou o poder de ser um homem perigoso e lendário,
a proximidade da morte, o amor de uma mulher, o carinho dos filhos, o calor de
uma amizade, a euforia de uma conquista...e fez tudo isso muito bem. Pode ser
que ele tenha destruído tudo, mas ele ainda assim viveu tudo isso. E assim, seu último olhar para Skyler é de
profunda significação: ele a olha, como que com uma leve despedida, e logo
desvia o olhar. Assim também com Jr, que observa apenas de longe, ou Jesse, a
quem salva e evita qualquer manipulação, sendo que a troca de olhares dos dois
no fim do episódio é um momento repleto de significados, por trazer, naqueles
poucos segundos, uma despedida dolorosa de uma aventura trágica, e de uma relação
conturbada, destruída, mas ainda assim, de pai e filho. Ele ainda se despede de
seu produto, passando a mão com carinho nas máquinas que se usa para produzir
metanfetamina, com um sorriso que revela certo orgulho por ter sido capaz de
produzir um produto de alta qualidade (e não é a toa que deixe uma marca de
sangue na máquina que toca).
E assim Walter White/Heisenberg morre como
homem consciente de seus erros e de sua própria vida, consciente de que essa
valeu a pena. Ele a viveu de forma destrutiva, mas ainda assim a viveu. Assim,
Walter se tornou um dos personagens mais complexos da História da ficção, não devendo
em nada à ícones como Michael Corleone, Travis Brickle, Jack Torrance ou, até
mesmo, Bentinho.
RÁPIDA
E INJUSTA PASSAGEM PELOS OUTROS PERSONAGENS
Breaking
Bad não só é o estudo de Walter, mas de diversos outros personagens que
vieram a se tornar íntimos do espectador. E cada um deles merecia não um texto,
mas um livro apenas para discuti-los em detalhes. Infelizmente, só vou poder
fazer isso em alguns parágrafos, algo inerentemente injusto.
JESSE:
Vamos começar, é claro, por Jesse Pinkman. A
trajetória de Jesse no seriado é de moleque irresponsável e inconsequente para
um homem deprimido e trágico. No início, era o máximo ver seu lado rebelde e
babaca, repetindo a expressão “Yo, bitch!” constantemente, mas contingências
complexas fizeram com que ele fosse amadurecendo. Assim, na passagem da
primeira para a segunda temporada, Jesse foi renegado pelos pais, viu gente
morrer e teve que aprender a derreter corpos em ácido. Isso foi fortalecendo-o,
mas não matou, e sim ressaltou seu lado sensível. E isso é muito importante:
Jesse é um cara extremamente sensível. Seu envolvimento com drogas o afastou da
família, gerando uma lacuna afetiva que ele buscou suprimir através de
relacionamentos amorosos como aquele que viveu com Jane e depois com Andrea, ou
relacionamentos de caráter filial, como com Walter e Mike.
Mas a
vida, o envolvimento com crimes, foi empurrando o garoto contra a parede: Jane
morreu, Mike morreu, Andrea morreu (só que mais para frente) e, no fim das
contas, ele percebe que foi Walter o grande culpado. Isso só o destrói ainda mais.
Interessante é notar como, a partir de certo momento, Jesse parece querer afastar-se
de seus relacionamentos, numa atitude altruísta que visa proteger seus amados,
como quando termina com Andrea. Mas a vida de crimes não era para ele, e por
mais que ele tentasse se esconder sob uma armadura de frieza e irritabilidade
(como no início da 4ª temporada, logo depois de ter matado Gale), essa (a vida
de crimes) acabou o consumindo por completo, ao ter que presenciar a morte de
uma criança como se não fosse nada (isso na primeira metade da 5ª temporada); o
pior de tudo, na verdade, foi a percepção de que aquele que era o seu maior
esteio, Walter, ter se revelado um psicopata manipulador. Assim, é curioso que
em certo momento do último capítulo Jesse tenha um delírio de que é um
carpinteiro, trabalhando sob uma luz divina, enquanto na verdade está
produzindo metanfetamina. É uma maneira de Gilligan o mostrar como um mártir
sofredor (Cristo).
A performance de Aaron Paul foi mais do que
essencial para o desenvolvimento de Jesse, já que surgiu intensa como necessário,
com o ator abraçando toda a intensidade, tragidicidade e sensibilidade do
personagem.
SKYLER:
Apesar de muitos
adorarem falar mal dela, Skyler é uma personagem fascinante com um arco
dramático extremamente complexo. Mãe e esposa dedicada, a série já acertava ao
pintá-la como uma figura justa que desprezava a corrupção (lembram-se de seu
desgosto ao perceber que Ted Beneke, seu chefe, era metido com sujeira?).
Assim, sua passagem para cúmplice de Walter no crime foi feita com sutileza,
para que a mudança não surgisse como brusca. Foi feita de modo pausado o
suficiente para que compreendêssemos que ela mudou pelo bem da família, pela manutenção
do lar que construiu. Só que essa mudança também transformou sua personalidade,
e existiam momentos em que ela afundava no medo e no pânico, numa depressão profunda
em que só o amor pelos filhos impedia que ela se matasse (e assim, o momento em
que mergulha na piscina, de roupa e tudo, na 5ª temporada, é um lindo símbolo
para sua tentativa de se purificar do mundo sujo em que vive); mas também ela
se tornou uma tremenda estrategista, capaz de calar sentimentos profundos em
prol do uso da razão, como quando cala sua dor por Ted (no início da 5ª
temporada) para mostrar frieza e determinação. Para completar, sua despedida da
série foi memorável por permitir que vislumbrássemos surpresa em seu olhar
quando Walter admite que tudo o que fez foi por motivos egoístas. Depois,
quando o ex-marido segura Holly no colo, ela o observa com nostalgia, como se
por um breve instante conseguisse enxergar o homem com quem se casou.
E podem falar o que quiserem da suposta “frieza”
na interpretação de Anna Gun, e eu ainda assim retruco dizendo que sua
performance foi impecável, delicada, e demonstrou a complexidade de uma mãe de família
e esposa amorosa sendo obrigada a se adaptar à um ambiente aversivo.
HANK:
A trajetória de Hank
pode ser muito bem representada por um plano do primeiro episódio da segunda
metade da 5ª temporada. Ele estuda vários papéis freneticamente para
estabelecer a ligação entre Walter e Heisenberg, colocado no fundo do quadro,
enquanto em primeiro plano vemos a propaganda da cerveja caseira que
antigamente produzia. Seu arco dramático reside justamente no de um homem gente
boa, alegre e brincalhão, que por orgulho ferido acaba se “embrutecendo”,
chegando no ápice de sua transformação quando descobre a verdade sobre Walter.
Foi fascinante acompanhar sua confusão sentimental nessa última temporada, por
ter que encarar seus próprios familiares como inimigos. Aliás, foi justamente
isso que por vezes o cegou, como ao não conseguir enxergar que Skyler era uma
cúmplice. A atuação de Dean Norris, vale dizer, foi impecável na intensidade
crescente que o ator foi dando a Hank.
MIKE:
O guarda costas “resolvedor
de pepinos”, matador sanguinário e ex-policial, foi capaz de conquistar o
espectador pelo amor incondicional que tinha pela netinha. Aliás, é basicamente
a sublime performance de Jonathan Banks que permitiu que o personagem crescesse
tanto, já que o ator apostou num olhar de “peixe morto” que revelava o cansaço
de alguém que já viu muito do mundo e que muito pouco o impressiona. Nunca
esquecerei o momento em que tem sua orelha parcialmente decepada e solta um
suspiro de quem diz: “que saco”. Genial.
GUS:
Ele pode ter morrido na 4ª temporada, mas
merece menção por ter sido um vilão absolutamente genial em sua frieza e perfeição
técnica, que sempre evitava que fosse pego, já que apresentava cuidado e inteligência
excessivas em sua prática como traficante. Nos aproximamos dele mesmo, no
entanto, quando descobrimos que toda essa sua atitude “meio autista” era na
verdade sintoma de um homem que aprendeu desde muito cedo que acreditar e
confiar nos outros era pedir para ter problemas no futuro.
TODD:
Podem querer me bater,
mas Todd foi o maior antagonista que essa série já teve. Sua natureza infantil
é palpável. Ele é inseguro, tem uma feição juvenil, é doce e gentil. Mas revela
uma natureza maligna fascinante em atitudes como matar, a sangue frio, uma
criança(na primeira metade da 5ª temporada) ou ainda pelo detalhe genial da
atuação de Jesse Plemons no sorrisinho que dá quando vê Jesse o destruindo em
um vídeo, já que sabe que Pinkman nada mais fará já que está sendo feito de
escravo por ele e sua gangue. Mas como não se maravilhar com esse psicopata que
ainda dá sorvete para sua vítima simplesmente por achar que fazer isso seria de
bom grado?
MARIE:
De princípio estabelecendo-se como a personagem mais chata da série, Marie foi ganhando mais dimensão principalmente após Hank ter quase sido assassinado pelos gêmeos da 3ª temporada, já que ai ela demonstrou a dimensão do amor pelo marido e também seu valor como esposa, quando se mostrou dinâmica e resistente ao aguentar o mal humor de Hank quando este necessitava de cuidados especiais. Pessoa claramente desestabilizada emocionalmente, Marie, se vendo contra a parede em situações adversas, descarregava frustrações através de sua cleptomania, e as sequências que mostram a mulher indo em várias casas p vender, inventando histórias mirabolantes sobre sua própria vida enquanto roubava algo, era um claro sintoma de alguém que não conseguia lidar tão bem com sua própria personalidade (assim, o plano plongée da 3ª temporada em q a vemos numa calçada toda estragada é um símbolo claro p sua psiquê).
Interessante é, no entanto, notar como nessa última temporada ela pareceu assumir uma posição até mesmo vingativa em relação à Skyler, qnd descobrei a vdd sobre Walt, como se se vingando finalmente da "superior" irmã
WALTER JR:
De princípio estabelecendo-se como a personagem mais chata da série, Marie foi ganhando mais dimensão principalmente após Hank ter quase sido assassinado pelos gêmeos da 3ª temporada, já que ai ela demonstrou a dimensão do amor pelo marido e também seu valor como esposa, quando se mostrou dinâmica e resistente ao aguentar o mal humor de Hank quando este necessitava de cuidados especiais. Pessoa claramente desestabilizada emocionalmente, Marie, se vendo contra a parede em situações adversas, descarregava frustrações através de sua cleptomania, e as sequências que mostram a mulher indo em várias casas p vender, inventando histórias mirabolantes sobre sua própria vida enquanto roubava algo, era um claro sintoma de alguém que não conseguia lidar tão bem com sua própria personalidade (assim, o plano plongée da 3ª temporada em q a vemos numa calçada toda estragada é um símbolo claro p sua psiquê).
Interessante é, no entanto, notar como nessa última temporada ela pareceu assumir uma posição até mesmo vingativa em relação à Skyler, qnd descobrei a vdd sobre Walt, como se se vingando finalmente da "superior" irmã
WALTER JR:
Filho dedicado, Junior tinha o pai num pedestal, alem de amar muito a
mãe. Quando via sua família desestruturada sem poder compreender mesmo o q
estava acontecendo, Jr assumia uma posição sempre defensiva em relação aos
aparentemente inocentes (nesse caso Walter). Aliás, era comovente ver sua
vontade de impressionar o pai mesmo quando esse abusava dele, como na 2ª
temporada, em q o fez beber até vomitar.
Essa personalidade foi construída p tornar mais trágico o momento q
descobrisse sobre Walter ser criminoso, já q o choque da descoberta teria muito
mais relevância. E tal estratégia dos roteiristas foi extremamente bem
sucedida.
SAUL:
Sacana, esperto, enganador e falastrão, Saul Goodman foi um picareta
maravilhoso cuja natureza desconexa ficava demonstrada com perfeição através de
seu constante terno cujas medidas surgiam maiores do q o necessário (detalhe
fantástico do figurino). Mesmo sem muita força dramática, acompanhar Saul e
suas sempre sublimes tiradas era um deleite para os fãs de Breaking Bad.
SUPERIORIDADE
NARRATIVA DE BREAKING BAD
Uma coisa que sempre me fascinou demais no
seriado foi a capacidade de seus roteiristas e diretores de confiar no
espectador, o que permitiu que o seriado desenvolvesse uma narrativa
sofisticada e intensa.
Muitos iniciantes no seriado se irritam por
seu ritmo pausado, desejosos de ver “coisas acontecendo”. Ora, isso para mim
revela enorme imaturidade. Na verdade, é um puta acerto do seriado de evitar “ação
demais” e dedicar enorme tempo ao desenvolvimento dos personagens e das relações
entre eles. É justamente por isso que, quando tem ação e suspense, Breaking Bad se sai melhor do que
qualquer outro seriado; afinal, temos uma ligação emocional com aquelas pessoas
e sua morte iria, inevitavelmente, nos afetar.
Além disso, o seriado conseguiu a proeza de
muitas vezes deixar o espectador sinceramente surpreso ou sem conseguir
enxergar para onde a história iria caminhar. Peguemos, por exemplo, o início
dessa segunda metade da 5ª temporada. Depois que Hank descobriu a verdade sobre
Walter, deduzimos que ainda demoraria para ele encarar o lendário Heisenberg,
mas os roteiristas fizeram isso ainda no primeiro episódio da segunda metade, “quebrando
as pernas” do espectador de conseguir fazer qualquer previsão que fosse.
O realismo de Breaking Bad (embora por vezes quebrado) também foi uma de suas
maiores virtudes, já que as situações se tornavam palpáveis. Até mesmo o modo
que lidaram com o acidente de Hank, na 3ª temporada, foi impecável, já que a
dificuldade de reaprender a andar foi demonstrada perfeitamente e com a crueza
necessária; aliás, esse acidente continuou mantendo suas sequelas até o fim da
série. O humor do seriado também se revelou genial, apesar de ter diminuído
gradativamente (o que foi um acerto), mas sempre se mostrou ácido e perspicaz. Como
já tinha dito, a confiança no espectador foi outra grande virtude, já que os
realizadores evitaram ficar martelando situações óbvias.
O melhor de tudo na narrativa é a construção de conflitos fascinantes em que os lados opostos apresentavam imensa inteligência e perspicácia. Cada um dos oponentes (Walter vs Gus; Walter vs Hank; etc) tinha a habilidade de antecipar os movimentos do outro, criando assim um jogo intenso e imprevisível, além de muito mais empolgante por, acima de tudo, compreendermos os dois lados da moeda.
O melhor de tudo na narrativa é a construção de conflitos fascinantes em que os lados opostos apresentavam imensa inteligência e perspicácia. Cada um dos oponentes (Walter vs Gus; Walter vs Hank; etc) tinha a habilidade de antecipar os movimentos do outro, criando assim um jogo intenso e imprevisível, além de muito mais empolgante por, acima de tudo, compreendermos os dois lados da moeda.
SUPERIORIDADE
TÉCNICA DE BREAKING BAD
Apesar de tudo isso que falei no texto até
agora, o que eu mais amei no seriado é sofisticação absoluta da sua construção técnica,
que o coloca acima da maioria das obras cinematográficas da atualidade. Pois o
fato é que Breaking Bad sabe usar
imagens para contar sua história, preferindo apostar na construção de ironias e
poesias visuais que dizem muito mais do que se os personagens discorressem
longamente sobre determinado assunto.
Primeiramente, as cores. Breaking Bad estabeleceu, desde início, uma ligação íntima com
cores. A família era representada por azul, e o crime pelo vermelho e amarelo.
Logo, no início da série, Skyler vestia sempre azul, e Jesse vermelho e
amarelo. Mas Walter sempre verde. Por quê? Misture azul (família) com amarelo
(crime) e tem-se a cor verde. Walter era, no início do seriado, uma mistura das
influências familiares e da nascente vida no crime. Mas essa lógica foi
mudando, como não poderia deixar de ser. Em certo momento, Jesse parou de usar
vermelho e amarelo, quando começou a se afastar emocionalmente do crime (quando
Jane morreu, na 2ª temporada), e Skyler parou com o azul, quando passou a usar
mais branco como uma cor neutra das influências da família. Já Walter passou a
usar mais vermelho e branco, apenas usando azul ou verde em momentos
estratégicos.
Essa lógica das cores não se ateve “apenas”
ao figurino, mas também aos elementos do cenário. Quando se depara com sua casa
destruída, Walter vê o nome “Heisenberg” pichado de amarelo na parede, ou ainda
Jesse, quando Badger e Skinny Pete discutem Star
Trek, tem atrás de si uma televisão em que imagens psicodélicas das cores
amarelo, verde, azul e vermelho se misturam interminavelmente, numa representação
clara de seu estado mental confuso e obscuro, repleto das influências que foi
recebendo ao longo do tempo. Também, no último episódio, quando está no carro
parado, um carro da polícia passa por Walter, lhe jogando no rosto as cores
azul e vermelho, enquanto ele diz para si, acreditando que ia ser pego, “apenas
me leve para casa”. Nessa mesma lógica impecável, o símbolo da piscina que citei na segunda parte do texto, no subtópico sobre Skyler, é mais genial ainda se observarmos que ela mergulha numa piscina totalmente azul, buscando ser engolida pela simples e pura lógica familiar de antes (como disse: azul = família), que ela tinha abandonado no seu figurino (parecia agora só vestir branco). Acima de tudo, essa lógica das cores assume um detalhe de brilhantismo absoluto no último episódio da 3 ª temporada, quando, em um ambiente de Laser Tag, Jesse e Walter ficavam piscando nas cores azul, vermelho e verde, numa referência genial ao momento dos video-games mais antigos em que o personagem está perdendo a vida, e fica piscando em cores; o fato das cores serem exatamente essas apenas torna tudo mais sublime.
O design
de produção também acertou ao explorar imensamente as possibilidades
narrativas dos ambientes. Assim, na 2ª temporada, era fascinante observar
Walter alucinado tentando consertar os alicerces de sua casa logo depois de ter
deixado Heisenberg extravasar ao fazer Walt Jr beber muita tequila e ter
brigado com Hank; era como se Walter estivesse tentando “corrigir o erro em sua
base”. Dessa forma também, o laboratório debaixo da lavanderia era
adequadamente vermelho.
Dirigido por verdadeiros gênios como Michelle
McLaren, Peter Gould e os já citados Vince Gilligan e Rian Johnson, além do
próprio Bryan Cranston, Breaking Bad apresentava
a capacidade de criar planos repletos de significados, que ainda conseguiam
estabelecer determinados estados emocionais em seus espectadores. McLaren, por
exemplo, fazia referências ao faroeste ao filmar Walter e Hank como pistoleiros,
em certo momento da 5ª temporada. Vários enquadramentos da última temporada,
por sinal, traziam seus personagens sozinhos em planos abertos, representando a
solidão em que se viam. Houve até mesmo um plano genial, nessa última temporada,
em que Walter era visto no lado de fora da casa de Andrea, e uma cruz católica
era visível bem perto da porta, como se o ícone religioso impedisse a entrada
do demônio (Heisenberg); nessa perspectiva ainda existe outro plano evocativo
em que o esqueleto de uma cabeça de boi era mostrado em primeiro plano enquanto
Walter era visto no fundo do quadro. A mise
en scéne (movimentação e posicionamento dos atores em cena) foi quase
sempre impecável em todo o seriado, passando ideias como a de Walter como um
poderoso chefão ao trazê-lo sentado enquanto Mike e Jesse ficavam em pé, ou
ainda ao trazer um plano com Skyler no ponto de fuga esquerdo (mais fraco,
trazendo ideia de inferioridade) e Marie no ponto de fuga direito (mais forte =
ideia de superioridade). Assim, Breaking
Bad acertou imensamente no sábio uso de técnicas cinematográficas complexas
para desenvolver ideias e relações.
Falando em técnicas cinematográficas, a
fotografia do seriado foi um de seus pontos mais fascinantes, por também
conseguir evocar diversas ideias. Observem, por exemplo, como essa última
temporada constantemente trazia seus personagens nas sombras, ou em ambientes
escuros, sem nenhum foco de luz. Isso foi algo muito observável na trilogia O Poderoso Chefão e que Breaking Bad usou em seu próprio beneficio,
clamando pela natureza sombria de seus personagens, além de ressaltar a situação
aterradora em que se encontravam. Também, há um plano nesses últimos episódios
que eu amo, com Walter no meio do quadro, enquanto Todd no fundo é iluminado
pela cor vermelha e seu tio Jack fica nas sombras, como um monstro. Aliás, no
último episódio podemos enxergar a inteligência da fotografia em diversos
pontos, como ao trazer, em um plano aberto, Walter iluminado por cores sombrias
enquanto Elliot e Gretchen ficam em um ambiente mais iluminado, quando ainda não
sabem do intruso em sua casa; também, é fascinante que a casa de Skyler venha
iluminada por uma coloração verde, ressaltando a influência massacrante que
Walter exerceu em sua vida.
A montagem também não poderia ficar de fora,
pois segue o mesmo principio dialético que Sergei Eisenstein tanto discutiu em
seu livro O Sentido do Filme. A
montagem é dialética por construir significados a partir da ordem de cenas
(lembram-se de Tempos Modernos, de
Chaplin, quando ele corta de ovelhas para operários saindo da fábrica?). Breaking Bad abraçou esse princípio com paixão
fervorosa e investiu pesado nesse recurso para contar a história. Um exemplo
perfeito seria um que citei na seção “Heisenberg”, sobre o corte de Holly
deitada de lado para Jesse sendo instruído a deitar do mesmo jeito, o que
transmite a ideia não só da relação pai/filho de Walt e Jesse, mas também da
carência emocional e meio orfã deste último ao compará-lo com um bebê. A
montagem também foi utilizada com perfeição com intenções cômicas, como na 1ª
temporada, quando de Hank falando sobre como Heisenberg é perigoso, corta para
Walter logo depois de acordar, se olhando mediocremente no espelho. Aliás, o
uso de raccords era um fetiche
constante dos realizadores, brincado a valer com o recurso, como ao cortar de
um sopro de Jesse para uma máquina de vapor em funcionamento.
Essa inteligência técnica do seriado também
foi utilizada como recurso apenas estilístico, em diversos momentos, o que deu
uma marca e charme próprios ao programa. A câmera, por exemplo, muitas vezes
era colocada em lugares inesperados, como skates, tanques de gasolina, braços e
pás, o que produzia um efeito visual curioso. E a trilha sonora também não poderia
deixar de ser comentada, já que, desde a poderosa e viril trilha original
composta por Dave Porter, até a seleção da trilha incidental (músicas
existentes selecionadas) se revelou impecável e dinâmica.
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Aqui
vai meu extenso porém incompleto e injusto texto sobre Breaking Bad. Não é possível fazer jus à toda genialidade do
programa, mas busquei descrever um pouquinho o por quê da minha paixão pelo
seriado, além de ter servido como desculpa para que eu pudesse passar mais
algumas horas mergulhado nesse fascinante universo que Vince Gilligan criou.
E como não amar uma série cujo último episódio chama FELINA = FE (ferro), LI (lítio), NA (sódio) = sangue, metanfetamina, lágrimas?
E como não amar uma série cujo último episódio chama FELINA = FE (ferro), LI (lítio), NA (sódio) = sangue, metanfetamina, lágrimas?
É...vai fazer falta viu...
Notas das temporadas: 1: ***** 4: *****
2: ***** 5: *****
3: *****
Cara, vc fez um tratado sobre BrBa! Que texto bacana! Concordo com tudo que vc disse, fico com mais "esperança na humanidade" qdo leio um texto reconhecendo a importância da personagem Skyler, que vive sendo pichada como chata e vagaba. Puro machismo e misoginia.
ResponderExcluirWalt conseguiu ser tão detestável pra mim que, num certo momento da 4a temp, me vi torcendo pro Gus, pois eu achava que ele tinha motivações muito mais sólidas pra entrar no ramo da meth e fuder com o Cartel.
Jesse sempre foi meu personagem favorito. Filho abandonado, filho adotivo, engraçado, triste, apaixonado, magoado, corajoso, medroso, inteligente, atrapalhado, enfim, tanta coisa dentro de um personagem que só poderia ser interpretado por um excelente ator. Não sei dizer se foi sorte do Vince Gilligan apostar nesse jovem e desconhecido ator pra encarnar Jesse ou foi sorte do Aaron poder mostrar todo o seu potencial com esse papel. No fundo, sorte de quem viu e se emocionou com cada cena linda de Jesse.
Destesto a Marie e o Walt Jr. Pronto, falei u.u
Fly é um dos meus top five episodes. Belo, sensível, pausa perfeita pra ressaltar a complexa relação entre Walt e Jesse. E tem gente que acha que é só um filler...
Confesso que a primeira vez que vi a série, me incomodei com o ritmo excessivo lento dos inícios de temps. Revendo, vi que é um recurso fundamental pra entender a estória, que é sobre pessoas, e não sobre aliens, zumbis, vampiros, etc....
Nunca vi um deserto tão lindo retratado num programa de tv. Michael Slovis é o cara.