por Lucas Wagner
Apesar de ter sido muito criticado no seu país de origem, esse Vizinhos Imediatos do 3º Grau não é um filme ruim. É divertido e muitas vezes engraçado, para quem gosta de humor negro; e faz algo cada vez mais raro no Cinema atual (principalmente no que se refere a Hollywood), que é se preocupar em desenvolver seus personagens principais, tornando-os próximos dos espectadores. Mas se o filme apresenta determinados problemas graves, esses se referem a principalmente seu fraco roteiro, que, escrito por Seth Rogen e Evan Goldberg, não apresenta a genialidade e sensibilidade que seus autores demonstraram no roteiro de Superbad – É Hoje, mas também não demonstram extrema falta de competência, como no caso do horrível Besouro Verde.
Na trama, em uma cidadezinha pequena, encontramos Evan (Ben Stiller), um sujeito correto e apaixonado pelo seu bairro, dono de um supermercado. Em uma noite, porém, um segurança do supermercado é brutalmente assassinado, o que leva Evan a formar um grupo de vigias da comunidade, composto por Bob (Vince Vaughn), Franklin (Jonah Hill) e Jamarcus (Richard Ayoade), que acabam descobrindo alienígenas em seu bairro.
O roteiro de Rogen e Goldberg, assim como em Superbad – É Hoje, acerta bastante ao ter como objetivo principal o desenvolvimento dos protagonistas. Desse modo, vamos conhecendo cada vez um pouco mais sobre eles e ficamos mais próximos e preocupados com o futuro de cada um, e somos ajudados nesse processo pelas atuações competentes do elenco principal. Ben Stiller, um ator que não sou muito fã (afinal, ele nunca muda nada na performance de um personagem para o outro, e acha que é mais engraçado do que é), consegue interpretar Evan de maneira satisfatória, permitindo que compreendamos seus dilemas e sua personalidade insegura e medrosa. Jonah Hill (o gordo deSuperbad – É Hoje), pela terceira vez esse ano demonstra bastante talento (as outras foram emMoneyball – O Homem Que Mudou o Jogo e Anjos Da Lei), conseguindo transformar seu Franklin em uma figura interessantíssima, já que é um sujeito infantil, imaturo e frustrado, que literalmente beira à psicopatia. Richard Ayoade possui um personagem com um arco dramático menos bem trabalhado, mas possui carisma e talento de sobra para segurar o personagem. Mas a melhor das atuações fica por conta de Vince Vaughn, que cria o personagem mais interessante e complexo do longa. Seu Bob é um sujeito beirando a crise de meia idade, e por isso tenta se afirmar se comportando como um adolescente imaturo e babaca; mas, apesar disso, demonstra verdadeiro amor pela filha, além de dor por ter que vê-la crescer. Vaughn é extremamente eficiente ao ser carismático e pontualmente melancólico em sua performance. Ainda assim, no entanto, os personagens dessa comédia não são tão comoventes ou complexos como os de Um Parto de Viagem, Zumbilândia, Superbad – É Hoje, Chumbo Grosso, etc, mas ainda assim, desenvolvimento de personagens, quando bem feito, é sempre bom.
No entanto, os roteiristas acabam demonstrando inexperiência ao não conseguirem balancear o desenvolvimento dos personagens com o desenvolvimento da trama. Dessa forma, no início eles se dedicam de corpo e alma à construção dos personagens, deixando a trama completamente de lado, apenas para, no final, adiantarem tudo procurando uma conclusão, que surge de maneira brusca e mal trabalhada. Assim, o longa se torna uma experiência confusa e desconexa, sempre procurando um rumo e nunca encontrando. Isso se dá também, vale dizer, na direção de Akiva Schaffer, que não sabe balancear os tons de suspense, comédia, drama e ação presentes no longa, tornando essa interessante mistura em uma bagunça desordenada, e não uma mistura de gêneros bem feita comoZumbilândia e Se Beber Não Case! são, por exemplo.
Apesar disso, Schaffer se mostra competente na cadeira de direção, principalmente nas cenas de humor. Não que todas essas sejam engraçadas. Para falar a verdade, muitas surgem artificiais e forçadas demais. No entanto, Schaffer é feliz ao, assim como Larry Charles (de Borat) faz tão bem, levar o humor aos limites, tornando muitas cenas que não iniciam boas em momentos particularmente hilários, justamente por permanecer muito tempo na mesma situação, algo que fica claro na hora do excesso de tiros que dois personagens dão em um alienígena que, obviamente, já está morto, ou ainda na comparação que os protagonistas fazem entre o sangue dos ETs com sêmen. Além disso, o cineasta não demonstra medo ao investir em um humor negro forte e pesado (além de adequadamente exagerado), mas eficiente para aqueles que, como eu, gostam do gênero. Para completar, ele se mostra seguro (spoiler alert, até o fim desse parágrafo) ao trollar de forma inteligente o espectador ao trazer o conhecido ator Billy Crudup (de Watchmen, Inimigos Públicos, Missão Impossível 3, Peixe Grande) num papel que parece importante, mas se revela insignificante; ou seja, a presença de um ator conhecido nos levou a pensar que ele era mais importante do que é.
Para finalizar, o visual dos alienígenas é interessantíssimo, funcionando como uma mistura do design do Alien com o design do Predador. De atuações, o sempre hilário Will Forte (sempre presente emSaturday Night Live, como um dos personagens mais engraçados: um repórter de esportes que fica com a boca aberta sempre numa tremenda expressão de imbecilidade) consegue se sair muito bem como o policial Bressman, ao passo que Mel Rodriguez, sem dizer ao menos uma palavra ou mudar a expressão facial, transforma Chuchu na figura mais engraçada do filme.
Satisfatório (principalmente devido ao desenvolvimento dos personagens) e descompromissado,Vizinhos Imediatos do 3º Grau é uma experiência besta e divertida, que irá agradar quem, como eu, curte um humor babaca e imaturo.
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