Resenha filme "Os Mercenários 2" (The Expendables 2 / 2012 / EUA) dir. Simon West

por Lucas Wagner

Eu cresci assistindo (entre outros gêneros) aqueles longas de ação extremamente badass e violentos das décadas de 80/90, sempre adorando filmes como O Exterminador do Futuro 1 e 2, Duro de Matar, Soldado Universal (que hoje em dia não sou mais tão fã), Comando Para Matar, O Vingador do Futuro, Jogo Bruto, Rambo, etc. Eu era completamente viciado nesses filmes (o segundo Exterminador do Futuro continua sendo uma das coisas mais perfeitas que já assisti), e um longa atual trazendo grandes astros de ação desse período, no mesmo estilo “foda-se, eu vou é descer o cacete”, é uma ideia que, como cinéfilo devotado, me agrada demais. Assim, foi com decepção que nem mesmo um sentimento de nostalgia eu senti assistindo Os Mercenários de Sylvester Stallone, um longa falho como homenagem e cinema, que tinha tudo dos piores filmes de ação da atualidade, não conseguindo funcionar nem nas cenas de ação, e muito menos tinha o charme daquelas produções que tanto me marcaram antigamente. Felizmente, esse Os Mercenários 2 (agora sob o comando de Simon West), consegue ser bem mais eficiente do que o primeiro, conseguindo até mesmo despertar um pouco de nostalgia. Mas não é exatamente bom. Está mais para levemente satisfatório.

  O que foi uma das maiores decepções do primeiro são as cenas de ação. No “melhor” estilo Michael Bay, Stallone, geralmente um cineasta competente, parecia estar sofrendo um verdadeiro ataque epilético naquele filme, já que as sequências de ação tinham uma edição com cortes na velocidade da luz, que impediam que o expectador conseguisse enxergar algo mais do que socos, tiros e explosões esporádicas, não conseguindo nem descrever quem deu o tiro ou o soco, de tão impossível que era decifrar qualquer coisa dessas cenas. Simon West, felizmente, se mostra um diretor com mais bom senso do que Stallone tinha demonstrado, e assim consegue manter a mão firme nas sequências de ação, que, com uma velocidade mais saudável, estão muito mais eficientes e empolgantes, especialmente aquela que abre o longa, que está quase próxima da perfeição. No entanto, é necessário ressaltar que West comete alguns erros um tanto... juvenis, como por exemplo, não estabelecer corretamente a geografia em que a cena se desenrola. Assim, ficamos um pouco confusos em diversos momentos, quando surgem ambientes (no meio de toda a bagunça e explosões), que pareciam nem existir, como um determinado prédio/armazém que hospeda um tiroteio no terceiro ato. Além disso, West peca (mesmo que menos do que Stallone) ao quase transformar o longa num verdadeiro caça-níqueis, já que quase não há uma cena em que alguém não dispare um tiro e todos comecem a brigar. Ainda é impossível ignorar que West foi bem estúpido ao ignorar completamente a cronologia da situações, e assim, no inicio do longa, fica bem difícil ignorar a imbecilidade e falta de lógica de os personagens de Stallone e Jason Statham desaparecem para aparecerem com um avião em menos de cinco minutos, sendo que esse, logicamente, estaria a quilômetros de distância (e esse é apenas um dos problemas cronológicos do filme). Mas, se esses problemas incomodam (bastante), não chegam a destruir essas cenas.

  Mas é a integração dos seus personagens que faz o filme crescer um pouco de nível. Sujeitos completamente psicopatas e sanguinários, os mercenários são criaturas que, se não fossem apresentadas do modo caricato como são mostradas, certamente gerariam repugnância no espectador. Assim, foi um toque interessante o fato de, na sequência de ação inicial, percebermos que nos próprios carros dos “heróis”, vemos frases que escancaram testosterona e “badassary”. É bem bacana também o próprio modo como interagem, já que estão constantemente xingando um ao outro (“Algum dia ainda vou te esfaquear!”), ainda que obviamente se gostem (o que me lembra o próprio modo como ajo com meus amigos mais próximos).

  Mas, como um longa de homenagem àqueles clássicos de ação dos anos 80/90, Os Mercenários 2presenteia os cinéfilos ao mostrar juntos diversos grandes astros daqueles filmes, como Bruce Willis, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Chuck Norris, Bruce Willis, Van Damme, entre outros, juntamente com várias homenagens aos filmes que estes estrelavam, principalmente O Exterminador do Futuro e Rambo. Também, é bacana que o longa seja tão honesto com sua falta de seriedade, que os roteiristas chegaram a nomear o vilão interpretado por Van Damme de... Vilain. Porém, se é bacana vê-los unidos no mesmo filme, infelizmente tenho de ser um pé no saco e reclamar que essa reunião não é tão bem feita. O roteiro de Stallone e Richard Wenk simplesmente joga fora as performances de Arnold Schwarzenegger, Chuck Norris, Bruce Willis, Van Damme, entre outros, já que esses, que deveriam ser os verdadeiros protagonistas do filme, são relegados a meras participações menores que, se colorem o longa a cada vez que aparecem, isso se dá simplesmente por se tratar desses atores que citei, já que os realizadores não se preocupam em transformá-los em personagens realmente importantes na narrativa. Não que o elenco principal esteja ruim, mas simplesmente é decepcionante que quem deveria ter mais destaque num filme de homenagem aos filmes dessesatores, não tenham o que merecem. E isso é um ponto em que essa continuação se torna tão decepcionante quanto o primeiro. Não há lógica nisso, a não ser que Stallone queira todo o espaço para apenas ele brilhar, o que é provavelmente a resposta certa, e demonstra egoísmo por parte do ator/cineasta.

  Como eu disse, porém, essas participações desses atores colorem o filme, já que o simples fato de ver Schwarzenegger, Norris, Willis, Van Damme e Stallone em um mesmo longa, demonstrando o carisma que lhes é próprio, já é interessante. Assim, qualquer cinéfilo sentirá arrepios e sorrirá ao ver Schwarzenegger, com um charutão na boca, exclamando “I’m back!”. E, numa das coisas que o filme mais me agradou, ver Chuck Norris contando uma das clássicas piadinhas sobre si mesmo. Aliás, o roteiro se diverte ao colocar esses atores dizendo, de vez em quando, frases de filmes clássicos em que não atuaram, mas que algum outro colega de cena atuou, como no momento em que Bruce Willis diz “I’ll be back!”. Também, é interessante que o personagem de Norris sempre apareça quase que por mágica, e saia destruindo tudo, como se fosse uma máquina de matar. Mas isso, infelizmente, não me faz esquecer o problema que discuti no parágrafo anterior, já que, se fosse daquele modo, esse longa seria bem melhor.

  Quanto ao elenco, basicamente estão todos muito bem, tirando as limitações do roteiro, e a péssima atriz Nan Yu (que interpreta Maggie), que parece que sempre tem cara de quem acabou de levar um castigo dos pais. Terry Crews (o Julius do seriado Everybody Hates Chris) revela o seu grande carisma mais uma vez, numa interpretação que mistura perfeitamente a comédia com a sua extrema força física. Jason Statham está muito divertido e estabelece uma excelente química com o personagem de Stallone. Dolph Lundgren está devidamente estúpido e interessante, como um cara que aparenta ter cérebro de minhoca, mas que é formado em engenharia química pelo M.I.T. Jet Li, numa participação pequena, mostra a que veio numa cena de luta extremamente boa (e o fato de ele não usar armas de fogo – ele é bom mesmo no “mano-a-mano” - e nem servir de alívio cômico, é ótimo, já que esse é mais um acerto dessas continuação onde o primeiro errou). Liam Hemsworth (do fantástico terror australiano Triângulo do Medo) consegue tornar os tão batidos conflitos de seu personagem em algo mais profundo e humano. Van Damme é prejudicado pelo roteiro, já que seu personagem seria muitomais interessante se seguisse a lógica sombria que seu intérprete emprega na primeira cena em que aparece, e que o roteiro impede que ele desenvolva. Schwarzenegger e Norris estão simplesmente se divertindo, sem qualquer compromisso, enquanto todo o talento de Bruce Willis é jogado no lixo pelo roteiro. Mas a melhor atuação é (por mais que ele seja egoísta) de Sylvester Stallone que, surpreendentemente, consegue transformar o arco dramático clichê de seu personagem em algo mais relevante, realmente nos levando a nos tornar mais próximos de Barney (e o momento em que conversa com Maggie numa madrugada se revela até mesmo tocante), que se torna uma figura mais humana e até mesmo tridimensional.

  Com ainda diversos problemas espalhados ao longo do filme (como a subtrama ridícula das mulheres que estão sofrendo pela falta dos homens de sua aldeia, ou ainda o fato de os roteiristas já deixarem bem claro que um determinado personagem vai morrer simplesmente pelo conteúdo das falas que diz antes que isso aconteça), Os Mercenários 2 é, aos trancos e barrancos, um bom passatempo, que seria muito melhor se focasse mais naqueles atores cujos filmes estão homenageando. Esse ano, para ser sincero, um outro filme no estilo daqueles de ação dos anos 80/90 que merece bem mais atenção, é o ótimo Plano de Fuga (http://mestredeobras.blogspot.com.br/2012/05/resenha-filme-plano-de-fuga-get-gringo.html), com Mel Gibson. E que é muito menos conhecido.

  OBS: Não seria interessante que, em Os Mercenários 3, víssemos Harrison Ford e Mel Gibson? Quem sabe...