Análise:
The Spetacular Now (The Spetacular Now / 2013 / EUA)
dir. James Ponsoldt
por
Lucas Wagner
A fronteira final entre
a adolescência e a vida adulta é uma temática que desde muito tempo vem atraindo
diversos cineastas, permitindo a criação de obras como A Primeira Noite de Um Homem, American
Graffiti, Picardias Estudantis ou
qualquer filme dirigido por John Hughes. E não é para menos que essa temática
fascine tanto, já que a complexa gama de emoções que envolve se tornar independente
e entrar num mundo adulto sobre o qual a observação constante grita que há uma
armadilha no horizonte, ao mesmo tempo que deve-se buscar orientar-se diante da
sombra que os pais exercem na vida de qualquer jovem, é realmente uma área de
estudo sempre frutífera. E o jovem Sutter Keely, desse The Spetacular Now, sente e teme essas questões sobre se tornar
adulto, e a caminhada que enfrenta para descobrir mais sobre si e buscar um
norte não é senão necessária, já que o tempo está passando.
Escrito por Scott
Neustadter e Michael H. Webber com base no romance de Tim Tharp, o longa conta
a história do citado adolescente, Sutter (Miles Teller), que vive sobre os princípios
de uma filosofia sobre “o agora”, de aproveitar o máximo de cada momento e de
sua popularidade no colégio. O romance que aos poucos cria com a bela geek Aimee Finecky (Shailene Woodley) é
o início de uma amadurecimento maior do protagonista.
Funcionando como um
estudo de personagem, The Spetacular Now
tem a enorme sorte de contar com uma soberba atuação de Miles Teller como
Sutter, já que o jovem ator demonstra conhecimento profundo do personagem para
conseguir desenvolvê-lo em toda a complexidade que o roteiro prepara. Sutter é
um sujeito inegavelmente gente boa. Brincalhão, bem-humorado e extrovertido, o
jovem é aquele tipo de figura essencial em qualquer festa. Buscando seguir sua
filosofia sobre “viver no agora”, Sutter acaba, no entanto, demonstrando imensa
imaturidade em suas atitudes impensadas, podendo assim machucar sentimentos de
outras pessoas, algo que fica claro no início do seu envolvimento com Aimee,
quando não havia sinal de interesse romântico por parte dele e, ainda assim, o
rapaz insistia em iludir a pobre e frágil garota, não com más intenções, mas
simplesmente por não perceber o potencial mal que poderia estar fazendo, e se
surgia uma leve sombra de preocupação, essa logo acabava quando pensava em
flertar com sua ex-namorada. Ainda assim, Sutter é dono de um coração de ouro,
e o interesse que demonstra pelas pessoas ao seu redor é genuíno, algo que
depois compreendemos como uma intrincado mecanismo de defesa psicológico para
evitar descobrir mais sobre si mesmo.
Pois existe uma
tempestade no jovem Sutter, e muito se deve ao enorme medo que tem da vida
adulta. Assim como o Ferris Bueller do clássico Curtindo a Vida Adoidado, de John Hughes, Sutter busca reprimir sua
insegurança na vida desregrada, mas acontecimentos mais sérios ao longo da
projeção vão fazendo com que ele seja obrigado a olhar para si de maneira mais
crítica. Apresentando uma séria tendência ao alcoolismo, Sutter constrói para
si uma imagem trágica de alguém que está sempre tentando anestesiar seus
sentimentos através do álcool, não percebendo quão patética é essa imagem, que
ele parece enxergar como sinal de madura rebeldia. Olhando com ameaça o mundo
adulto, Sutter é capaz de perder o interesse em alguém (como na ex-namorada)
quando surge a cobrança de algo “maduro, sério”, ao mesmo tempo em que sente um
medo de se tornar como o pai. O que não percebe é que esse olhar crítico em
relação à vida adulta, que ele julga como sinal de maturidade, não é senão
infantil, e o modo como machuca pessoas ao longo da projeção e toma decisões monstruosamente
egoístas são provas de um enorme despreparo e negação, além de evidente desespero. Mas existe, no fundo,
alguma maturidade em seu olhar, como ao observar, com tocante carinho, seus
colegas dançando no baile da escola, e, numa fala possuidora de grande
sabedoria, comenta sobre aquele ser o momento deles, que eles lembrarão pelo
resto da vida, ou ainda, na sinceridade crua com que conversa com seu chefe no
terceiro ato, maturidade que, nesse momento, revela um fatalismo desnescessário
mas que, à sua própria maneira, possui certa sabedoria pelo reconhecimento de
limites.
Mas The Spectacular Now também funciona como
um belíssimo romance, algo essencial para a obra. Apresentando uma
sensibilidade tocante no desenvolvimento do relacionamento amoroso entre Sutter
e Aimee (algo nada surpreendente se lembrarmos que os roteiristas também são os
responsáveis pelo belo (500) Dias Com Ela),
o longa alcança a proeza de nos fazer importar com o futuro do casal, principalmente
pelo cuidado que demonstra ao explorar o início dos sentimentos que vão
brotando, até que estes alcancem um status
realmente sério dotado de uma beleza contagiante, que fica evidente numa
cena de sexo que, aparentemente burocrática, exala um carinho e cuidado
belíssimos. E se isso é essencial à obra, é porque o próprio arco dramático de
Sutter está atrelado à esse relacionamento. E, como não poderia deixar de ser
dito, me apaixonei por Shailene Woodley (que surpresa... como se isso nunca
tivesse acontecido antes), não só pela beleza da atriz, mas pelo talento que
demonstra na sua composição de Aimee, criando uma jovem fascinante, cuja
fragilidade e insegurança são palpáveis, assim como a paixão que vai criando
por Sutter, nunca parecendo submissa ou fraca, mas simplesmente frágil na pouca
compreensão que tem dos “assuntos da vida”, algo que vai apresentando certa
mudança no amadurecimento que vive ao longo da projeção, lindamente demonstrado
por Woodley. Mais uma excepcional atuação de uma atriz que, desde seu papel em Os Descendentes, merece atenção
especial.
Dirigido com sutileza
por James Ponsoldt, que ao invés de chamar atenção para si prefere focar no
talento de seu elenco (que ainda conta com performances marcantes de Kyle
Chandler, Mary Elizabeth Winsted e Brie Larson), The Spetacular Now é um drama sensível e um romance tocante, que
consegue acabar não só fechando com sabedoria o arco dramático de seu
protagonista, mas apresentando uma noção sóbria mas otimista de que não só há o
tal “espetacular agora” do título, mas diversos “espetaculares agoras” que
nunca serão desbravados se medos e inseguranças não forem enfrentados.
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