Crítica A Família (Malavita / 2013 / França, EUA) dir. Luc Besson
por
Lucas Wagner
É incompreensível que Martin Scorsese tenha
aceitado produzir esse A Família. Depois
de dirigir alguns dos mais importantes filmes de Máfia de todos os tempos, o
cineasta certamente reconheceu a quantidade absurda de erros nesse novo
trabalho do diretor francês Luc Besson (cujos maiores acertos datam da década
de 90, com O Profissional e La Femme Nikita), mas parece ter
abraçado o projeto como uma brincadeira do tipo: “não seria legal se um filme
de homenagem à cinematografia de Máfia tivesse meu nome nos créditos? Ainda
mais se tem Robert De Niro no elenco?”. Infelizmente, se não é completamente
desprezível, A Família ainda é um
trabalho completamente pedestre e irregular, não merecendo nem metade dos bons
nomes que o compõe.
Escrito por Besson, Michael Caleo e Tonino
Benacquista, o longa explora a vida de Giovanni (De Niro) e sua família, quando
estão sob um programa de proteção à testemunha do FBI, já que o agora
ex-mafioso dedou muitos de seus antigos parceiros do crime. Agora vivem em uma
pacata cidadezinha no interior da França e fazem o possível para se adaptar.
Os melhores momentos de A Família se encontrar ainda na primeira metade, quando Besson
parece querer explorar a dinâmica daqueles indivíduos e o modo como se
comportam em novos ambientes. Já acostumados a terem que sempre se mudar e se
adaptar à um novo lugar, os membros da família estudam todas as variáveis para
melhor se adequarem. Claramente disfuncionais, eles encontram dificuldades em
retrair instintos violentos que assustam as pessoas ao redor. Os filhos, Bella
e Warren, rendem as melhores cenas, quando entram na nova escola e exploram a
dinâmica entre os estudantes para entender como funcionam as coisas, e assim
tirar o melhor proveito. Infelizmente,
Besson não consegue sustentar a obra nesses moldes e acaba recorrendo à uma
história besta e clichê, mal escrita e com um humor irregular, que, para
piorar, não encontra outra maneira de funcionar senão por coincidências
absurdas e retardadas (aquela que leva ao terceiro ato é, no mínimo,
ultrajante).
A direção de Besson demonstra ainda como o
cineasta parece ter decaído com o decorrer dos anos. Enfrentando diversos
problemas de estrutura, Besson parece desesperado ao tentar conferir qualquer
tipo de energia ao longa, apostando assim num uso excessivo de raccords que na esmagadora maioria das
vezes não funciona e revelam extrema deselegância (o momento em que corta da
gemida de uma garota fazendo sexo para De Niro gritando a palavra “fuck”, ainda
me causa arrepios pelo mal gosto). Além disso, as tentativas de humor são tão
desesperadas que chega a dar dó, como quando o diretor mostra De Niro sonhando
em espancar alguns sujeitos mas não chegando às vias de fato. Ainda assim,
preciso reconhecer um momento de inspiração de Besson, quando o som da música
tocada por Bella dá início à um flashback
que logo se mostra um pesadelo de De Niro; ou quando mostra mafiosos saindo
de um trem e, claramente buscando homenagear Sergio Leone, não busca uma trilha
tipo Ennio Morricone, mas a música “Clint Eastwood” dos Gorillaz.
É com o personagem de De Niro, no entanto,
que o filme comete alguns dos mais graves erros. Tentando funcionar como uma espécie envelhecida dos tipos mafiosos que o ator
interpretou em obras de Scorsese como Cassino
ou Os Bons Companheiros (que aqui
ganha homenagem direta no melhor momento do longa), e de outros diretores, como
Era Uma Vez na América ou Os Intocáveis, Giovanni é na verdade um
sujeito medíocre e caricatura de um psicopata completamente unidimensional e
sem graça, algo que De Niro reforça em uma atuação pedestre que, tirando a
nostalgia que parece encontrar em certas memórias, nunca decola.
Michelle Pfeiffer começa aproveitando como
pode o papel da mulher do mafioso, rendendo alguns momentos de ouro (em
especial pela leve tremida dos olhos e queixo quando percebe pessoas a
criticando e se vê de mãos atadas para responder), mas o roteiro a enfraquece
da metade do final, apagando toda a força e ambiguidade que tinha demonstrado.
Mal esse que também acomete a personagem Bella, que passa de jovem independente
e forte para uma besta apaixonada e fraca, disposta a se matar por um homem
(coisa mais podre que uma mulher pode fazer), matando assim a boa performance
da estonteantemente linda Dianna Agron. Tommy Lee Jones fica no piloto
automático o tempo todo, enquanto o jovem John D’Leo parece se divertir
imensamente no papel mais regular do filme, como Warren, criando um garoto com
uma tendência à violência e à estratégias que o fariam um grande mafioso.
Atrapalhado ainda mais por uma trilha sonora
patética que tenta a todo momento ser “engraçadinha”, A Família é uma obra tosca e pedestre, que não merecia se dizer
homenagem de filmes tão grandiosos.
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