sexta-feira, 29 de novembro de 2013



Contato (1997): uma nota pessoal

por Lucas Wagner

“Vocês formam uma espécie tão interessante. Uma mistura tão interessante. Vocês são capazes de sonhos tão lindos, e pesadelos tão horríveis. Vocês se sentem tão perdidos, tão desligados, tão sozinhos, mas vocês não estão. Veja, em toda a sua busca, a única coisa que encontraram que faz esse vazio suportável, é um ao outro”

 É sempre perigoso/assustador revisitar esses filmes que tiveram tanta importância em nosso crescimento emocional ou intelectual. Ainda mais quando determinado filme exerceu uma influência enorme não somente em um, mas nesses dois aspectos, como esse Contato teve comigo.

 Desde que assisti o longa pela última vez (há alguns anos), percebi-me tornando uma pessoa mais cética, cínica, pessimista e até mesmo mais agressiva. Assim, re-assistir esse filme era algo que vinha adiando, talvez por puro e irracional medo do que viria a encarar sobre o tanto que eu mudei. O medo vinha de talvez não conseguir acessar a pureza com que antes captava a mensagem que o astrofísico Carl Sagan (escritor do livro que deu origem ao filme, e uma das pessoas que mais admiro, mesmo não tendo acompanhado-o em vida) buscava passar.

  Medo que, felizmente, revelou-se alarme falso. O caso é que, nas duas horas e meia que resolvi me dedica novamente à essa odisseia, pude não apenas admirar com maior maturidade o longa em seus aspectos puramente cinematográficos e político-psico-sóciológicos, como pude explorar a mim mesmo, numa viagem intimista na qual pude, com enorme surpresa e alegria, encontrar certa pureza e inocência escondidas sob uma camada de dureza e racionalidade que ergui.

 Logo na abertura da obra, o diretor Robert Zemeckis investe num dos melhores plano-sequências da história do Cinema, afastando a câmera do planeta Terra para revelar um Universo infinito, silencioso, belo e assustador, terminando essa jornada com a câmera saindo do olho da protagonista Ellie Arroway ainda criança. O fascinante é que essa aberture resume a obra com perfeição, como que começando um artigo no qual seus realizadores vão discorrer sobre uma tese: a da pequenez absoluta do Homem no Universo, ao mesmo tempo em que ele é, em si mesmo, um Universo particular.

 Sabe...todos nós buscamos respostas. A verdade doída de que um dia vamos morrer é difícil de aceitar. Como assim tudo isso que eu vivo, que eu vejo, que eu sinto, vai ser eventualmente esquecido? Como é possível que as pessoas, ou melhor, que o mundo continue a existir depois que eu perdi um grande amor, ou que eu vi um amigo indo embora, ou tenha me encantado com o reconhecimento depois de tanto esforço? Como é possível que isso tudo não significa absolutamente nada no grande esquema das coisas?

  Por isso que buscamos desesperadamente uma espécie de verdade que possa, mesmo por um momento e de forma insatisfatória, nos consolar. Algumas pessoas buscam isso na Religião, e outras na Ciência. Mas será que alguma está, no fundo, certa? Pessoalmente, coloco minhas apostas todas na Ciência, mas os religiosos, no fim das contas, buscam a mesma coisas que os cientistas: as respostas para as grandes questões da vida, como “Por quê estamos aqui?”, “Para onde vamos?”, “Estamos sozinhos na imensidão do Universo?”, “Existe vida após a morte?”...

 E o que podemos fazer enquanto não encontramos essas respostas? Brigar, xingar, criar guerras e desconforto para o lado oposto? Por quê não fazemos dessa busca algo agradável? Nós temos algo maravilhoso: o contato com o outro. E esse outro vai nos destruir, vai nos fazer querer morrer, e eventualmente, vai embora como poeira ao vento. Mas esse outro também vai nos proporcionar a força necessária para conseguir enxergar esse “piscar de olhos de 80 anos ou menos” como algo especial e significativo.

 Somos todos pequenas crianças brincando de viver nesse pálido ponto azul chamado Terra, e todos perdidos na compreensão do plano maior, e só temos o companheirismo, a amizade, o amor e as nossas próprias emoções para poder saber viver.

 Assim, por ter me proporcionado novamente essa viagem dentre da beleza dos delicados sentimentos humanos, me fazendo refletir sobre sua grandiosidade e fragilidade, que mais uma vez não hesito em colocar Contato como uma das obras mais importantes para a minha inacabável formação emocional, intelectual e, é claro, cinefílica.

 Não me propus a escrever uma crítica cinematográfica sobre o filme, até porque deveria então abordar as infinitas camadas psicológicas, sociais, científicas e cinematográficas que a obra propõe. Quis apenas escrever uma nota pessoal sobre a importância desse longa para mim.


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