sexta-feira, 12 de julho de 2013


Crítica Truque de Mestre (Now You See Me / 2013 / EUA) dir. Louis Leterrier

por Lucas Wagner

  Em 2006, o “mago” Christopher Nolan criou uma de suas maiores obras-primas no inesquecível e poderoso O Grande Truque. Escrito com imenso cuidado e montado com precisão cirúrgica, o longa funcionava não apenas como um fascinante estudo de personagens, mas ainda como um enorme truque que, extremamente engenhoso, exigia muito do intelecto do próprio espectador para desvendar seus segredos, nunca entregando-os de mão beijada. Olhando dessa maneira, esse Truque de Mestre, de Louis Leterrier, ambiciona ser um truque também, mas é tão inferior e irregular que, no máximo do seu auge, consegue ser um O Grande Truque versão infantil.

  Misturando gênero de assalto com o de ilusionismo, o roteiro de Ed Solomon, Boas Yakin e Edward Ricourt acompanha um grupo de ilusionistas (interpretados por Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Dave Franco e Isla Fisher) que, durante seus atos ao vivo, fazem grandes roubos como se fossem parte da ilusão que praticam, o que coloca o FBI e a Interpol em seu encalço.

  Apostando toda a sua energia na suposta engenhosidade dos truques e ilusionismos, Truque de Mestre consegue de fato divertir um pouco nesses momentos, já que são mais nessas horas que nos vemos surpresos com o que aconteceu e esperando, curiosos, pelas respostas de como determinada coisa aconteceu. No entanto, o filme não é de fato inteligente, como era O Grande Truque, mas apenas espertinho, o que faz com que todo o impacto do que descobrimos seja descartado como mera curiosidade banal, depois que terminamos de assistir, diferente do que acontecia no trabalho de Nolan. E isso acontece muito pelo fato de os roteiristas nunca nos deixarem pensar, sempre entregando tudo de mão beijada, mastigado, para o espectador. E o que é o pior de tudo é que o longa, apesar de divertidinho, é realmente muito óbvio se pararmos para pensar e prestarmos um pouco de atenção no que estamos vendo, o que fica muito evidente pela reviravolta final que, se levemente curiosa, perde a força pela obviedade com que foi construída: é só prestar atenção em como os roteiristas desviavam continuamente nossa atenção de determinado personagem e focavam em outra determinada pessoa; e se lembrarmos daquilo que é mais repetido no longa, sobre a importância de desviar a atenção do espectador para o que realmente importa no truque, é só queimar um pouquinho de fosfato para perceber que é exatamente o que os roteiristas estão fazendo. Então é só olhar para as coisas mais apagadas do filme que perceberemos muitos de seus maiores segredos.

  O fato dos personagens serem, em sua maioria, figuras unidimensionais e desinteressantes, enfraquece ainda mais o longa, já que tira sua força emocional (algo que ele já não tinha, para ser sincero). E assim, o espetacular elenco faz o que pode (bem, quase todos do elenco) com seus fracos personagens, e vemos o esforço dos ótimos Jesse Eisenberg (do maravilhoso A Rede Social e do excelente Zumbilândia) e Woody Harrelson (do recente e divertido Sete Psicopatas e um Shih Tzu e também de Zumbilândia) em desenvolver um pouco, respectivamente, Daniel Atlas e Merrit, obtendo sucesso relativo, enquanto o promissor Dave Franco (do hilário Anjos da Lei) confere a insegurança ideal ao seu Jack Wilder. Completando o grupo de assalto e mágica, Isla Fisher é uma atriz tão insuportável, tão absurdamente chata, que irrita toda vez que aparece. E mais uma vez Morgan Freeman cospe em seu próprio talento ao interpretar uma figura fraca e unidimensional, além de irrelevante, assim como Michael Caine. Quem consegue se sobrepor mais são mesmo Málanie Laurent e Mark Ruffalo. Laurent (linda e encantadora como estava em Toda Forma de Amor) interpreta a agente da Interpol, Alma (nome com simbologia óbvia), com o tom sonhador perfeitamente adequado, travando escassas mas levemente interessantes discussões com o agente do FBI Dylan, que é interpretado por Ruffalo como o personagem mais complexo e multifacetado do longa.

  Com o roteiro problemático e os personagens fracos (apesar dos esforços de parte do elenco), o que realmente impede que Truque de Mestre seja um desastre total é a direção enérgica e dinâmica de Louis Leterrier (do ótimo Incrível Hulk e do péssimo Fúria de Titãs), que não insere um único plano com a câmera fixa em seu trabalho. Assim, o longa se torna desenfreado, adotando um tom frenético que é ideal justamente por desviar a atenção do público para os truques em si e da enorme quantidade de furos do roteiro. A montagem com cortes rápidos (quase rápidos demais) confere energia à competentes sequências de perseguição, ajudadas pela boa trilha sonora de Bryan Tyler.


  Com diversos pontos obscuros e incompreensíveis no roteiro (o que é, afinal, o “Olho”?) e um clímax decepcionante, Truque de Mestre é um passatempo completamente esquecível e bobinho, ambicionando funcionar como um truque, conseguindo sucesso apenas relativo: um coliforme fecal perto de O Grande Truque, mas aceitável perto de Poder Paranormal, que também era um truque, só que sujo.


3 comentários:

  1. Assisti na última sexta e só não saí do cinema porque minha namorada queria terminar de ver. Sabia cada passo do filme, incomodava-me com cada furo, e ficava muito puto com a tentativa de ser um "Grande Truque" para a massa.

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  2. Filme bem fraco msm :/ um tremendo sub-Grande Truque

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