Resenha filme Os Vingadores - The Avengers (The Avengers)
Por Lucas Wagner
Um dos longas que eu mais amei de 2011 foi X-Men Primeira Classe, mas este era um filme para o qual eu não dava nada. Apesar de ser de ter um diretor que eu já considava muito competente, Matthew Vaughn (também dos excelentes Kick Ass - Quebrando Tudo e Nem Tudo é o Que Parece), na minha concepção o filme provavelmente seria uma bagunça descerebrada, com muita ação e pouco conteúdo. O resultado não poderia ter sido mais diferente: eu sai extasiado do cinema. Quanto a esseOs Vingadores, minhas esperanças também eram pequenas. Na verdade, nada me levava a acreditar que o filme não seria uma completa bagunça. Mas, bem no fundo, eu acreditava que poderia me surpreender como me surpreendi ano passado. Mas um raio não cai duas vezes no mesmo lugar: Os Vingadores tem sua parcela inquestionável de acertos, mas no todo não passa de um blockbuster para divertir no final de semana.
O roteiro de Zak Penn e Joss Whedon (também diretor do longa) faz um trabalho competente ao entrelaçar os universos de cada um dos heróis. Isso já era algo que estávamos vendo nos filmes mais recentes da Marvel (tirando X-Men), mas aqui, o roteiro supreende pela maneira criativa que consegue para manejar essa questão: a relação de Hulk (Mark Ruffalo) com o tal do portal para o outro universo; a relação do prédio de Tony Stark (Robert Downey Jr) com os eventos vistos aqui... existem vários exemplos que eu poderia citar, mas que não faria sentido para quem não viu o filme ainda.
Acreditando já ter seus personagens suficientemente desenvolvidos nos seus filmes solos, o roteiro peca ao deixar um pouco de lado o trabalho de torná-los mais complexos, o que cria um vazio emocional que só é parcialmente "curado" por alguns integrantes do fantástico elenco. Robert Downey Jr volta a entregar mais uma performance memorável como Tony Stark. Cínico, metido, mas estranhamente humanista (vide os acontecimentos do primeiro - e excelente - Homem de Ferro), o personagem continua um dos meus heróis favoritos, com sua parcela de tiradas cômicas irrepreensíveis (auxiliadas pelo maravilhoso timing cômico do ator) e seus óbivos "defeitos" de caráter. Se o roteiro não ajuda a torná-lo em um personagem ainda mais complexo, Downey Jr consegue um milagre aqui ao entregar à Stark um arco dramático interessante, que desenvolve ainda mais esse já ótimo personagem.
Outro que merece atenção é o grande ator Mark Ruffalo como Hulk. Carregando o peso de um papel que já foi belamente interpretado por Eric Bana e Edward Norton, Ruffalo interpreta Bruce Banner como um sujeito trágico, que carrega um fardo insuportável mas que luta para um maior controle sobre ele (e se Edward Norton interpretou Banner em uma fase de menor controle ainda em Incrível Hulk, Ruffalo acerta ao mostrar o personagem em maior controle, e buscando sempre maior serenidade). Devo dizer ainda que as conversas entre Satrk e Banner representam os momentos mais interessante (e intimistas) vistos no filme.
É uma pena que nenhum outro ator consiga se destacar: Chris Evans e Chris Hemsworth não conseguem fazer mais nada do que já (pouco) fizeram em seus filmes solos (respectivamente, Capitão América e Thor), que representam, por sinal, alguns dos mais fracos e desinteressantes filmes da Marvel (especialmente Capitão América, um herói do qual não sou fã). Scarlet Johanson usa bem seu corpo, mas tem uma bela de uma poker face, o que, juntando-se ao péssimo "arco dramático" que o roteiro tenta criar para ela, transforma sua personagem, a Viúva Negra, em uma figura completamente desinteressante. Samuel L. Jackson... bom... nada pode fazer com seu Nick Furi. Mas agora é um crime o completo desperdício do grande Jeremy Renner (de Guerra ao Terror), cujo personagem é tão mal escrito, que castra Renner de qualquer atitude frente a essa situação. E se é bom ver a bela Cobie Smulders (a minha querida Robin Scherbatsky do seriado How I Met Your Mother), é ruim vê-la num papel que não oferece o menor desafio. Bom... ao menos Clark Gregg consegue transfromar seu Agente Courson em um figura pelo menos carismática.
O filme conta ainda com um, na maioria das vezes, falho senso de humor (algo que não acontecia nunca em X-Men Primeira Classe), apelando para situações infantis para gerar o riso, sendo que mais embaraça do que causa alguma risada. As excessivas discussões, "briguinhas", entre os heróis soam sempre falsas e bestas, causando muitas vezes o tédio no espectador. Além disso, embora eu aprecie o fato de o roteiro tentar aqui entrar em discussões mais complexas, envolvendo assuntos geo-políticos (como questões envolvendo a indústria bélica), ou ainda discussões mais filosóficas sobre a natureza humana (como a "necessidade" do ser humano de ser governado, ou como a humanidade é "grande em espírito"), eu tenho que dizer que tais discussões são muito mal trabalhadas. De fato, elas são "trabalhadas" em um nível infantil (o discurso do alienígena visto durante os créditos é simplesmente patético), parecendo mais liçõezinhas de moral extremamente do senso comum, do que reais e válidas discussões (como X-Men Primeira Classe fez com pereição invejável). Sem contar esses erros, é triste o fato de Whedon, o diretor, insistir em várias cenas de brigas físicas entre os heróis, que não levam em nada (como a imbecil luta entre Homem de Ferro, Capitão América e Thor numa noite, em uma floresta). Como cereja do bolo, é preciso dizer que essas fresezinhas de efeitos vistas a exaustão aqui, cansam ao extremo ("Dr. Benner, o senhor tem um laboratório com muitos brinquedinhos", " Vai ficar difícil respirar aqui", entra várias, VÁRIAS, outras... um tanto inumerável para ser sincero)!!!
Joss Whedon consegue um desempenho irregular aqui como diretor. Ele acaba não tendo a firmeza necessária para dar conta de um projeto grande como esse, frequentemente pecando no ritmo das cenas, insistindo em misturar humor à vários momentos de discussões sérias. Assim, o longa ganha contornos descontraídos demais, o que não nos deixa levar a sério o que estamos vendo. Além disso, o cineasta não parece muito preocupado em desenvolver os personagens, como já foi discutido.
Nas cenas de ação (um ponto importante em um filme como esse), Whedon peca muitas vezes por fazer um mal uso da edição, transformando essas cenas em momentos mais burocráticos do que empolgantes. Mas, é preciso dizer, o cineasta acerta enormemente no clímax, na épica batalha entre os heróis e o exército inimigo. Seria muito fácil, diante da expectativa criada para essa cena, que essa soasse anti-climática, mas Whedon consegue transformá-la em algo grandioso, verdadeiramente épico e empolgante, que contém um momento maravilhoso, em que Whedon cria um plano sequência impecável, filmando várias situações da batalha simultaneamente. Esse plano sequência, por sinal, é o momento mais brilhante do longa.
Infelizmente, o filme conta com uma trilha sonora imprecionantemente horrível, criada pelo grande compositor Alan Silvestri, sujeito responsável por trilhas inesquecíveis, como de De Volta Para o Futuro, Contato, O Expresso Polar, Náufrago, Forrest Gump, A Lenda de Beowulf, etc, o que torna seu fracasso aqui ainda mais deprimente.
Fechando, Os Vingadores é um bom filme, mas não é tudo que se espera. Para um nerd que acompanha as histórias em quadrinhos, é super por dentro do que acontece no universo Marvel, o filme pode ser até excelente, mas não para mim.
PS: A participação especial do veterano ator Harry Dean Stanton é hilária.
Nenhum comentário:
Postar um comentário