sexta-feira, 26 de abril de 2013



Crítica Homem de Ferro 3 (Iron Man 3 / 2013 / EUA) dir. Shane Black

por Lucas Wagner

  Tony Stark é um personagem fascinante. Egocêntrico, alcóolatra, mulherengo, mal-caráter e mimado, ele passa longe de ser a figura humana ideal que geralmente serve para ser um super-herói. Mas talvez seja por isso mesmo, por renunciar ao anonimato auto-imposto por super-heróis simplesmente por pensar como seria legal ser um e ser amado como um, e coisas do tipo, que Stark seja tão amado pelos cinéfilos e fãs de quadrinhos. Adoramos adorar um mal caráter. Mas ser simplesmente um bad boy não é o suficiente para ser um bom protagonista, e assim passamos a conhecer camadas mais profundas e complexas da personalidade de Stark, seja pelo cinismo e decepção que adquire quando vê que suas armas estão sendo usadas por terroristas, seja pela sua solidão (que busca consolar através da rica dinâmica que desenvolve com Pepper Pots), pelos seus problemas com seu pai, pela responsabilidade de ser um super-herói, e por muitos outros pontos. Foi explorando essa figura tão interessante que a Marvel fez de seu Homem de Ferro um sucesso tão grande de público e crítica em 2008, onde o diretor Jon Fevreau conseguiu criar um longa empolgante e engenhoso. E se Homem de Ferro 2 acabou sendo um filme infantil e descontrolado, e por isso mesmo disfuncional, trabalhando mal diversas e intrigantes oportunidades narrativas, ainda assim há diversos pontos positivos principalmente em relação à Tony Stark. Até mesmo no mediano Os Vingadores Stark se destaca como um personagem complexo e tridimensional.

  O mais bacana em relação a esses filmes em que Stark aparece é que os realizadores buscam explorar âmbitos diferentes dele, como seria se colocassem esse indivíduo em determinado meio e como ele iria se comportar. Alterando as contingências, vamos descobrindo novos aspectos dele além de percebermos como ele vai amadurecendo em frente a todas essas novas variáveis. E assim chegamos à esse Homem de Ferro 3, onde o diretor Shane Black (do extraordinário Beijos e Tiros, também protagonizado por Robert Downey Jr.) assume as rédeas da direção e do roteiro (juntamente com Drew Pearce) e busca levar a série para caminhos até então inexplorados e, justamente por isso, interessantes.

  Um dos melhores lances do roteiro é levar em consideração tudo o que Stark já passou nos outros filmes e como ele está mudado em relação a como era e como é. Para construir seu novo arco dramático, os roteiristas buscam focar-se principalmente nos eventos ocorridos em Os Vingadores, e em como tudo aquilo acabou afetando-o. Pensemos bem: ele era um gênio bilionário que vivia em um mundo ordenado e controlado pela Ciência e tecnologia e que, de repente, se vê envolvido em uma trama com alienígenas, múltiplas dimensões e buracos de minhoca. Stark, então, tem todo o seu conceito de realidade alterado e por isso mesmo ele acaba se isolando cada vez mais, tentando se guiar num mundo que não parece mais conhecer. Dessa forma, sua dedicação à construção e aperfeiçoamento de armaduras, se já parecia uma forma de terapia, aqui se transforma inegavelmente numa terapia, com Stark tentando se manter longe de tudo e de todos, dentro de um casulo ordenado e seguro. O que acaba sendo ainda mais complexo é observarmos como a linha entre a sanidade e a loucura, que divide o personagem, é tênue, quando toma uma decisão afobada e irresponsável ao ameaçar logo de cara o vilão Mandarin, mesmo sabendo que não tem tanto poder contra ele, ainda mais no estado em que se encontra. Também é uma boa sacada do roteiro fragiliza-lo ainda mais ao coloca-lo sobre uma pressão constante que acaba desencadeando crises de ansiedade cada vez mais intensas. Interessante também é enxergar como, por exemplo, os roteiristas consideram como desenvolvido o relacionamento entre Pepper e Tony e não buscam mexer em suas bases, mas o desenvolve a partir do que já foi estabelecido nos filmes anteriores, o que acaba conferindo maior força e maturidade para o casal. E o sentimento que existe entre os dois, trabalhado principalmente no primeiro filme, aqui se torna vital para que o arco dramático de Tony seja concluído com propriedade. Apesar de tudo, é claro, Stark continua sendo o mal caráter que adoramos, algo que fica bastante claro quando um garotinho sofrido pergunta, depois de ter estabelecido um relacionamento de parceria e amizade com Stark: “você vai me deixar aqui sozinho e ir embora, como meu pai fez?”, e recebe como resposta um claro e nada sentimental “vou”.

  Se o personagem continua tão eficaz, no entanto, é mesmo a ainda impecável performance de Robert Downey Jr.. Cada vez mais confortável ao viver o magnata, Downey Jr. mais uma vez demonstrando imensa seriedade na composição do papel, embora se permita seus detalhes divertidos de atuação que já sabemos poder esperar dele. Downey Jr. explora com habilidade todas as dimensões possíveis de Stark, conferindo peso dramático mais do que ideal ao sofrimento e confusão deste, conseguindo até mesmo tirar qualquer possibilidade de alívio cômico de seus ataques de ansiedade, o que seria inadequado e tiraria a força desses momentos. Apesar deste novo desempenho fenomenal do ator e da adequada construção pelo roteiro, há ainda alguns problemas de construção do personagem ao longo do filme, com muitas vezes havendo uma clara confusão entre os roteiristas de como lidar com o protagonista em determinados momentos, além de existirem oportunidades desperdiçadas, como o relacionamento entre Stark e o garotinho, que poderia ter algum subtexto simbólico que auxiliasse na resolução do arco dramático dele, principalmente se considerarmos que ele mesmo, como o menino, teve uma infância marcada por uma espécie de ausência paterna. Apesar disso tudo, é interessante observarmos como a armadura Mark 42, com todos os seus erros e defeitos de funcionamento, acaba refletindo a personalidade desconfigurada de Stark nesse novo filme.

  Homem de Ferro 3 acaba encontrando problemas inegáveis, no entanto, é mesmo no desenvolvimento de sua trama. Repleta de furos de lógica e coincidências enfadonhas, que acabam desafiando um pouco a paciência do espectador, a trama dessa nova aventura acaba até mesmo fugindo do que já vinha sendo estabelecido nos trabalhos anteriores. Antes, era bastante evidente o esforço do diretor Jon Fevreau em tornar o mais verossimilhante e realista possível o universo de Homem de Ferro (em especial no primeiro filme), investindo inclusive bastante tempo mostrando Stark construindo sua armadura, ressaltando as dificuldades e tentativas frustradas do herói até chegar no resultado final. Além disso, Fevreau buscou calcar os acontecimentos daquele universo no mundo real, com problemas reais, inclusive no que se refere à geopolítica, tornando tudo ainda mais realista. No entanto, com Os Vingadores, que já inseriu o Homem de Ferro num contexto mais fantasioso, Shane Black e Drew Pearce acabam trazendo o universo de Stark para elementos mais fantásticos, com pseudo-explicações científicas para vilões que chegam até mesmo a cuspir fogo. Não que essa inserção de aspectos fantásticos seja de todo um erro, já que se levarmos em conta o universo Marvel como um todo e Os Vingadores, faz completo sentido que isso aconteça. Minha opnião pessoal, no entanto, é de que enfraqueceu um pouco o longa. Aliás, já que devemos considerar agora a Marvel como um universo unido, por que é que o resto dos Vingadores não apareceu para ajudar seu colega em momentos e tribulações tão extremas como as que está lidando?

  Ainda assim, o que acaba sendo mais decepcionante é como esse novo filme descarta qualquer possibilidade de crítica sócio-política, algo que o primeiro e o segundo exploram. No primeiro filme, fica claro o subtexto de que aquela trama serve de referência ao caráter cíclico do comércio de armas mundial, onde a indústria bélica norte-americana acabava influenciando diretamente o terrorismo mundial. Já no segundo, os subtextos críticos se atrapalham todos (pelo roteiro mal escrito), mas ainda assim há material para se pensar. Nesse terceiro longa existem pontos que poderiam ser desenvolvidos (quais as consequências, por exemplo, da existência do Patriota de Ferro?), mas acabam sendo ignorados. Os discursos do Mandarin, por exemplo, muito revelam sobre a influência norte-americana em acontecimentos como o 11/09, e também há detalhes pontuais sobre o descaso com o derramamento de petróleo, mas percebe-se que isso tudo é mero pano de fundo e que não há qualquer evidencia no roteiro de uma reflexão mais crítica quando vemos, por exemplo, como o presidente dos EUA é ilustrado como um homem justo e corajoso (e vê-lo usando a armadura do Patriota de Ferro, em certo momento, foi extremamente tosco, além de, propositalmente ou não, transmitir uma mensagem subliminar muito pouco sutil).

  Ainda assim Homem de Ferro 3 possui outros atrativos válidos, como a direção de Shane Black. Já me tendo como fã desde que realizou o já citado Beijos e Tiros, Black se revela uma escolha acertada para assumir esta franquia ao demonstrar pulso firme para alternar com habilidade absoluta momentos mais intensos e outros mais leves. Com um ritmo frenético (talvez para tornar mais difícil de se enxergar os furos do roteiro), Black cria um longa empolgante explorando aspectos mais profundos de Stark sem nunca tentar torna-los mais leves, com medo de que esses aspectos acabassem tirando o herói do pedestal onde o colocamos. Assim, Stark aparece em todos os momentos aqui como uma figura mais falha e fragilizada, nunca parecendo um verdadeiro e absoluto herói. Com um humor sutil e extremamente eficaz, Black explora ainda possibilidades criativas intrigantes ao, por exemplo, colocar Stark em um momento que parece ter saído diretamente de um exemplar de Missão Impossível. Atentando para detalhes, o diretor acerta, como Fevreau fez antes, ao ressaltar dificuldades técnicas das novas armaduras e os problemas que o herói enfrenta quando essas o deixam na mão. Além disso tudo, percebe-se claramente que esse é o mesmo diretor sarcástico que dirigiu Beijos e Tiros na trolada que ele dá em seus espectadores em relação à reviravolta do personagem Mandarin, que, se a princípio enxerguei como um erro, depois percebi a inteligência do diretor nessa reviravolta, principalmente ao lembrarmos que ele escalou um ator de peso como Ben Kingsley para viver tal personagem, obrigando-nos a leva-lo a sério e desviando qualquer pensamento que poderíamos ter sobre sua verdadeira identidade. Mas é mesmo nas cenas de ação que Black se sobressai completamente, criando sequências intensas e extremamente bem montadas, que se beneficiam ainda mais do fato do diretor criar conceitos quanto às armaduras nesse longa que se inserem de maneira orgânica no contexto das batalhas e que ele explora ao máximo, aumentando a adrenalina, além de Black mostrar-se competentíssimo ao incluir montes e montes de pistas que serão usadas nas sequências de ação ao longo do filme.

  Quanto ao elenco (além de Downey Jr.), Gwyneth Paltrow fica presa à um arco dramático não tão interessante quanto a Pepper, impedindo-a de fazer um trabalho eficaz como fez anteriormente; ainda assim, a atriz merece muitos créditos por deixar bastante evidente o amadurecimento de Pepper desde o primeiro filme, que passou de uma moça submissa (apesar de tridimensional) para uma mulher madura e forte. Rebecca Hall (de O Grande Truque, O Despertar, Vicky Cristina Barcelona, Atração Perigosa, etc), mesmo com menos tempo em tela, consegue transformar sua personagem cientista numa figura extremamente complexa e ambígua, cuja moral e determinação é constantemente ambivalente. Guy Pearce (de Amnésia) cria um bom vilão em Aldritch Killian, sendo tenso e transmitindo sensação de perigo, além de colocar-se como um adversário à altura do Homem de Ferro, embora suas motivações nunca se tornem muito claras e os conflitos que o movam sejam muito rasos (até agora, por sinal, a série Homem de Ferro nunca teve um vilão muito complexo). Já Ben Kingsley se diverte absurdamente como Mandarim, principalmente se levarmos em conta a revelação sobre ele; atentem até mesmo para a entonação do ator no fim de cada frase que diz e perceberão um cuidadoso trabalho de composição de personagem, mesmo que ele, profissional veterano que é, esteja claramente considerando seu papel aqui como um divertido passatempo.

  O mais interessante de tudo é a emoção que sentimos na sequência final, quando o arco dramático de Tony Stark é fechado com muita habilidade, e fica bastante claro o amadurecimento que esse indivíduo sofreu ao longo de todos os acontecimentos que acompanhamos desde que foi feito prisioneiro por terroristas no Oriente Médio. A ligação que sentimos com o personagem nesse momento, o sorriso sincero que damos ao percebermos que o conhecemos quase como que um amigo, acaba superando em grande parte os inegáveis problemas que encontramos nas duas horas em que estivemos na sala de cinema. Por isso mesmo, mesmo que sem a densidade e complexidade da trilogia Batman, e relevância de um X-Men ou a sensibilidade de um Homem Aranha (especificamente os dois primeiros de Sam Raime, não o terceiro e nem o reboot do ano passado) é que Homem de Ferro continua uma franquia competente que ainda pode dar bons frutos.

Nota: 7.0 / 10.0

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Antoine Dufour & Tommy Gauthier


Eae galera, tudo bom?

Hoje é dia de fingerstyle de altíssimo nível.

 


Há muito tempo queria falar desse álbum do Antoine Dufour & Tommy Gauthier - Still Strings (2009).

Suas musicas foram muito bem trabalhadas e com muito feeling. A companhia do violino para o fingerstyle foi capaz de proporcionar mais emoção nas musicas, principalmente na dinâmica interpretada por Tommy Gauthier.
As músicas destaque no CD foram: “Swing in A Round”, “Mellow Deep art”, ”Solitute”, “Spiritual Groove” e “Intenso”.

A música “Mellow Deep art” foi a melhor musica, pois traz frases alegres cheios de harmônicos, percussões no violão e o violino dando ênfase ao tema inicial da melodia.

Antonie Dufour utiliza vários tipos de técnicas na música “Intenso”, principalmente os leques de flamenco. A ousadia nessa composição de utilizar um violão de aço folk fez um diferencial, enquanto Tommy Gauthier mostra competência no virtuosismo com temas bonitos.
Esse álbum “Still Strings” pode ser considerado uma grande "obra de arte".
 
 “Mellow Deep art”
 
“Spiritual Groove”
 
"Swing in A Round"
 
Abraço.
 

sexta-feira, 19 de abril de 2013



Crítica filme A Morte do Demônio (Evil Dead / 2013 / EUA) dir. Fede Alvarez

por Lucas Wagner  

  Conseguindo criar um clima de claustrofobia e tensão extremamente eficazes, investindo em movimentos de câmera e efeitos de fotografia e de som específicos que mergulhavam o espectador na insanidade, além de investir num divertidíssimo uso do gore criando um efeito agridoce de humor bizarro, o então jovem estudante de Cinema Sam Raime, em 1981, criou um dos maiores clássicos de terror de todos os tempos: Evil Dead. Com tamanho (e inesperado) sucesso, o longa se transformou numa franquia, que tomou um rumo bastante diferente e criativo no ótimo Evil Dead 2 e no razoável Evil Dead 3: ao invés de serem voltados para o terror (como o primeiro), os dois últimos buscavam ficar na fronteira entre horror e a comédia pastelão (“Groovy!”), sendo que apenas Evil Dead 2 conseguiu um resultado realmente eficaz nessa questão. Agora, mais de vinte anos desde o último filme, Raime retorna como produtor na refilmagem do original dirigida pelo estreante Fede Alvarez, que consegue se transformar quase que num longa à parte, fugindo de apenas repetir o que fez sucesso no primeiro filme, e assim cria algo próprio, mesmo que com inegáveis problemas e sendo infinitamente inferior ao clássico original.

  Buscando mostrar que esse se trata de um filme próprio e não apenas uma refilmagem, Alvarez mergulha o longa num tom constantemente sombrio e macabro, não deixando espaço algum para qualquer humor. Assim, esse novo Evil Dead já abre com um prólogo que surge demoníaco por si só, mostrando uma morte violenta e dolorosa antes mesmo de o título aparecer na tela, já nos preparando para o tipo de coisa que iremos presenciar na próxima hora e meia. Assumindo também uma perspectiva mais séria e emocionalmente densa do que a que Raime explorou, Alvarez e o coroteirista Rodo Sayagues criam personagens que dessa vez não procuram apenas um final de semana de descontração junto aos amigos, mas sim pessoas que, mesmo jovens, são marcados por tragédias e problemas interpessoais e que se uniram naquela cabana (também cheia de memórias) com o objetivo de ajudar a amiga Mia (Jane Levy) à passar por um doloroso processo de desintoxicação das drogas, nas quais mergulhou depois da morte da mãe. A cada segundo de Evil Dead o espectador se sente oprimido, desgastado e cansado diante de tanta tragédia que domina a vida daqueles personagens, sendo que essas sensações são ainda mais ressaltadas pela câmera sempre inquieta/nervosa de Alvarez e por seus planos na maioria fechados. A fotografia de Aaron Morton busca também mergulhar o longa quase sempre na neblina, apoiando-se numa paleta baseada no cinza e no preto (exceto quando os personagens principais são apresentados, onde resquícios da luz do sol representam um fragmento de esperança que os domina, mesmo que fracamente), criando um constante tom de melancolia. E também é preciso reconhecer que a própria direção de arte acerta ao criar a cabana não só como um ambiente sombrio que remete ao original (até mesmo o banco de balanço está lá) mas também como um perfeito símbolo para um passado mais alegre que contrasta com o horrível presente, e assim é um toque de brilhantismo do design de som colocar sons distantes e fantasmáticos de risadas e conversas que veem à memória de Mia ao olhar para fotografias na cabana.

  Sabendo aproveitar bem suas ideias, Alvarez e Sayagues exploram a tênue linha que diferencia a desintoxicação de Mia de uma verdadeira possessão, criando uma narrativa orgânica que liga o processo de recuperação da personagem com a liberação dos espíritos malignos que irão atormentar todo o grupo. Do clássico original, Alvarez busca, acertadamente, não repetir as cenas clássicas, mas sim criar outras que funcionam dentro de sua própria narrativa e lembram o trabalho de Raime. Assim, o inesquecível momento em que uma jovem era estuprada por uma árvore ganha uma certa memória numa cena similar, mas não igual. O mesmo pode ser dito em relação ao momento em que uma personagem é mordida na mão por uma possuída (desta vez recordando um momento icônico de Evil Dead 2). Mas também existem homenagens mais sutis ainda, como a corrente que David (Shiloh Fernandez) dá à sua irmã (que é a mesma que Ash dá à namorada no original), a câmera subjetiva do demônio, a serra elétrica, e até mesmo quando vemos Mia sentada em um Delta 88, carro no qual Sam Raime é apaixonado e inclui em praticamente todos os seus filmes.

  Alvarez desce a mão pesadamente mesmo é sobre o gore, à um nível de violência insana que aqui, diferente de antes (especialmente nos dois últimos filmes), não tem qualquer pretensão de humor. Se antes acharíamos graça de uma personagem vomitando sangue em outra, aqui qualquer graça que poderia existir nesse exagero é sugado para fora do filme por uma atmosfera tão densa que elimina humor. O diretor também usa o grafismo extremo enfocando, por exemplo, tendões e ligamentos de um braço se rompendo, com o objetivo de tornar aquilo tudo mais real, e não fantasioso (e não poderia deixar de citar outro acerto do design de som no que se refere ao terrível barulho de uma personagem se automutilando no escuro). Essa violência também serve à um outro propósito além de nos fazer levar a sério o que estamos vendo e deixar tudo mais real: o nível vai crescendo a ponto de adquirir um ar mais surrealista apocalíptico, culminando numa chuva de sangue. Alvarez também demonstra inteligência ao usar o mínimo possível de efeitos criados em computador, preferindo assim trucagens mecânicas e uma maquiagem grotesca que conferem maior verossimilhança à obra, mesmo que a maquiagem deste não tenha nem um pouco da inventividade e originalidade que tanto enriqueceram os filmes anteriores, que contaram com o grande Greg Nicotero (hoje bem conhecido por seu trabalho na maquiagem no seriado The Walking Dead) como responsável por essa área.

  Uso a questão da maquiagem para entrar nos demônios: aqui, apesar de ameaçadores, eles não se destacam como criaturas minimamente memoráveis. São apenas zumbis, com olhar perdido e tendências malignas cujo único objetivo é ferir suas vitimas. O que é uma pena, já que um dos grandes acertos do original (e do segundo filme também) residia justamente nos monstros, que surgiam como criaturas irônicas e sarcásticas que não visavam ferir apenas fisicamente seus adversários, mas destruí-los psicologicamente também. É bem verdade que o sarcasmo dos demônios não cairia bem na versão de Alvarez, mas ele poderia ter explorado o potencial deles em mergulhar suas vítimas na loucura/desespero. Aqui e ali Alvarez flerta com essa possibilidade (como quando a porta do espelho fecha sozinha na frente de uma personagem, revelando um reflexo satânico que prevê o que acontecerá a seguir), mas são muito raros para significar muita coisa. Acaba que esses monstros se tornam até mesmo um pouco cansativos durante o segundo ato, prejudicando o longa por torná-lo um pouco repetitivo.

  Alvarez pode ser promissor na direção, como já deixei claro ao ressaltar aspectos de seu trabalho aqui, mas ele ainda precisa crescer bastante. Se é um acerto que ele invista em planos mais fechados para criar claustrofobia, e também mantenha a câmera sempre inquieta, esses mesmos aspectos acabam prejudicando diversas cenas de ataques de monstros à pessoas, já que fica muito difícil distinguir exatamente o que está acontecendo na tela. Assim também vale ser ressaltado quanto à fotografia de Aaron Morton que, embora faça um bom trabalho ao conseguir tornar visíveis cenas que se passam no breu total (e outros acertos que já comentei), peca ao deixar escuro demais certos momentos (o beijo lésbico de uma possuída mutilada com a loira bonita, por exemplo, é quase impossível de enxergar). Mas o diretor Alvarez acaba encontrando seus maiores problemas ainda ao não conseguir encontrar maneiras mais criativas de explorar o terror (sem ser só a violência e o gore), não alcançando assim a sensação de pura insanidade que Raime alcançou no original, principalmente no final. Outro grave problema reflete-se na dificuldade que Alvarez encontra para desenvolver seus personagens, apelando até mesmo para a trilha sonora constante para isso.

  Os personagens, aliás, em sua maioria, quase nunca conseguem encontrar um grau maior de tridimensionalidade, algo que também era evidente nos antigos mas que lá acabava não incomodando tanto pela abordagem descompromissada que Raime adotou, diferente da seriedade deste aqui. Eric é um cara arrogante e meio burro, sobre o qual nunca compreendemos muito a não ser que tem algum problema com David que nunca fica bem esclarecido. A loira Elizabeth Blackmore como Natalie só pode ser bonita e calada, encontrando pouquíssimo momentos nos quais pode fazer algo a mais. A linda Jessica Lucas consegue conferir pelo menos alguma força para sua Olivia. Já David é um personagem meio sem graça mas com alguns aspectos interessantes: em primeiro lugar porque é evidente que os roteiristas compreenderam que o que tornou (no primeiro filme) o protagonista Ash num personagem mais memorável, foi justamente sua fragilidade e inocência, características que divide com David, seu sucessor; em segundo lugar, porque todo o background de covardia e culpa que dominam o personagem lhe conferem maior tridimensionalidade e tragicidade, criando para ele até mesmo um arco dramático bem resolvido. O problema fica por conta da atuação de Shiloh Fernandez, ator inexpressivo e incompetente que não consegue trabalhar bem nem mesmo emoções mais básicas de David.

  É, no entanto, na figura de Mia que Evil Dead parece encontrar rumos mais ambiciosos. A questão é que, quando acabamos de ver o filme, a sensação que temos é (não leia o resto deste parágrafo se não tiver assistido. Continue no próximo parágrafo) de termos presenciado uma verdadeira e dolorosa recuperação de Mia do mundo das drogas. Ela ficou mergulhada numa personalidade completamente alheia quando estava possuída (como quando ficava quando sob o efeito das drogas) até que, depois de ser ressuscitada (como havia acontecido depois que sofreu overdose) ela tem a chance de encontrar forças novamente para lutar contra demônios internos (e externos também). Também devemos considerar que um dos aspectos mais problemáticos em relação à pessoa de Mia se refere à ausência de seu irmão, David, que sempre parece fugir de responsabilidades e dificuldades maiores; dessa forma, é realmente muito admirável observar como os roteiristas colocaram David como salvador de sua irmã, sendo o responsável por sua ressuscitação (literalmente do inferno e simbolicamente do mundo das drogas), finalmente abraçando lados mais difíceis e maduros com aqueles com quem tem responsabilidades. E era o que Mia precisava para conseguir se recompor: da figura do irmão, que agora se sacrifica por ela (literalmente). Assim, o terceiro ato ganha uma força extrema que o filme não tinha encontrado até então, já que encontra simbolismos interessantíssimos desde a chuva de sangue até o fato de o demônio contra o qual Mia luta ter a exata aparência dela mesma. Dessa forma, é como se ela estivesse lutando contra si mesma, contra demônios internos e externos e assim encontrando a salvação que tanto procurava. O final do filme surge feliz, pela primeira vez em qualquer Evil Dead, mas isso não foi um erro, mas um acerto que revela até coragem dos realizadores (tenho certeza que muito fã ignorante dos antigos não gostará muito de um final em que alguém sobreviva). E se Jane Levy não é uma grande atriz, a personagem e o seu arco dramático são muito bem escritos e simbolizados para que Mia ganhe força suficiente como protagonista.

  Se mostrando como um filme de terror realmente bom depois de muito tempo de apenas bobagens ou coisas inúteis no gênero, Evil Dead ganha mais se o enxergarmos não como uma refilmagem, mas como um longa de terror com problemas e acertos que faz parte do mesmo universos dos clássicos. Agora, interessante é o fato de Sam Raime estar voltando ao mundo de Evil Dead para escrever e dirigir a continuação do terceiro filme e que Fede Alvarez já planeja uma continuação deste sobre o qual acabei de escrever. Imaginem como será que os dois cineastas farão uma ligação entre os dois filmes? Já aguardo ansioso.

PS 1: A cena pós-créditos levará fãs dos originais, como eu, à loucura.

PS 2: A letra inicial do nome de cada um dos personagens formam a palavra DEMON (“demônio”, em inglês): David, Eric, Mia, Olivia, Natalie... DEMON!

Nota: 8.0 / 10,0

domingo, 14 de abril de 2013



Crítica filme “Oblivion” (Oblivion / 2013 / EUA) dir. Joseph Kosinski

por Lucas Wagner

 Algo cada vez mais raro vem acontecendo quando assisto um novo filme hollywoodiano: eu me sentir interessado pelo que estou vendo por não conseguir prever para onde a história vai. E, surpreendentemente, isso me aconteceu nesse Oblivion, quando me percebi realmente curioso em saber mais detalhes sobre a trama e como tudo aquilo iria acabar. Não que o filme seja realmente grande coisa, já que possui problemas mais graves sobre os quais discorrerei mais abaixo, mas é fato que os rumos que a trama toma são mais diferentes do que os que geralmente vemos, ao mesmo tempo em que é ambicioso para, com uma narrativa calma (algo também raro hoje em dia), conseguir explorar diversos âmbitos, flertando com conspirações, ecologia, dúvidas existenciais e até mesmo um romance (que nunca se torna enfadonho), embora não consiga adentrar muito satisfatoriamente em nenhum desses âmbitos.

  O roteiro é de Karl Gajdusek e Michael Arndt (responsável por Pequena Miss Sunshine e Toy Story 3), baseado nos quadrinhos criados pelo próprio diretor, Joseph Kosinski (de Tron: O Legado), e acompanha um planeta Terra que sofre as consequências da destruição da Lua e de uma invasão alienígena (os “saqueadores”), que resultou numa guerra nuclear que acabou com o planeta. Enquanto esperam para poderem migrar para Titã, Jack (Tom Cruise) e Victoria (Andrea Riseborough) passam o dia-a-dia fazendo a manutenção dos drones (robôs de segurança contra os “saqueadores” remanescentes). As coisas mudam quando Jack descobre uma astronauta que lhe é estranhamente familiar.

  O desenrolar da trama de Oblivion é eficiente por ir aumentando cada vez mais o estranhamento das situações, quando essas vão ficando mais absurdas e por isso mesmo mais interessantes. Sem buscar ficar mastigando demais a narrativa para o espectador, os realizadores conseguiram montar uma história que funciona como uma mistura inusitada de 2001: Uma Odisséia no Espaço, Lunar e Planeta dos Macacos, pegando elementos desses três longas e inserindo-os organicamente dentro da trama, além de fazer homenagens explícitas a cada um deles, principalmente 2001 (o visual dos drones aqui é basicamente idêntico ao dos pods de lá; uma criatura vista no terceiro ato não consegue deixar de lembrar o inesquecível HAL-9000 do clássico de Kubrick; e também, é claro, a imagem de um determinado corpo flutuando em gravidade zero, no espaço). Mas, diferente de como A Origem, de Christopher Nolan, pega elementos de Matrix, Sinédoque Nova York e Paprika para criar algo totalmente novo, complexo, original, o que Oblivion faz com 2001, Lunar e Planeta dos Macacos é simplesmente montar um quebra cabeça com elementos desses três filmes (e até um pouquinho de Independence Day, por sinal), criando algo curioso e empolgante, mas não exatamente original; o que não um grande problema, afinal, mas é um fato.

  Kosinski vai trabalhando seu filme com uma calma rara nos blockbusters atuais, e vai permitindo que o clima de melancolia que domina a história vá nos enlaçando, trocando um número maior de explosões por um tom mais contemplativo. Isso fica bem claro no longo primeiro ato do longa, que visa apresentar aquele universo ao espectador, sem pressa para começar logo a trama. Basicamente todo o primeiro ato se preocupa em explorar um dia de trabalho de Jack e Victoria, construindo até mesmo uma bela e triste cena em que os dois jantam à luz de velas e logo depois nadam juntos. É claro que aqui, Kosinski deixou passar a oportunidade de enfocar pequenos aspectos do cotidiano daqueles dois (não seria bacana ver Victoria, por exemplo, limpando a piscina?), o que daria ainda mais verossimilhança para o filme; mas isso não é algo vital, só que é algo que eu com certeza faria se estivesse dirigindo o longa (mas eu também faria a linda Olga Kurylenko vomitar quando Tom Cruise faz piruetas com sua nave, então eu sou meio louco mesmo). Como disse no primeiro parágrafo, Kosinski busca explorar diversos âmbitos possíveis em seu filme, colocando elementos de conspiração, aspectos ambientais, intrigas, romance, etc, o que é muito interessante por dar uma dimensão maior à obra, além de evidenciar maior ambição de seus realizadores. No entanto, ao mesmo tempo em que isso é curioso, Kosinski acaba não conseguindo explorar com propriedade todos esses aspectos nas duas horas de duração, o que acaba enfraquecendo a obra. Por exemplo: não seria interessante que as consequências da destruição da Lua não fossem apenas citadas, mas também às víssemos na prática, em ação, funcionando como um elemento a mais para criar tensão? Ou ainda, não seria bacana conhecermos mais profundamente a vida dos “saqueadores”? Não seria fascinante se as reflexões de Jack sobre sua natureza ultrapassasse os limites da ligação com Julia (Kurylenko) para explorar sua humanidade, sua psicologia, seu valor dentro do contexto de um mundo que não mais existe? Nesse mesmo aspecto, quais seriam as consequências psicológicas para a descoberta massacrante que Jack faz sobre ele mesmo, sobre sua natureza (algo que Lunar, com o qual Oblivion divide essa revelação, explorou com tanta perfeição)? E a reação de Julia diante desse mesmo aspecto? Não seria algo intrigante e complexo de se desenvolver? Essas e outras tantas lacunas que Kosinski e seus roteiristas poderiam explorar são, infelizmente, ignoradas, diminuindo absurdamente o valor da obra.

  No aspecto visual, Oblivion é basicamente só perfeição. Com efeitos especiais impecáveis principalmente por esconder habilidosamente a natureza digital do que vemos, Kosinski ainda consegue acertar em cenas de ação que surgem eletrizantes e bem montadas, nos entregando até mesmo um ótimo plano sequência em que acompanhamos um drone em ação. A trilha sonora de Anthony Gonzales (da banda M83) é eficiente ao investir mais na melancolia do que no impactante, ao passo que a fotografia de Cláudio Miranda (mesmo de As Aventuras de Pi e Tron: O Legado) é impecável na exploração de ambientes apocalíticos e na geografia desconexa, juntamente com a paleta de cores frias e nostálgicas (e é apenas em momentos chaves e ambientes específicos que as cores ficam mais claras e quentes). Também o trabalho de figurino é eficiente ao colocar Jack em roupas mais confortáveis que remetem ao passado quando está em certos ambientes, e também pelo fato de Victoria sempre usar uniformes cheios de insígnias da empresa da qual é empregada, ressaltando sua submissão à essa. No que diz respeito à direção de arte, Oblivion acerta na retratação da diferença dos ambientes tecnológicos de onde Jack e Victoria vivem para aqueles mais claustrofóbicos que revelam o lar dos “saqueadores”; além disso, ambientes como o TET e a biblioteca subterrânea são atrativos à parte.

  Apesar de seus inegáveis acertos, Oblivion comete um erro talvez ainda mais grave do que os que discuti no quarto parágrafo: a completa incompetência no desenvolvimento dos personagens. Jack é um personagem completamente clichê, apenas uma repetição do tipo de protagonista que vem se tornando cada vez mais comum em produções desse tipo: a quem falta memória e que é atormentado por sonhos que ele não sabe se se refere à um passado verdadeiro ou é só fantasia (mas é claro que não é só fantasia). Além disso, todo o seu amor pela Terra, e de achar que esse é o seu lar, mesmo tendo nascido depois de seu fim, nunca cola, e acaba tornando-o mais enfadonho (a cena em que ele começa a narrar um jogo clássico de futebol americano que nunca presenciou é, sinceramente, vergonhosa). Tom Cruise, assim, mesmo na entrega habitual ao personagem, não consegue tornar Jack uma figura mais complexa e tridimensional, ficando preso à um protagonista desinteressante, por mais que revelações empolgantes sejam feitas (só que não são bem exploradas, como já disse). Já Morgan Freeman mais uma vez desperdiça seu talento em um personagem inútil, e Olga Kurylenko nunca convence na interpretação nostálgica e melancólica que tenta dar à Julia. A única que consegue, com muito esforço, deixar a personagem um pouquinho mais interessante, é Andrea Riseborough, como Victoria, já que é uma personagem mais ambígua que, de vez em quando, parece se sentir meio culpada pelo pragmatismo absoluto que emprega em sua vida.

  Caindo ainda no erro de deixar coisas sem explicação alguma (porque Julia parece ser tão importante para todo mundo, afinal de contas?), Oblivion consegue nos fazer ignorar um pouco mais de seus erros com o seu final, que surge corajoso e até poético. Mas, ainda assim, o filme acaba engolido pela falta de habilidade dos realizadores para explorar com toda a competência necessária uma trama com tantas possibilidades como essa. É, sem dúvida, um bom filme, interessante e curioso, mas que não consegue passar disso.

Nota: 6.0 / 10.0

Resenha: EP Lari Basilio



por Marcos Silva


     Mesmo com tantos lançamentos de Guitarra Instrumental, poucos apresentam o que deveriam, um dialogo com começo, meio e fim, onde a técnica deve ser um veiculo para o musico transportar seus sentimentos ao ouvinte.

     Lançado em Abril de 2012, o EP homônimo da guitarrista paulista Lari Basilio, é um dos trabalhos mais agradáveis que ouvi nos últimos anos dentro do gênero. Ela ficou conhecida pela sua participação no Concurso Cultural Santo Angelo de Música Instrumental Gospel, levando o 2º lugar, e também o tempo recorde de visualizações.

     Todas as faixas do EP, conquistam e despertam interesse ao ouvinte logo nas primeiras notas, devido ao bom gosto, os timbres e o modo como suas musicas são estruturadas, cada tema soa como um complemento ao antecessor e passagem para o seguinte, nenhuma nota é tocada em vão, é a genuína magia na hora de estruturar as musicas, algo que se ouve em guitarristas como Joe Satriani e Eric Johnson, que eu cito como referencia para quem não conhece o trabalho da guitarrista.

     Quatro composições são de autoria de Lari, e “Hey Brother!”, uma co-autoria de Joezer Basilio, irmão da mesma. O EP foi gravado no Norcal Studios, por Brendan Duffey e Adriano Daga, que toca bateria em “Musicatele”. O disco também conta com a participação do baixista Felipe Andreoli, na faixa “Gold”, que possui uma base com levada mais Heavy, “Walking By Faith” também se desenvolve em cima de um groove pesado, que forma um contraste muito interessante com a sutileza da melodia inicial, onde são exploradas double notes com dinâmicas bem sutis, “Do You Need Worlds” encerra o disco com belos timbres de telecaster levemente saturada, frases em oitavas, rítmicas interessantes nas melodias e muito feeling.

     Confira as performances das musicas "Hey Brother!", "Do You Need Worlds", "Musicatele", "Walking By Faith" e a participação da guitarrista no Concurso Cultural Santo Angelo de Música Instrumental Gospel.


























segunda-feira, 8 de abril de 2013

Crítica filme “Mama” (Mama / 2013 / Espanha, Canadá) dir. Andrés Muschietti 
por Lucas Wagner

  O curta metragem Mama, de 2008, do argentino Andrés Muschietti, tinha pouco mais de dois minutos de duração e ainda assim era uma experiência interessante justamente por deixar o espectador com a pulga atrás da orelha quanto aos antecedentes daquela história. Mais interessante era que Muschietti conseguia arrepiar pela natureza macabra do minúsculo trecho de história que assistimos: quando uma irmã acorda a outra dizendo “Mamãe (mama) está de volta”, não conseguimos imaginar que o que veríamos seria a criatura macabra e arrepiante que aparece. E é convertendo aquilo que é sagrado (a relação entre mãe e filhas) em algo profano, sem explicação de como ou por quê, que o diretor conseguia nos deixar tão curiosos e assustados, mesmo em tão pouco tempo. Impressionando o consagrado cineasta Guillermo Del Toro, Muschietti conseguiu apoio de produção e pôde, assim, transformar o curta em longa metragem. Podemos dizer, no entanto, que o que havia de mais interessante no curta se perde aqui, já que, inexperiente, Muschietti não consegue escapar das convenções do gênero terror, por mais que seu filme seja pontualmente interessante.

  De forma resumida, o roteiro de Muschietti, Barbara Muschietti e Neil Cross contam uma história que envolve um massacre promovido por um executivo pai de família que, num surto psicótico, mata mulher e sócios, deixando ainda as filhas sozinhas desaparecidas no meio do nada. Sem desistir das buscas, seu irmão, Lucas (Nikolaj Coster-Waldau), consegue encontra-las cinco anos depois na cabana em que o pai as deixou. Com sérios problemas de desenvolvimento, as irmãs são aos poucos reintroduzidas no meio social, com a ajuda de Lucas, sua namorada Annabel (Jessica Chastain) e o psicólogo Dreyfuss (Daniel Kash), que busca estuda-las e compreendê-las melhor. No entanto, as garotas não estiveram sozinhas durante todo esse tempo na cabana, mas contaram com a ajuda de um fantasma que elas chamam de “mama”.

  Se tem algo muito bacana em Mama é que, até certo ponto, Muschietti consegue contornar a trama convencional dos filmes de terror atuais, e transforma sua obra numa experiência mais curiosa por estender-se à mitologia que cria e por certos elementos. A questão das meninas terem sido encontradas quase como selvagens é um ponto legal, assim como a própria situação de terem tido um fantasma como cuidadora. O filme ganha um impulso no momento em que as garotas são encontradas e agarra a atenção do espectador, nos deixando curiosos com como o roteiro desenvolverá essas situações. Infelizmente, o que é interessante quanto à trama acaba aqui, já que, como eu disse antes, Muschietti não consegue fugir tanto das convenções do gênero e, como fica bem fácil de notar, Mama possui uma estrutura basicamente idêntica a qualquer longa de terror dos últimos tempos, o que faz com se torne muito previsível e até enfadonho. O que é uma pena, já que há muitos pontos interessantes que ainda poderiam ser desenvolvidos, como a clara ligação que Muschiatti faz entre seu filme e histórias de conto de fadas, como no ambiente enevoado da cabana, as borboletas que circundam uma personagem, as cerejas que as meninas comem, e até mesmo ao começar o longa com a expressão “Era uma vez...”.

  Mas Mama ainda continua tenuamente interessante pela própria fantasma que dá nome ao filme. Embora sua natureza seja bastante clichê, como vamos descobrindo no decorrer da projeção, ela desperta interesse pelo design macabro que a transforma num ser “quebrado”, torcido, claramente expressionista. O modo como se move também é assustador já que ela se movimenta como que com espasmos, “flickando”, lembrando espíritos de filmes de terror japoneses. O desing de som também faz um bom trabalho ao transformar os sons emitidos pela personagem em algo absolutamente aterrorizante, que é o grande responsável por uma das únicas cenas realmente assustadoras do longa. Há ainda a descrição que uma personagem faz sobre um fantasma, que surge poética e elegante, além de lembrar bastante aquela feita  no excepcional A Espinha do Diabo, de Guillermo Del Toro (será só coincidência?). Também, no clímax, confesso que senti certa simpatia e melancolia pela fantasma, o que me surpreendeu.
  Infelizmente, se senti certa simpatia pela vilã no fim do filme (e olha que, no geral, ela não é nem um pouco simpática), o mesmo fica difícil dizer quanto a outros personagens, pois falta desenvolvimento apropriado a cada um deles. Annabel é uma figura extremamente antipática, egoísta e maldosa, sem qualquer dimensionalidade, sofrendo, no entanto, uma mudança brusca no fim do segundo ato que, sem tal mudança, os roteiristas perceberam que seria difícil concluir seu trabalho. Essa mudança poderia muito bem ter tornado Annabel numa pessoa mais tridimensional, já que permite um arco dramático que, mesmo nada original, é interessante e envolvente. Mas não é o que ocorre, e, por mais que esteja irresistível (mais do que já é) no estilo punk rock n’ roll durona, a atriz Jessica Chastain não pode fazer nada para melhorar sua personagem, por mais que tenha acabado de sair de uma atuação extraordinária no recente A Hora Mais Escura. É claro que, boa atriz como ela, Chastain se agarra ao que pode, tentando ampliar o impacto das mudanças da protagonista, mas essas são sempre jogadas de forma brusca pelo roteiro, o que realmente impede o espectador de se ligar emocionalmente com o que está acontecendo. Já em Lucas fica evidente o esforço de Nikolaj Coster-Waldau em deixar evidente o amor que esse tem pelas sobrinhas, mas acaba que o ator não possui tanto tempo para desenvolver o personagem e, culpa do roteiro de novo, não conseguimos saber por que ama tanto as sobrinhas, já que em nenhuma cena do filme antes isso fica meramente evidente (a não ser quando ele diz isso). Quem interpreta a única personagem realmente complexa do longa é Megan Charpentier como Victoria, a mais velha das meninas, que, por, antes de ter sido isolada, já tinha domínio de vocabulário e certa noção de como se comportar, é a única que tem reais chances de se recuperar. E é realmente sofrido ver os dilemas da menina entre todas as realidades pelas quais passou. Ainda há o interessantíssimo detalhe de seus óculos: quando vê Mama, ela tira os óculos, como se para evitar enxergar a criatura aterrorizante, porém protetora que tem na sua frente (e o que dizer do momento em que a própria Mama tira os óculos do rosto da guria ? Muito bacana).

  Em questão de direção, Muschietti quase nunca consegue sair do lugar comum, o que ainda piora devido ao fato de o diretor investir demais em sustos fáceis (aumento da trilha sonora e aparece algo assustador, com um baque forte) que, ao invés de realmente deixar o filme mais assustador, consegue mais é irritar, sem contar que, ainda por cima, o diretor revela um uso incompetente da trilha sonora, já que são raros os momentos em que não há música tocando, o que acaba cansando. No entanto, aqui e ali, Muschietti surpreende na composição extremamente eficiente de alguns quadros. Um plano em específico merece aplausos: quando o diretor posiciona sua câmera de modo que podemos ver o quarto das meninas através da passagem da porta (no ponto de fuga direito, atraindo assim mais atenção do espectador) e também podemos enxergar o corredor da casa; com isso, Muschietti cria uma tremenda cena, enganando o espectador através de uma excepcional mise-en-scéne (movimentação dos atores em cena), quando vamos gradualmente descobrindo o que realmente está acontecendo (e ainda é sensacional que, mesmo numa cena que se revela tão tensa, Muschietti consiga incluir um toque de humor impecável, bem nos últimos segundos da cena). Falando em mise-en-scéne, há outra memorável que marca o longa, que é quando fica evidente a mudança de Annabel através de uma luta que, aos poucos, se torna um gesto de carinho. Há também o plano sequência que, mesmo não tão fascinante, é bastante frenético e inclui uma recriação do próprio curta metragem dentro do contexto da cena.

  No entanto, Mama ainda perde força mesmo com alguns atrativos como esses, e um dos maiores problemas é o não aproveitamento de uma trama com bases possivelmente muito interessantes, que poderiam acabar em um longa muito mais complexo em que o terror fosse apenas mais uma das variáveis envolvidas, e não tudo o que interessa. Quais, por exemplo, poderiam ser os possíveis desdobramentos das descobertas do psicólogo? Faltou desenvolvimento do processo de aproximação de Annabel e das garotas, e, o que é mais decepcionante, Muschiatti perdeu a oportunidade de explorar o processo de reabilitação das meninas, que fica totalmente apagado pelo enfoque no terror. Ainda há outros equívocos: um psicólogo de verdade não buscaria uma explicação sobrenatural para os eventos da forma como esse aqui buscou, logo de cara; ele demoraria muito para descartar as explicações racionais. Qual é, também, a ligação exata entre Annabel e Mama, que permite a primeira de sonhar com eventos da vida da segunda? E ainda não podemos desconsiderar os clichês estúpidos do longa, típicos de filmes idiotas de terror, como quando um personagem, ciente dos perigos que pode enfrentar, vai a cabana de noite, com uma lanterninha. Ainda há um defeito que consegue ser mais grave do que todos esses, que é o fato de Muschiatti usar as meninas com problemas de desenvolvimento (principalmente a mais nova), o que as tornam “estranhas”, como elementos para causar sustos, o que é meio ofensivo e idiota. Só que a intensidade com que o diretor faz isso aqui é até perdoada se lembrarmos de como essa mesma estupidez foi cometida no deplorável A Última Casa da Rua, que parecia enxergar uma mulher com deficiência mental como uma espécie de Samara (fantasma do filme O Chamado).

  Enfim, Mama não é um péssimo filme, mas está longe de ser algo bom como poderia. É um longa levemente suportável e totalmente esquecível que não faz real esforço em se diferenciar minimamente de qualquer filme de terror que lançam aos montes todo ano, e que só deixam mais deprimidos fãs desse gênero, como eu, por exemplo.

Nota: 5,0 / 10,0

Walsuan Miterran

Eae galera, tudo bom?

Hoje vou falar do nosso amigo Walsuan Miterran.





Walsuan Miterran iniciou os estudos de guitarra no Instituo Veiga Vale com 15 anos de idade, onde concluiu o curso de teoria musical e guitarra. Aos 18 anos já seguia carreira profissional e influenciado pelos guitarristas como Steve Vai, Joe Satriani, Malmsteen e Jason Becker, seguia sua carreira como guitarrista cristão.

Aos poucos foi tornando destaque no cenário goiano e participou em aberturas de show e também com grandes nomes da música gospel. Ele atualmente é um artista Ibanez. E por incrível que pareça fiquei muito satisfeito em saber que na terra do sertanejo possuímos um representante.

Walsuan Miterran é guitarrista de mãos cheias, posso dizer que ele já criou sua identidade com bonitas melodias, agressividade nos virtuosismos e suavidade nas alavancadas.

Vale a pena conferir seu trabalho e participações em torneios...


Eterno Amor



Céu ou Inferno

Angel's Symphony

Abraço.