Resenha filme "Busca Implacável 2" (Taken 2 / 2012 / França) dir. Olivier Megaton
por Lucas Wagner
Um dos sucessos mais inesperados de 2008 foi
o filme francês/norte-americano Busca
Implacável. Com uma trama simples o longa do diretor Pierre Morel acertava
na criação de um personagem excelente: Bryan, interpretado por Liam Neeson.
Ex-agente da CIA, o homem se via numa condição extremamente aversiva quando sua
filha é sequestrada por traficantes de mulheres em Paris. Porém, ao invés de
agir de forma irracional, o ex-agente secreto manteve a cabeça fria e canalizou
toda a sua fúria para encontrar a filha, não importando se no caminho teria que
matar e torturar uma quantidade enorme de pessoas. Obviamente abatido e
solitário, Bryan era um personagem excepcional justamente por conseguir ser
frio e racional até nos momentos mais inesperados, porém indo contra o “politicamente
correto” e apagando qualquer um que se colocasse no seu caminho, o que era uma
prova da raiva absurda que guardava dentro de si pelo inconveniente que os
bandidos lhe causaram. É dele uma das melhores cenas do Cinema de ação dos
últimos tempos, quando explica para um vilão, pelo celular, o que iria fazer
quando encontrá-lo. A partir disso, acompanhamos um longa particularmente
intenso que nos levava a encolher na poltrona diante da fúria absurda de seu
personagem principal. Assim, desde que soube das primeiras notícias sobre essa
continuação, torci o nariz, por acreditar que o filme não conseguiria fazer
diferente do primeiro, e assim cairia no limbo das continuações que apenas
repetem o original, como o fraco Se Beber
Não Case! Parte 2. Porém, esse Busca
Implacável 2 consegue se estabelecer como um filme até que divertido, escapando
em alguns momentos de ser apenas repetição, se tornando uma experiência
envolvente, embora fique anos-luz distante da qualidade do original e ainda
apresente alguns problemas graves.
O roteiro
de Luc Beeson e Robert Mark Kamen desta vez coloca os parentes dos bandidos que
morreram nas mãos de Bryan querendo vingança contra o ex-espião. Dessa forma,
eles aproveitam a viagem que o protagonista faz para Istambul, com a mulher e a
filha, para sequestrá-los e conseguir sua vingança. É claro que Bryan consegue
escapar e assim lançar sua fúria novamente contra seus perseguidores.
Embora a trama se baseie novamente na questão
do sequestro de entes queridos e de Bryan tendo que salvá-los, essa continuação
consegue se distanciar do original em alguns momentos, criando cenas
interessantes e criativas, que exigem de Bryan todo o seu potencial, como fica
claro no momento em que cria um mapa mental de Istambul, quando está dentro de
um carro com um saco na cabeça. O filme chega ao seu ápice de criatividade, no
entanto, na longa sequência da fuga de Bryan do cativeiro, quando coloca sua
filha Kim (Maggie Grace) como protagonista (dessa sequência apenas), guiada
pelo pai através de um telefone (eu sei, parece igual ao primeiro filme, mas
não é, acreditem). Nesse momento vemos Bryan no seu melhor, principalmente no
como guia sua filha (e si mesmo por sinal) na descoberta da localidade de seu cativeiro.
Essa sequência já valeria o filme inteiro, para ser sincero, e até me arrisco a
dizer que é uma das melhores do ano.
Bryan, aliás, continua um ótimo personagem.
Interpretado com disciplina por Liam Neeson (recém saído de sua impecável
atuação no suspense A Perseguição),
vemos o ex-agente mais esperto do que nunca (principalmente depois dos
acontecimentos do filme anterior) atento ao menor movimento do ar à sua volta.
Embora esteja menos impiedoso do que antes, Bryan ainda demonstra frieza, calculismo,
habilidade e sobriedade em suas ações, conseguindo, mesmo num momento de ação
desenfreada, se lembrar de checar a quantidade de balas em sua pistola, por
exemplo. Ainda, Neeson acerta novamente ao investir em um olhar injetado que
reflete a fúria infinita do personagem, chegando a deixar o próprio espectador
desconfortável (o que aqui é justamente o objetivo). Além disso, o diretor
(dessa vez é Olivier Megaton) encontra maneira divertidas no primeiro ato de
mostrar o perfeccionismo do personagem, como o fato deste insistir em encerar o
próprio carro, mesmo este sendo um serviço oferecido pelo lava-jatos, ou ao
descer do carro exatamente no minuto preciso em que marcou um compromisso.
Ainda é preciso falar de como os vilões se mostram inteligentes na primeira
investida contra Bryan, quando ainda estão fazendo vista grossa sobre ele:
demonstrando conhecimento do perigo que o homem representa, eles se mostram
espertos ao manter vários vigias sobre ele, sendo que descartam qualquer um que
chame a mínima atenção do personagem. É uma pena, no entanto, que os vilões só
demonstrem essa inteligência nesse único momento também.
Como diretor, Megaton se mostra extremamente
irregular, diferente de Pierre Morel no primeiro. Confesso que ele acerta na
construção da sequência da fuga da prisão, e também ao variar cenas tranquilas
de Bryan com sua família e dos bandidos fazendo seus planos no primeiro ato,
aumentando a quantidade de “alternâncias” entre os dois ambientes à medida em
que se chega o momento do encontro entre eles. Mas os acertos do cineasta
acabam aí. Tendo a mesma habilidade de um diretor de novelas na condução de
cenas mais dramáticas, Megaton acredita ser capaz de comover o espectador
apenas com uma trilha sonora babaca e melosa, e momentos nostálgicos. Mas o
pior de tudo é que o diretor erra onde mais deveria acertar (e onde Pierre
Morel acertou muito no primeiro): as cenas de ação. Megaton parece estar tendo
um ataque epiléptico e exagera tanto, mas tanto
na velocidade dos cortes, que fica absolutamente impossível compreendermos
o que estamos vendo, muito menos nos empolgarmos. Confesso que cheguei a ficar
com dor de cabeça em tais cenas, e uma dor fonte. Sem brincadeira.
Com um roteiro ainda irregular e uma
conclusão que parece por demais abrupta, Busca
Implacável 2 é salvo mesmo por seu protagonista, que continua uma figura
fascinante, e suas façanhas ainda fazem valer o ingresso.
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