Resenha do CD instrumental: Moda de Rock
Por Paulo Henrique Faria
A viola caipira, como sua designação
aponta é um instrumento característico do movimento sertanejo brasileiro
e, como tal é usado somente em música sertaneja, certo? Bem, quem ouvir
ao ótimo – e porque não dizer revolucionário - CD “Moda de Rock: Viola
Extrema” da dupla Ricardo Vignini e Zé Helder vai ser obrigado a rever
seus conceitos. Isso porque os violeiros paulistas gravaram verdadeiros
clássicos do rock ao som do instrumento de dez cordas.
Ricardo Vignini e Zé Helder são músicos
profissionais e atuam também como professores e produtores musicais. São
integrantes da banda Matuto Moderno, grupo que realiza um interessante
mix entre sons do sertão brasileiro e a agressividade do Rock. Esse
objetivo é mantido no instrumental “Moda de Rock”.
O álbum é formado por 11 canções que
marcaram décadas de 60, 70, 80 e 90, bem como os diferentes estilos
existentes. As releituras vão de Beatles a Nirvana e, perpassam pelo
Rock n’ Roll, Hard Rock, Rock Progressivo, Heavy Metal, Thrash Metal e
Grunge.
A primeira faixa do disco é nada mais
nada menos que “Kashmir” do grande Led Zeppelin. A música, que é um dos
maiores hinos roqueiros de todos os tempos ficou encorpada e muito bem
rearranjada por Ricardo e Zé. Os dedilhados e riffs marcantes oriundos
de Jimmy Page foram respeitados, e o que se ouve é uma consistência
melódica e rítmica inigualáveis.
A segunda releitura é a principal música
do Metallica, “Master of Puppets”. Novamente as características
fundamentais da canção foram preservadas e os arranjos não se limitam
apenas aos acordes das originais. Existe ainda uma preocupação com a
melodia e até os solos.
A terceira é “Norwegian Wood”, outro
clássico de uma super banda, os Beatles. A característica indiana que
George Harrison quis passar na original foi repetida nessa versão
violeira. Logo em seguida mais um clássico do rock inglês é homenageado
pela dupla paulista, pois se trata do sucesso “In The Flash” do Pink
Floyd.
O metal brasileiro e as características
regionais não foram deixados de lado. A quinta faixa é “Kaiowas” do
grupo mineiro Sepultura. Se a original foi feita com a adição de
elementos tribais, essa nova versão instrumental eleva a brasilidade ao
trazer o palmeado e sapateado da dança folclórica conhecida como Catira.
Em seguida vem a bem executada balada
“May This Be Love” do lendário guitarrista americano Jimi Hendrix. Na
sequência dois hinos do Heavy Metal mundial. “Aces High” do Iron Maiden e
“Mr. Crowley” de Ozzy Osbourne. A primeira manteve a brilhante aura do
disco Powerslave de 1984, com direito a versão dos solos de Dave Murray e
Adrian Smith. A segunda foi tocada em um ritmo mais cadenciado, mas sem
perder o feeling destacável de Randy Rhoads.
A música de número nove do CD embarca na
década de 1990 com “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana. Arrisco dizer
que a versão de viola ficou mais bem tocada que a original, que não
prima pela técnica - fato comum entre as bandas Grunges - diga-se de
passagem. A posterior revisita outro clássico do Thrash Metal americano
através de “Hangar 18” do Megadeth. Essa faixa ficou de novo muito bem
tocada e as intervenções criativas e pesadas na guitarra de Dave
Mustaine permaneceram. Para terminar, a última canção ficou por conta de
outro ícone do Rock Progressivo, “Aqualung” do grupo inglês Jethro
Tull. A música ficou empolgante na versão com duas violas.
A dupla Ricardo Vignini e Zé Helder está
de parabéns por proporcionarem um álbum inovador e de muito bom gosto.
Conseguiram transpor a alma roqueira de forma bem sucedida para a viola
caipira. Com essa obra eles mostraram que é possível fazer boa música
independente do instrumento utilizado. O Rock não se limita a violão e
guitarra. Espero agora ansioso, que mais clássicos roqueiros sejam
gravados futuramente pelos dois.
Veja a dupla de violeiros tocando Master of Puppets:
Nenhum comentário:
Postar um comentário