Resenha filme "A Delicadeza do Amor" (La Délicatesse / 2012 / França) dir. David Foenkinos, Stéphane Foenkinos
por Lucas Wagner
O que me atraiu nesse filme foi, além do fato de ter Audrey Tautou como protagonista (a eterna Amelie Poulain, e dona de uma tímida beleza), justamente o seu título. De fato, o Amor é muito delicado, e talvez seja esse um dos grandes fatores por ser tão bonito. A sensação de frio na barriga antes de ver aquela pessoa por quem está apaixonado; o prazer ao perceber o toque dessa pessoa; a vontade de estar perto; o sorriso sincero ao simplesmente ver a outra pessoa sorrir... isso é simplesmente lindo. A Delicadeza do Amor parecia ser uma comédia romântica que buscaria trabalhar justamente essas sensações íntimas, e de certa forma é esse mesmo o seu objetivo. No entanto, o roteiro de David Foenkinos se embaralha numa grande bagunça na hora de desenvolver seus personagens e situações, o que torna o filme uma experiência no mínimo frustrante, principalmente porque desperdiça a doçura e carisma do casal protagonista, interpretado por Audrey Tautou e François Damiens.
Nós acompanhamos a história de Nathalie (Tautou) que, depois de perder o marido por quem ainda estava profundamente apaixonada, passa por um intenso período de luto, buscando sufocar a dor através do trabalho. Três anos se passam até que ela conhece o tímido (e feio) Markus (Damiens) que se apaixona por ela... e ela por ele.
No início, estava apreciando bastante o fato do roteiro dedicar um bom tempo no primeiro ato para desenvolver o relacionamento de Nathalie com seu marido, François, produzindo inclusive aquela que é uma das cenas mais interessantes do longa, quando eles se conhecem. Assim, Foenkinos (o roteirista) conseguiu dar uma dimensão enorme ao momento da morte de François, já que assim conseguimos compreender a partilhar da dor de Nathalie justamente por sabermos o que ela perdeu. Até ai tudo bem. O roteiro vai lidando muito bem com todo o processo de luto e tal (embora tenha sido precipitado ao mostrar Natahalie, pouco depois de perder o marido, jogando as coisas deste fora, como numa tentativa de se livrar da dor), mas, a partir do momento em que promove um pulo enorme no tempo, que surge completamente despreparado e inusitado, começa a mostrar um declínio cada vez maior.
A grande questão é que Foenkinos, se começa desenvolvendo bem seus personagens, começa a jogar um número cada vez maior de variáveis na análise destes, enquanto também parece se esquecer de certos elementos, só se lembrando no final. É um roteiro que deveria ter passado por um número infinito de revisões antes de ser filmado. Pena que não foi. Assim, Nathalie surge preocupada em se dedicar demais ao trabalho, e tenta se divertir mais, apenas para mostrar que ainda não está preparada para isso, e logo depois se joga nos braços do primeiro homem que vê. Esses elementos poderiam gerar uma personagem complexa e interessante, mas são tão mal trabalhados que a sensação que fica é que a personagem só pode ser louca. Desse modo, o relacionamento que se desenvolve entre ela e Markus parece completamente sem fundamento. Aliás, não faz sentido, quando mais o filme avança, que o roteiro tenha dedicado tanto tempo na construção do relacionamento de Nathalie e seu marido, se se esquece completamente deste como uma variável na vida amorosa da mulher depois quando ela começa a sair com Markus. Aí fica patente a falta de talento de Foenkinos quando ele se lembra disso só no terceiro ato, para criar um conflito interno que surge atrasado e sem sentido. E o que dizer do desenvolvimento do personagem de Markus? Se, justamente por ser inseguro e feio, e estar apaixonado, ele já é interessante, fica clara a incompetência de Foenkinos ao tentar incluir, ou melhor, jogar outros elementos no desenvolvimento desse, sem qualquer preparo e esquecendo deles logo em seguida, como o “medo” deste de se apaixonar.
No entanto, se o longa se sustenta um pouquinho é pelo carisma do casal. O romance dos dois nunca surge chato ou entediante, mas desperta nosso interesse a todo momento, devido aos intérpretes. Audrey Tautou interpreta Nathalie com imenso talento, levando-nos a gostar e torcer por sua felicidade, já que confere grande verossimilhança aos dilemas e problemas da personagem. François Damiens surge como um excelente ator, nos tornando próximos de Markus justamente por sua insegurança, que gera um arco dramático tocante e sincero para o personagem.
Já a direção estreante de Foenkinos e sua mulher, se mostra irregular e insegura, embora aqui e ali tenha um acerto maior, como em alguns momentos de humor, particularmente aqueles que mostram o espanto das pessoas ao ver Nathalie, uma moça bonita, namorando um sujeito feio como Markus. Além disso, eles tratam com delicadeza fascinante o relacionamento dos dois, o que nos torna mais próximos deles.
Mas no geral é isso. É um filminho levemente suportável, mas que possui um roteiro tão fraquinho e inexperiente que torna a experiência frustrante justamente por desenvolver de forma tão tosca e desmanzelada seus personagens. O casal merecia algo melhor, sinceramente.
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