Análise Sobrenatural: Capítulo 2 (Insidious: Chapter 2 / 2013 / EUA) dir.
James Wan
por
Lucas Wagner
Desde que se estabeleceu como um dos melhores
nomes do Cinema de terror atual, o cineasta James Wan se consolidou no ramo de
produção de longas que não apenas funcionavam como excelentes suspenses, mas
também como homenagens cinefílicas que deliram os amantes da sétima arte.
Assim, seu recente (e excelente) Invocação do Mal era uma mistura de diversas tendências e gêneros do horror, ao passo
que Sobrenatural era um filme de
terror dos anos 80 só que filmado em 2010. Em Sobrenatural: Capítulo 2 o maior acerto do diretor é não apenas
criar uma excelente continuação, como ainda homenagear clássicos de forma orgânica
e inteligente.
Continuando a história do ponto em que filme
original acabou (não escreverei sinopse por perigo de spoilers para quem não viu o anterior), Sobrenatural: Capítulo 2 tem sua força na construção da trama. De
fato, percebe-se que os realizadores construíram uma mitologia complexa que,
começando no primeiro longa, se completa apenas aqui, num enredo inteligente e
que ainda instiga o espectador a indagar mais sobre aquele universo,
especialmente por ir apresentando várias informações aparentemente desconexas
ao longo da projeção, mas que vão se juntando numa significação intrincada e
inventiva no todo da obra. Melhor ainda é a audácia de Wan e Leigh Whannell (o
roteirista) de ousarem explorar possibilidades diversas que não são só
interessantes, como também deixam o longa mais complexo na maior fluidez e
dinamicidade do universo aqui ampliado, como nos jogos que fazem com o tempo ou com múltiplas dimensões. Sem
contar que é admirável que os realizadores não abusem (embora usem) de flashbacks para explicar informações
importantes do original, preferindo confiar mais na boa vontade do espectador
de ter reassistido o longa anterior.
Mais importante ainda é que essa trama permite perfeitamente que o filme se transforme em uma homenagem bem feita e
orgânica (natural) à clássicos como O
Iluminado, Psicose (“Mother”) e Vestida Para Matar (e ainda poderia ter
sido de A Mosca, mas acho que
os realizadores não prestaram muita atenção), revelando assim mais um acerto de
Wan: ao mesmo tempo em que manteve a estética oitentista do primeiro, muda o
estilo e a temática para que possa servir ao propósito de outro tipo de
diversão cinefílica, uma homenagem à outras peças importantes da sétima arte,
desta vez reverenciando longas específicos e não apenas tendências e períodos.
No contexto de direção, James Wan continua
crescendo, reforçando uma habilidade impressionante na construção de sequências
de terror. Basta lembrar que o diretor inicia aquela que é uma das mais assustadoras cenas de filme de uma maneira sutil, mas já preparando o espectador para o que vem
a seguir: quando, em um plano sequência, posiciona o corpo de uma fantasma (que logo desaparece) no fundo
do campo e no ponto de fuga direito do quadro (o lado direito da tela e que
chama mais atenção de quem assiste), o que nos alerta para o provável perigo sem, no entanto,
nos esfregar isso na cara. Vale ressaltar, no entanto, que Sobrenatural: Capítulo 2 não apresenta o mesmo cuidado minucioso de Sobrenatural ou Invocação do Mal na
construção do suspense, mas isso
acaba sendo justificado pelo fato de estarmos, na verdade, continuando a ver um
filme que começou no original.
Assim,
Wan adota mais uma vez o estilo de “trem-fantasma” (que comentei em meu texto sobre Invocação do Mal), investindo num
suspense intenso e em um exagero e violência notáveis nas situações, onde
perigos brotam de todos os lados, e são mais intensos ainda por serem baseados não apenas em efeitos especiais, mas em figuras com uma maquiagem assustadora que lembra fotografias antigas e desgastadas. E, é
claro, a maravilhosa trilha sonora de Joseph Bishara que continua a encantar
com o uso do órgão e de uma trilha de cordas para aumentar a tensão, ao mesmo
tempo em que remete à clássicos de terror pelos tons assonantes e estridentes,
além de arroubos sonoros.
Já no desenvolvimento dos personagens, o
roteiro de Whannell busca aproveitar o ótimo trabalho já feito no original, e
aqui aposta no conhecimento e afeto que já desenvolvemos com aquelas figuras, o
que faz com que o elenco mantenha o mesmo nível de qualidade do anterior. Quem
ganha destaque mesmo é o competente Patrick Wilson, que aqui foge do tipo
simpático que sempre cria, para poder compor Scott no lado “assassino
endemoniado” que surge, representando bem o tumulto interno de um personagem
que possui diversas camadas, sendo que a maior habilidade do ator é conseguir
representar todas essas camadas com uma diferenciação e entrega ideias, num trabalho
que adequadamente remete à performance de Jack Nicholson em O Iluminado. Já Rose Byrne acerta ao
continuar trabalhando Renai como uma mãe dedicada e sofredora em seu amor pela
família tão turbulenta. Quem consegue se sair mal é apenas a dupla de “profissionais
paranormais” (na falta de um termo melhor), que aqui, como em outros filmes de
Wan, surgem apenas como alívios cômicos, em piadas forçadas e desagradáveis.
Errando feio apenas ao não resistir à tentação
de criar uma ponte para uma possível continuação, Sobrenatural: Capitulo 2 é uma obra admirável em diversos âmbitos:
é um terror assustador, uma homenagem bem feita e é o desenvolvimento de uma
mitologia fascinante. Um excelente filme.
--Análises minhas de
outros filmes dirigidos por James Wan:
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